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22 fevereiro 2024

"Ferrari", um recorte na vida do homem por trás da escuderia

Adam Driver interpreta o criador de uma das maiores marcas de veículos de luxo do mundo e sua obsessão
por velocidade (Fotos: Lorenzo Sisti)


Maristela Bretas


Um homem arrogante, com obsessão por corridas, velocidade e vitórias, que criou uma das maiores marcas de veículos de luxo do mundo. Esta é a história que está sendo contada em "Ferrari", filme que estreia nesta quinta-feira nos cinemas.

Ambientado na virada da década de 1950, o longa tem uma narrativa lenta, focada num recorte da vida de Enzo Ferrari (interpretado por Adam Driver), que é quebrada apenas pelas cenas de corridas, acidentes espetaculares e as brigas dele com a esposa Laura (Penélope Cruz). Foi ela que ajudou o famoso Commendadore a construir o império que revolucionou a indústria automotiva, ajudando a criar o conceito das corridas de Fórmula 1.


A cinebiografia, dirigida por Michael Mann (um apaixonado pela marca e diretor também de "Ford X Ferrari" - 2019), foca mais na vida pessoal de Enzo Ferrari, sua relação com a esposa e a amante de longos anos, Lina Lardi, papel de Shailene Woodley e a obsessão por  carros caros e velozes que o deixam à beira da falência.

Um dos pontos negativos do filme é o sotaque italiano sofrível de Adam Drive (para quem for assistir o filme legendado), repetindo um erro cometido em "Casa Gucci" (2021). O ator apresenta o criador da famosa marca italiana automotiva como um homem extremamente exigente quanto à qualidade de seus carros, mas nem tanto com a vida dos pilotos, e que não admitia qualquer tipo de erro de sua equipe. 


Até mesmo nas tragédias, o Enzo Ferrari do filme aparentava frieza. Os poucos momentos de ternura acontecem quando se lembra do filho falecido, Dino. Mesmo com suas mulheres, ele se mostra uma pessoa metódica e controladora, agindo como um empresário comandando seus funcionários. Pessoas que conheceram o verdadeiro Enzo Ferrari e viram o filme comentaram em matérias na imprensa que ele não era desta forma.

Apesar de Adam Driver ser o protagonista, a grande estrela do filme é Penélope Cruz. A atuação da atriz dá gás e vida à trama fora das pistas de corrida, mostrando garra e presença forte, especialmente quando enfrenta o marido sobre suas decisões erradas que ameaçam a empresa. 

É ela quem controla com mãos de ferro as finanças da Ferrari, enquanto sofre com a morte do filho, o casamento de fachada, as traições e a solidão de uma vida a dois.  


Shailene Woodley é Lina Lardi, a amante de Enzo. A atriz tem uma atuação dentro do esperado, um pouco apagada, como a de sua personagem, mantida em "segredo" pelo Commendadore. Lina é a mãe do segundo filho dele - Piero, que foi reconhecido anos depois. Hoje ele é acionista e ocupa a vice-presidência da multinacional Ferrari. 

Outro que tem papel decisivo na história, mesmo sendo colocado em segundo plano, é o brasileiro Gabriel Leone ("Eduardo e Mônica" - 2020). Ele vive o jovem marquês milionário e piloto espanhol Alfonso De Portago, contratado para correr pela Ferrari na corrida Mille Migla, no Norte da Itália, em 1957. 


Michael Mann empregou muito CGI nas imagens de disputas da época e nos acidentes (algumas cenas chegam a chocar). No entanto, Adam Drive não teve permissão para dirigir nenhum dos carros clássicos originais de corrida da Ferrari usados nas filmagens por causa do seguro. 

O diretor também reproduziu a cena do beijo dado por Alfonso de Portago em sua namorada Linda Christian (papel de Sarah Gadon) em uma das paradas da corrida Mille Miglia. A foto ficou conhecida como "O Beijo da Morte".

Já Patrick Dempsey (da série "Gray's Anatomy"), que além de ator é piloto de corridas, conseguiu dirigir algumas réplicas da Ferrari no filme. Ele interpreta o piloto da escuderia, Piero Taruffi. No elenco contamos também com Derek Hill (filho do falecido piloto e campeão de Fórmula 1 pela Ferrari, Phill Hill), no papel do piloto da Maserati, Jean Behra. Outro que faz papel de corredor é Jack O'Connell, como o britânico Peter Collins, entre outros.


"Ferrari" também tem como pontos positivos a fotografia, as locações (especialmente onde ocorrem as corridas), figurino e maquiagem. Mas o desenrolar, apesar de ser apenas um recorte da vida do empresário, pode não agradar aos amantes de corridas., que esperam ver grandes competições.

Diferente de outras cinebiografias do gênero, como "Rush: No Limite da Velocidade" - 2013, sobre a rivalidade entre os pilotos Niki Lauda e James Hunt (pode ser conferido na Netflix); o recente "Gran Turismo" - 2023, que conta a vida do jogador de videogame que virou piloto, Jann Mardenborough (HBO Max) e até "Ford X Ferrari", sobre a disputa entre as duas grandes marcas para provar quem era melhor nas pistas (Star+).


Ficha técnica
Direção: Michael Mann
Produção: STX Films
Distribuição: Diamond Films
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h10
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: ação, cinebiografia

25 novembro 2021

Lady Gaga conspira para matar o marido e se destaca na "Casa Gucci"

Filme conta a história da família da famosa grife italiana, marcada por luxo, cobiça e ganância ao longo de 30 anos (Fotos MGM Pictures)


Carolina Cassese


"Casa Gucci" é um filme over. Em se tratando da história dessa emblemática família, isso por si só não é um demérito. Dirigido por Ridley Scott, o longa conta com um elenco estreladíssimo, composto por nomes como Lady Gaga, Adam Driver, Al Pacino e Jared Leto. 

A produção, baseada no livro "The House of Gucci: A Sensational Story of Murder" (Sara Gay Forden), chega aos cinemas nesta quinta-feira. Apesar de ter sido anunciado por parte da mídia como um filme sobre o assassinato de Maurizio Gucci, a tragédia em si ocupa uma parte mínima de toda a história - que é principalmente sobre luxo, ganância e diferentes tipos de traição.


Na história real, Patrizia Reggiani conspirou para matar o marido Maurizio em 1995, contratando um matador de aluguel e outras três pessoas. Ela foi considerada culpada e condenada a 29 anos de prisão. O livro narra como foi a relação de quase 30 anos do casal e da convivência entre os membros da família da famosa grife italiana, marcada por amor, traição, decadência, vingança e assassinato.


Até agora, o longa teve uma recepção mista por parte da crítica. Enquanto uns afirmaram que “não é apenas um filme ruim, mas também uma má propaganda para o cinema” (Financial Times), outros opinaram que "Casa Gucci" é divertido e promove um ótimo entretenimento. 

Um ponto positivo talvez seja o elenco prestigiado, com destaque para Lady Gaga, que de fato entrega muito e brilha com sua hiper intensa protagonista. Essa é uma excelente notícia: os fãs que já estavam com saudade de ver a estrela nas telas definitivamente não ficarão decepcionados.


O filme é mais acelerado no lúdico primeiro ato, em que conhecemos Patrizia Reggiani (Gaga) e Maurizio Gucci (Adam Driver), dois jovens que se apaixonam súbita e profundamente. O protagonista parece ser uma figura bastante desapegada, disposto a largar sua família e sua vida luxuosa (já que o pai não aprova a relação dele com Patrizia) para ficar com a companheira. 

Pouco depois de se casar, ele decide se reaproximar da família (por insistência da própria Patrizia). A personagem de Lady Gaga não demora a se acostumar com a vida luxuosa dos Gucci - e não se contenta com pouco. Maurizio também se mostra bastante ambicioso a partir do momento que de fato se envolve nas engrenagens do poder. 


Apesar do casal de protagonistas ter uma presença muito forte na tela, os coadjuvantes também são primordiais. Al Pacino, é claro, está excelente como o tio Aldo Gucci. A performance de Jared Leto (que interpreta o filho de Aldo) é definitivamente marcante, gostando ou não do que “marcante” significa aqui.

Como não poderia deixar de ser, em determinado momento do filme os membros da família começam a se digladiar por claro, mais poder. Vemos os nossos protagonistas se transformarem, apesar de Patrizia nunca ter de fato escondido seu fascínio pelo universo Gucci. Quando vê a empregada da casa com uma bolsa da grife (que na verdade é uma réplica), ela claramente se sente ultrajada. 


Pode ser porque ela se preocupa com a marca e não quer saber de réplicas ou falsificações. Mas também por conta de uma questão inerente à existência de uma grife (qualquer que seja): a distinção entre quem pode e quem não pode comprar.

De muitas maneiras, o filme também reforça o que se pensa e o que se espera dos italianos - o que significa, claro, que não busca representar os mesmos com complexidade. Os personagens aqui são emotivos, bastante guiados pelos sentimentos e, sem surpresa, gritam muito (como parte do pacote estereótipo, sim, você irá ouvir piadas sobre a máfia). 


O crítico David Rooney, do The Hollywood Reporter, pontuou: “Acho que Gaga e Pacino podem jogar a cartada ítalo-americana, mas, na verdade, "House of Gucci" deveria carregar o equivalente a uma isenção de responsabilidade sobre o bem-estar animal, declarando: ‘Nenhum italiano esteve envolvido na produção deste filme’. É um inferno de acentos vacilantes'.

Apesar do evidente processo de “hollywoodização”, é positivo que o filme seja primordialmente ambientado em Milão, mostre muitos cenários locais e que ainda conte com atrizes, como a própria Gaga e a sempre ótima Camille Cottin, que escapam um pouco do padrão quadradíssimo das protagonistas de Hollywood.


Talvez seja lugar comum questionar a duração de qualquer filme que tenha quase três horas, mas algumas cenas aqui realmente parecem “sobrar”. Em determinados pontos do longa, em especial quando Gaga não está em cena, a história perde um pouco de fôlego. De qualquer maneira, as atuações e a trilha sonora empolgante (para quem ama os anos 80 com todo o coração) não permite que fiquemos simplesmente olhando para o teto.


Para quem quiser entender mais sobre o Império Gucci e o impacto da grife no mundo da moda, talvez o filme seja decepcionante. O mesmo vale para aqueles que desejarem ver uma produção mais realista, que apresente um estudo de personagens mais complexo. No entanto, para quem busca um bom entretenimento e estiver apto a embarcar num universo bem absurdo, o magnetismo de Lady Gaga pode ser mais do que suficiente para garantir uma boa sessão.


Ficha técnica:
Direção: Ridley Scott
Produção: Metro Goldwyn Mayer (MGM) / Scott Free Productions / Bron Studios
Exibição: nos cinemas
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 2h37
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Drama / Biografia

22 dezembro 2019

"Star Wars" encerra 40 anos de saga aparando pontos e emocionando ao conectar passado e presente

Rey, Poe, Finn, Chewbacca e os robôs C3PO, BB8 e R2D2 retornam a jornada para encontrar e derrotar o Imperador Palpatine (Fotos: Walt Disney Studios/Divulgação)

Maristela Bretas


Como falar de uma saga que marcou parte da minha vida, inspirou gerações e se encerra deixando uma sensação de que o dever foi quase cumprido? "Star Wars - A Ascensão Skywalker" ("Star Wars - The Rise of Skywalker") é um bom filme, bem ágil, com muita ação e esclarece várias dúvidas surgidas ao longo da saga, além de ótimos efeitos visuais, como era esperado de uma produção dirigida por J.J. Abrams. No entanto, o nono e último episódio da terceira fase e também de toda a franquia, iniciada em 1977 com "Guerra nas Estrelas - Uma Nova Esperança", é o menos impactante desta trilogia, apesar de ter um ritmo frenético.


Os momentos de emoção surgem quando alguns personagens e locações de filmes anteriores retornam à saga, conectando passado e presente na luta entre o lado bom e o lado sombrio da Força. As eletrizantes batalhas espaciais não ficaram de fora, assim como o local escolhido como palco para a derradeira disputa entre Rey e Kylo Ren - a destruída, mas não esquecida Estrela da Morte, do Episódio IV.


Também foi muito boa a ideia de utilizar cenas inéditas da General Leia Organa feitas para o episódio VII - "O Despertar da Força" (2015), inserindo as falas e trabalhando a parte técnica. Funcionou bem para compor uma das mais importantes personagens desta nova fase e permitir que ela participasse da história que encerra a saga, como estava previsto. Mas a morte prematura da atriz Carrie Fisher em dezembro de 2016, antes da estreia do Episódio VIII, exigiu uma modificação completa nas partes em que ela deveria aparecer.


A trilha sonora original, especialmente a música-tema composta por John Williams, é sempre um prazer à parte e ainda causa arrepios quando tocada. Daisy Ridley (Rey) está ótima, segura e é a melhor do trio principal. É em cima do mistério da história de Rey que gira quase toda a trama. Adam Driver também foi melhorando a cada filme e compõe bem o vilão Kylo Ren, que jurava que poderia superar o insuperável Darth Vader, seu avô. E são eles os responsáveis por uma das batalhas mais empolgantes deste filme.


Outro vilão que faz uma volta triunfal é o Imperador Palpatine, com boa interpretação do ator Ian McDiarmid, outro veterano da franquia. John Boyega (Finn) e Oscar Isaac (Poe Dameron) entregam bons papéis, mas nada excepcional. Ficou a impressão de que o trio de heróis, apesar de mais unido, não estava mais com a mesma emoção e euforia nesse encerramento como em "O Despertar da Força" quando contracenaram pela primeira vez com seus ídolos do passado.


Muito bom rever Billy Dee Williams pilotando a Millennium Falcon como Lando Calrissian ao lado de Chewbacca, que ficou mais conhecido na saga interpretado por Peter Mayhew e hoje é vivido pelo jovem ator finlandês Joonas Suotamo. Destaque também para C3PO (o robô dourado eternizado pelo ator Anthony Daniels), cuja atuação foi essencial neste episódio. Também foram inseridos novos personagens, o que ajudou a não deixar a história repetitiva.


Neste último episódio da saga, com o retorno do Imperador Palpatine, todos voltam a temer seu poder e, com isso, a Resistência toma a frente da batalha que ditará os rumos da galáxia. Mesmo com todo o treinamento recebido de Leia e Luke para se tornar uma Jedi, Rey ainda quer respostas sobre seu passado e o porquê de ter sido abandonada pelos pais. Sua ligação com Kylo Ren está cada vez mais forte e a coloca em dúvida sobre qual lado da Força deve seguir.

A franquia

Criada e dirigida pelo grande George Lucas, a franquia Star Wars foi sucesso desde o primeiro episódio, que na verdade é o quarto - "Guerra nas Estrelas - Uma Nova Esperança". E se superou com o excelente "Episódio V: O Império Contra-Ataca" (1980), encerrando a primeira trilogia com o "Episódio VI: O Retorno de Jedi" (1983). Foi o suficiente para criar e arrastar uma legião de fãs, que acompanhou a saga de Luke Skywalker, Princesa Leia, Yoda, Chewbacca, Han Solo, mestres Jedi como Obi-Wan Kenobi, os robôs R2D2 e o tagarela C3PO, as forças do mal comandadas pelo assustador Imperador Palpatine e o mais insuperável vilão de todos os tempos, Darth Vader.


O sucesso foi tão grande que inspirou seu criador a retomar a saga 16 anos depois, invertendo a ordem da história para contar, a cada três anos, a origem de tudo numa segunda trilogia, começando com o "Episódio I: A Ameaça Fantasma" (1999), seguida pelo "Episódio II: Star Wars: O Ataque dos Clones" (2002) e o "Episódio III: A Vingança dos Sith" (2005).


Dez anos se passaram até que a saga retornasse com o Episódio VII - O Despertar da Força". Era a vez de Rey, Finn e Poe Dameron se tornarem os novos heróis e Darth Vader dar lugar a um sucessor no lado sombrio - seu neto Kylo Ren. Mas foram as marcantes figuras de Han Solo (Harrison Ford), Princesa Leia Organa (Carrie Fisher), Luke Skywalker (Mark Hamill), Chewbacca (Peter Mayhew) que levaram às lágrimas fãs como eu, cada vez que surgiam na tela.


Entre spin-offs, alguns muito bons, como "Rogue One" (2016) e outros bem fracos, como "Han Solo" (2018), nasceu a terceira trilogia que, como as demais, conquistou uma nova geração e também as passadas. Em 2017 foi a vez de Rey iniciar seu treinamento com o mestre Luke, ao mesmo tempo que Kylo Ren ganhava força e poder em "Os Últimos Jedi". Com "A Ascensão Skywalker" a saga se encerra, mas vai sempre permanecer na lembrança do milhões de fãs que "Há muito tempo, em galáxias muito, muito distantes..." seguiram com paixão o mundo de Star Wars.


Ficha técnica:
Direção: J.J.Abrams
Produção: LucasFilm / Walt Disney Studios
Distribuição: Disney Buena Vista
Duração: 2h22
Gêneros: Ficção / Aventura /Ação
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 4 (0 a 5)

Tags: #StarWars, #StarWarsAAscensaoSkywalker, #DaisyRidley, #AdamDriver, #MarkHamill, #CarrieFisher, @OscarIsaac, #JohnBoyega, #JJAbrams, #DisneyBuenaVista, #cineart_cinemas, @cinemanoescurinho

22 novembro 2018

"Infiltrado na Klan" escancara a hipocrisia do racismo norte-americano

John David Washington é o policial negro  que inicia uma investigação com o colega Adam Driver contra uma das maiores seitas racista dos EUA (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Três grandes nomes do cinema atual - Spike Lee, Jordan Peele e Jason Blum - se uniram para produzir e entregar um dos melhores policiais do ano - "Infiltrado na Klan" ("Blackklansman"), um filme que bate sem dó na questão do racismo, cada vez mais forte nos Estados Unidos. Baseado no livro escrito por Ron Stallworth, o policial que desmascarou um dos maiores grupos racistas norte-americanos, a Ku Klus Klan, o longa revela que de Norte a Sul do país, a perseguição racial vem se tornando mais séria a cada dia.

Assim como em "Rodney King" (produção para a Netflix de 2017), Spike Lee tem procurado mostrar em seus filmes esta questão racial, que fez despertar também os movimentos de oposição promovidos por aqueles que sofrem ao longo dos anos. Apesar de ser um assunto sério, o diretor consegue mesclar no filme bons momentos cômicos para mostrar que o preconceito além de hediondo é burro e comandado por pessoas cujo ego fala mais alto que a razão.

"Infiltrado na Klan" começa sua história em 1978, quando Ron Stallworth (John David Washington) resolve se tornar o primeiro policial negro de uma pequena cidade no Colorado, no Centro-Oeste dos EUA, onde a Ku Klus Klan exerce uma grande influência. Com direito a cabelo black power e um estilo cheio de ginga, ele ainda acredita que o racismo na corporação não existe, mas aos poucos vai descobrindo outra realidade. E decide lutar contra isso, expondo os maiores responsáveis - os seguidores da seita - e precisará contar com ajuda do colega policial e judeu Flip Zimmerman (Adam Driver) para desmarcar o grupo.

Por meio de ligações telefônicas e cartas, Ron consegue se infiltrar na KKK, mas é Flip quem aparece nas reuniões. Toda a investigação dura meses, até Ron ocupar uma das lideranças da seita e receber como missão sabotar movimentos negros que começavam a se impor contra o preconceito e promover linchamentos e outros crimes de ódio dos racistas.

O personagem de John David Washington (que está excelente) vai ganhando força ao longo do filme, articulando toda a trama e envolvendo facilmente os integrantes da Klan com sua conversa bem articulada e culta para conseguir chegar ao líder supremo do movimento. Afinal, para os racistas, "negro não sabe falar, só usa gíria", o que torna mais fácil para Ron enganar seus inimigos.

Já Adam Driver faz a parte dos judeus, também alvo dos racistas, e seu personagem Flip vai descobrindo aos poucos a importância de suas origens a partir do momento que começa a se envolver com a seita e perceber que por ser judeu é tão discriminado quanto pessoas de outras raças e etnias.

Todo o elenco está excelente e conta ainda com Topher Grace, como David Duke, líder supremo da KKK; Ryan Eggold, um dos seguidores; Laura Harrier, a militante negra Patrice Dumas; Jasper Pääkkonen, Ashilie Atkinson como o casal racista também integrante da seita.

"Infiltrado na Klan" também apresenta grandes figuras negras norte-americanas como Angela Davis (apenas citada), que foi fonte de inspiração para várias jovens, incluindo Patrice Dumas, na forma de pensar, de se vestir e no corte de cabelo. Corey Hawkins e Harry Belafonte interpretam os líderes negros Kwane Ture e Jerome Turner, respectivamente, que atraíram milhares de seguidores pelo país.

O filme revela ainda como é grande a hipocrisia do sistema na questão racial que, mesmo a seita tendo sido desmascarada, ela não perdeu força e ganhou novos seguidores ao longo dos anos, garantindo espaço inclusive em importantes cargos no governo. A forma como Spike Lee foi contando a trajetória do racismo norte-americano, usando até mesmo cenas de "E o vento levou" para ilustrar a Guerra de Secessão (Guerra Civil nos EUA entre os estados do Sul e do Norte, entre os anos de 1861 e 1865) até chegar às imagens dos conflitos raciais ocorridos neste ano, é um diferencial. 

Um soco no estômago e também uma aula de história sob o ponto de vista daqueles que têm sofrido ao longo dos anos com o preconceito, em especial os negros, mas que souberam impor sua força e sua voz. Roteiro, direção, figurinos, reconstituição de época e trilha sonora estão impecáveis, mas acima de tudo "Infiltrado na Klan" é um filme excelente, realista, atual, que questiona e critica duramente o atual governo norte-americano. Um dos melhores filmes de Spike Lee. Recomendadíssimo.



Ficha técnica:
Direção e roteiro: Spike Lee
Produção: Blumhouse Productions / Focus Feature
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 2h16
Gêneros: Policial / Biografia
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 5 (0 a 5)

Tags: #InfiltradoNaKlan, #SpikeLee, #JohnDavidWashington, #AdamDriver, #racismo, #movimentonegro #espaçoz, @cineart_oficial, @cinemanoescurinho