30 agosto 2021

Engraçado e propositalmente besteirol, “Amigas de Sorte” tem elenco estelar que merecia mais originalidade

Arlete Salles, Susana Vieira e Rosi Campos formam o divertido trio da comédia em exibição no canal Globoplay (Fotos: Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni

 
Quando morre uma integrante do grupo de quatro amigas paulistas inseparáveis, as três que restaram ficam ainda mais unidas. Nina, dona de uma típica cantina italiana no bairro do Bexiga; Nelita, proprietária de uma loja de antiguidades, e Rita, professora aposentada, são mulheres maduras, beirando os 70 anos, e levam uma vida simples, de dinheiro curto e muita resignação. 

Mas o destino delas começa a mudar quando as três ganham uma bolada na Mega-Sena. Essa é a sinopse de “Amigas de Sorte”, comédia em cartaz no Globoplay que traz no elenco três estrelas da nossa televisão: Arlete Salles (79), Susana Vieira (78) e Rosi Campos (67).


Há quem chame de comédia feminina produções como essa, em que os homens presentes na trama são meros coadjuvantes. Pode ser. Embora não seja nenhuma obra-prima, “Amigas de Sorte” pode cumprir seu papel de provocar riso fácil como convém ao gênero. 

Besteirol popular na acepção da palavra, o filme tem, no elenco brilhante, seu maior mérito. O resto são piadinhas de sexo, estereotipadas velhotas assanhadas, confusões, brigas, desencontros, mentiras, correrias e coincidências nem sempre verossímeis.


Além das três, estão no elenco, em ótimas atuações, entre outros, Klebber Toledo como o galã Gabriel, Otávio Augusto como o marido de Nina e, para quem estava com saudade, até Luana Piovani, que reaparece como uma delegada uruguaia. Em papéis menores, entram Júlio Rocha, Bruno Fagundes e Fernando de Paula.

Quando se descobrem ganhadoras, Nina, Nelita e Rita decidem passear, mas escondem das famílias tanto o prêmio quanto o real destino da viagem. Animadíssimas, vão para Punta Del Este, no Uruguai, onde se hospedam no Conrad, luxuoso hotel cassino, sonho de nove entre dez brasileiros da elite, com suas suítes superconfortáveis, com direito a spa, massagens, champanhe, discoteca. E, claro, não faltam alusões e experiências com a maconha legalizada do Uruguai.


Pela ficha técnica, “Amigas de Sorte” cria certa expectativa. E embora não decepcione totalmente, podia ter menos clichês. Afinal, o argumento é do tarimbado casal Fernanda Young e Alexandre Machado, responsável, entre outras pérolas, pela criação de “Os Normais”. A direção é de Homero Olivetto (“Bruna Surfistinha”, “Reza a Lenda”), o roteiro de Lusa Silvestre, a fotografia de lugares maravilhosos é perfeita e a produção é da Globo Filmes. Ou seja: tudo parece ter sido pensado para fazer sucesso. Deve até fazer.


Só que a pegada, nitidamente comercial, talvez tenha exagerado nos estereótipos. Não que o longa não seja engraçado. Há cenas impagáveis como, por exemplo, quando as três passam pela alfândega e revelam suas maletas repletas de remédios típicos da terceira idade. O elenco, experiente e brilhante, certamente merecia mais originalidade.


Ficha técnica:
Direção:
Homero Olivetto
Exibição: Globoplay
Produção: Globo Filmes / Popcon
Distribuição: Downtown Filmes
Duração: 1h28
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gênero: Comédia

24 agosto 2021

"Infinito" abusa dos erros e dos clichês e desperdiça uma boa história

Mark Wahlberg é um ser especial que pode rever vidas passadas e precisa impedir o fim do mundo (Fotos: Reprodução/Paramount Pictures)


Jean Piter Miranda

"Infinito" ("Infinite"), filme disponível na plataforma Paramount +, conta a história de Evan Mc Cauley (Mark Wahlberg), um homem que vive assombrado por memórias de vidas passadas. Quando é encontrado por uma sociedade secreta chamada "Infinitos", ele descobre o que é realmente é: um ser especial que tem todas as lembranças de suas antigas existências. Aí então se depara com um dos seus semelhantes, Bathurst 2020 (Chiwetel Ejiofor), que tem o plano de acabar com todo tipo de vida na Terra.

A ideia é muito boa e foi até comparada a Matrix. Em meio à humanidade, uma “raça” capaz de reencarnar. E a cada nova vida carrega consigo todas as memórias e habilidades de vidas passadas. Parte desse grupo usa dessa condição para tentar fazer do mundo um lugar melhor. Outros, querem por fim a esse ciclo, “descansar”, "se libertar”. Mas, para isso, não basta morrer, tem que destruir o mundo para não ter onde renascer.  


Era pra ser bom. Poderia ser muito bom. Mas "Infinito" exagera nos clichês e abusa dos erros de roteiro. O mocinho solitário que passa por problemas pessoais. O vilão que faz muitas caras e bocas, meio que pagando de louco. O combate final entre duas mulheres, que mesmo com pistolas e metralhadoras preferem sair na mão. A equipe do bem formada por gênios excêntricos, um fortão, uma garota bonita e um personagem oriental. E a turma do mal, claro, também é muito previsível.  

Mark Wahlberg e o diretor Antoine Fuqua

Os erros de roteiro são um tanto grosseiros. O vilão que uma hora está na sala e depois de uma explosão já aparece dentro de um carro, sem um pingo de poeira em seu terno, que está sempre alinhado, mesmo nas cenas de ação. Personagem molhado que segundos depois está seco.

Uma fortaleza de uma sociedade secreta que é encontrada facilmente e que é protegida por apenas três drones. Cena de ação em que o cara tem dezenas de armas à disposição, como pistolas e metralhadoras, e pega duas machadinhas para enfrentar um adversário sabidamente mais forte.  


São muitos e muitos os erros, que vão se acumulando, e que tornam "Infinito" difícil de engolir. Não dá nem para encarar como simples entretenimento. Cenas de ação fraquíssimas e completamente sem sentido. Tentar invadir uma fortaleza bem vigiada com um carro pela porta de frente? Saltar de um penhasco quando poderia ir de helicóptero e muitas outras situações que praticamente zombam da inteligência do espectador.  


Mark Wahlberg tem as mesmas poucas expressões faciais do início ao fim do filme. Dá a impressão de que ele não estava muito a fim de estar ali, que queria que tudo terminasse rápido. Ele tem potencial e já mandou bem em outras produções como “Quatro Irmãos” (2005), “Os Infiltrados” (2006), “O Vencedor” (2010) e, mais recentemente, em "De Repente Uma Família" (2018), também da Paramount Pictures. Mas nessa, atuou de forma decepcionante. Chiwetel Ejiofor, que brilhou em “12 Anos de Escravidão” (2014), se esforça muito, muito mesmo, para encarnar o vilão, mas não convence nem um pouco.


A mocinha Nora Brightman (Sophie Cookson) é inexpressiva. A mesma cara nas cenas de ação, de drama, de suspense. Não muda nem quando deveria interpretar medo ou dor. Dylan O'Brien, o menino da franquia “Maze Runner” ("Correr ou Morrer" - 2014, "Prova de Fogo" - 2015 e "A Cura Mortal" - 2018), faz o papel de Heinrich Treadway. Ele aparece pouco, tem um papel secundário, mas manda bem. É a única interpretação boa de todo o filme.  


O longa é uma adaptação do livro "The Reincarnationist Papers", de 2009, escrito por D. Eric Maikranz. A publicação tem 96% de aprovação entre os usuários do Google. Mas a produção cinematográfica tem se mostrado um desastre, com críticas negativas da imprensa especializada e dos espectadores.

"Infinito" teve um orçamento de US$ 100 milhões e era uma das grandes apostas da Paramount para 2021. Para aumentar o prejuízo, a produção utilizou 30 modelos de carros Aston Martin, muitos deles destruídos nas gravações.


A direção é do norte-americano Antoine Fuqua, que já fez muitos filmes e só tem um bom na carreira: “Dia De Treinamento” (2001), com Denzel Washington, sem esquecer que ele também dirigiu o ator em "O Protetor" (2014) e "O Protetor 2" (2018).

Sempre se esperou de Fuqua um novo filme de qualidade, impactante. Produção que nunca veio, mesmo trabalhando com boas histórias e ótimos elencos. Ele parece aquele jogador de futebol que brilha em uma única temporada, nunca mais repete as boas atuações e chega ao fim como eterna promessa.


Ficha técnica:

Direção: Antoine Fuqua Exibição: plataforma Paramount + Produção: Paramount Pictures e Di Bonaventura Pictures Duração: 1h46 Classificação: 14 anos País: EUA Gêneros: Ficção / Suspense / Ação Nota: 2 (de 0 a 5)