26 fevereiro 2021

Terror russo "A Viúva das Sombras" não merece nem a pipoca

Produção passa a maior parte do tempo numa floresta escura, habitada por uma entidade maligna (Fotos: Divulgação)

Maristela Bretas


Muito escuro. A ponto de deixar o público incomodado, pois tira o impacto das cenas de terror a que se propõe, mas deixa muito a desejar. Este é "A Viúva das Sombras" ("Vdova"), produção russa que estreou nessa quinta-feira (25) nos cinemas Cinemark BH Shopping, Cinépolis Estação BH e Grupo Cine/Sete Lagoas, em versões dublada e legendada. Para ajudar a espantar o público do cinema, o roteiro é ruim, os atores e os diálogos são fracos e sem impacto algum, principalmente pelo gênero escolhido.
 

O filme é inspirado em eventos reais, com a narrativa começando com depoimentos de moradores de um vilarejo perto de São Petesburgo, onde crimes sem solução ocorrem há 30 anos. A partir daí, passa para uma equipe de voluntários que trabalha nas florestas próximas a procura de pessoas perdidas. Desta vez, o grupo está acompanhado de uma cinegrafista que está registrando os trabalhos de resgate.

Os cinco integrantes são convocados para ajudarem nas buscas a um garoto na floresta, em meio a pântanos profundos, estradas ruins e com deslizamentos de terra exigindo desvios. No passado, várias pessoas foram encontradas mortas e nuas nesta mesma floresta. Mas o grupo acaba descobrindo mais do que esperava e enfrentando uma entidade maligna que seria a responsável pelas mortes.
 

 
A sequência de cenas entre a entrada na mata e o final é uma lição de como fazer um roteiro fraco e totalmente previsível. Daqueles que dá vontade de sair da sala de cinema ou desligar a TV já nos primeiros 15 minutos. Para agravar a situação, são muitas imagens com pouquíssima luz, o que impede de acompanhar o desfecho de algumas cenas, principalmente as que a tal viúva que habita no pântano ataca as vítimas. 
 

Não é um filme para ser assistido em tela de smartphone, notebook ou televisão (fica o alerta para quando for para o streaming). As cenas escuras na floresta à noite são quebradas são quebradas apenas quando alguém liga uma lanterna ou acende a fogueira.

Para completar, as atuações deixam a desejar, com nomes desconhecidos de pessoas que não têm qualquer conexão. Como se colocassem vários atores num set, cada um com seu texto para decorar e fazendo filmes independentes, sem ligação um com o outro. Difícil encontrar um ponto que ajude a salvar "A Viúva das Sombras" de ser, até o momento, o pior lançamento de terror deste ano. No mesmo nível de qualidade de "A Noiva" (2017), outra produção russa ruim demais.
 
  
Ficha técnica:
Direção: Ivan Minin
Distribuição: Paris Filmes
Duração: 1h54
Pais: Rússia
Gênero: Terror
Classificação: 16 anos
Nota 1,5 (0 a 5)

25 fevereiro 2021

"Mais Que Especiais" propõe um debate sobre o tratamento do autismo severo

Reda Kateb e Vincent Cassel são responsáveis por duas organizações sem fins lucrativos que cuidam de jovens autistas (Fotos: Carole Bethuel/California Filmes)

Jean Piter Miranda


É bem possível que hoje em dia todo mundo conheça ao menos uma pessoa autista. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada 160 crianças tem transtorno do espectro autista (TEA). Mas, talvez, poucas pessoas saibam que os autistas não são todos iguais. Eles podem apresentar dificuldades de comunicação e de socialização, em maior ou menor grau, entre outras características. Muitos filmes já abordaram esse tema. E o mais novo que chega nesta quinta-feira (25) aos cinemas é o francês “Mais que Especiais” ("Hors Normes").

 
O filme conta a história de Bruno (Vincent Cassel) e Malik (Reda Kateb). Eles são responsáveis por duas organizações sem fins lucrativos que cuidam de jovens autistas que foram recusados por outras instituições, por terem comportamento extremamente agressivo. A obra é baseada em uma história real, passada na França, que mostra o belo trabalho social desenvolvido pela dupla e todas as dificuldades que eles enfrentam.
 


 Bruno e Malik lidam diretamente com os jovens autistas de forma afetiva, mostrando que entendem o que estão fazendo. Ao mesmo tempo, eles têm que fazer de tudo um pouco: cuidar da parte administrativa, pagar funcionários, correr atrás de dinheiro, treinar cuidadores, lidar com a burocracia do governo, entre outras coisas. Sem contar que, pra agravar ainda mais a situação, os autistas que eles cuidam são de famílias carentes. É drama em cima de drama.
 

 
Ao longo do filme, vemos a luta de Bruno e Malik para dar qualidade de vida aos autistas que eles cuidam. Eles tentam de tudo para socializar os jovens, com tratamento bem humanizado. O que contrasta com a terapia oferecida pelas instituições tradicionais, baseada em isolamento e medicamentos sedativos. E nisso vemos também a principal preocupação dos pais: “O que vai ser do meu filho quando eu morrer? Quem vai cuidar dele?”.


"Mais que Especiais" é bem dramático. Tem cenas fortes, que mostram os jovens tendo crises, de Bruno e Malik rodando a cidade, correndo a procura de autistas que ficaram perdidos pelas ruas. Além da fiscalização dos órgãos do governo, que cobram muito e praticamente não oferecem ajuda. É um filme que traz um olhar bem diferente sobre o autismo, como talvez nunca tenha sido mostrado.
 

 
Vincent Cassel está maravilhoso, como sempre. E isso conta muito. O filme é dos diretores Olivier Nakache e Éric Toledano, os mesmo que fizeram “Intocáveis” (2011). "Mais que Especiais" propõe muitas reflexões. Apresenta uma realidade da França, mas que certamente tem muitas semelhanças com o que é vivido em várias partes do mundo. Não é uma história de superação, nem bonitinha. É uma história de dores, de renúncia e, principalmente, de amor a uma causa. É uma obra necessária que merece ser vista.
 


Ficha técnica:
Direção:
Olivier Nakache e Éric Toledano
Distribuição: Califórnia Filmes
Exibição: Nos cinemas
Duração: 1h54
País: França
Gênero: Comédia
Nota: 3,5 (de 0 a 5)