31 julho 2025

Em tempos de Tinder, “Amores Materialistas” fala sobre as dificuldades de se encontrar alguém para amar

Longa é uma comédia com pé no chão sobre amor e relacionamentos, sem romantização (Fotos: Divulgação)
 
 

Jean Piter Miranda

 
Lucy (Dakota Johnson) é uma casamenteira. Ela trabalha em uma agência de encontros, onde os clientes procuram o “amor pra vida inteira”. Ela é uma espécie de “personal Tinder”. Em vez do aplicativo, quem paga pelo serviço tem a consultoria de uma pessoa especializada no assunto. 

Durante a festa de casamento de uma de suas clientes, Lucy conhece Harry (Pedro Pascal). Rico, bonito, charmoso, solteiro, gentil e interessado nela desde o primeiro olhar. Só que aí aparece o garçom John (Chris Evans), o ex-namorado dela. Bonitão, charmoso, porém, pobre. Duro, quebrado, liso. 

Com quem Lucy vai ficar? Esse poderia ser o título do filme, mas estamos falando de “Amores Materialistas”. O novo filme da diretora Celine Song, do ótimo “Vidas Passadas” (2024), que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (31).


Poderia ser uma comédia romântica. Até tem cenas engraçadas, romance, mas a pitada de drama adicionada à história muda tudo. É sobre amor e relacionamentos, sem romantização. Uma comédia com pé no chão e conversa séria, pra gente adulta, ideal para os dias atuais. 

Os clientes de Lucy são sempre muito exigentes. Altura, peso, profissão, renda, gostos musicais, idade, se tem pet ou não, fumante ou não, preferência política... Se o primeiro encontro der certo, Lucy marca o segundo, o terceiro... Ela vai intermediando até que o casal decida se casar. Aí é case de sucesso!


Em meio aos encontros que vai mediando, Lucy começa a engatar um namoro com Harry. O cara perfeito, nas palavras dela. Ele seria uma ótima opção para todas as mulheres que ela tem na cartela de clientes. Porém, o bonitão só quer a bonitona. 

Mas e o John? Além de garçom, ele é aspirante a ator, sem muita expectativa de dias melhores. Principalmente quando se trata de dinheiro. O encontro entre ele e Lucy mexeu com os dois. Por que eles não deram certo? Por que se separaram? Dá pra voltar ou ficarem juntos outra vez? Ainda se amam? Será que se amavam? São questões para ambos.


O rico bonitão perfeito ou o gato pobre que já não deu certo uma vez? Até onde o dinheiro interfere ou pode interferir nessa equação? Só o amor não basta? É possível encontrar amor e prosperidade financeira na mesma pessoa? E as outras muitas coisas da vida a dois? Essas questões vão surgindo ao longo do filme com reflexões que certamente vão mexer com quem assiste. 

Há também observações sobre os clientes de Lucy que vão interferindo no curso da história. Em tempos de customização de tudo, é possível achar a pessoa ideal, com todos os requisitos que enumeramos? Ou será que isso é um impedimento para se conhecer uma pessoa interessante? E se tirarmos as exigências, por sorte, pode aparecer a “pessoa certa”?


São questões muito atuais abordadas no filme. Em um mundo onde tudo é mercadoria, serviço e descartável, é justo que pessoas também sejam tratadas assim? Onde tudo é passageiro, inclusive os amores, é possível amar e ser amado? A gente tá procurando do jeito certo e no lugar certo?

Esses muitos questionamentos apresentados direcionam as decisões dos personagens e o desfecho do filme. Haverá aqueles que irão gostar e também os que não desgostarão do fim. 

A história é conduzida com sensibilidade e, acima de tudo, com sensatez. Sem malabarismos ou situações de contos de fadas. Não há a menor pretensão de dar receitas prontas ou oferecer respostas. Cada expectador vai levar um caminhão de reflexões pra casa. É isso. 

Gostando ou não do filme, estando solteiro ou à procura de alguém, casado ou separado, não importa. “Amores Materialistas” vai ficar na sua cabeça por um bom tempo.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Celine Song
Produção: Stage 6 Films, A24
Distribuição: Sony Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h57
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: comédia, romance

29 julho 2025

Com muita ação, “Predador: Assassino de Assassinos” une filmes da franquia e abre novas possibilidades

Animação tem uma dinâmica muito boa com a divisão em três histórias distintas que acabam interligadas (Fotos. 20th Century Studios)
 
 

Jean Piter Miranda

 
Está disponível no Disney+ “Predador: Assassino de Assassinos” (2025). O longa-metragem de animação dá continuidade à franquia dos Yautjas. São três histórias, ocorridas em épocas distintas, que acabam se cruzando. 

Primeiro, uma guerreira viking busca vingança junto de seu grupo. Eles são observados por um predador. Da mesma forma, no Japão feudal, dois irmãos, um ninja e um samurai lutam entre si para resolver questões pessoais. O outro personagem é um piloto estadunidense em batalha na Segunda Guerra Mundial. 


Nas três histórias, os personagens são confrontados por predadores. Os Yautjas, como sempre, estão em busca de enfrentar os guerreiros mais fortes do universo. 

O filme é dirigido por Dan Trachtenberg, que também esteve à frente do ótimo “Predador: A Caçada” (2022). A animação tem um gráfico bem particular. É um tanto sombrio e bem envolvente, reforçado pela trilha sonora de Alan Silvestri, responsável pelas composições de sucessos como "Vingadores: Ultimato" (2019) e "Vingadores: Guerra Infinita" (2018).


A divisão do longa em três histórias dá uma dinâmica muito boa à animação. Os diálogos são suficientes e não se perdem em explicações desnecessárias e repetitivas. Os trechos silenciosos também dizem muito. Tudo na medida certa. 

As cenas de ação são intensas, bem desenvolvidas e muito bem construídas. A parte da guerreira viking traz uma violência bruta, em cenários de neve e gelo. Uma composição muito acertada. Da mesma forma a representação do Japão feudal com seus guerreiros e suas espadas afiadas. É poesia em forma de pancadaria. 


Destoando das duas primeiras histórias, a parte do piloto estadunidense é menos envolvente. Por se tratar de batalhas aéreas, perde o envolvimento das narrativas anteriores. Mesmo tudo sendo feito com a mesma qualidade, fica a sensação de que algo ficou faltando. 

No fim, como se espera, as histórias se cruzam e deixam muitas portas abertas. Com certeza uma continuação já está em produção. Há ainda pontos que ligam o filme com a série “Predador: Badlands (2025)”, que será lançada em novembro no Disney+. 


Também são apresentadas conexões com “Predador: A Caçada” (2022) e com os dois primeiros filmes da franquia: “O Predador” (1987), com Arnold Schwarzenegger, e “O Predador 2: A Caçada Continua” (1990), com Danny Glover. 

E pra deixar os fãs ainda mais eufóricos, há também ligações com “Alien: Romulus” (2024). Ao que tudo indica, muito em breve, predadores e aliens devem se enfrentar novamente.

“Predador: Assassino de Assassinos” tem muitas qualidades e faz uma ligação entre todos os filmes já produzidos pela franquia. Mostra que há muita coisa a ser explorada sem ser repetitivo. É pra curtir e esperar os próximos capítulos.


Ficha técnica:
Direção: Dan Trachtenberg e Josh Wassung
Roteiro: Micho Rutare
Produção: 20th Century Studios
Exibição: Disney+ Brasil
Duração: 1h30
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: ação, ficção, animação

27 julho 2025

Mostra Stephen King exibe 19 obras do escritor adaptadas para o cinema em sessões gratuitas

“O Iluminado”,“Carrie”, “It – A Coisa” e outros sucessos poderão ser conferidos no Cine Humberto Mauro,
de 27 de julho a 13 de agosto
 
 

Da Redação

 
O Cine Humberto Mauro exibe, de hoje ao dia 13 de agosto, a mostra “Stephen King: Do Terror ao Drama”, com 19 filmes feitos por grandes cineastas ao longo de quatro décadas, tendo como base contos, novelas e romances do autor. 

A mostra tem entrada gratuita, e a retirada de até 1 par de ingressos por CPF pode ser feita exclusivamente pela plataforma Eventim, a partir de 1 hora de cada sessão. A programação pode ser conferida no site

"Christine, o Carro Assassino"
(Crédito: John Carpenter)

“Carrie, a Estranha” (1976), “O Iluminado” (1980), “Christine, o Carro Assassino” (1983), “Louca Obsessão” (1990) e “It – A Coisa” (2017) estão entre os sucessos no cinema baseados na obra do famoso escritor. Mas, para além das tramas de horror, essas histórias trazem fortes abordagens de dilemas humanos. 

Além das adaptações cinematográficas que ajudaram a consolidar Stephen King como o “Mestre do Terror”, a programação traz ainda longas-metragens fora do gênero, mas que lidam com os horrores internos de personagens facilmente identificáveis: “Conta Comigo” (1986) e “Um Sonho de Liberdade” (1994) são exemplos representativos. 

"O Nevoeiro" (Crédito: Frank Darabont)

A curadoria propõe, assim como a obra do autor, uma travessia guiada por temas atemporais como o medo, a infância, a morte e a redenção. Da ameaça primal em “Cujo” (1983) à sensibilidade inesperada em “Doutor Sono” (2019), da violência corporal em “O Nevoeiro” (2007) à dor emocional em “Cemitério Maldito” (1989), a obra de Stephen King é um longo corredor onde portas se abrem para lugares sombrios e, por vezes, para recantos estranhamente esperançosos. 

A programação reúne filmes que, embora nascidos de um mesmo manancial literário, percorrem caminhos cinematográficos muito distintos sob direção de nomes incontornáveis da sétima arte. Como Brian De Palma, Stanley Kubrick e John Carpenter, além de pioneiras como Mary Lambert – uma das poucas mulheres a dirigir filmes de horror na década de 1980 – e cineastas contemporâneos em ascensão, caso de Mike Flanagan. 

"Doutor Sono" (Crédito: Mike Flanagan)

Além das exibições, haverá sessões comentadas, nos dias 1º/8 (“It – A Coisa”, com Yasmine Evaristo) e 5/8 (“Conta Comigo”, com Antônio Pedro de Souza). No dia 2 de agosto, o projeto “Cinema e Piano” traz uma ação especial: uma roda de conversa com apresentação ao vivo de trilhas sonoras de filmes inspirados nas obras de Stephen King.

Imagens quebradas, mas sempre familiares

Em “Carrie, a Estranha”, primeiro livro publicado por Stephen King, o autor se vale do enredo sobrenatural para tematizar o bullying na adolescência e os impactos irreversíveis que essa prática pode gerar em toda uma comunidade. No filme homônimo, Brian De Palma mantém as discussões e as amplifica por meio de uma direção estilizada e de cores fortes, montagem ritmada e trilha sonora grandiosa. 

"Carrie, a Estranha" (Crédito: Brian de Palma)

Já em “O Iluminado”, clássico do horror, Stanley Kubrick constrói uma atmosfera sufocante a partir da trama de uma família presa em um hotel abandonado durante uma rigorosa temporada de inverno. Stephen King criticou a adaptação, mas o filme se tornou um dos mais aclamados dentre as obras baseadas em suas histórias. 

Em “Christine, o Carro Assassino”, por sua vez, o escritor volta a abordar os percalços da adolescência em meio à trama de um veículo com uma consciência maligna. John Carpenter, “Mestre do Terror” no cinema, torna crível a trama inusitada, em um filme no qual a trilha sonora é o destaque.


"Cemitério Maldito" (Crédito: Mary Lambert)

Obras como “Cujo” e “Cemitério Maldito” tencionam ainda mais elementos da vida cotidiana: o primeiro, com sua claustrofobia ensolarada, transforma um cão em máquina de destruição, e a culpa em combustível narrativo. 

O segundo, talvez um dos mais perturbadores do universo criado pelo escritor, confronta o tabu definitivo — a morte de uma criança — e o desejo impossível de reversão, a partir do impulso que leva os personagens a profanar a natureza em nome dos laços afetivos. 

“Louca Obsessão” intensifica o suspense ao trazer a história metalinguística de um escritor acidentado que é mantido em cárcere por sua “fã número 1”. A interpretação de Kathy Bates, que protagoniza o filme, foi premiada com o Oscar de Melhor Atriz, feito raro para adaptações de Stephen King no cinema. 

"Louca Obsessão" (Crédito: Rob Reiner)

Entrando nos anos 2000, “O Nevoeiro”, dirigido por Frank Darabont, reintroduz o horror explícito, sendo uma adaptação célebre por seu final chocante e pessimista, e também por, como é comum no cinema baseado em Stephen King, usar do sobrenatural e do macabro para abordar as tensões em microcosmos sociais. 

Já em “It – A Coisa”, o terror é evidente e ganha uma forma monstruosa, que se esconde nos subterrâneos da cidade, mas é alimentado por algo mais real: o medo que cresce com as crianças e permanece nelas, adultas, como uma sombra persistente. A obra foi adaptada para o cinema em 2017, e ganhou sequência em 2019, com "It: Capítulo Dois", ambos dirigidos por Andy Muschietti.

"It -A Coisa" (Crédito: Andy Muschiettl)

“Doutor Sono”, por sua vez, traz o retorno do cinema e da literatura ao clássico “O Iluminado”, e as obras resultantes acabam por ser uma crônica tanto da evolução dos personagens e seus traumas permanentes quanto à proposição de um olhar cinematográfico diferente e contemporâneo ao universo de Stephen King.

Para além do cinema de gênero, as criações do autor deram origem também a adaptações como “Conta Comigo”, no qual quatro garotos partem em busca de um cadáver e acabam encontrando o fim da infância, e “Um Sonho de Liberdade” (1994), em que a prisão torna-se espaço de resistência e imaginação.

"Um Sonho de Liberdade" (Crédito: Frank Darabont)

Vitor Miranda, Gerente de Cinema da Fundação Clóvis Salgado e curador da mostra, explica que Stephen King não escreve apenas sobre monstros literais, mas também sobre o Mal que está nas entrelinhas, rondando famílias frágeis, amigos inseparáveis e cidades apodrecidas. “Seus contos e romances são como espelhos rachados que devolvem imagens deformadas, mas sempre muito reconhecíveis. E são esses reflexos que o cinema — em seus melhores momentos — também consegue mostrar com igual ou maior intensidade".

Miranda afirma ainda que "essa mostra é um convite para que o público observe como o cinema se contamina ao tocar a literatura de King — não apenas nos temas, mas na atmosfera, na ambiguidade moral e na sugestão de que o extraordinário está sempre à espreita no cotidiano”.

A mostra “Stephen King: Do Terror ao Drama” é realizada pelo Ministério da Cultura, Governo de Minas Gerais, Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais e Fundação Clóvis Salgado. 


SERVIÇO
Mostra “Stephen King: Do Terror ao Drama”
Datas:
De 27 de julho a 13 de agosto
Horários: Variáveis
Local: Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1537, Centro – Belo Horizonte)
Classificações indicativas: Variáveis
Entrada: gratuita, com retirada de até 1 par de ingressos por CPF, exclusivamente pela plataforma Eventim, a partir de 1 hora antes de cada sessão
Programação: https://www.cinehumbertomauromais.com/

22 julho 2025

Cinebiografia “Um Lobo Entre os Cisnes” mostra que uma fera pode alçar grandes voos

Filme sobre a vida do bailarino Thiago Soares, premiado no Bolshoi e interpretado por Matheus Abreu,
entrega transformação e emoção (Fotos: Lucas Sadalla)


Eduardo Jr.


Estreia no dia 24 de julho mais uma obra do cinema nacional que promete mexer com as emoções do público: “Um Lobo Entre os Cisnes” traz a história real do bailarino Thiago Soares, um dos maiores nomes da dança mundial, que saiu das periferias cariocas para alcançar o estrelato no balé clássico. Dirigido por Marcos Schechtman e Helena Varvaki, o longa figura como o primeiro filme brasileiro de dança. 

A equipe do Cinema no Escurinho foi convidada para a pré-estreia em Belo Horizonte, com presença do protagonista Matheus Abreu e do biografado, Thiago Soares. E viu que, além da interessante história do brasileiro que foi, por 14 anos, primeiro bailarino do Royal Ballet de Londres, o filme conta com uma bela entrega dramática de Matheus (“Pureza”, 2022) e do argentino Dario Grandinetti (“Relatos Selvagens”, 2014). 

Thiago Soares, Darío Grandinetti e
Matheus Abreu (Foto: Rogério Resende)

Na história, Thiago é um jovem impetuoso que mora com a tia e tem talento para a dança. No hip-hop, ele encontra sua diversão - e também uma sensação de poder diante da incerteza que é o fim da adolescência, da falta de dinheiro e de perspectivas. 

As coisas começam a mudar quando o professor de hip-hop (Alan Rocha) recomenda a Thiago uma escola profissional de balé, onde o jovem poderá ganhar uma bolsa de estudos. 

Sob o rígido comando do bailarino e coreógrafo cubano Dino Carrera (interpretado com maestria por Grandinetti), Thiago (Matheus Abreu) precisa domar seu animal interior e decidir se abre mão da diversão, dos amigos e dos bailes noturnos em Madureira ou se abraça a disciplina e a exigente rotina de treinos. 


A jornada do bailarino é de busca pelo sucesso, mas também de cura das feridas emocionais. O contato com Dino é a chance de resgatar a figura paterna ausente, de não ser abandonado por mais ninguém. Tudo isso, enfrentando os próprios preconceitos, impostos por uma sociedade que fez de tudo para mantê-lo à margem. 

Como toda jornada do herói, Thiago vai colocar sua grande chance à prova, vai sofrer e buscar formas de retomar o caminho que pode levá-lo à consagração. Pode parecer algo já visto, mas a transposição dessa ideia para a tela é bem executada, oferecendo ao espectador pitadas de comédia, drama e apreensão. 


A avaliação positiva do longa talvez possa ser creditada à experiência de Schechtman em abordar com simplicidade e inteligência uma linguagem popular. Habilidade construída na direção de novelas como “Caminho das Índias”. 

A obra, exibida na TV Globo, foi vencedora do Emmy em 2009. E talvez, também pela supervisão artística de Rosane Svartman, novo nome no hall da fama das telenovelas, após o sucesso de “Vai na Fé” (obra já disponível no Globoplay). 


A direção mostra sensibilidade ao apresentar inicialmente a personalidade inflexível de Dino Carrera, fazendo com que o público se solidarize com Thiago, visto como vítima. Com o desenrolar da trama, a narrativa revela o lado humano de Dino, mostrando que a vida é feita de altos e baixos — quem hoje exerce controle, amanhã pode ter que se submeter a ele.

Sensibilidade, transformação e afeto são palavras que podem ajudar a definir este drama, que desliza na tela sem cansar o espectador. O roteiro tem assinatura de Camila Agustini (“Manas”, 2024) e produção criativa do cineasta mexicano Guillermo Arriaga (que roteirizou “Babel” e “Amores Brutos”). A trilha sonora original é de Alexandre de Faria.


A chegada do filme na telona foi um caminho árduo. No debate após a exibição, Matheus Abreu contou que a preparação para o papel começou em 2018. As filmagens foram interrompidas em 2020 pela pandemia e retomadas no início de 2022. 

A equipe gravou tudo em um mês e meio, no Brasil e na França, em locações como o viaduto de Madureira, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o bairro de Montmartre e a Ópera Garnier, em Paris. 

"Um Lobo Entre os Cisnes" é uma produção da TvZero, em coprodução com a Mandrágora, Globo Filmes e RioFilme. A distribuição é da Sessão Vitrine Petrobras. Este é o primeiro longa da Mandrágora, produtora recém-criada que tem Marcos Schechtman como sócio-fundador, e busca histórias que ainda não foram contadas.


Um projeto acalentado durante muito tempo e, por sua relevância, escolhido para ser a primeira investida da empresa. A obra já começou a colher frutos: por onde passou, a cinebiografia conquistou o público e alguns prêmios. 

Participou do 27º Festival de Cinema Brasileiro de Paris e do 34º Cine Ceará — neste último conquistando prêmios nas categorias de Melhor Ator (Matheus Abreu), Melhor Ator Coadjuvante (Darío Grandinetti) e Melhor Direção de Arte (Dina Salem Levy). Credenciais convincentes para levar o público aos cinemas pra ver que um lobo pode voar. 


Ficha técnica:
Direção:
Marcos Schechtman e Helena Varvaki
Roteiro: Camila Agustini
Produção: TvZero, coprodução Globo Filmes, RioFilme, Mandrágora
Distribuição: Vitrine Filmes
Exibição: UNA Cine Belas Artes - sala 1
Duração: 1h55
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gêneros: drama, biografia



20 julho 2025

"Uma Bela Vida" e o direito à dignidade na hora da despedida

O diretor Costa-Gavras explora o tema da medicina paliativa por meio da relação de amizade que surge
entre um filósofo escritor e um médico especialista nesta área e seus pacientes (Fotos: Filmes do Estação)


Patrícia Cassese


Em uma cena logo no início de "Uma Bela Vida", em cartaz na cidade, um dos personagens, um médico, lista os três grandes eixos atuais da medicina - a preventiva, a curativa e a paliativa. Certo, um profissional da mesa ao lado se levanta da cadeira neste momento e acrescenta o que seria o quarto, a medicina reabilitadora. 

Mas é sobre o braço "medicina paliativa" que o novo filme do veterano Costa-Gavras ("Estado de Sítio" - 1972, "Z" - 1969) se volta. Sim. Atualmente com 92 anos de idade (completados em fevereiro), o diretor franco-grego se debruça sobre um tema árido, a partir do momento em que se dá a constatação de que os recursos disponíveis na medicina para um tratamento visando a cura já se esgotaram.


O termo "tratamento paliativo" vem se tornando cada vez mais ventilado e proferido na sociedade contemporânea, e muito em função do aumento na incidência de certos tipos de doença (como as neoplasias), bem como em função do aumento da expectativa de vida da população. 

Grosso modo, trata-se de um ramo da medicina voltado a propiciar dignidade e conforto àqueles que estão se aproximando da finitude, e para os quais, como dito acima, os recursos hoje disponíveis para tratamento já não surtem mais efeito. Ressalte-se, um braço ainda inacessível a muitos, notadamente por razões econômicas, mas, de todo modo, digno de reverência pelo aspecto humanitário que carrega em seu bojo.


Certo, Costa-Gavras escolheu um tema pouco palatável para trabalhar no écran. Árido. Não parece ser de todo descabido pressupor que o interesse pela finitude tenha a ver com a própria idade deste que se tornou conhecido mundialmente por filmes de viés político. 

De todo modo, é necessário situar que "Uma Bela Vida" baseia-se no livro "Le Dernier Souffle", escrito em conjunto pelo jornalista e ensaísta Régis Debray e pelo médico Claude Grange. "Le Dernier Souffle" - em tradução literal, "O Último Suspiro" -, aliás, é o título original do filme.  

No longa, Fabrice (o veterano e conhecido Denis Podalydès) é um filósofo bastante conhecido por seus livros (a ponto de, no curso da trama, ter seu rosto prontamente identificado por outros personagens, mesmo trajando um jaleco). Em uma viagem aos Estados Unidos, durante um exame de imagem, ele descobre estar com uma pequena mancha entre o fígado e os pulmões. 


Naquele momento específico, ela (mancha) está inativa, mas Fabrice é informado de que a mácula exigirá um controle constante, pelo risco de um "desenvolvimento fulminante", nas palavras proferidas no pós-exame pelos profissionais. 

De início, o escritor é orientado a repetir o exame apenas meses depois, mas, poucos dias após retornar à França, já está novamente a perscrutar o estágio da inquietante descoberta. É exatamente neste momento em que Fabrice é apresentado ao médico Augustin (Kad Merad), especializado em cuidados paliativos. Na verdade, Augustin havia pedido para ser apresentado a Fabrice, de cujos livros é apreciador. 


Após o café citado no parágrafo inicial desta resenha, os dois aprofundam o relacionamento, posto que o filósofo se mostra cada vez mais interessado em adentrar o universo dos que estão para partir, bem como das reações, posições e sentimentos dos parentes nesta etapa tão intrincada. 

A partir deste laço, o filme desfila uma série de personagens, vivendo situações bem distintas, ainda que com o denominador comum de estarem sob cuidados paliativos.

Neste percurso, vemos personagens vividos por nomes icônicos do cinema, como Charlotte Rampling e a espanhola Angela Molina ("Esse Obscuro Objeto do Desejo" - 1977, de Luis Buñuel). Ambas interpretam mulheres fortes, dispostas a assumir as rédeas nesta última etapa da existência terrena. 


Se Charlotte Rampling brilha por transmitir a ciência de seu estado e fincar posição apenas pelo olhar, Molina, que vive uma cigana, resplandece na sua despedida. Mas há outras tantas (despedidas) que se arrolam no curso da vivência de Fabrice com Augustin, e que se sucedem em meio a discussões filosóficas que ocorrem tanto em meio aos corredores do centro voltado aos cuidados paliativos, assim como na casa de Fabrice, onde crianças (os netos de Fabrice), na contramão dos que estão na zona limítrofe da vida, estão imersas no instigante processo de descobertas do mundo adulto.


Difícil avançar além sem incorrer em spoilers, mas vale destacar, ainda, a belíssima cena envolvendo outra grande atriz do cinema francês, Karin Viard, que fala da esperança e do olhar para frente mesmo quando a realidade é perturbadora.

No balanço, um belo e comovente filme, mas que percorre caminhos bastante sensíveis, que podem ativar gatilhos em alguns espectadores. Talvez até por isso o título original poderia ter sido mantido, pois repassa, com mais fidelidade, o propósito deste filme, cujo teor vai certamente retumbar na mente do público por muito tempo.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Costa-Gavras
Produção: KG Productions
Distribuição: Filmes do Estação
Exibição: Centro Cultural Unimed-BH Minas e Una Cine Belas Artes
Duração: 1h40
Classificação: 14 anos
País: França
Gênero: drama

17 julho 2025

"O Último Amor de Mr. Morgan" - uma crônica sobre afeto familiar

Michael Caine é um viúvo que vive em Paris isolado e apático até conhecer a radiante Clémence Poésy,
que vai mudar sua vida (Fotos: Amazon Prime)
 
  

Marcos Tadeu
Parceiro do blog Jornalista de Cinema

 
Luto e relações familiares têm sido temas recorrentes no cinema recente e "O Último Amor de Mr. Morgan" ("Mr. Morgan’s Last Love"), filme de 2013 dirigido e roteirizado por Sandra Nettelbeck, se junta a essa lista com delicadeza. 

Estrelado por Michael Caine, Clémence Poésy e Gillian Anderson, o longa é uma crônica silenciosa sobre solidão, reconexão e a força inesperada das amizades.

A história acompanha Matthew Morgan (Michael Caine), um viúvo que vive em Paris, mas nunca aprendeu a falar francês. Sempre confiou na esposa, Joan (Jane Alexander), para se comunicar com o mundo ao redor. Desde a morte dela, ele se isola em si, mergulhado no luto e na apatia. 


Tudo muda quando conhece Pauline (Clémence Poésy), uma jovem professora de dança, empática e cheia de vida, que entra na vida de Matthew quase como uma luz acesa num quarto escuro. A amizade entre os dois nasce do improvável, mas se desenvolve com uma ternura que desafia a diferença de idade.

Matthew ainda fala com a esposa falecida, a espera. Ele é frio, contido, enquanto Pauline é o oposto: solar, generosa, espontânea. Mas ambos compartilham um vazio, o da perda e da incompreensão. 

Aos poucos, essa amizade inesperada os transforma. Ele encontra um novo sentido de presença e ela, uma forma de acolher sem carregar o outro. A conexão entre eles oferece mais do que companhia. Traz uma nova forma de lidar com a solidão.


O filme se destaca pelas sutilezas. Pequenas cenas e gestos, com uma fotografia sensível e um texto afiado, fazem toda a diferença para o desenvolvimento da narrativa. 

Não há vilões, apenas a vida acontecendo. E talvez por isso o longa seja tão crível e tocante. É preciso atenção aos detalhes, pois é justamente neles que a obra revela sua força.

A trilha sonora, assinada por Hans Zimmer, é outro ponto alto. O compositor, conhecido por trabalhos como "Duna" (2023), "Duna 2" (2024), "Top Gun: Maverick" (2022) e "F1: O Filme" (2025), entrega aqui um instrumental sutil e emocional. 

Os temas transitam entre um toque francês delicado e momentos tensos que pedem maior intensidade. Zimmer entende a proposta do filme e apresenta uma trilha que acompanha, sem invadir.


Outro aspecto importante do filme é a relação de Matthew com os filhos. Marcada por distanciamento e ressentimentos desde a morte da mãe, essa relação volta à tona com mais intensidade quando Pauline entra em cena.

Ela transita entre as feridas dessa família, despertando reflexões e incômodos. Todos ali precisam entender o papel que ocupam dentro da dinâmica familiar e o que ainda pode ser curado, mesmo que tardiamente.


O final pode não agradar a todos, mas é coerente com a proposta do filme. Mesmo com escolhas que podem parecer desconfortáveis, a narrativa mantém sua coerência, com uma conclusão sensível que respeita o tom da história e suas viradas inesperadas. Afinal, a vida é feita de recomeços, muitas vezes tristes, mas necessários.

O "Último Amor de Mr. Morgan" é uma bela crônica sobre o afeto, o envelhecimento e o que permanece mesmo depois da perda. Um filme para ser assistido com calma, de preferência em família, para pensar sobre os papéis que ocupamos uns na vida dos outros e como eles se alternam ou precisam mudar com o tempo.


Ficha técnica
Direção e roteiro
: Sandra Nettelbeck
Produção: Kaminski Stiehm Film, Bavaria Pictures, Senator Film
Exibição: Amazon Prime Video
Duração: 1h51
Classificação: 12 anos
Países: EUA, Bélgica, Alemanha, França
Gêneros: comédia, romance, drama

12 julho 2025

“Yõg ãtak: Meu Pai, Kaiowá” é a própria história em movimento

Um filme feito por indígenas, com indígenas, para indígenas, mas também o reflexo do Brasil
(Fotos: Embaúba Filmes)
 
 

Silvana Monteiro

 
Em cartaz nos cinemas, “Yõg ãtak: Meu Pai, Kaiowá” é um documentário que se apresenta como um memorial à identidade, à terra indígena, seus filhos e filhas. É uma obra que eu ousaria em batizar de: “os indígenas ainda estão aqui”, apesar de todas as injustiças as quais não devemos nos esquecer. 

Dirigido por Sueli Maxakali, Isael Maxakali, Roberto Romero e Luisa Lanna, o filme acompanha a travessia das irmãs Maxakali em busca da memória de seu pai, Luiz Kaiowá, separado delas há 40 anos, durante a ditadura militar. O que começa como um retrato íntimo logo se revela parte de uma memória coletiva, marcada por silenciamentos, apagamentos, dor. 


O desaparecimento forçado, que muitos brasileiros ainda insistem em relativizar, se mostra aqui em sua dimensão mais cruel: a que atinge o afeto, a identidade, o pertencimento não só de duas mulheres, mas de um povo.

O tempo cênico do filme é o tempo da escuta. Nada se apressa. Os planos longos, a cadência dos gestos, o caminhar da câmera, tudo nos convida a permanecer para procurar e saber. Não se trata de observar de fora, mas de estar junto, de ouvir o relato dos mais velhos, daqueles guardiões da memória. 

O cinema, nesse caso, é de imersão. E como quem procura só deseja encontrar, de qualquer forma que seja a obra nos faz sentir que estamos juntos, olhando pelos olhos de quem busca e buscando com eles. 

Família kaiowá-makaxali, que se reencontrou
40 anos depois, em 2022, na aldeia Panambizinho:
da esquerda para a direita, Sueli Makaxali,
Ceila Kaiowá, Luis Kaiowá,  Maiza Makaxali
e Vanusa Makaxali

Um filme feito por indígenas, com indígenas, para indígenas, mas também o reflexo do Brasil. Um país, que embora indígena, precisa, com urgência, se reconhecer em suas ausências e encarar o que fez e ainda faz com seus povos originários.

A busca pelo reencontro com o pai é também uma forma de reencontrar a língua, a visão de mundo, a terra como extensão do corpo. E a presença de Sueli, não só diante das câmeras, mas atrás delas, conduzindo a narrativa da sua própria vida, é de uma potência rara. 

A beleza do filme está nesse entrelaçamento entre o pessoal e o coletivo, entre a busca, os vácuos, os encontros, entre o que foi tirado e o que resiste. A terra, por sua vez, tal como território e dimensão do ser, não é só o cenário da obra, é a territorialização de corpo e alma.  


Ponto alto para as cenas de ritos, o cotidiano do cozer a roupa e o dividir do alimento entre os parentes, a conquista de direitos básicos e os diálogos intimistas. Bem como as lutas enfrentadas pelos povos indígenas Tikmũ’ũn e Kaiowá em defesa de seus territórios e modos de vida.

Ao fim, embora dê um nó na garganta, essa sensação é necessária à composição e missão dessa obra. Há um vazio que permanece e um incômodo que se recusa a ir embora. 

“Yõg ãtak: Meu Pai, Kaiowá” é mais do que um filme sobre o passado. É um lembrete de que a democracia que construímos, ou achamos ter construído, não é plena enquanto essas histórias não forem plenamente reconhecidas e ressignificadas.


Gravações em Minas e Mato Grosso do Sul

As filmagens foram realizadas tanto na Aldeia-Escola-Floresta, retomada em 2021 por cem famílias maxakali em Minas Gerais, quanto nas Terras Indígenas Panambi-Lagoa Rica, Panambizinho e Laranjeira Ñanderu, do povo Guarani Kaiowá, em Mato Grosso do Sul.
 
Os dois territórios ainda são marcados pelas graves violações de direitos humanos que sofreram no período militar, como o esbulho de terras e remoções forçadas. 

"Yõg ãtak: Meu Pai, Kaiowá" já recebeu os prêmios de Melhor Direção no Festival de Brasília (2024), Melhor Filme pelo Júri Popular no Festival Cachoeira DOC e entrou na Seleção Oficial Olhar de Cinema, do Festival de Curitiba, ambos em 2025.


Ficha técnica:
Direção: Sueli Maxakali, Isael Maxakali, Roberto Romero, Luisa Lanna
Roteiro: Sueli Maxakali, Roberto Romero, Tatiane Klein e Luisa Lanna.
Produção: Escola Aldeia Floresta, Batráquia Filmes, Filmes de Quintal, Javali do Mar
Idioma: Maxakali, Kaiowá, Português (com legendas)
Distribuição: Embaúba Filmes
Exibição: UNA Cine Belas Artes e Centro Cultural Unimed-BH Minas
Duração: 1h33
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gênero: documentário

10 julho 2025

James Gunn acerta com seu "Superman” mais humano e menos super

David Corenswet entrega uma boa atuação do herói da capa vermelha nesta nova versão (Fotos: Warner Bros.)
 
 

Maristela Bretas

 
Um super-herói que se distancia das versões anteriores mostradas no cinema e se revela mais humano. Este é o novo "Superman" que estreia  nos cinemas oferecendo uma visão diferenciada do diretor e roteirista James Gunn (da aclamada franquia "Guardiões da Galáxia" - 2014, 2017 e 2023). A trama é repleta de muita ação, questionamentos políticos e sociais e grandes efeitos visuais, expostos de maneira audaciosa e eficaz.

Gunn escolhe não revisitar a história original e já conhecida do alienígena Kal-El: sua chegada à Terra, o despertar dos poderes, a entrada no Planeta Diário como Clark Kent, o encontro com Lois Lane e o surgimento de Lex Luthor em sua vida. 


Esqueça tudo isso. Quem já viu qualquer filme do Superman já sabe estes pontos, e Gunn não quis ser repetitivo. Optou por abrir com um breve histórico em texto e entrar diretamente no presente, com o herói em meio a confrontos e apanhando muito. 

Uma vulnerabilidade que o torna mais humano, confirmando a icônica frase de Batman em "A Origem da Justiça" (2016) - "o Superman sangra".

Além de sangrar, o Homem de Aço, interpretado por David Corenswet, mostra-se mais emotivo, romântico, sofre com as críticas que recebe pela forma de agir em favor da salvação do planeta Terra e de seus habitantes. Admito que fui com poucas expectativas para este filme e me surpreendi com a boa interpretação do personagem feita por Corenswet. 


Apesar de ser muito parecido fisicamente com Henry Cavill, seu antecessor (que é ainda mais bonito), ele tem um olhar mais doce. Ele passa mais credibilidade ao demonstrar o amor por Lois Lane (Rachel Brosnahan) e a importância da família em sua formação. 

Sem esquecer a preocupação com a humanidade e os animais, do esquilo ao cachorro, estando sempre pronto para tentar salvar todos que puder. Nesta nova versão, Clark Kent aparece pouco, deixando o protagonismo para o Superman.


Destaque absoluto para a atuação de Nicholas Hoult como Lex Luthor. O ator vem realizando ótimos trabalhos e está excelente no papel do gênio bilionário, arrogante, machista e invejoso, cuja obsessão é destruir o Superman - o alienígena que conquistou a humanidade e é responsável por sempre frustrar seus planos.

Hoult entrega um vilão à altura do personagem, que vai de explosões de fúria a momentos de choro quanto seus planos falham. O ator talvez seja um dos melhores ou o melhor Lex Luthor já apresentado pelo cinema.


Outro ponto alto é o fofo e alucinado Krypto, o cão que Superman está cuidando temporariamente para sua prima Supergirl. As cenas em que ele aparece, criadas em CGI, são as mais divertidas e, em algumas situações, decisivas, especialmente pela forma descontrolada como ele se comporta. Nem o Homem de Aço dá conta de tanta adrenalina canina. Apaixonei pela versão macho do meu cachorro.

A Lois Lane de Rachel Brosnahan também ganha mais tempo de tela e também é essencial em diversas cenas. Com habilidade, o diretor aproveita para relembrar a franquia "Guardiões da Galáxia" ao colocar a jornalista pilotando uma espaçonave no estilo de Peter Quill/Star Lord.


"Superman" também entrega efeitos visuais incríveis, dignos de um grande super-herói dos quadrinhos e da telona. Embora algumas informações tecnológicas complexas possam deixar o público em geral confuso (os fãs "nerds" vão entender), isso nada impede a compreensão do enredo.

A trama é recheada de monstros gigantescos, Inteligência Artificial avançada e portais tridimensionais. Além disso, dá uma "cutucada" nada sutil em conflitos mundiais e nos replicadores de fake news que trabalham incessantemente para destruir a imagem do super-herói. 

Outros super-heróis atuam também na defesa de Metrópolis e do mundo: Lanterna Verde (Nathan Fillion, num papel que deixa o personagem abobalhado), Isabela Merced (Mulher Gavião) e Edi Gathegi (Senhor Incrível). 


O elenco conta ainda com nomes conhecidos em papéis menores como Bradley Cooper, Frank Grillo, Maria Gabriela de Faria, Skyler Gisondo, Milly Alcock, entre outros. 

Até William Reeve, filho caçula de Christopher Reeve, o primeiro e um dos mais queridos Superman do cinema, teve uma breve aparição no longa como o âncora de um noticiário. 

A música-tema original, composta por John Williams, ganhou novas versões e continua marcante nos principais momentos do super-herói. Associada a ela, a trilha sonora sob a batuta de John Murphy reunindo outros sucessos, está disponível no Spotify.


James Gunn acertou na escolha do elenco, na qualidade dos efeitos visuais e na abordagem da narrativa para contar a história de um dos mais emblemáticos super-heróis da DC, sem cair na mesmice. 

Mas será o sucesso nas bilheterias de "Superman", adaptado dos quadrinhos de Jerry Siegel e Joe Shuster, que irá ditar a fórmula a ser aplicada nas próximas produções do estúdio. 

Esta ficou ótima e merece ser assistida em IMAX ou 3D para uma experiência mais completa. Uma dica: não saia correndo da sala de cinema, o filme tem duas cenas pós-credito.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: James Gunn
Produção: DC Studios, Warner Bros.
Distribuição: Warner Bros Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h09
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: ação, ficção, aventura