05 outubro 2017

"Blade Runner 2049" uma continuação digna do clássico

Ryan Gosling ocupa o lugar de caçador de androides que foi de Harrison Ford, que está de volta ao papel após 35 anos (Fotos: Sony Pictures / Warner Bros. Pictures /Divulgação)

Maristela Bretas


O clássico "Blade Runner: O Caçador de Androides" ("Blade Runner" - 1982) ganha sua continuação 35 anos depois de sua estreia, agora sob a direção de Denis Villeneuve com produção executiva de Ridley Scott, diretor do primeiro. Com dois renomados diretores e um elenco de primeira, estreia nesta quinta-feira nos cinemas "Blade Runner 2049", uma grande produção que faz jus ao filme original em vários aspectos, a começar pelo aumento da degradação ambiental e a evolução dos robôs nos 30 anos da história, a partir de 2019.

Destaque para a fotografia do filme, que supera até mesma a longa duração - 2h43, contra a 1h57 do original -, o que o deixa cansativo em alguns momentos. O roteiro foi muito bem conduzido e levanta a hipótese, em várias cenas e diálogos, para um possível terceiro filme, algo na linha de "O Exterminador do Futuro - A Rebelião das Máquinas" (2003), uma vez que os dois lados estão montando seus exércitos para um conflito final.

"Blade Runner 2049" mantém o visual sombrio, reforçado pela chuva constante, prédios enfileirados como blocos, locais escuros e abandonados e a iluminação da rua vinda de enormes letreiros de neon - por sinal, um grande merchandising, como no primeiro. Também as imagens da cidade vistas durante os voos das aeronaves, continuam sendo um espetáculo à parte. Para a área afetada por um colapso nuclear que mudou todo o ecossistema, o diretor escolheu tons mais amarelados, intensificados por uma névoa. As filmagens de "Blade Runner 2049" foram inteiramente realizadas na Hungria, com locações em todo o país e ocupando todos os seis platôs, além de gravações e montagens feitas em estúdios em Budapeste e Etyek.


O diretor pegou uma tarefa bem complicada: dar sequência a um clássico que marcou época e ainda é referência na união da ficção ao filme noir. E conseguiu fazer um belo trabalho, contando com nomes famosos e premiados na produção, como Ryan Gosling, Jared Leto, Robin Wright, Ana de Armas, Sylvia Hoeks e Dave Bautista, além de trazer de volta para o novo longa-metragem Harrison Ford, Edward James Olmos e Sean Young, que participaram do filme de 1982.


Gosling está ótimo no papel de K, um replicante consciente de sua origem que tenta ser insensível ao trabalho de eliminar a própria raça. Ele, no entanto, é apaixonado por uma imagem holográfica, a quem chama de Joi, bem interpretada também pela bela atriz Ana de Armas. Jared Leto tem um papel importante, mas foi pouco aproveitado. Harrison Ford, mesmo bem envelhecido, é a parte mais esperada pelo público e responsável pelas cenas de ação. O encontro dele com Gosling é um momento marcante do filme.


Assim como em "O Caçador de Androides", a história discute principalmente sentimentos, identidade e relação. A forma como é abordada a questão do trabalho escravo dos replicantes, não importando a idade, faz a gente refletir sobre uma realidade que vemos acontecer hoje em alguns países. Mais um motivo para humanos e replicantes conviverem se odiando.

No primeiro filme, os super androides Nexus 6 quase perfeitos foram considerados descartáveis e caçados até sua quase extinção. Em "Blade Runner 2049", eles estão "mais perfeitos que humanos", mas continuam sendo desprezados. K é o novo Blade Runner da Polícia de Los Angeles, sob o comando da tenente Joshi (Robin Wright). Ele deve eliminar remanescentes da nova geração de Nexus 8, função que no passado foi do humano Harrison Ford. O policial começa a ter dúvidas sobre sua origem e trabalho após encontrar o fazendeiro de proteína Sapper Morton (Dave Bautista).

K passa a investigar a empresa de Niander Wallace (Jared Leto) que encara os replicantes como necessários à sobrevivência da humanidade e tenta ampliar o número deles na Terra e nas colônias. Wallace é auxiliado por Luv (Sylvia Hoeks), uma androide que deixa cadáveres por onde passa. A investigação de K o leva a descobrir um segredo que poderá mudar os rumos da civilização. Para isso terá de encontrar Rick Deckard (Harrison Ford), um ex-policial Blade Runner desaparecido há três décadas. Entre lutas e perseguições, K ainda encontra tempo para o prazer virtual com a imagem de Joi, a quem ama mas não pode tocar.

Efeitos visuais excelentes, sem exageros, com destaque para as cenas em que a imagem de Joi é intercalada com a da garota de programa Mariette (Mackenzie Davis), além dos sobrevoos sobre a Los Angeles degradada do futuro. Trilha sonora sob a batuta de Hans Zimmer também muito boa, mas foge do estilo do Vangellis, responsável pelo original. "Blade Runner 2049" é um ótimo filme, deve ser visto e, apesar de os diretores dizerem que não é necessário assistir ao primeiro, acho essencial para entender vários pontos da nova produção. E também porque "Blade Runner: O Caçador de Androides" é considerado um dos melhores e mais importantes filmes de todos os tempos no gênero.




Ficha técnica:
Direção: Denis Villeneuve
Produção: Warner Bros. Pictures / Alcon Entertainment / Columbia pictures
Distribuição: Sony Pictures Brasil
Duração: 2h43
Gêneros: Ficção científica / Suspense
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 4,5 (0 a 5)

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03 outubro 2017

"O Melhor Professor da Minha Vida" e a sempre mágica relação mestre-aluno

Grande parte do acerto do filme deve-se aos atores Denis Podalydès e o estreante Abdoulaye Diallo (Fotos: Michaël Crotto/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Difícil prever se seria mais atraente se o título fosse "As grandes mentes", tradução literal do original, "Les Grands Esprits". A verdade é que filmes sobre alunos e mestres sempre despertam curiosidade e interesse e talvez esteja aí o motivo da escolha do nome do longa em cartaz a partir desta quinta-feira nas salas de BH: "O Melhor Professor da Minha Vida". Primeira direção de Olivier Ayache-Vidal, que assina também o roteiro, o trabalho é classificado como comédia dramática. Sensível e delicado, o filme cumpre o que parece ser sua missão de comover e fazer refletir.

Que ninguém espere a profundidade de "Sociedade dos Poetas Mortos" ou a empatia instantânea de "Ao Mestre com Carinho" - para ficar apenas em dois exemplos de relações e conflitos entre mestres e alunos. Como produção francesa que é, "O Melhor Professor da Minha Vida" tem suas particularidades no jeito de contar a história. Nada parece óbvio, nada é muito previsível. Embora haja momentos de riso - levados principalmente pela atuação correta de Denis Podalydès (de "Monsieur & Madame Adelman" - 2016) -, o assunto é sério.

François Foucault (Denis Podalydès) é um professor quarentão e solteiro que leciona literatura numa escola de alto nível em Paris, o Liceu Henri IV. Como integrante típico de uma elite intelectual, ele é arrogante e impaciente com os alunos. Filho de pai escritor, o assunto da família na mesa de jantar trata, claro, de autores e livros. Desafiado quase que por acaso pelo Ministério da Educação, e incentivado por uma bela funcionária, François aceita dar aulas durante um ano numa escola de periferia, onde falta estrutura e sobra indisciplina.


Grande parte do acerto do filme deve-se a Denis Podalydès, que incorpora com talento as mudanças pelas quais ele vai passando no convívio com seus novos alunos, especialmente um deles, Seydou, vivido pelo adolescente Abdoulaye Diallo, em seu primeiro papel no cinema. E reside aí, na relação professor/estudante e na transformação de ambos, a graça do filme. Apesar de levemente maniqueísta ao retratar dois tipos de professores - os que acreditam e os que já se desiludiram do poder da educação -, "O Melhor Professor da Minha Vida" dá seu recado com delicadeza e competência. Classificação: 14 anos




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