06 dezembro 2020

"Vidas (In)visíveis - Um Arsenal de Esperança": 60 minutos de uma história de acolhimento e ajuda ao próximo

Documentário mostra o belo trabalho de solidariedade que começou no século XVIII na antiga Hospedaria do Imigrante, em São Paulo (Fotos: Luca Meola)

Maristela Bretas


"Não é apenas uma história sobre uma casa de acolhimento, mas um convite a refletir sobre amor, fraternidade e ajuda mútua". Esta é a melhor definição para "Vidas (In)visíveis - Um Arsenal de Esperança", da diretora Erica Bernardini. Um documentário emocionante feito a partir da pandemia de Covid-19 que tomou conta do mundo em 2020. A antiga Hospedaria do Imigrante, que um dia foi ponto de controle para evitar a entrada de possíveis doenças na cidade de São Paulo trazida por quem chegava ao país, retorna a suas origens para cuidar de um novo público.

A produção gira em torno do trabalho desenvolvido no Arsenal da Esperança, uma casa de acolhimento fundada em 1996 por Ernesto Olivero e Dom Luciano Mendes de Almeida, que começou em Turim, na Itália com o Arsenal da Paz e hoje possui outra unidade italiana voltada para crianças e uma na Jordânia para jovens deficientes. O abrigo paulista recebe diariamente uma média de 1.200 homens que se encontram em estado de vulnerabilidade.


Um ótimo documentário que deve ser assistido por italianos e descendentes no Brasil e pelo público em geral. Ele aborda um pouco de como era tratada a questão da saúde no início da imigração no final do século XVIII e o importante papel da Hospedaria do Imigrante. Um local que reúne milhares de histórias de imigrantes e daqueles que hoje também buscam este ponto para recomeçarem suas vidas.

Por quase 25 anos mais de 64 mil dessas pessoas, in(visíveis) para a sociedade, encontraram em sua jornada sofrida um ponto de acolhida de amor, fraternidade, compaixão e ajuda mútua no Arsenal. Mas a pandemia da Covid-19 mudou a realidade e fez com que o cuidado e a orientação aos abrigados precisassem ser reformulados.


A partir daí surge a ideia de se fazer o documentário mostrando como foi a orientação no Arsenal da Esperança a esses homens, acostumados a viverem na rua, e que agora teriam de ficar em isolamento, usar máscaras e manter afastamento de outras pessoas para evitarem a contaminação. O registro da rotina diária dentro do abrigo foi feito por dois voluntários da entidade: José Luiz Altieri Campos e o fotógrafo milanês Luca Meola.

Com depoimentos, fotos e vídeos do passado e em meio à pandemia, o documentário conta como o Arsenal da Esperança foi criado, a rotina de quem frequenta o local. Apresenta o trabalho realizado desde a fundação por missionários italianos e que se transformou em referência em acolhimento e solidariedade.


Ótimas imagens e narrações serenas e cativantes, especialmente as do padre Simone Bernardi, missionário italiano do Sermig (Serviço Missionário Jovem) - Fraternidade da Esperança, fazem da produção um documentário histórico. Mostra como a pandemia afetou a todos - funcionários e abrigados e como eles estão enfrentando a quarentena, suas angústias, medos, sonhos e a vontade de recomeçar. E como a experiência do passado foi importante para o trabalho presente. Histórias que fazem chorar e acreditar que as pessoas querem e podem ser melhores.

Acesso online

O documentário está disponível no 15º Festival de Cinema Italiano no Brasil, que acontece até esta terça-feira (08/12), em plataforma online para todo público brasileiro pelo site  www.festivalcinemaitaliano.com, em parceria com o Cine Petra Belas Artes, de São Paulo. Os ingressos para assistir ao Festival têm valor fixo de R$ 9,90 e dão direito ilimitado a toda a programação. 

A produção tem o apoio do Consulado Geral da Itália em São Paulo e da empresa de imigrantes italianos, Zini Alimentos. A diretora Erica Bernardini é uma profissional que atua há 20 anos na promoção da cultura italiana no Brasil, com diversos projetos e realizações na área.


Ficha técnica:
Direção:
Erica Bernardini
Exibição: pelo site www.festivalcinemaitaliano.com
Duração: 1h00
Produção: Arteon
Classificação: Livre
Países: Brasil /Itália
Gêneros: Documentário / Drama

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02 dezembro 2020

"Era uma Vez Um Sonho" é um filme pra não ser visto e sim esquecido

 

Produção parece ter sido feita para tentar uma indicação ao Oscar para Amy Adams e Glenn Close (Fotos: Lacey Terrell/Netflix)


Jean Piter Miranda


Um jovem estudante de direito da conceituada universidade de Yale está bem perto de conseguir um bom emprego. Uma vaga em uma boa empresa, uma chance de carreira promissora. É a realização do chamado "sonho americano". E é isso que o jovem JD Vance (Gabriel Basso) tem. Só há um problema: ele precisa voltar às pressas a sua cidade natal para cuidar da mãe, Bev Vance (Amy Adams), que acaba que sofrer uma overdose de heroína.

Esse é o enredo de "Era uma Vez Um Sonho", do diretor Ron Howard, disponível na Netflix. Trata-se de uma adaptação do livro "Hillbilly Elegy: A Memoir of a Family and Culture in Crisis" ("Elegia Caipira: Memórias de uma Família e uma Cultura em Crise").


A primeira impressão que se tem é que JD Vance vai salvar o dia. Que terá forças e sabedoria para lidar com todos os problemas e que no fim tudo vai dar certo. Mas não. A segunda impressão é de que Bev teve muitos problemas na vida e que as drogas foram uma fuga. E que logo vamos ver que ela é uma pessoa boa, de muitas qualidades.  Também não. Então a esperança é a avó Mamaw (Glenn Close). Novamente não. Nenhum dos personagens é simpático. Todos são muito burros e antipáticos.

O filme tenta passar uma ideia de superação das dificuldades enfrentadas pela família de Vance em suas três gerações. A história vai intercalando momentos do passado, mas nenhuma das histórias fica bem contada. Não há consistência em nada. Tudo é muito vago, forçado e superficial.



Amy Adams tem uma interpretação muito boa, de destaque. Mas passa do ponto. A caracterização para ela ficar semelhante à Bev real é elogiável. E parece que os produtores do filme se perderam nisso. Fizeram uma obra pra de qualquer jeito só pra Amy aparecer e ter sua chance à estatueta. 

O mesmo se aplica a Glenn Close. O que não sei se cola. Essa é mais uma impressão. Interpretações boas, mas que erraram a mão com um roteiro chato e cansativo. Os personagens são grosseiros, toscos. Nem com muita boa vontade você consegue torcer por eles.


Pra piorar, Haley Bennett e Freida Pinto são muito mal aproveitadas na história. Haley interpreta Lindsay, irmã de Vance, e Freida é Usha, namorada dele. As duas são personagens decorativas que nada acrescentam à história. Usha só aparece em conversas sem sentidos e bem tediosas ao telefone com Vance. E são muitas as cenas ao telefone. A cada uma você torce para o filme acabar depressa.

Daria para mostrar que gente branca também pode ser pobre nos EUA, que são muitas e que não há políticas públicas para enfrentar esse problema. Que o sistema de saúde privado é cruel: se não paga (caro) não tem atendimento. Que não há política para tratamento de dependentes químicos. Que não há oportunidade pra todos. E que só vontade e trabalho não são suficientes para vencer na vida. Mas tudo isso é ignorado. E o filme no fim só é chato mesmo.


Amy e Glenn podem ser indicadas ao Oscar e a outras premiações, muito por falta de concorrentes, uma vez que o número de lançamentos nesse ano foi bem reduzido por conta da pandemia. Mas indicações por melhor filme e direção são pouco prováveis e nada merecidas. Amy e Glenn têm interpretações bem melhores em suas carreiras. Assim como a @Netflix possui produções mais merecedoras de elogios. Definitivamente, "Era uma Vez Um Sonho" é um filme pra ser esquecido.


Ficha técnica:
Direção: Ron Howard
Exibição: Netflix
Duração: 1h56
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gênero: Drama


Tags: #EraUmaVezUmSonho, #AmyAdams, #GlennClose, #drama, #RonHoward, #Netflix, @CinemaEscurinho, @cinemanoescurinho