31 dezembro 2016

Dona Hermínia lidera bilheterias e consagra Paulo Gustavo

"Minha Mãe é Uma Peça 2" é uma das boas comédias nacionais de 2016 (Fotos: Divulgação)


Maristela Bretas


Quem ainda não assistiu deve conferir. E se não viu o primeiro, mais um motivo para ver os dois. "Minha Mãe é Uma Peça" é uma comédia muito divertida (com toques de drama), que tem no ator Paulo Gustavo seu maior trunfo. Na verdade, ele é tudo (além de um dos roteiristas) e dá conta do recado como Dona Hermínia, a mãe neurótica, escandalosa, que enlouquece filhos, vizinhos e ex-marido.

O personagem domina todas as cenas, mas conta com um bom elenco de apoio - Rodrigo Pandolfo (o filho gay Juliano), Mariana Xavier (a filha Marcelina que tem uns quilinhos a mais), Alexandra Richter (a irmã Iesa, com quem que vive às turras), Samantha Schmütz (a faxineira Waldéia) e Herson Capri (o ex-marido Carlos Alberto). A parte tranquila da família fica por conta de Suely Franco, que interpreta tia Zélia. De novidade, a presença da irmã louca Lúcia Helena que chega de Nova York, papel de Patricya Travassos, sem muita importância. 

Se no primeiro filme Dona Hermínia fazia seus filhos morrerem de vergonha com seus escândalos, não seria diferente na sequência. Só que antes ela era uma suburbana pobre. Agora é uma apresentadora de um programa de sucesso na TV que fala de filhos, maridos, raivas e alegrias do cotidiano de toda mãe. 

Se pensa que isso acalmou a fera de coração mole, engana-se. Está mais histérica do que nunca. O que ela não esperava era que iria viver tão rápido a "síndrome do ninho vazio". Os filhos cresceram e agora querem ganhar o mundo, mas para Dona Hermínia é como se nunca mais fosse vê-los. Enquanto o mais velho, Garib (Bruno Bebiano), é pai de um lindo garoto, Juliano e Marcelina se mudam para São Paulo com o apoio do pai, para desespero da mãe.

Paulo Gustavo esbanja talento, impossível desvincular o personagem do ator. Principalmente porque sua inspiração vem de uma pessoa que conhece bem, sua mãe Déa Lúcia, que aparece nas cenas finais das duas produções, inclusive cantando. Esta é uma das razões do sucesso de "Minha Mãe é Uma Peça", que tem levado milhares de pessoas ao cinema. No primeiro, de 2013, foram mais de 4,6 milhões de espectadores. Este agora ultrapassou 2 milhões de ingressos vendidos em uma semana desde o seu lançamento em cerca de mil salas pelo país.

"Minha Mãe é Uma Peça 2" foi a segunda melhor estréia nacional do ano, ficando atrás apenas de “Os Dez Mandamentos – O Filme”. O filme chegou a desbancar "Rogue One: Uma História Star Wars", liderando as bilheterias. E pode continuar dando trabalho, ameaçando inclusive seu antecessor. 

A culpa disso tudo tem um nome: Paulo Gustavo, que deixou o humor ácido da série de TV "Vai que Cola" para incorporar um personagem que tem um pouco da mãe de cada um de nós - amorosa, superprotetora e louca destemperada. Essa é a identificação que tanto tem atraído as pessoas para o filme.



Ficha técnica:
Direção: César Rodrigues
Produção: Globo Filmes / Universal Pictures / Migdal Filmes
Distribuição: Downtown Filmes
Duração: 1h36
Gênero: Comédia
País: Brasil
Classificação: 12 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

Tags: #minhamaeeumapeca2, #PauloGustavo, #RodrigoPandolfo, #MarianaXavier, #HersonCapri, #CésarRodrigues, #comedianacional, #DowntownFilmes, #GloboFilmes, #UniversalPictures, #CinemanoEscurinho

29 dezembro 2016

"Rogue One" e uma certa princesa Leia

Aventura faz a ligação entre os episódios 3 e 4 da saga "Star Wars", com grandes batalhas e ótimos personagens (Fotos: The Walt Disney Studios/Divulgação)

Maristela Bretas


Darth Vader sempre foi meu ídolo - sua roupa preta e o capacete assustador e emblemáticos - fez muito adolescente tremer quando surgiu pela primeira vez em 1977. E apesar da excelente continuação e seus herdeiros, ele ainda continua imbatível, único e absoluto. Se Vader foi uma das razões de "Star Wars" ter atingido tanto sucesso, não menos foram seus companheiros de elenco.

Cada um dos personagens deixou sua marca, uns mais outros menos, mas todos tiveram papel importante para todas as gerações que vieram após. Han Solo, Chewbacca, Luke Skywalker, os androides R2D2 e C3PO e a aquela que até então se tornou primeira mulher da saga - princesa Leia. Interpretada pela atriz Carrie Fisher, a personagem se destacou nos três episódios da franquia (contando pela ordem de George Lucas) e retornou, sob aplausos, junto com Harrison Ford e Mark Hamill, em "Star Wars VII - O Despertar da Força".

E os fãs de Star Wars gostaram, mesmo com a morte de seu par romântico Han Solo na trama e o filho se tornando o novo vilão. Leia deixou o ar de princesa para se tornar a general Organa e lutar pelos rebeldes, como há quase 40 anos e já havia gravado toda a sua participação no episódio VIII. 

Mas não sem antes relembrar seu papel "daqueeeeeela" época e fazer a ligação entre "Star Wars - Uma Nova Esperança" e "O Império Contra-Ataca", com uma aparição relâmpago em "Rogue One - Uma História Star Wars", que está arrasando nos cinemas do mundo inteiro.

Quis o destino que o coração da princesa Leia, que atirava com armas laser, foi escrava de Jabba The Hutt e se apaixonou pelo galã aventureiro do espaço Han Solo parasse de bater aos 60 anos. "Star Wars" perdeu uma de suas importantes estrelas, que agora brilha "in a galaxy far, far, away".

Uma boa oportunidade para quem quer rever um dos últimos trabalhos da atriz na saga, antes do oitavo episódio, é assistir nos cinemas "Rogue One". Assim como "O Despertar da Força", o filme é uma aventura imperdível para todos aqueles que acompanham Star Wars durante estas quatro décadas.

Gareth Edwards deu uma ótima direção e todo o conjunto da obra ficou excelente, reunindo personagens cômicos e marcantes, com destaque novamente para a uma mulher - Jyn Erso, interpretada por Felicity Jones. Diego Luna, como o capitão rebelde Cassian Andor, também não deixou por menos, assim como o restante do elenco, que conta com Forest Whitaker, Mads Mikkelsen, Alan Tudyk, Ben Mendelsohn e James Earl Jones, a inconfundível voz de Darth Vader.

GALERIA DE FOTOS

"Rogue One" é imperdível, tão bom quanto "O Império Contra-Ataca". Enredo, atores, efeitos visuais, comicidade na medida certa e muita ação, garantindo a marca registrada da franquia - grandes batalhas estelares e em solo. Mais uma prova de que o filão "Guerra nas Estrelas" ainda tem muito fôlego a ser explorado.



Ficha técnica:
Direção: Gareth Edwards 
Produção:  Lucas Filme / Walt Disney Company
Distribuição: Disney/Buena Vista
Duração: 2h14
Gêneros: Aventura / Ação / Ficção Científica
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 4,8 (0 a 5)

Tags: #starwars, #rogueone, #princesaleia, #CarrieFisher, #DarthVader, #FelicityJones, #odespertardaforca, #HanSolo, #guerranasestrelas, #aventura, #ação, #ficção, #Disney, #CinemanoEscurinho

28 dezembro 2016

"Neruda" é deliciosamente delirante e sem nenhum compromisso com o real

O filme é pura ficção ao narrar a perseguição ao poeta sob o ângulo de um policial que tem certa obsessão pelo escritor (Fotos: Fabula - AZ Films - Funny Balloons - Setembro Cine)


Mirtes Helena Scalioni


Ao comentar sobre a possibilidade de o filme "Neruda" representar o Chile no próximo Oscar, o pouco simpático jornalista Diogo Mainardi disse, no programa Manhattan Connection, da GloboNews: "Ninguém se interessa por ele, que não passa de um poeta de ginasianos". Não é verdade. Pablo Neruda encantou mais de uma geração e não fez isso apenas por ser de esquerda. 

Poeta inspirado, foi um homem excêntrico e único, sedutor e encantador, ganhador do Nobel  de Literatura de 1971. Enfim, um grande personagem. Tão grande que, além de alguns documentários, já mereceu pelo menos três filmes: "O carteiro e o poeta", "Neruda - fugitivo" e 'Neruda", esse último lançado recentemente.

Diferentemente dos anteriores, "Neruda" não se prende à verdade. E isso talvez cause algum estranhamento em quem vai ao cinema em busca da história do senador e poeta chileno perseguido pela polícia política do então presidente González Videla na década de 1940. Há verdades no filme, claro, mas o roteirista Guillermo Calderón e o jovem diretor Pablo Larrain optaram pelo devaneio, pela ficção. Se já não eram claros, nem mesmo nas biografias, os detalhes da verdadeira fuga do escritor pelos Andes, as dúvidas podem agora se multiplicar.

No filme do chileno Pablo Larrain, que em 2012 dirigiu também o excelente "No", sobre o plebiscito que mudou a história do Chile em 1988, Neruda aparece às vezes como um homem vaidoso, quase arrogante, desafiando irresponsavelmente seus opositores. Detalhe: o filme é narrado sob a perspectiva de um policial, Oscar Peluchonneau, vivido pelo sempre correto Gael Garcia Bernal. E reside aí a graça do filme, que esbarra no gênero policial. O inspetor nutre certa obsessão pelo poeta e assim, ambos vão compondo uma nova história como se fossem personagens de uma ficção. A esposa de Neruda, Delia, interpretada por Mercedes Morán, também entra nessa espécie de jogo.

Embora o ator Luis Gnecco, que faz o papel de Neruda, tenha uma intrigante semelhança com o poeta, em momento algum o espectador se sente assistindo a uma cinebiografia real. Os personagens mudam de cenário num piscar de olhos como a nos lembrar que estamos diante de uma fantasia. O melhor é entrar na brincadeira e deixar-se levar pelo delírio do diretor. O filme está em cartaz no Belas Artes (13h50, 15h50 e 19h30) e no Ponteio (14h15). Classificação: 12 anos


Tags: #Neruda, #GaelGarciaBernal, #LuisGnecco, #MercedesMoran, #PabloLarrain, #drama, #biografia, #policial, #Imovision, #CinemanoEscurinho

26 dezembro 2016

Atriz disputa concurso milionário de música com cantores pop

"Sing" explora o mundo da música com grandes sucessos nas vozes originais como parte da trilha sonora (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Os animais definitivamente garantiram seu espaço na animação dos estúdios Illumination e agora tomam o lugar dos humanos até mesmo na música. Depois de "Pets", com seus cães, gatos, coelhos e passarinhos cheios de manias e neurados, a aposta da vez é o mundo do realitty show musical, do tipo "The Voice".


Com uma trilha sonora de fazer inveja, mais de 80 sucessos, nas vozes originais, de diversas épocas e estilos e uma boa dose de comicidade, sem apelação, "Sing - Quem Canta Seus Males Espanta" ("Sing") mostra que tudo é possível quando se tem criatividade. De um rato com voz de Frank Sinatra a uma tímida porquinha que quando solta a garganta faz corações tremerem.

Mas o interessante desta animação é que, como nos programas de TV, os personagens são pessoas desconhecidas, saídas de locais comuns e que vêm num concurso de talentos a grande chance de realizarem seu sonho - cantar para um público.

Apesar de dubladores famosos fazendo suas vozes, os personagens são animais comuns - porcos, gorila, coala, porco-espinho, elefante, com comportamento e emoções e totalmente humanos, vivendo situações diárias.

Enquanto nos EUA, as vozes são de atores famosos - Matthew McConaughey, Reese Witherspoon, Scarlett Johansson - que não são cantores, na versão brasileira a dublagem também foi bem conduzida por cantores que não são atores e dois conhecidos globais Mariana Ximenes e Marcelo Serrado (interpretando a dupla Rosita e Gunter). Wanessa Camargo é a porco-espinho Ash, Fiuk o gorila Johnny e Sandy e a elefantinha tímida Meena (com uma voz de fazer inveja).

Ameaçado de perder seu teatro por causa das dívidas, o coala empresário Buster Moon resolve dar sua última cartada e anuncia um grande concurso musical para novos talentos. Um "pequeno" erro atrai uma multidão para os testes, mas apenas um grupo será selecionado.

Moon, com sua experiência no show business terá de aproveitar ao máximo o potencial de seus participantes, unindo-os ou separando cada um em seu estilo e forçando-os a se descobrirem e apostarem na garganta. Ao mesmo tempo que "Sing" é uma competição pelo grande prêmio, aos poucos os concorrentes vão formando uma grande família, exceto o arrogante e trambiqueiro rato, que já se considera o vencedor.

Moon, com todo o seu otimismo e perseverança, terá de administrar as dificuldades e fraquezas de cada um para conseguir realizar um grande espetáculo. Do drama do gorila cantor Johnny, que pertence a uma família de assaltantes, a Meena que, apesar da voz melodiosa e encantadora, não consegue se apresentar em público. Ou Rosita, uma porca casada que quando solteira era cantora, mas agora tem sua vida reduzida a dezenas de filhotes e um marido que não lhe dá valor.

Todo esse sonho e dramas animais de "Sing" vêm acompanhados de grandes sucessos, um enredo agradável e fácil de ser acompanhado por crianças e adultos, bons momentos cômicos e personagens simpáticos com uma boa mensagem. Vale a pena conferir.



Ficha técnica:
Direção, roteiro e dublagem: Garth Jennings
Produção: Universal Pictures / Illumination Entertainment
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 1h48
Gêneros: Animação / Comédia/ Família / Musical
País: EUA
Classificação: Livre
Nota:  3,5 (0 a 5)

Tags: #singquemcantaseusmalesespanta, #sing, #animação, #família, #comédia, #musical, #GarthJennings, #Sandy, #Fiuk, #MarianaXimenes, #MarceloSerrado, #WanessaCamargo,  #IlluminationEntertainment, #Universal Pictures, #CinemanoEscurinho

20 dezembro 2016

"Capitão Fantástico" - idealista, questionador e envolvente

Viggo Mortensen é a estrela do filme cercado de jovens talentosos que formam sua família feliz (Fotos: Bleecker Street Films/Divulgação)


Maristela Bretas


Ben, Bo, Kielyr, Vespyr, Reilian, Zaja e Nai. Nomes exóticos para uma família fora dos padrões considerados normais. O que eles têm de especial? Formarem uma família feliz e estarem habituados e viverem na selva, praticando esportes, manuseando armas, lendo grandes obras da literatura e acima de tudo, são unidos por um grande amor. Graças a um certo "Capitão Fantástico" ("Captain Fantastic"), título que se refere ao pai, Ben, interpretado de forma envolvente pelo ator Viggo Mortensen.

O filme estréia nesta quinta-feira nos cinemas de BH, e nos mostra uma família diferente, vivendo isolada na floresta mas com ideais fortes de direitos civis, liberdade e princípios que se baseiam na paz e no amor. "Capitão Fantástico" é inspirador e faz o público refletir sobre o mundo moderno em que vivemos e do que realmente precisamos. 

Com respostas simples e bem fundamentadas, até mesmo os menores da família sabem o por quê de defenderem seus atos, que muitos adultos não saberiam. Falar a verdade para os integrantes desta família é algo natural, eles não conhecem a hipocrisia da cidade grande.

E se Viggo Mortensen está muito em no papel do pai, não menos estão os atores jovens que fazem seus filhos - George Mackay (Bo), Samantha Isler (Kielyr), Annalise Basso (Vespyr), Nicholas Hamilton (Reilian) e os fofos Shree Crooks (Zaja, uma constituição americana ambulante) e Charlie Shortwell (Nai). Juntos eles dão um sentido único e poucas vezes visto de que deve ser uma família de verdade, com amor, brigas, questionamentos e discussão em conjunto, sem mentiras, do que é o melhor para todos. O veterano Frank Langella também está bem interpretando o avô Jack, que não concorda com a forma como os netos são criados.

Na história, Ben e sua esposa Leslie decidem viver longe da civilização moderna e ter os filhos no meio de uma floresta selvagem no Norte dos Estados Unidos, num estilo paz e amor. Doente, ela precisa se afastar dos seis filhos e do marido que terá de cuidar de tudo sozinho. Seguindo seus ideais, ele passa os dias dando lições às crianças, ensinando-os a praticar esportes, tocarem algum instrumento musical, a combater inimigos e a manusear armas para a sobrevivência, inclusive os pequenos (o que pode chocar o público mais conservador).

Uma tragédia força Ben e a família a deixar sua casa e partir numa longa viagem no velho ônibus-trailer chamado Steve, atravessando os EUA. E o percurso se torna outro novo aprendizado para os filhos, que vão conhecer o hipócrita estilo da vida moderna. Na viagem, eles também terão de conviver com os avós maternos, que não concordam com a forma como eles são criados pelo pai.

"Capitão Fantástico" é um filme raro, de beleza simples e sincera, que emociona e faz rir e chorar. Merece ser conferido, um grande trabalho do diretor e roteirista Matt Ross.



Ficha técnica:
Direção e roteiro: Matt Ross
Produção: Shiv Hans Pictures / Bleecker Street Films
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 1h58
Gênero: Comédia dramática
País: EUA
Classificação: 10 anos
Nota: 4,5 (0 a 5)

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16 dezembro 2016

"Sully", herói do Rio Hudson por perícia ou imprudência?


Tom Hanks interpreta o piloto de um avião que salvou 155 pessoas ao fazer um pouso forçado no Rio Hudson, em 2009 (Fotos: Warner Bros. Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Aquele seria apenas mais um voo doméstico como centenas de outros saindo de Nova York. O que o comandante  Chesley "Sully" Sullenberger (ótima interpretação de Tom Hanks)  e o copiloto Jeff Skiles  (Aaron Eckhart) não esperavam era que a tranquilidade daquele 15 de janeiro de 2009 poderia se transformar na data mais marcante e perturbadora de suas vidas e de outras 153 pessoas. 


Assim começa o drama biográfico "Sully - O Herói do Rio Hudson", baseado em fatos reais que foram contados no livro "Highest Duty", escrito pelo próprio Sully. Porém, o diretor Clint Eastwood resolveu contá-la a partir do final, explorando principalmente o processo jurídico enfrentado pelos dois pilotos após um salvamento heroico e extremamente arriscado. E por meio de flashbacks e pesadelos do comandante Sully, além dos fatos que vão surgindo no decorrer das investigações,  o quebra-cabeças  da quase tragédia vai sendo montado. 


Ao decolar do aeroporto em Nova York, o Airbus A320 pilotado por Sully e Skiles é atingida por uma revoada de pássaros, que são sugados pelas duas turbinas, causando sérios danos. Imediatamente os pilotos começam tomam as medidas de emergência, mas o comandante percebe que não terá tempo de retornar ao aeroporto ou seguir para outro próximo, apesar da ordem do controlador de voo.

Sully só tem como alternativa o pouso nas águas geladas do Rio Hudson, que corta a cidade. E apesar da manobra nunca ter sido tentada ele consegue sucesso, salva todos os 155 ocupantes, vira herói nacional, mas  passa a sofrer uma dura investigação da agência de regulação aérea nos Estados Unidos, que tenta provar que seu ato foi arriscado e imprudente e que poderia ter dado errado.

Tom Hanks está ótimo no papel do experiente piloto Sully e prova que sua parceria com Eastwood é sucesso garantido de bilheteria. A história não é novidade para quem acompanhou o fato que ganhou as manchetes pelo mundo há oito anos. Mas o diretor soube explorar bem o processo de investigação para contá-la, auxiliado pela interpretação de Hanks, que apresentou o personagem como um profissional sério, sem intenção de se tornar um herói com seu ato. E que ao longo de todo o processo judicial chegou a ter dúvidas se havia tomado a decisão certa ou não.

Além de Tom Hanks, o restante do elenco de "Sully - O Herói do Rio Hudson" também segurou bem seus papeis, como  Aaron Eckhart , como o copiloto, e  Laura Linney, vivendo a esposa de Sully, Lorrie Sullenberger. Aliado a isso,  o drama ainda conta com efeitos visuais bem realistas (que me perdoem os pilotos da minha família se estou falando bobagem) que ajudam a prender o público, não só nos momentos de tensão do ousado pouso quanto nas cenas de interrogatório e julgamento. Um filme que vale a pena ser visto.


Ficha técnica:
Direção e produção: Clint Eastwood
Produção: Warner Bros. Pictures / Malpaso Productions/ Village Roadshow
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Duração: 1h36
Gêneros: Biografia / Drama
País: EUA
Classificação: 10 anos
Nota:  4 (0 a 5)

Tags:
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09 dezembro 2016

Direção e elenco corretos são insuficientes para salvar "O Vendedor de Sonhos"

Como um manual de autoajuda, drama dirigido por Jayme Monjardim não passa de uma colcha de retalhos de frases feitas (Fotos: Warner Bros. Pictures/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Um psicólogo famoso e bem-sucedido está prestes a saltar do 21º andar de um prédio numa grande cidade. O público não sabe o que o levou a tamanho desespero e, a princípio, fica junto com ele de pé num estreito parapeito, uma vertigem que chega a bambear as pernas. O suspense dura até que um misterioso mendigo consegue se aproximar dele e, usando única e exclusivamente as palavras, o convence a desistir do suicídio. A partir daí, o psicólogo passa a seguir quem ele chama de "Mestre", os dois vivem nas ruas e acabam aglutinando outros seguidores.

Dito assim, na base da sinopse, "O Vendedor de Sonhos" parece ser, a princípio, uma ótima história. Pode ser. Mas essa trama não resultou num bom filme. O elenco brilhante - capitaneado pelo uruguaio Cesar Troncoso vivendo o Mestre, e Dan Stulbach como o psicólogo Júlio César - não consegue dar credibilidade e profundidade aos discursos quase óbvios que recheiam o trabalho. Baseado na obra do best seller homônimo de Augusto Cury, o longa se perde em mensagens de fácil digestão e acaba como os livros que o originaram: um manual de autoajuda. 

"Se andarmos pelos caminhos que os outros já percorreram, chegaremos, no máximo, aos lugares que eles atingiram". "Nossos maiores inimigos estão dentro de nós". "O suicida de verdade não quer se matar, mas quer matar a sua dor". Frases assim são uma constante em "O Vendedor de Sonhos" e podem, de certa forma, até convencer ou impactar. Mas ao final, tecem apenas e simplesmente uma colcha de retalhos de obviedades, mesmo quando revela a verdadeira história do Mestre. 

Thiago Mendonça como o "Boquinha de Mel", e o menino Kaik Ferreira como Dimas, os amigos andarilhos do mendigo, embora em atuações corretas, convencem mas são insuficientes.

As ideias são boas, as causas são justas, mas nem mesmo a direção do experiente Jayme Monjardim salva o filme. Há outras formas mais sutis - e ao mesmo tempo mais profundas - para falar do excesso de consumismo, da correria das grandes cidades, da relação cada vez mais difícil entre pais e filhos, da luta contra o tempo, de autoconhecimento e da eterna angústia humana.  Classificação: 10 anos



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Novo "Anjos da Noite" é repetição de banho de sangue entre vampiros e lobisomens

Kate Beckinsale tenta evitar a grande batalha entre os clãs inimigos (Fotos: Sony Pictures/Divulgação)


Maristela Bretas


Kate Beckinsale retorna pela quarta vez a seu famoso papel de vampira na franquia "Anjos da Noite" ("Underworld"), que completa 13 anos de existência, sem novidades, mas ainda atraindo fãs que gostam de ver muito sangue e figuras medonhas. 



Em "Anjos da Noite - Guerras de Sangue" ("Underworld: Blood Wars"), a guerreira vampira Selene (Beckinsale) agora é inimiga dos dois clãs - os Lycan de lobisomens e os vampiros que a traíram no filme passado.

Escondendo uma filha que teve no passado com um Lycan, ela aceita retornar ao clã dos vampiros para tentar evitar uma nova guerra entre os dois grupos. Selene só poderá contar com a ajuda dos vampiros David (Theo James) e o pai (Charles Dance), um dos líderes dos chupadores de sangue.


Kate Beckinsale e Theo James até formam uma dupla bonita de se ver, mas não convencem como casal. Acho que a intenção do diretor nem é essa, porque a química é fraca demais. A história é fraca, não muito diferente das anteriores, como se o gás do roteirista já tivesse acabado e ele insistisse na fórmula.

Muita ação, sangue jorrando pelas paredes, bons efeitos visuais (mas nada muito surpreendente), batalhas interessantes e uma boa dose de violência. 

Para quem gosta é um prato, cheio e vermelho de sangue. E o final de "Anjos da Noite - Guerras de Sangue" indica que ainda teremos outras continuações, já que ainda atraem milhares de seguidores de vampiros e lobisomens ais cinemas.



Ficha técnica:
Direção: Anna Foerster
Produção: Screen Gems Inc. / Sketch Films
Distribuição: Sony Pictures
Duração: 1h32
Gênero: Terror / Ação
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 2,5 (0 a 5)

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04 dezembro 2016

Tom Cruise é ação e perseguição em "Jack Reacher: Sem Retorno"

Filme é adaptação do 18º livro de Lee Child com o personagem (Fotos: Paramount Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Depois de garantir uma bilheteria respeitável com "Jack Reacher: Ultimo Tiro", Tom Cruise aposta novamente no personagem criado por Lee Child e traz para o cinema a adaptação do 18º livro da saga, que já vendeu 100 milhões de livros no mundo todo - "Jack Reacher: Sem Retorno" ("Jack Reacher: Never Go Back"). O estilo não muda - tiros, muita porrada, ótimas perseguições, e às vezes o belo sorriso do ator que parece estar conservado em formol. 

Tom Cruise assumiu o papel do não tão mocinho "fodão" há tempos com a série "Missão Impossível", que ele repete na franquia "Jack Reacher". Bate muito, apanha também, não fica com a mocinha porque é um "justiceiro" errante e oferece ótimas cenas de ação que vão agradar ao público.

E como toda estrela, Cruise merecia uma parceira à altura. O papel da vez ficou para Cobie Smulders ("Vingadores: Era de Ultron"), que interpreta a major Susan Turner. Boa de briga como ele, não aceita ser tratada como uma mulher frágil e incapaz de comandar o pelotão do Exército, cargo que um dia foi de Reacher.

Se Cruise e Smulders estão bem, o mesmo não se pode dizer do restante do elenco de "Jack Reacher: Sem Retorno". Muitos têm interpretação fraca, que deixa bem a desejar, apesar de seus papéis serem importantes para a história. É o caso da jovem Danika Yarosh (da série de TV "Heroes Reborn"), que interpreta a rebelde Samantha Dayton. Essa ainda tem de comer muita farinha com feijão para ser chamada de boa atriz.

Na história, Jack Reacher (Tom Cruise) retorna à base militar onde serviu na Virgínia (EUA) para conhecer pessoalmente a major Susan Turner (Cobie Smulders), a quem pretendia levar para jantar. Ao chegar, descobre que ela está presa, acusada de ter vazado informações confidenciais do Exército. Estranhando a situação, Jack resolve iniciar uma investigação por conta própria e, em meio a essa nova investigação, ainda terá que lidar com Samantha (Danika Yarosh), uma suposta filha adolescente.

A dupla principal está afinada e segura a produção. Mas apesar de "rolar um clima", o enredo não achou espaço nem para um beijinho. O mocinho é o cara charmoso mas de pouca conversa, que resolve no mano a mano suas divergências, sem aceitar parceiros. "Jack Reacher: Sem Retorno" é puramente ação e perseguição, com cenas curtas para darem maior agilidade. Um filme para agradar aos fãs do gênero.



Ficha técnica:
Direção: Edward Zwick
Produção: Paramount Pictures / Skydance  
Distribuição: Paramount Pictures
Duração: 1h59
Gêneros: Ação / Espionagem / Suspense
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

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29 novembro 2016

"Elis", filme que inebria e entontece

Com interpretação mediúnica de Andreia Horta, “Elis” tem lotado as salas de cinema de fãs saudosos das canções e histórias da polêmica Pimentinha (Fotos: Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Tem razão o diretor e roteirista Hugo Prata quando diz que é impossível falar sobre Elis Regina em uma sessão de duas horas. É pouco tempo demais para sintetizar uma vida tão rica quanto polêmica, repleta de paixões, desamores e tumultos. Elis são várias e seria preciso uma série com muitos capítulos para dar conta de tantos conflitos não apenas na música, mas também na política, na família, nos amores... Ela não era de fugir da briga.

Tem razão também a parcela do público que, conhecendo Elis desde o início de sua carreira, tem  se queixado de que o filme falha ao não tocar, por exemplo, no seu encontro profissional com os compositores mineiros Fernando Brant e Milton Nascimento, na gravação histórica de “Águas de Março” nos Estados Unidos com o maestro Tom Jobim, ou pular fases da vida da cantora como se as mudanças ocorressem como mágica, sem um processo que as justificasse.

De repente, de uma cena para outra, lá estava a artista se separando do marido, ou se embebedando quando para o espectador ainda não estava claro que o casal se desentendia ou que ela andava gostando muito de uísque. A própria relação da Pimentinha com as drogas acontece, no roteiro do filme, como se tivesse ocorrido de forma rápida e inesperada, como se, para isso, não fosse necessário todo um trajeto.

Talvez por esses senões, o filme tenha sido considerado por alguns como um novelão, numa referência a uma narrativa que privilegia pontos altos sem espaço para respiros e reflexões. Pode ser. Mas isso, de forma alguma, tira ou reduz a importância de “Elis”.  Mesmo tendo optado por retratar um recorte de 18 anos da carreira da cantora, Hugo Prata fez isso como um grande fã. O filme é uma homenagem. Uma belíssima homenagem a quem muitos consideram a maior cantora do Brasil.

Outro ponto que enriquece o filme é o elenco, irrepreensível. Gustavo Machado (como Ronaldo Bôscoli, o primeiro marido da Elis), Lúcio Mauro Filho (como Miéle, produtor dela no início da carreira), Júlio Andrade (como o coreógrafo Lennie Dale, que ensinou a ela como se expressar corporalmente no palco), Caco Ciocler (como o compreensivo e terno César Camargo Mariano, marido e arranjador) e Rodrigo Padolfo (como Nelson Motta, amigo e responsável por mudanças na carreira dela), todos atuam na medida certa, gravitando em torno da estrela.

Miéle (Lúcio Mauro Filho), Lenni Dale (Júlio Andrade) e Nelson Mota (Rodrigo Padolfo)

Mas o grande sucesso de “Elis” é, sem dúvida, sua intérprete, Andréia Horta. Numa atuação impactante e quase mediúnica, a atriz dá um show. Maquiagem, figurino e expressão corporal ajudam a torná-la muito parecida com a cantora, mas não é só isso. Ao dublar a voz inconfundível da inquieta gauchinha e enriquecer a interpretação com trejeitos, sorrisos e gestos, a mineirinha de Juiz de Fora tem feito muita gente chorar de saudade. Classificação: 14 anos



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26 novembro 2016

"A Chegada", uma ficção que impressiona e surpreendente

Naves espaciais invadem a Terra e uma especialista em linguística terá de decifrar suas mensagens (Fotos: Sony Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


"A Chegada" ("Arrival") é um filme que provoca várias reações, mas com certeza seu final surpreende e agrada a todos que assistem. Do drama familiar, mais intenso no início e mesclado com a realidade ao longo do filme, o diretor Denis Villeneuve (de "Sicário: Terra de Ninguém" e "Os Suspeitos ") apresenta thriller perturbador de ficção científica que envolve o espectador.

A produção conta ainda com a excelente atuação de Amy Adams no papel principal, dando a dramaticidade necessária à personagem, que sofre com a perda da filha e com a incapacidade de decifrar a mensagem dos extraterrestres.

No elenco estão ainda o premiado Jeremy Renner, que apesar de ficar em segundo plano, é uma das peças importantes da trama. E Forest Whitaker, como o coronel G.T. Weber, que comanda toda a operação. O filme é baseado no livro "Story of Your Life", de Ted Chiang.

A história de "A Chegada" é sobre a Dra. Louise Banks (Adams), uma especialista em linguística que trabalha numa universidade norte-americana. Vivendo o drama pessoal da perda da filha Hannah e da solidão marcada por flashbacks dos bons e maus momentos passados com ela, Banks restringe sua vida ao trabalho. Até que é contratada pelo governo, juntamente com o matemático Ian Donnelly (Renner), para decifrar os códigos de extraterrestres que chegaram à Terra em várias espaçonaves espalhadas pelo planeta.

A dupla precisa entrar numa das naves e tentar  entender o propósito da visita. Para isso começa uma batalha contra o tempo, antes que as forças militares de outras potências iniciem um ataque aos invasores.

Até aí parece uma história comum, mas "A Chegada" toca mais fundo, interligando o drama familiar da especialista com as mensagens trocadas com os ET's, de uma forma, às vezes confusa, às vezes intrigante, quase um quebra-cabeça. Até o final surpreendente.

A produção acertou também na narração, apesar de apresentar alguns diálogos monótonos de explicações científicas. Mas a condução foi perfeita, combinada com a bela fotografia, os enquadramentos e a escolha de elenco. Um filme que merece ser visto.



Ficha técnica:
Direção: Denis Villeneuve
Produção: FilmNation Entertainment / Lava Bear Films / 21 Laps  Entertainment
Distribuição: Sony Pictures
Duração: 1h56
Gêneros: Drama / Ficção Científica
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 4,5 (0 a 5)

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