03 fevereiro 2019

“Uma Nova Chance” - comédia romântica com Jennifer Lopez no estilo sessão da tarde

Filme conta, com humor, como uma simples vendedora se torna a alta executiva de uma empresa de cosméticos (Fotos: Motion Picture Artwork/Divulgação)

Maristela Bretas


Bem leve e sem grandes pretensões, a comédia romântica “Uma Nova Chance” ("Second Art") tem Jennifer Lopez como protagonista e principal atração. A atriz retoma o estilo que lhe garantiu bons filmes ao longo de 20 anos, como "Encontro de Amor" (2002), "A Sogra" (2005) ou "Plano B" (2010). 

Porém ficou muito limitada pelo fraco roteiro, recheado de clichês, em que a fórmula humor e seriedade não foi bem empregada, resultando num personagem muito comum em alguns momentos. Diria até que a Maya Vargas vivida por Lopez seria uma versão 2018 de Marisa Ventura, interpretada por ela em "Encontro de Amor".

Lopez é a principal vendedora de uma loja de cosméticos e produtos de beleza e está insatisfeita com sua vida profissional. Esta primeira parte da produção apresenta bons momentos cômicos, com o suporte de Leah Rimini (como Joan, sua melhor amiga), Charlyne Yi (Ariana, a funcionária atrapalhada) e Alan Aisenberg (Chase, o químico nerd).

Na segunda parte, Vanessa Hudgens (a estrela de "High School Musical") é Zoe, chefe de Maya, que inicialmente não aceita, mas depois cria laços de amizade com ela. Melodramática a aproximação, mas a química entre as duas atrizes até funciona. O ator Milo Ventimiglia ("Creed II") que faz Trey, o "namorido" sem tempero de Maya, também foi mal aproveitado - entra, some e volta e ninguém nem notou que ele saiu. Até Treat Williams foi tirado do baú e faz um empresário de sucesso que contrata a vendedora.

Com uma história que gira em torno de Maya, "Uma Nova Chance" começa abordando a a insatisfação da vendedora, que não tinha sua competência reconhecida na empresa em que trabalhava. Namorava um cara legal que gostava dela e queria que eles se casassem. Sempre rejeitada por não ter uma graduação, Maya vê sua vida dar uma reviravolta ao ter um perfil profissional falso criado nas redes sociais por seu afilhado, apresentando-a como uma destacada consultora de venda de cosméticos.

Por causa disso, é convidada por uma multinacional do ramo a prestar serviços para a empresa e cai nas graças do dono, desagradando à filha dele. Em meio a novos desafios, ela terá de provar que a experiência adquirida com anos de trabalho e contato direto com o público vale tanto quanto um diploma universitário. No entanto, toda essa mentira e o passado mal resolvido de Maya podem atrapalhar sua ascensão social. O filme é todo ambientado em Nova York e parece um outdoor multimarcas de cosméticos.

Claro que por ser uma comédia romântica o final feliz é esperado, com direito a mensagens do tipo - "a verdade é melhor que a mentira", "as coisas só acontecem quando as pessoas correm atrás de seus sonhos" ou "o amor supera tudo". Mas é graças a Lopez que "Uma Nova Chance" consegue, pelo menos, ser indicado para uma sessão em tarde chuvosa.


Ficha técnica:
Direção: Peter Segal
Produção: STX Films / H. Brothers
Distribuição: Diamond Films
Duração: 1h44
Gêneros: Comédia / Romance
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 2,5 (0 a 5)

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02 fevereiro 2019

Glenn Close dá show de interpretação ao expor relacionamento abusivo em "A Esposa"

O filme é centrado nos conflitos de um casal da terceira idade em que o marido fez sua carreira às custas da mulher, que passa a vida em segundo plano (Fotos: Embankment Films/Divulgação)

Carolina Cassese 


Parece que Hollywood finalmente se deu conta da importância de retratar pessoas mais velhas nas telas e colocar atores veteranos em destaque. Produções como "Grace and Frankie" (2015), "Transparent" (2015) e a premiada "O Método Kominsky" (2018) se destacam justamente por colocarem questões relativas ao envelhecimento em pauta. Em épocas de movimentos como o Me Too e Time’s Up, a indústria do entretenimento também passou a apostar em filmes que problematizam o machismo e apresentam mulheres fortes como protagonistas.

Embarcando nessas duas tendências, o longa "A Esposa" é centrado nos conflitos de um casal da terceira idade – ou, mais especificamente, no arquétipo da esposa que passa uma vida em segundo plano, enquanto seu marido é prestigiado e vive cortejando outras mulheres.

A produção é cotada para as grandes premiações, especialmente pela excepcional atuação de Glenn Close, que interpreta a protagonista Joan Castleman. A atriz de fato consegue passar toda a aflição e complexidade de seu personagem com apenas um olhar ou um meio sorriso. O estopim de boa parte dos conflitos é a viagem que o casal realiza a Estocolmo para a cerimônia do Nobel de Literatura que Joe Castleman (Jonathan Pryce), o marido de Joan, receberá.

Desde a primeira cena, em que Joe insiste em fazer sexo com sua esposa e faz a sugestão de maneira consideravelmente misógina (acredite se quiser muitas pessoas no cinema acharam essa insistência engraçada), é bem possível não se simpatizar com o personagem. No entanto, se o desafeto não acontecer “de primeira”, é difícil continuar gostando de Castleman depois de conhecer a fundo a trajetória do casal – inacreditavelmente, há quem justifique todas as ações sexistas do escritor (“ele é movido à testosterona”, “ele faz o que faz porque se sente inseguro”, entre outras).

A opressão sofrida pela a personagem de Close acontece em muitos níveis. Joan não só é diminuída publicamente pelo seu marido (que, descaradamente, diz para os amigos “ainda bem que ela não escreve”), como também sofre em casa, já que ela é totalmente responsável pelos cuidados domésticos – Joe não sabe cuidar nem da sua própria toalha de banho. A protagonista precisa aguentar ainda os olhares que seu marido lança para outras mulheres.

A pegada feminista de "A Esposa" é inegável, especialmente a partir da metade do longa, quando a mulher começa a se dar conta de toda a opressão que sofreu a vida inteira. Seu despertar é motivado pelo injusto reconhecimento que o marido recebe com o Nobel e pelas investidas de Nathaniel Bone (Christian Slater), um escritor que sabe todos os podres da vida de seu marido e não faz nenhuma questão de escondê-los.

A produção pode não agradar algumas feministas, já que, em alguns momentos, Joan se recusa a ser colocada como vítima e até justifica alguns dos equívocos do marido. Em determinados momentos (principalmente considerando o final do longa), fica a impressão de que o próprio filme quer apresentar justificativas para o sexismo de Joe. Pode-se argumentar, no entanto, que a produção se empenha em realizar um retrato verossímil de relacionamentos abusivos, considerando que esses apresentam amarras invisíveis e complexas.

A direção de Björn Runge oscila entre planos longos e decupagens clássicas. Uma cena em especial chama atenção: a conversa de Joan e Nathaniel em um bar passa a ter seus quadros afunilados e apertados na medida em que a conversa se torna tensa e desconfortável para a protagonista. A presença do filho do casal, interpretado por Max Irons, se torna praticamente um acessório e é facilmente descartada. Seu drama, como um aspirante a escritor ofuscado pelo sucesso do pai, é até interessante, mas se torna pouco explorado na trama e parece não chegar a lugar nenhum.

No final das contas, o grande destaque de "A Esposa" é o show de Glenn Close, que de fato merece todo o prestígio que está recebendo. A atriz, que tem um portfólio e tanto, até hoje não foi premiada com um Oscar (já recebeu seis indicações), mas tudo indica que 2019 pode muito bem ser o seu ano. Ela já conquistou o prêmio de Melhor Atriz do Globo de Ouro, Critics' Choice Awards e SAG Awards. É ela quem carrega o filme, fazendo justiça ao peso e à força que sua personagem precisa ter, mostrando as nuances de uma mulher forte que se destaca em um mundo misógino.
Duração: 1h41
Classificação: 12 anos
Distribuição: Pandora Filmes


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