27 agosto 2017

"Bingo - O Rei das Manhãs" comove e homenageia o mito do palhaço triste

Inspirado na vida do ator Arlindo Barreto, o "Bozo", filme tem como seu destaque a atuação de Vladimir Brichta como o protagonista (Fotos: Luiz Maximiniano/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Cansado de fazer pornochanchadas para sobreviver, um ator fracassado é aprovado meio por acaso num teste no qual nem ele acreditava e consegue o emprego de apresentador de um programa infantil numa emissora de TV. Mas há uma ressalva: ele só pode trabalhar mascarado. E, por contrato, jamais pode revelar sua identidade. 

O personagem vira sucesso nacional, seu programa torna-se campeão de audiência, ele enriquece, mas é obrigado a permanecer no anonimato. Apenas esses dados já seriam suficientes para se contar uma boa história. Mas se esse personagem é um palhaço maluco e drogado, se ele tem um filho afetuoso que o adora, e ainda por cima a narrativa é baseada em fatos reais, aí sim é que os ingredientes se completam.

Residem aí, nesses detalhes, 80% do acerto de "Bingo - o Rei das Manhãs", filme de Daniel Rezende (premiado montador de “Tropa de Elite 2”) que conta a trajetória de Arlindo Barreto (no filme ele recebe o nome de Augusto Mendes), que fez sucesso como o palhaço Bozo no SBT. Os outros 20% da riqueza do filme ficam por conta da contundente atuação de Vladimir Brichta, que faz um palhaço tão emocionante quanto rebelde, tão amoroso quanto atrevido, tão talentoso quanto irresponsável.

Perfeitas também são as atuações de Leandra Leal como Lúcia, a diretora careta e evangélica do programa, por quem ele se apaixona; Ana Lúcia Torres como Marta, a mãe atriz; Tainá Muller como Angélica, ex-mulher do palhaço; Augusto Madeira como o hilário câmera Vasconcelos; Emanuelle Araújo como a bailarina Gretchen que ele leva pra rebolar para as crianças e com a qual tem um caso; e o menino Cauã Martins, que enternece pelo olhar carente e desprotegido.


De quebra, tem uma aparição relâmpago de Domingos Montagner, que representa os palhaços aos quais Bingo recorreu para tentar aprender seu novo ofício. E Pedro Bial, como o diretor de uma grande emissora de TV que recusou dar um trabalho melhor ao ator. Devido a questões autorais, além de Bozo, os nomes das emissoras foram trocados - a Globo é chamada de Mundial, o SBT de TVP.

Para temperar ainda mais essa história que nem parece real, o ator fracassado Augusto Mendes é filho de uma atriz em fim de carreira e tem, com ela, uma relação forte e tempestuosa. Para quem não sabe, Arlindo Barreto, o Bozo real, é filho de Márcia de Windsor, que se tornou conhecida como a boazinha do júri dos programas de calouro. Mais tempero? O filme se passa nos coloridos e extravagantes anos de 1980, marcados não apenas por ombreiras gigantes, mas também pelas discotecas, a cocaína e a loucura.

Com uma boa dose de atrevimento, somado a pitadas de emoção, Daniel Rezende alterna humor e ternura, conta uma bela história de superação sem nenhum pieguismo e ainda faz uma homenagem à figura mítica do palhaço no seu ofício mágico de fazer rir, mesmo com o coração aos pedaços e a vida em frangalhos. Classificação: 16 anos



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18 agosto 2017

Melhor que o primeiro, "Annabelle 2 - A Criação do Mal" é terror assustadoramente bom

Filme conta a origem da temida boneca do mal que aterroriza os moradores de uma casa (Fotos: Warner Bros. Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Muito melhor que o primeiro, até mesmo nas cenas de terror previsíveis. "Annabelle 2 - A Criação do Mal" ("Annabelle: Creation") explica como surgiu a famosa boneca demoníaca que aterrorizou três filmes - "Invocação do Mal", "Invocação do Mal 2" (2016) e "Annabelle" (2014). Este último veio na rabeira do sucesso dos outros dois e acabou faturando US$ 257 milhões nas bilheterias de todo o mundo, mas continuou deixando no ar a origem da personagem que dá medo de tanta feiura.

Foi preciso um segundo filme, produzido por James Wan ("Invocação do Mal 2") e bem dirigido por David F. Sandberg (o mesmo de "Quando as Luzes se Apagam") para que Annabelle tivesse finalmente sua história contada. O filme tem clichês, claro, como todos do gênero terror. Mas vi muito marmanjo dando pulo na cadeira do cinema e fingindo de bobo.


A boneca Annabelle é o centro das atenções, e o diretor usa e abusa de sua cara medonha para criar os momentos mais tensos e violentos do filme. A tensão causada pela expectativa de seu aparecimento nas mais diversas situações domina a trama e envolve todos os demais personagens, que estão à sua mercê.

Muitos vão dizer que "Annabelle 2 - A Criação do Mal" é somente mais um filme de terror, sem grandes novidades. Não é bem assim. O enredo prende do início ao fim, os sustos são constantes e o que não faltam são aquelas situações que dá vontade de bater nos personagens por serem tão burros e entrarem sempre onde não deve. Não tenha vergonha de adivinhar algumas cenas bem clichês - são nelas que acontecem os melhores sustos.

Uma tragédia ocorrida há 12 anos faz um casal abrir sua casa para abrigar a freira Charlotte (Stephahie Sigman, da série "Narcos") e seis meninas desalojadas de um orfanato - Janice (Talitha Bateman, de “A 5ª Onda”), Linda (Lulu Wilson, de “Livrai-nos do Mal”), Nancy (Philippa Coulthard, de “Jogos do Apocalipse”), Carol (Grace Fulton, de “Badland”), Tierney (Lou Lou Safran, de “A Escolha”) e Kate (Tayler Buck, da série "American Crime Story").


O pai Samuel Mullins (Anthony La Paglia, da série "Without a Trace"), um habilidoso artesão de bonecas agora é um homem de pouca conversa e a esposa Esther (Miranda Otto, de "Homeland") sempre está trancada em seu quarto. O que as novas moradoras não sabem é que eles escondem um terrível segredo do passado que vai colocar suas vidas em perigo. Esse segredo tem nome e uma cara ameaçadora e se chama Annabelle, uma boneca criada por Samuel.

Sem dúvida, muito melhor que o primeiro. Um terror de verdade, que foca na boneca demoníaca, dispensando a necessidade de atores caros - a maioria é conhecida por trabalhos em séries de TV americanas. Além do produtor e do diretor, diversos integrantes da equipe estão familiarizados com o gênero, o que garante o ótimo resultado. Destaque para o roteiro, escrito por Gary Dauberman, responsável pela nova versão de "It - A Coisa", que estreia em breve.

O filme utiliza poucos e ótimos efeitos visuais e explora bem os "cantos escuros" da casa e dos medos dos personagens, garantindo muita tensão, bons sustos e cenas de arrepiar. Sem risco de decepção por quem curte o gênero terror, "Annabelle 2" merece ser visto.



Ficha técnica:
Direção: David F. Sandberg
Produção: New Line Cinema / Atomic Monster / Safran Company
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Duração: 1h50
Gênero: Terror
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 4 (0 a 5)

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