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18 setembro 2019

13ª CineBH Mostra Internacional de Cinema: noite memorável de festa e resistência

Os quatro integrantes da Filmes de Plástico receberam o Troféu Horizonte na abertura do festival (Foto: CineBH/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni



Mais do que o privilégio de sermos os primeiros brasileiros a assistirem "A Vida Invisível", filme que vai nos representar no Oscar, a sessão de abertura da 13ª edição da CineBH - Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte, na noite de terça-feira (17), provocou outro tipo de emoção na platéia que lotou o Cine Theatro Brasil Vallourec. Era visível, quase palpável, a sensação de pertencimento que tomou conta dos espectadores quando a apresentadora Rejane Faria subiu ao palco para fazer as honras da casa. Depois de abrir o evento, falar das dificuldades de se fazer cinema no Brasil, ser aclamada por todos, ela apresentou a banda Diplomatas, que fez sucesso com canções que eram verdadeiros gritos de protesto.

Não faltaram projeções de manchetes com as últimas do atual presidente da República prometendo acabar com a Ancine e ameaçar censurar o que não for do agrado do governo, sempre recebidas com vaias e protestos. O clima tornou-se mais íntimo quando a premiada atriz e diretora Grace Passô subiu ao palco. É como se ela fosse "gente de casa". Mas o clímax mesmo foi a homenagem que a produtora Filmes de Plástico recebeu da organização do festival. Um justo reconhecimento aos quatro integrantes da trupe que, a partir de Contagem, estão levando o nome de Minas para o mundo.



Ninguém escondeu a emoção. Os diretores André Novais Oliveira, Gabriel Martins e Maurílio Martins, além do produtor Thiago Macêdo Correia, não seguraram as lágrimas. Dois deles, inclusive, confessaram ter sido, na infância, frequentadores do antigo Cine Brasil, o único da cidade, segundo contaram, que oferecia ingressos a preços populares. 


Diretores da Filmes de Plástico recebeu o Troféu Horizonte (Foto: Leo Lara)

Reconhecidos hoje em festivais mundo afora, de Rotterdam a Marseille, de Lisboa a Los Angeles, os rapazes da Filmes de Plástico agradeceram à cidade de Contagem e as parcerias, citaram nomes de familiares e vizinhos e prometeram continuar fazendo cinema, apesar da onda contrária. O sucesso do longa mais recente da produtora, "No Coração do Mundo", tem sido praticamente uma unanimidade.

Julia Stocler, KArim Aïnouz e Carol Duarte em Cannes (AFP)
Foi só depois de muita emoção, pequenas falas e algum protesto, que a equipe de "A Vida Invisível" subiu ao palco para, finalmente, apresentar o longa de Karim Aïnouz que vai representar o Brasil na maior festa mundial do cinema em Los Angeles no ano que vem. Entre os que vieram a BH, estavam as atrizes Carol Duarte e Julia Stocler e o produtor Rodrigo Teixeira. Inspirado no livro "A Vida Invisível de Eurídice Gusmão", de Martha Batalha, o longa, que conta com pequena participação de Fernanda Montenegro, ganhou o Prêmio Principal da Mostra Paralela Un Certain Regard no Festival de Cannes, em maio de 2019. O filme só chega às salas no Brasil no final de outubro.


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03 agosto 2019

"No Coração do Mundo": periferia, desigualdade, violência e esperança com sotaque mineirinho

Filmado na periferia de Contagem, longa é o mais recente trabalho dos diretores belo-horizontinos Gabriel Martins e Maurílio Martins (Fotos: Leonardo Feliciano)


Mirtes Helena Scalioni



É possível conciliar ética e honestidade com uma vida cheia de privações e sacrifícios nesses tempos de consumismo, vaidades e exibicionismos? É possível resistir a tantas delícias que parecem fáceis quando se vive num lugar chamado Laguna, a periferia da periferia da cidade de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte? Em nome de quê alguém pode seguir trabalhando honestamente, mesmo sendo maltratado e humilhado? Há esperança para os jovens pobres neste Brasil de tanta desigualdade? É mais ou menos isso que parece perguntar o filme "No Coração do Mundo", em cartaz no Belas Artes e Cineart Shopping Contagem.


Gabriel Martins e Maurílio Martins, os diretores do longa, conhecem muito bem essa realidade. Ambos viveram em Contagem e assinaram o premiado curta-metragem "Contagem/The inside", em 2010. Não é por acaso que apostam no tema favela/periferia/violência/drogas depois de tantos filmes tratando do assunto. Sai Cidade de Deus, entra Laguna. Sai Rio de Janeiro, entra Contagem. Sai o sotaque carioca com seus xis, entra o mineirês característico, quase caricato, com seu "uai", "sô" e "nossinhora". Muda o sotaque, mas a questão permanece: uma juventude abandonada à própria sorte, pulando de galho em galho, vivendo de bicos ou de trabalhos mal remunerados, amenizando o cotidiano com frequentes tragadas de maconha. Ninguém é de ferro.


Marcos (Leo Pyrata) é exemplo típico do jovem da periferia de Contagem (e de outras tantas cidades Brasil afora). Vive de pequenos delitos, sonha se casar com a batalhadora e romântica Ana (Kelly Crifer), que trabalha duro como cobradora de ônibus e vive se metendo em encrencas. Entre seus amigos estão figuras como uma ex-presidiária com quem conversa sempre enquanto divide o cigarro de maconha; a cabeleireira (Bárbara Colen), que dá duro no salão, tem marido, amante e ainda planeja "fazer Uber" à noite para complementar o orçamento e, ultimamente, a fotógrafa Selma (Grace Passô), que o convida a participar de um grande golpe, capaz de consertar para sempre a vida dele e de Ana.


A primeira cena de "No Coração do Mundo" já sinaliza: trata-se de um filme de grandes atuações, embora não conte com nenhum nome global/televisivo. Magnífica como sempre, Karine Teles ("Que Horas Ela Volta" - 2015, e "Benzinho" - 2018) tem pequena, mas marcante participação no início como a locutora daquelas empresas que promovem festas-surpresa. Todo o elenco está muito bem, com interpretações tão naturalistas que lembram um documentário.


Além da talentosa Grace Passô, conhecida em BH como grande atriz, autora e diretora de teatro, merecem destaque Leo Pyrata, que entrega um Marcos meio ingênuo, meio malandro; Kelly Crifer como a esperançosa e bela Ana; e Bárbara Colen como a cabeleireira que consegue trabalhar e viver como ninguém. Como são atores desconhecidos em sua maioria, não se justifica que, no final do longa, os nomes apareçam sem identificação dos personagens para que o público os reconheça. A relação atores/personagens só aparece mesmo naquela lista grande no final dos créditos, sem qualquer possibilidade de destaque.


A trilha sonora, repleta de funks e raps modernos e criativos, prova mais uma vez que a música que se faz em Minas vai muito além das canções de papo cabeça do Clube da Esquina ou dos rocks e baladas de Skank e Jota Quest. Com letras provocativas e rebeldes e ritmo envolvente, as canções de "No Coração do Mundo" são praticamente um personagem à parte.

Embora às vezes apresente cenas e personagens praticamente inúteis, como se a direção quisesse insistir para que o espectador jamais se esquecesse de onde e como aquele pessoal vive, há toques interessantes como a presença teimosa da religião com seus cantos e louvores permeando a miséria. Mas no fundo, todos - os bons, os maus e os moderados - estão em busca de mudança. Querem todos se mudar para um lugar chamado coração do mundo, que, segundo consta, fica bem pertinho de algum paraíso, onde a esperança sempre se renova.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Gabriel Martins e Maurílio Martins
Produção: Filmes de Plástico
Distribuição: Embaúba Filmes
Duração: 2 horas
Gênero: Drama
Localidade: Contagem (MG)
Classificação: 16 anos

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