05 outubro 2018

Refilmagem de "Papillon" é mais um bom filme sobre a briga pela liberdade

Charlie Hunnam e Rami Malek interpretam os papéis que na primeira versão foram de Steve McQueen e Dustin Hoffman (Fotos: José Haro/Constantin Film)


Mirtes Helena Scalioni


Remakes costumam ser perigosos por vários motivos. Um deles: todo mundo já sabe o final da história. Outro: as comparações são inevitáveis, principalmente quando a primeira versão fez muito sucesso. Esse é o caso de "Papillon", filme inesquecível dirigido em 1973 por Franklin J. Schaffner e estrelado por ninguém menos que Steve McQueen e Dustin Hoffman nos principais papéis e que agora chega às telas pelas mãos de Michael Noer.

Se agora, em pleno ano 2018, o diretor dinamarquês decide contar de novo a história de Henri Charrière, o Papillon, um homem que passa praticamente a vida inteira tentando fugir da prisão, é sinal de que o assunto continua interessando. Na verdade, o personagem, baseado na autobiografia de Charrière, é mesmo fantástico.

Sua ânsia de liberdade, sua resistência física e inteligência para criar planos mirabolantes de fuga continuam atraindo o público, que já mostrou esse interesse em produções similares como "Um Sonho de Liberdade" e "À Espera de um Milagre", ambos de Frank Darabon - para ficar só nos mais famosos.


Pequeno resumo para quem não conhece a história, baseada em fatos reais: Henri Charrière é um bandidinho chinfrim que vive na Paris dos anos de 1930. Aventureiro e exímio arrombador de cofres, vive nas altas rodas entre malandros, ladrões e prostitutas, sem qualquer preocupação com o futuro, até ser preso acusado de um assassinato que não cometeu.

Traído por ex-comparsas que montaram para ele uma armadilha, Papillon - que é chamado assim por ter uma borboleta (em francês, papillon) tatuada no peito - é condenado à prisão perpétua e levado para um presídio na Guiana Francesa, de onde ninguém jamais conseguiu fugir.

Steve McQueen e Dustin Hoffman (Divulgação)
Como todo personagem de presídio que se preza precisa de um parceiro, Charrière vira amigo e protetor de um falsário, Louis Dega, vivido na primeira versão pelo grande Dustin Hoffman e, agora, pelo também talentoso Rami Malek. E já que as comparações são inevitáveis, Charlie Hunnam se sai bem como protagonista da versão atual, embora fique a alguns quilômetros de distância do carismático Steve McQueen.


Inesquecível também a trilha sonora da versão de 1973, em especial a música-tema de "Papillon" sob a batura de Jerry Goldsmith, indicada ao Oscar como Melhor Música em 1974. Na nova versão, a trilha é toda composta por músicas francesas orquestradas, algumas com a participação de corais, sob a direção de David Buckley. Bonita, mas não causa o mesmo impacto da anterior.


O resto, todo mundo já sabe: muita violência, muito sofrimento, torturas e truculência entremeadas de lições de lealdade e companheirismo. No fundo, "Papillon", como quase todos os filmes e histórias que tratam da privação da liberdade, falam mesmo é de como o homem pode ser forte e persistente em seu sonho de ser livre, a ponto de levar uma vida inteira correndo atrás dele.
Classificação: 16 anos
Duração: 1h57
Distribuição: Imagem Filmes


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04 outubro 2018

"Venom" peca ao trazer um anti-herói sem identidade


Longa transita bem entre o lado cômico e a carga dramática, como vem sendo notado ao longo da série (Fotos: Sony Pictures/Divulgação)


Wallace Graciano


Poucos antagonistas ficaram tão enraizados na cultura popular quanto Venom. A forma híbrida entre um homem e um parasita alienígena ganhou notoriedade nos quadrinhos não apenas por ser o contraventor das histórias do “Homem-Aranha”, mas também pelo visual peculiar e seus recursos físicos que destoavam dos demais vilões. Não à toa, o transgressor foi a grande aposta para o próximo longa do universo Marvel. Porém, tais características, que fizeram dele único no cânone do herói, foram deixadas de lado no filme que estreia nas telonas nesta quinta-feira (4).

A história, que começa soturna, mas ganha cor com o passar dos minutos, conta as desventuras de Eddie Brock (Tom Hardy), um repórter investigativo conceituado sempre ávido por grandes notícias. Vive um céu de brigadeiros com sua futura esposa, Anne Weying (Michelle Williams). Porém, ao entrar escondido no e-mail de sua amada, ele tem acesso a um relatório que expõe que a companhia na qual ela trabalha, a Life Foundation, fazia testes laboratoriais em humanos. Com uma entrevista marcada com o CEO da empresa, Carlton Drake (Riz Ahmed), ele toca na ferida e acaba arruinando a carreira de ambos.

Desempregado e desamparado, Brock tem acesso a uma médica da Life, que reporta que a empresa testava a simbiose de um parasita com humanos. Entendendo que aquela seria sua última chance, ele invade a sede da companhia e tem contato com a gosma, que o toma como receptáculo, transformando-o, aos poucos, em Venom.

Apesar de apresentar bem o antagonista ao público, a trama peca ao desenvolvê-lo. Forçando uma necessidade de mostrar um outro lado do protagonista, o filme exagera na necessidade de tratar seu lado esquizofrênico tal qual os conceitos de “O médico e o monstro”. Nesse momento, Venom perde sua força, pois não se estabelece uma identidade ao personagem, que assume-se como anti-herói de forma abrupta, sem qualquer explicação ao expectador. Apesar disso, o longa transita bem entre o lado cômico e a carga dramática, como vem sendo notado ao longo da série.


“Venom” tinha tudo para ser um dos grandes filmes do universo Marvel, pois é rico em efeitos visuais, sonoros, e tem boas atuações, porém peca ao desvirtuar a identidade do personagem sem abraçá-lo. É como se apenas quisesse cativar um novo público, esquecendo os fãs de outrora. E a necessidade de um final feliz é a maior canalhice que qualquer filme pode cometer.

Obs: fique um pouco a mais no cinema - duas cenas pós-credito



Ficha técnica:
Direção:  Ruben Fleischer
Produção: Marvel Entertainment / Columbia Pictures
Distribuição: Sony Pictures
Duração: 1h52
Gêneros: Ação / Ficção científica
País: EUA
Classificação: 14 anos

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