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13 abril 2023

“O Lodo” promete encantar e instigar plateias Brasil afora

Estranho, forte, real, contundente e mágico, filme dirigido por Helvécio Ratton é baseado no conto homônimo de Murilo Rubião (Fotos: Bianca Aun e Lauro Escorel)


Mirtes Helena Scalioni


Que ninguém se engane. O filme “O Lodo”, baseado no conto homônimo de Murilo Rubião, que estreia nesta quinta-feira (13) em todo o Brasil, não tem nada de leve e divertido como pode parecer no início, quando muita gente ri da insistência meio pegajosa do psiquiatra Dr. Pink.

Ele quer, a todo custo, continuar cuidando do seu novo cliente Manfredo, já que ele, embora deprimido, desiste do tratamento na primeira sessão. 

A cena dos dois discutindo naquele consultório – um no divã e o outro de costas, no sofá – leva o público a inevitáveis risadas. Puro engano.


O grande mérito do filme dirigido pelo mineiro Helvécio Ratton talvez seja este: enlevar, quase enfeitiçar o público até transportá-lo, com destreza e maestria, para um outro lugar.

Devagar, o riso vai virando um sorriso amarelo e, bem aos poucos, uma espécie de desconforto vai sendo construído na cabeça e no corpo do espectador, que acaba atolado num lamaçal – lodo? - que mais parece uma areia movediça.

Roteiro, direção, iluminação, fotografia, edição, tudo parece ter sido minuciosamente pensado para quebrar as estruturas do público.


Dita assim, rasteiramente, a história poderia ser simplesmente resumida como: Manfredo, funcionário burocrático de uma empresa de seguros, anda se sentindo desanimado e procura um especialista com o objetivo de obter um remedinho e voltar à normalidade.

Só que, desde a primeira consulta, o Dr. Pink insiste, de maneira incisiva e autoritária, que seu cliente precisa de novas sessões para falar do passado e, só assim, se livrar do lodo interno que o corrói e adoece.


Quem conhece o escritor sabe que “O Lodo” é essencialmente Murilo Rubião, com seus absurdos concretamente reais, seus delírios solidamente palpáveis.

Sem nenhum estranhamento, o público do filme de Ratton assimila – e aceita – a mágica fantasia dos personagens e acontecimentos. De bom grado e com naturalidade, como se tudo aquilo fizesse parte da vida.

As atuações de “O Lodo” são um capítulo à parte, assim como o cenário, a região mais central de Belo Horizonte, com locais facilmente reconhecíveis por quem conhece a cidade.


Assim como a maioria do elenco, Eduardo Moreira, que interpreta magistralmente o protagonista, faz parte do Grupo Galpão. 

Ele entrega um Manfredo trabalhador, burocrático, solteiro convicto, paquerador e mulherengo, sem nenhuma disposição para remexer o passado, talvez por medo das próprias lembranças.

Renato Parara, outro ator experiente, faz com brilho o esquisitíssimo psiquiatra que passa a perseguir seu cliente tanto em pesadelos como na vida real.


Estão ainda no elenco, todos com atuações perfeitas e na medida, Teuda Bara como D. Sirlene, a dedicada empregada de Manfredo; Maria Clara Strambi e Inês Peixoto como Epsila, a irmã adolescente e depois adulta do protagonista; Rodolfo Vaz como Xavier, o colega de trabalho de caráter duvidoso; Thaís Mazzoni como a colega de trabalho gostosinha Ana.

Temos também Fernanda Vianna como a amante Laura; Samira Ávila como a sedutora secretária do Dr. Pink; Mário César Camargo (que nos deixou há pouco tempo), como o chefe da seguradora; e Claudio Márcio como o estranho menino que chega a Beagá com Epsila.


Também é preciso citar a fotografia ora onírica, ora real, de Lauro Escorel, e a participação de L.G Bayão como roteirista parceiro de Helvécio Ratton a partir do conto. 

Com facilidade, ao final, o público vai sair com a certeza de que o grupo foi cuidadosamente montado para que a magia do filme pudesse acontecer. Imperdível!


Ficha técnica:
Direção: Helvécio Ratton
Produção: Quimera Filmes
Distribuição: Cineart Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h34
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gênero: drama

23 agosto 2019

Impossível sair impune de "Entre Tempos", filme que trata de amor, diferenças e lembranças

Luca Marinelli e Linda Caridi formam o belo casal Lui e Lei que, desde o início, exala uma química quase perfeita (Fotos: Sara Petraglia/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


"Lui e Lei são duas pessoas completamente diferentes entre si, mas que formam um casal intenso e apaixonado. Juntos durante anos, seus sentimentos estão em conflito constante, mostrando uma montanha-russa emocional entre eles: enquanto Lei acredita em um futuro brilhante, Lui não consegue deixar de viver no passado. Ao longo dos anos, o par coleciona frustrações, alegrias, tristezas e angústias". 

Que ninguém se iluda que está diante de mais uma história de amor ao ler essa sinopse oficial e simplesinha de "Entre Tempos". Trata-se, sem dúvida, de um filme sobre o romance de um casal, mas o jeito que o diretor italiano Valerio Miele imprimiu à sua narrativa é praticamente um personagem à parte. Mais do que uma ferramenta, o ritmo do longa torna-o único.



É tão louca e tão sui generis a forma como o filme é contado, com flashbacks e lampejos rápidos confundindo passado e presente, infância e vida adulta, que o espectador pode ter uma inusitada curiosidade de saber quem é o responsável pela montagem. Pois o autor da façanha é uma autora, Desideria Rayner, cujo trabalho e perfil podem ser facilmente encontrados na internet. Uma craque, sem dúvida. Não fosse ela, talvez o roteiro, que é do próprio diretor, não se transformasse no filme diferente que virou. Para início de conversa, Lui e Lei não são nomes próprios dos personagens principais, interpretados na medida por Luca Marinelli e Linda Caridi. Lui e Lei são, simplesmente, Ele e Ela traduzidos do italiano.



Se alguém quiser traduzir em uma linguagem mais óbvia a sinopse de "Entre Tempos", talvez pudesse dizer que se trata de um filme sobre a complexidade das relações de amor, sobre a ideia de que os opostos sempre se atraem ou sobre a fascinação quase doentia que o diferente exerce sobre o outro. O filme é tudo isso, mas seria raso demais resumir só nisso um longa que, originalmente, chama-se "Ricordi?". Assim mesmo, com interrogação. Vale salientar que Lui é pessimista e amargo e Lei é encantadoramente alegre e idealista.


Para completar essa atmosfera de idas e voltas vertiginosas, cores, paisagens e lugares tão diferentes como uma praia, um salão de baile, uma loja de perfumes, um lago, uma sala, um prédio, uma fazenda, uma árvore frondosa, é preciso dizer que os personagens principais são belos e que, desde o início, exalam uma química que parece perfeita. Há outras figuras na história, claro, mas a importância delas na trama - se é que existe alguma trama - é muito discreta.


Todas as relações a dois acabam, invariavelmente, em monotonia? A infância tem influência na forma como o adulto vive uma relação? Podem as lembranças marcar indelevelmente a mente e o coração de alguém a ponto de dificultar ou facilitar seu relacionamento de amor? Para que serve, afinal, a memória? É possível confiar nas lembranças? Ou, como fala um personagem no longa, a memória não é real. De algum modo, ela doura a pílula, subverte e verdade, ameniza o real para que a gente não sofra tanto diante dela. Que ninguém duvide: "Entre Tempos" é o tipo do filme que deixa o espectador cheio de perguntas. 
Classificação: 14 anos
Duração: 1h46
Distribuição: Cineart Filmes
Sessões: Belas 1 - 16h30 e 21h30 , Net Cineart Ponteio 2 - 21h15 , Net Cineart Ponteio 4 - 13h40 e 18h50 


Tags: #EntreTempos, #ValerioMiele, #LucaMarinelli, #LindaCaridi, #drama, #romance, @CineartFilmes, @cineart_cinemas, @cinemaescurinho, @cinemannoescurinho

26 janeiro 2019

Em "Shade - Entre Bruxas e Heróis", amizade e imaginação andam juntas

Produção sérvia aborda os medos e as inseguranças de dois amigos pré-adolescentes (Fotos: Divulgação)

Maristela Bretas


"Shade - Entre Bruxas e Heróis" ("Ziogonje") é a história de um garoto de dez anos com paralisia cerebral parcial que sofre com a incapacidade da doença e uma menina da mesma idade vivendo o drama da separação dos pais. O que os une? O bullying que ambos sofrem na escola por serem diferentes. Nasce daí uma grande amizade, sincera e de respeito, que tem momentos alegres e também sofridos.

Jovan (Mihajlo Milavic) é um garoto tímido, sem amigos, que tenta se manter afastado dos colegas de escola, mas sofre o tempo todo com seus ataques. Para se defender, criou um mundo imaginário, onde ele é o super-herói Shade, que tudo pode e surge para defender os mais fracos. Ao conhecer Milica (Silma Mahmuti), a primeira reação é de se afastar daquela menina durona, que veio de outra cidade e também sofre com o bullying.

Vítimas do mesmo problema, acabam se unindo e formando uma bela amizade que vai ajudá-los a superar seus problemas: Jovan não quer ser tão dependente dos pais superprotetores (em especial, a mãe). Milica não aceita o fato de o pai ter uma nova namorada, que ela acha se tratar ser uma bruxa que o enfeitiçou. Cada um com seu medo e ilusão vai precisar do outro para vencer suas barreiras e amadurecer para seguirem suas vidas.

O filme é um pouco confuso, peca nos efeitos visuais e tem alguns pontos que não seriam recomendados mesmo para um público juvenil, como a maneira encontrada por Jovan para se livrar da namorada-bruxa do pai de Milica. Nada a ver para um filme cuja proposta é explorar o lado fantasia da história e não incentivar a violência. Também o final pode espantar algumas mães brasileiras, mais superprotetoras com os filhos nessa idade.

Há também várias situações machistas, mas que não tiram a simplicidade da imaginação dos dois jovens, que acham que podem resolver tudo com um super-herói lutando contra uma "bruxa" malvada. "Shade - Entre Bruxas e Heróis" reúne planos mirabolantes, missões impossíveis e boa dose de cumplicidade infantil. Dirigido por Rasko Miljkovic, o filme passou por mais de 20 festivais pelo mundo, conquistando os prêmios do júri popular no Festival Internacional de Toronto (Tiff Kids) e de melhor filme na Mostra Geração do Festival do Rio deste ano.


Ficha técnica:
Direção: Rasko Miljkovic
Produção: Pluto Filmes
Distribuição: Cineart Films
Duração: 1h30
Gêneros: Drama / Família / Fantasia
Países: Sérvia e Macedônia
Classificação: 12 anos

Tags: #ShadeEntreBruxasEHerois, @CineartFilmes, #aventura, #fantasia, @cineart_cinemas, @cinemanoescurinho