04 janeiro 2020

Perturbador e impactante, "Parasita" é a perfeita tradução de uma obra de arte

Uma família miserável de Seul que não gosta de trabalhar e vive de explorar da boa fé de outras pessoas (Fotos: The Jokers / Les Bookmakers)

Mirtes Helena Scalioni


Entre os filmes de 2019 que tratam da desigualdade social - "Coringa" e "Bacurau" são alguns exemplos - o sul-coreano "Parasita" ("Gisaengchung") talvez seja o mais bem cotado e comentado por público e crítica. Mistura de comédia, drama, suspense e tragédia, a história de uma família miserável que se infiltra na casa de um milionário em Seul tem fascinado plateias no mundo todo. O mérito, claro, é do diretor Bong Joon-ho, que, com maestria, transformou o roteiro em uma farsa perturbadora e impactante. É impossível sair incólume do longa, repleto de imprevistos e viradas.


A família Kim - pai, mãe, um rapaz e uma moça - vive no submundo da capital da Coreia do Sul como se fossem ratos ou baratas. O apartamento é abaixo do térreo e lembra esgoto. Mas os moradores não parecem preocupados com a pobreza e não se vê nenhum sinal de que alguém ali pretende trabalhar para mudar de vida. Até que o jovem chega em casa com uma ideia: falsificar documentos para ocupar o lugar de um amigo universitário e se candidatar ao emprego de tutor de uma menina rica. 


Aos poucos, Ki-Woo (é esse o nome do filho vivido pelo ator Choi Woo-sik) vai ganhando a confiança dos moradores da mansão e, devagar, sempre na base de golpes e falcatruas, coloca sua mãe, seu pai e sua irmã como empregados da casa. Por mais estranhos que possam parecer ao ocidente, convém registrar que estão ainda no elenco, cada um com seu brilho: Song Kang-ho, Cho Yeo-jeong, Park So-dam, Lee Sun-kyun, Lee Jung-eun, Chang Hyae Jin, Jeong Hyun-joon e Park Myeong-hoon. Talvez seja o momento de ir se acostumando com esses nomes.


Do outro lado está a família Park, riquíssima, com a mesma formação dos Kim - pai, mãe, uma menina e um menino - talvez ingênuos demais para perceber as intenções dos golpistas que vão ganhando a confiança de todos como verdadeiros parasitas. Há momentos, no desenrolar da trama, que os acontecimentos e encaixes são tão impossíveis que pode até comprometer a verossimilhança do enredo. Só que o que vem a seguir sempre surpreende e assusta, como a revelação de que pode sim existir alguém que habita num submundo ainda mais baixo do que os Kim.


Não é por acaso que "Parasita" tem sido premiado por onde passa: levou a Palma de Ouro em Cannes em 2019, recebeu três indicações ao Globo de Ouro 2020 - Direção, Roteiro e Filme Estrangeiro - e outras quatro indicações à Academia Australiana de Cinema, Televisão e Arte (AACTA) para Melhor Filme, Diretor, Roteiro e Ator Coadjuvante. O que começa como comédia num porão de Seul e termina em violência e tragédia se revela ao espectador como uma obra de arte na sua mais perfeita tradução.


Ficha técnica:
Direção: Bong Joon-ho 
Produção: Barunson / CJ Entertainment
Distribuição: Pandora Filmes
Duração: 2h12
Gênero: drama
País: Coreia do Sul
Classificação: 16 anos

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