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02 agosto 2022

"Além da Lenda: O Filme" é uma bela mensagem de valorização ao nosso rico folclore

Primeiro longa de animação pernambucano conta com a dublagem de Gabriel Leone e Hugo Bonemer (Fotos: Boulevard Filmes)


Maristela Bretas


Que tal reunir em uma mesma tela grandes lendas do folclore brasileiro, como o Saci, a Cuca, o Boto, Negrinho do Pastoreio e vários outros, numa disputa contra a invasão de personagens de culturas estrangeiras? Pois essa é a proposta de "Além da Lenda - O Filme", uma animação divertida, colorida e com uma importante mensagem para o público infantil. 

Com distribuição da Boulevard Filmes, o longa estreia nesta quinta-feira nas cidades de Belo Horizonte, Recife, Paulistas (PE), São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Porto Alegre, Brasília e Ananindeua (PA).


Com direção de Marília Mafé e Marcos França, este é o primeiro longa de animação pernambucano e reúne o trabalho de 40 profissionais. Eles são os responsáveis em trazer para a telona a série de TV "Além da Lenda", de 13 episódios, exibida desde 2018 na TV Brasil, na TV Globo NE/Pernambuco e em outras emissoras. 

Além do filme, as lendas brasileiras da série estão presentes também em nove livros, redes sociais, podcast e outras plataformas e deverá ganhar um game inspirado no longa, como afirmou em entrevista Ulisses Brandão, produtor executivo e roteirista da série e do filme.


A trama envolve o Livro Sagrado das Lendas Brasileiras, que reúne todas as histórias do folclore nacional e fica escondido na Montanha Coração do Brasil, vigiado pelo engraçado Vaqueiro Misterioso (voz de JR Black). Ele só é atualizado uma vez por ano, no dia do Saci (dublado por Alex Lima), 31 de outubro. 

Porém, um trio que simboliza o Halloween dos norte-americanos (cuja festa é comemorada na mesma data do nosso conhecido personagem de uma perna só) vem ao Brasil neste dia e é recebido como celebridade pelos jovens.


Mas a turnê da gata-bruxa Witchika (Mônica Feijó) e seus comparsas, o macabro espectro Midnight (Anderson Macário) e o atrapalhado espantalho Jerry Moon (novamente Alex Lima) é apenas um despiste para roubarem o livro e acabarem com nossas lendas. 

Apesar dos jovens e crianças de hoje adorarem personagens e super-heróis estrangeiros, ainda existem aqueles que, em algum momento, tiveram contato com nossa cultura e gostaram das histórias. 


Tudo começa quando, durante uma brincadeira, Comadre Fulozinha (Bruna Cortez), Negrinho do Pastoreio (Robson Ugo) e Curupira (Hugo Bonemer) acabam perdendo o livro. Liderados por Cuca (Irina França) e Comadre Fulozinha, Cabra Cabriola /Bicho Papão (Pablo Ferreira), Boto (Marcelo Trigo), Chibamba (também Anderson Macário) e Vaqueiro Misterioso saem à procura do precioso objeto, que precisa voltar à montanha antes da meia-noite. 


O livro sagrado acaba caindo nas mãos de Lucas (Gabriel Leone), um fã de super-heróis, quadrinhos e games, mas desconhecedor das lendas brasileiras. Ele adora desenhar e começa a alterar os personagens do livro, mudando suas histórias. 

Na busca pelo livro, os caminhos de nossos amiguinhos folclóricos se cruzam com os do garoto e o de sua amiga Nicole (Gabriela Melo). Nasce daí uma grande amizade e o respeito à importância de proteger e divulgar a cultura brasileira, reforçada especialmente pelo sotaque nordestino.


"Além da Lenda" traz os dubladores da série de TV e novos nomes, como Hugo Bonemer e Gabriel Leone. O objetivo da produção é mostrar às crianças que também temos super-heróis com poderes bem legais e histórias emocionantes. 

Saci, um dos personagens mais conhecidos, vem com uma linguagem bem atual e vai abrir caminho para outras importantes lendas que precisam ser preservadas. O longa é movimentado, engraçado e uma boa opção para levar as crianças ao cinema nas férias.


Ficha técnica
Direção: Marília Mafé e Marcos França
Produção: Viu Cine
Distribuição: Boulevard Filmes
Duração: 1h26
País: Brasil
Classificação: Livre
Gêneros: animação, aventura

29 junho 2022

“Carro Rei” é curioso e instigante, mesmo se perdendo no excesso de discursos

Produção é um prato cheio para apreciadores de ficção científica e tem Matheus Nachtergaele como destaque (Fotos: Boulevard Filmes/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Mais do que ousado, “Carro Rei” é um filme estranho. Misturando automóveis que falam, agroecologia, rebelião de máquinas poderosas, tecnologia desenfreada e um certo maniqueísmo de homens versus robótica, a ficção científica dirigida por Renata Pinheiro deixa ao final uma sensação de história mal contada. Talvez até pelo excesso de temas, todos oportunos, certamente, mas nem sempre bem colocados e costurados. O filme estreia nesta quinta-feira na sala 3 do Una Cine Belas Artes.


O roteiro, escrito por Leo Pyrata, Sérgio Oliveira e a própria diretora, chega a ser instigante e curioso: Luciano Pedro Júnior interpreta o filho do dono de uma empresa de táxi. Seu nome, como não poderia deixar de ser, é Uno. 

Na intimidade, o menino solitário e órfão de mãe, e que cresceu entre automóveis, é chamado de Uninho ou Ninho. E ele tem uma particularidade também inusitada, pois, desde criança, se comunica com carros. A voz é do ator Tavinho Teixeira.


Na outra ponta da família está Zé Macaco, tio de Uninho, interpretado magistralmente pelo sempre brilhante Matheus Nachtergaele. Dono de um ferro velho, ele também entende a alma dos automóveis e, embora pareça ser um homem rude, é capaz de alguma subjetividade, nem sempre do lado do bem.

A trama toda começa a esquentar quando o prefeito de Caruaru, cidade onde se passa a história, proíbe que carros fabricados antes de 2003 circulem pelas ruas. O início de uma rebelião e a consequente transformação do velho automóvel em um Carro Rei com plenos poderes ao mesmo tempo em que elevam o tom do longa, pode confundir o espectador.


Para tentar personificar o - digamos - lado bom da história, o roteiro apresenta estranhezas nem sempre justificáveis como a jovem Mercedes (Jules Eiting) que transa com o tal Carro Rei, e a bem intencionada e ecológica Amora (Clara Pinheiro de Oliveira), cheia de ideias de sustentabilidade, de limpar o solo e salvar o Planeta. É a mocinha da história.

Não se pode dizer que “Carro Rei” seja um filme desinteressante. De jeito nenhum. Quem começa a assisti-lo, vai, certamente, chegar até o final, mesmo que seja para descobrir que as causas são boas e os discursos necessários. Mas talvez isso tudo careça de uma maior articulação para desembaralhar e unir as pontas.


Ficha técnica:
Direção:
Renata Pinheiro
Distribuição: Boulevard Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h37
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gêneros: fantasia, drama

13 maio 2021

“Libelu – Abaixo a Ditadura”: quando a juventude quer mudar o mundo

Reunião da Libelu numa das salas da USP, local onde começou o movimento (Foto: Arquivo/ Jornal O Trabalho)

Mirtes Helena Scalioni


O que há em comum entre o comentarista global Demétrio Magnoli, o ilustrador e músico Cadão Volpato, o ex-ministro Antônio Palocci, a roteirista e blogueira Fernanda Pompeu, o economista e escritor Eduardo Giannetti, o jornalista Reinaldo Azevedo, o crítico de gastronomia Josimar Melo e o diretor executivo da CUT, Júlio Turra? Resposta rápida: todos – e mais outros tantos – fizeram parte, na década de 1970, de uma organização chamada Liberdade e Luta, cuja história está muito bem contada no documentário “Libelu – Abaixo a Ditadura”. 

Reinaldo Azevedo (Foto: João Saldanha/Boulevard Filmes)

O documentário será exibido em salas especiais de cinema no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília de hoje até o dia 19 de maio. Nas plataformas de OnDemand do Now, Vivo Play, Oi Play, Google Play, iTunes e Apple TV, "Libelu" estreia dia 27 de maio, para aluguel. A primeira exibição no Canal Brasil está agendada para 20 de julho e, em agosto, será a vez de a Globonews mostrar o documentário.

A direção, correta e sem muita invencionice, é de Diógenes Muniz, que conseguiu ouvir cerca de 20 ex-integrantes da Libelu, grupo que juntou, naqueles anos de chumbo, moças e rapazes trotskistas que acreditavam ser possível mudar o mundo. 

Cadão Volpato (João Saldanha/Boulevard Filmes)

Radicais, quase inconsequentes, os jovens faziam questão de dizer que a Liberdade e Luta, braço – digamos – mais despojado da OSI (Organização Socialista Internacionalista) não era um partido e sim uma tendência. Segundo alguns, o nome, criticado inicialmente pelos concorrentes por ser infantil e meio tatibitate, ganhou força e expressão pela seriedade e disposição da turma. Eram todos altamente politizados.

Encontro do Movimento Estudantil (Foto Arquivo/Jornal O Trabalho)

Criada em 1976 na USP, em plena vigência do AI-5, a Libelu fez história e é muito bom que isso tudo seja contado agora, quando cada um tomou seu rumo e, com distanciamento, consegue analisar – com saudade, desdém, complacência ou orgulho – as aventuras de um grupo que não hesitava em desafiar o todo-poderoso da repressão da época, o deputado e coronel Erasmo Dias. Um caso a parte é o depoimento de Antônio Palocci que, em prisão domiciliar, faz uma breve confissão de erros e arrependimentos.

Antônio Palocci (Foto: João Saldanha/Boulevard Filmes)

Além das entrevistas, o documentário exibe trechos de matérias da época, com direito a manifestações, passeatas, quebra-quebra, violência policial e valentias, além de uma entrevista que, na época, o jornalista Mino Carta fez com alguns representantes do grupo. 

Há casos deliciosos, como por exemplo, a história de um dos gritos de guerra mais usados pela tendência, “abaixo a ditadura”, uma sacada do então estudante Josimar Melo, que hoje optou por falar de algo mais leve: a gastronomia.

Josimar Melo (Foto: João Saldanha/Boulevard Filmes)

Bom também é ver senhores responsáveis e sérios lembrando e concordando que a tendência Libelu, diferentemente de outros agrupamentos de esquerda da época, gostava de rock. Enquanto os demais curtiam MPB e canções de protesto, a turma da Liberdade e Luta se permitia varar a noite em festas regadas a cerveja, Rolling Stones e Santana. 

Se as outras organizações eram caretas, eles eram modernos, sabiam ser alegres, namorar e dançar. Já naquela época, muitos se cumprimentavam com selinhos, independentemente de ser homem ou mulher.

Ricardo Pereira de Melo - making off (Foto: João Saldanha/Boulevard Filmes)

Outra particularidade da Libelu: embora fossem submetidos a uma disciplina mais ou menos rígida, os jovens se permitiam fazer política por meio da arte. Não era raro vê-los fantasiados pelas praças, galerias ou dentro dos ônibus, sempre com mensagens contra o regime militar. Ou então, interrompendo peças de teatro para fazer uma performance e dar seu recado de luta.

Talvez a juventude de hoje não compreenda as armas daquele tempo. Mas é difícil não se emocionar vendo “Libelu – Abaixo a Ditadura”. Quem sabe os jovens até gostem de saber que, em manifestações e assembleias daquele tempo sombrio, aqueles rapazes e moças idealistas usavam um grito de guerra que os enchia de vigor, energia e entusiasmo

Laura Batista - making off (Foto: João Saldanha/Boulevard Filmes)


A ideia veio do filme italiano “O incrível exército de Brancaleone”, de 1966, de Mario Monicelli, que conta as aventuras de um homem que, com coragem e valentia, forma um exército de soldados tão maltrapilhos quanto ele para percorrer a Europa do século XI montado num pangaré lutando pela terra que julgava ter direito. Não deixa de ser uma inspiração.


O documentário tem locação única, no prédio da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP), projetado pelo arquiteto Vilanova Artigas, também perseguido e exilado pelo regime militar (1964-1985).

Para Letícia Friedrich, produtora-executiva do projeto pela Boulevard Filmes, a obra, vencedora na categoria Melhor Documentário Nacional do Festival É Tudo Verdade 2020, dialoga com a atualidade política e cultural do país, apesar de resgatar um evento que se encerrou entre os anos 1970 e 1980. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Diógenes Muniz
Exibição: Dia 27 nas plataformas Now, Vivo Play, Oi Play, Google Play, iTunes e Apple TV (para alugar) // Dia 20/07 - Canal Brasil // Agosto - Globonews 
Produção: Boulevard Filmes / GloboNews / Globo Filmes / Canal Brasil
Distribuição: Boulevard Filmes
Duração: 1h35
Classificação: Livre
País: Brasil
Gênero: Documentário

05 maio 2021

Surpreendente, mas arrastado e enigmático, “Raia 4” deixa o espectador reticente e incompleto

Longa marca a estreia do roteirista Emiliano Cunha como diretor e já participou de vários festivais de cinema internacionais (Fotos: Tuane Eggers/ Ausgang)

Mirtes Helena Scalioni


Pode-se até dizer que “Raia 4” é um filme que oferece várias leituras, algumas delas carregadas de símbolos e significados. Por ser um longa quase que totalmente passado numa piscina e em volta dela, onde os personagens estão sempre treinando ou competindo, a água é uma dessas metáforas possíveis: o único meio onde a personagem principal, a nadadora Amanda (Brídia Moni), consegue se refugiar e se sentir segura.


Só que, para além das metáforas, “Raia 4” não é exatamente um longa fácil de assistir. Lento, com mais silêncios do que diálogos, pode levar o espectador a interpretá-lo, até quase o final, como um filme no qual nada acontece. Tudo é mais ou menos colocado, mais ou menos explicado e suavemente sugerido nesse trabalho de estreia de Emiliano Cunha que recebeu, inclusive, o Prêmio de Crítica do Festival de Gramado em 2019. 


A começar por Amanda, que começa a história aos 12 anos de idade, tudo é misterioso. Nada fica claro. Impossível dizer, por exemplo, se aquela pré-adolescente é reservada, tímida, problemática, apaixonada, traumatizada, enigmática ou simplesmente emburrada. Ao longo de toda a trama, ela fala pouquíssimo, tanto em casa quanto no grupo de amigos, e o público permanece sem saber o que ela sente, o que pensa, o que quer.


Com o desenrolar da trama, na medida em que se vai conhecendo a família da menina, percebe-se que ela vive num grupo familiar sem grandes problemas. Os pais, médicos, são ocupados em suas profissões, mas afetuosos e, em nenhum momento, pode-se concluir que a filha não tem o apoio deles. Em seus papéis de pai, Rogério (Rafael Sieg) e a mãe, Marta (Fernanda Chicolet), pouco podem fazer para esclarecer ou melhorar o ritmo da história.


O mesmo acontece no grupo de amigos. Amanda não se revela nem entre os meninos nem entre as meninas. Há momentos em que ela parece ter alguma atração por sua colega de natação, Priscila (Kethelen Guadagnini), mas isso também não fica claro. 

Ao participar dos jogos e brincadeiras de pré-adolescentes, cujas prendas não passam de beijos selinhos, ela também não se revela. Em suma, a personagem tem o mesmo semblante quando está treinando, competindo, comendo, conversando com seu treinador Fábio (José Henrique Ligabue) ou vendo um filme de terror.


“Mas o final surpreende” – podem alegar alguns analistas. Claro que filmes com finais surpreendentes são sempre ricos e bem-vindos, prolongando, inclusive, os sentimentos, impactos e emoções do espectador. Só que, no caso de “Raia 4”, nada no longa parecia levar àquele fechamento. O que fica é a sensação de que o público perdeu algo ou a trama não foi devidamente costurada. 

Além do prêmio de Crítica, "Raia 4" conquistou também o de Melhor, Fotografia (assinada por Edu Rabin) e Melhor Longa gaúcho no Festival de Gramado de 2019. O filme foi exibido também nos festivais do Panamá, Cartagena das Índias (Colômbia), Uruguai, na mostra competitiva do 22º Festival de Xangai, Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e no Festival do Rio. O longa estreia dia 20 de maio nas plataformas digitais Now, Google Play, Apple Tv, iTunes e Youtube Filmes.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Emiliano Cunha
Exibição: estreia dia 20 de maio nas plataformas Now, Google Play, Apple TV, iTunes e Youtube Filmes
Distribuição: Boulevard Filmes
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Duração: 1h35
Gênero: drama

11 setembro 2019

Mesmo romanceado, "Legalidade" é uma oportuna aula de História do Brasil

Leonardo Machado interpreta um Brizola seguro, com sotaque e entonação característicos do líder (Fotos: Joba Migliorin/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Para quem tem fome de História, "Legalidade", dirigido por Zeca Brito, que entra nesta quinta-feira (12) em cartaz em Belo Horizonte, é simplesmente um prato cheio. O ano é 1961, o presidente eleito Jânio Quadros renuncia e o imbróglio está criado: o vice João Goulart, democraticamente escolhido pelo voto, corre o risco de não tomar posse por causa de suas ideias socialistas. Enquanto o Exército brasileiro, com o apoio de parte da população, faz tudo para impedir que ele suba a rampa em Brasília, no Rio Grande do Sul nasce e cresce um movimento forte para que Jango seja empossado. E quem lidera essa luta, que ficou conhecida como Rede da Legalidade, é o então governador gaúcho Leonel Brizola. 


Já que, por aqui, há muito se diz que brasileiro tem memória curta, tomar conhecimento de como se criou o movimento gaúcho pela posse de João Goulart é um deleite. O que pode ter passado à História como mera bravata surge, na tela, como uma rede construída com muita coragem, ousadia, luta e união. E muito da credibilidade que o filme passa se deve à interpretação certeira de Leonardo Machado, a quem o longa é dedicado no final. 



O ator gaúcho morreu em setembro de 2018, aos 42 anos, depois de ter apresentado por anos o Festival de Gramado e de ter ganhado o Kikito de Melhor Ator em 2009 por "Em Teu Nome". Leonardo interpreta um Brizola seguro, com sotaque e entonação característicos do líder, sem nunca ceder à facilidade do exagero e da caricatura. O filme conta com cenas passadas também em 2001 e 2004, com avanços no tempo e flashbacks.


Assim como Leonardo Machado, os demais atores só enriquecem "Legalidade": Letícia Sabatela como Branca, uma jornalista que, nos anos de 2000 investiga o desaparecimento de sua mãe durante a ditadura militar; Fernando Alves Pinto, que faz o antropólogo Luiz Carlos, e José Henrique Ligabue, que vive o ingênuo fotógrafo Tonho. Os dois, que são irmãos, formam um triângulo amoroso com Cecília Ruiz (Cleo Pires), jornalista do The Washington Post que, aparentemente, vem ao Brasil para cobrir o movimento gaúcho. 


Se a direção de arte, os cenários e os figurinos não deixam o espectador se esquecer da triste realidade passada na década de 1960, o mesmo não se pode dizer da trama paralela, o romance vivido por Cecília/Luiz Carlos/Tonho. A historinha fora da História soa falsa, inadequada e inútil. A impressão que se tem é que foi colocada no filme com a intenção de torná-lo mais palatável. Não precisava. Alguém que sai de casa para ver um filme sobre fatos relativamente recentes do Brasil, dificilmente vai se deixar encantar por beijos, corpo e transas da atriz Cleo - que não usa mais o sobrenome Pires.


Enfim, "Legalidade" é um filme necessário, principalmente neste Brasil de hoje, quando muitos temem pelo fim da democracia e do cumprimento da Constituição. Ver como os gaúchos, naquele ano de 1961, com toda a precariedade das comunicações, enfrentaram com organização, bravura, solidariedade e coragem, a ameaça de uma ditadura que acabou chegando três anos depois, não deixa de ser um alento. Mais do que isso, um estímulo. Na sessão de pré-estreia, houve aplausos no final.

A obra foi premiada recentemente durante o 42ª Festival Guarnicê de Cinema (São Luís - MA), vencendo nas categorias de Melhor Direção (Zeca Brito), Direção de Arte (Adriana Borba), Fotografia (Bruno Polidoro) e Melhor Ator (Leonardo Machado - in memoriam). “Legalidade” é o sexto longa de Zeca Brito e foi inteiramente rodado no Estado do Rio Grande do Sul.

Ficha técnica
Direção: Zeca Brito    
Roteiro: Zeca Brito e Leo Garcia
Produção: Prana Filmes
Distribuição: Boulevard Filmes
Duração: 2h02
País: Brasil
Classificação: 14 anos

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