02 fevereiro 2015

“Birdman”: Extra, Extra! Herói aposentado tenta salvar sua carreira


Michael Keaton vive um conflito interno, com uma voz na cabeça que o perturba o tempo todo 
em "Birdman" (Fotos:Fox Film/Divulgação)

Jean Piter


O cinema dá fama e muito dinheiro aos atores. O teatro dá prestígio e reconhecimento como artista. Não é isso? Mas, no fim das contas, em um e no outro, o que cada um está buscando? Essa talvez seja a principal pergunta que move o novo longa-metragem do diretor Alejandro González Iñárritu: “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)”.

O filme mostra Riggan Thomson (Michael Keaton), um ator que fez fama mundial interpretando o super-herói Birdman. Ao recusar fazer um quarto filme da franquia, ele vê sua carreira entrar em decadência. Vinte anos depois do auge, ele tenta se firmar como artista, dirigindo e estrelando no teatro um texto consagrado, mais precisamente na Broadway. Mas, isso não será tarefa fácil. 

Iñárritu ficou conhecido pelos seus filmes da Trilogia do Caos: “Amores Brutos” (2000), “21 Gramas” (2003) e “Babel” (2006). As obras têm roteiros semelhantes: são como um quebra-cabeça, com histórias que parecem não ter ligação, mas que acabam se cruzando em cenas atemporais. 


Diferente disso, “Birdman” é feito em uma linha cronológica, filmada em plano sequência. A câmera segue os atores pelos corredores, escadas e camarins do teatro. Por vezes anda atrás do personagem, por outras na frente e em outros momentos retrata a visão deles. 

Uma bela montagem que dá um bom ritmo ao filme, ao mesmo tempo em que proporciona uma sensação intimista aos expectadores. Os diálogos são ácidos, sarcásticos e divertidos. Os personagens têm falas possíveis, sinceras, como de pessoas reais.




Um belo time

Os personagens são complexos, bem construídos e complementares. A sintonia é notável. Michael Keaton é uma real pilha de nervos em busca de alívio. Ele tem que administrar a peça, lidar com os atores vaidosos e ainda cuidar da filha viciada (Emma Stone). Tem ex-esposa, problemas financeiros e a atual namorada, Laura (Andrea Riseborough), que também atua na peça. E ainda um conflito interno, a voz na cabeça que o perturba o tempo todo.

Os coadjuvantes dão um show à parte. Edward Norton faz o ator Mike Shiner e brilha nas crises de estrelismo. Naomi Watts é drama e insegurança na pele de Lesley. Emma Stone rouba a cena com seu andar rebolado, o jeito jogado, o humor e suas explosões com frases sinceras demais.

Zach Galifianakis é o agente a beira de um ataque de nervos que tenta por a casa em ordem, fazendo malabarismo para contornar as vaidades e problemas do elenco e, principalmente do diretor.


Provocações

“Birdman” é cheio de provocações e não procura dar respostas. O filme mostra os bastidores de uma peça teatral, onde não há glamour. Os atores renomados também têm problemas. Muitos problemas. Todos querem fama, sucesso e reconhecimento artístico. Todos querem chegar lá, mas não sabem o que vão fazer depois. Eles vivem preocupados com as críticas dos jornais e das revistas. Mas as críticas merecem mesmo toda essa atenção? E as redes sociais na internet, qual a importância delas? É uma produção sobre os dias atuais, de vídeos virais e vidas sem rumo. Um filme que provoca, impressiona e encanta.


Oscar e Globo de Ouro

“Birdman” concorreu em sete categorias no Globo de Ouro e levou dois prêmios: Melhor Ator de Comédia ou Musical para Michael Keaton e Melhor Roteiro. No Oscar, o filme lidera no número de indicações, com nove, ao lado de “O Grande Hotel Budapeste” (2014), entre elas a de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Ator Coadjuvante.

Na disputa pelo principal prêmio do Oscar, Melhor Filme, “Birdman” tem pela frente um concorrente de peso: “Boyhood - Da Infância a Juventude” (2014). O filme do diretor Richard Linklater foi gravado durante 12 anos, com os mesmos atores. Algo novo, uma proposta artística que impressionou e vem impressionando muita gente. Não por menos, o longa já conquistou mais de 70 prêmios em festivais e da crítica especializada, entre eles o Globo de Ouro de Melhor Filme.


Para os jurados do Oscar, ter “Birdman” e “Boyhood” na disputa pelo título de melhor filme de 2014 é algo que deve ser, no mínimo, inquietante. Por que não foram lançados em anos diferentes? Eles devem se perguntar. Por outro lado, para o público é algo fantástico poder ver dois filmes tão diferentes e tão incríveis na mesma época. Ganhe um ou ganhe o outro, o prêmio estará em boas mãos.

Ficha técnica:
Direção: Alejandro González Iñárritu
Produção: New Regency Pictures / R. et M. Productions / Grisbi Productions
Distribuição: Fox Film
Duração: 1h59
Gênero: Drama, Comédia
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 5,0 (0 a 5)

Tags: Birdman; Michael Keaton; Edward Norton; Emma Stone; Naomi Watts; Alejandro González Iñárritu; Fox Film; drama; comédia; Oscar 2015; Globo de Ouro; Cinema no Escurinho

"Grandes Olhos", ótimos atores para uma história mal explorada

Amy Adams interpreta a pintora Margaret Keane, que precisou brigar na justiça para ser reconhecida por sua obra (Fotos Paris Filmes/Divulgação)

Maristela Bretas


Um filme que reúne dois grandes atores como Christoph Waltz e Amy Adams poderia render mais em termos de atuação. Mas o que se vê em "Grandes Olhos" ("Big Eyes") é só a narração de uma grande fraude dos anos 50/60.

Waltz, que interpreta o pintor Walter Keane se esforça para tentar dar mais vida a seu personagem, mas passa uma imagem de canastrão, coisa que definitivamente ele não é. Já Adams, como Margaret Keane, passa o filme como mosca morta e depois de ser enganada em todos os sentidos vira o jogo mas continua sem sal. 


Faltou criatividade para contar a história, que por si só já garantiria um excelente roteiro. Poderia ter sido mais bem explorada, como aconteceu com "Invencível" e "Foxcatcher", também biografias lançadas recentemente no cinema.

No final dos anos 1950 e início dos 1960, Walter Keane, um pintor medíocre e inescrupuloso, de repente desponta no meio artístico com obras que exploram enigmáticas crianças de rua com grandes olhos tristes. Do nada ele passa a ter quadros em várias partes do mundo enquanto mantém oculta, quase trancada em casa a mulher Margaret (Adams).

Na verdade, ela é a grande artista, que aceita passivamente que os "louros" das obras - dinheiro e sucesso - fiquem para o marido controlador. Quando ela resolve cair na real, entrega para o mundo inteiro a fraude, e vai para nos tribunais para brigar por seus direitos.

O filme é uma narrativa com poucos momentos de impacto e sem explorar o lado psicológico dos personagens, principalmente da pintora. E quando ela resolve assumir seu trabalho, começa a correria para dar desfecho à história. 


A verdadeira Margaret Keane fez uma ponta no filme
"Grandes Olhos" é uma distração mediana e mal explorada nesta investida do diretor Tim Burton (que tem um passado de direção invejável em histórias fantásticas) no cinema sério. Funciona quase como uma homenagem dele à pintora Margaret Keane, de quem é fã e tem inúmeros quadros.

O filme pode ser conferido em versão legendada nas salas Cineart dos shoppings Paragem (14h30, 16h40, 18h50 e 21 horas) e Boulevard (16, 19 e 21h10), Belas Artes Cinema (16h30 e 21h30) e Cinemark Pátio Savassi (14h30, 17h15 e 20h15).





Ficha técnica:
Direção: Tim Burton
Distribuição: Paris Filmes 
Produção: Tim Burton Productions/The Weinstein Company
Duração: 1h46
Gênero: Biografia // Drama
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 2,5 (0 a 5)

Tags: Grandes Olhos; Christoph Waltz; Amy Adams; Tim Burton; Paris Filmes; biografia; drama; Cinema no Escurinho