14 setembro 2021

“Anônimo” copia franquia John Wick, traz boas cenas de ação, mas se perde nos clichês

Bob Odenkirk interpreta um pacato pai de família que resolve se vingar dos assaltantes que entraram em sua casa (Fotos: Universal Pictures)


Jean Piter Miranda

Hutch Mansell (Bob Odenkirk) é um homem comum. Um cara com quase uns 60 anos de idade. Ele vive sua rotina de trabalho e cuidados com a família. Em uma noite, um casal de assaltantes invade sua casa. Para evitar problemas, ele não reage e deixa os bandidos irem embora. A esposa, os filhos e os amigos dele ficam desapontados com sua passividade. 

Dias depois, ele decide ir atrás dos ladrões, o que traz de volta um passado sombrio que vai colocar sua vida em risco. Essa é a história de “Anônimo” ("Nobody"), filme de ação produzido pela Universal Pictures, que deve ser lançado em breve no Brasil nas plataformas de streaming.


Buscando vingança, Mansell roda o submundo da cidade e acaba arrumando problemas com a máfia russa. É aí que tudo se complica. Era uma situação relativamente pequena, que poderia ter sido deixada de lado. No fim, ele passa de perseguidor a perseguido. E todo o seu passado é revirado, revelando que ele não é uma pessoa comum como parecia. E vai precisar usar tudo o que sabe para se defender e proteger a sua família.


Logo de cara, qualquer um vai notar semelhanças com a franquia John Wick. Principalmente nesse ponto: era uma situação que poderia ter sido deixado pra lá e que acaba virando um problema com gente muito poderosa. Mansell também teve treinamento para lidar com armas e com combates corpo a corpo. E as semelhanças não param por aí. As cenas de ação, tanto nas lutas quanto nas perseguições e nas trocas de tiros lembram muito os filmes estrelados por Keanu Reeves.


O roteirista é Derek Kolstad, o mesmo da franquia John Wick. O filme tem uma boa proposta, mas não esconde que copia várias ideias de "De Volta ao Jogo" (2014), "Um Novo Dia Para Matar" (2017) e "John Wick 3 - Parabellum" (2019). Mas tem furos que pesam contra. Os vilões são sempre russos, latinos, alemães, orientais ou árabes. 

Os malvados nunca são dos Estados Unidos. E os mafiosos sempre burros. Controlam organizações com abrangência mundial, mas não conseguem bater de frente com um único estadunidense. Podem mandar os melhores capangas, os mais treinados, que eles sempre vão cometer erros primários. É só prestar um pouco de atenção para notar isso.


Por que não colocam vilões dos EUA, que sejam tão bem treinados quanto? Fica difícil engolir isso em pleno 2021, depois de centenas e centenas de filmes com os mesmos roteiros. O mocinho que usa um carro antigo de motor potente para fugir e trocar tiros. E mesmo com 50 capangas atirando com metralhadoras contra ele, não recebe um tiro. O veículo fica cheio de buracos, mas nem uma bala atinge o cara.


O herói, claro, vai ter ajuda de antigos companheiros. Tão bem treinados quando ele. O cara atrai os “bandidos” para um local cheio de armadilhas e eles caem em todas. O mocinho sozinho invade uma fortaleza da máfia russa, destrói tudo e saí ileso. E ainda vai atrás do chefão. 

Para que se arriscar fazendo tudo isso quando poderia simplesmente ter fugido com a família? Fica uma “vingança” bem desproporcional. Mas isso passa despercebido para quem procura apenas uma diversão e foca só nas cenas de ação.


Por fim, “Anônimo” tinha potencial para ser bom, mas se perdeu nos clichês. Tem boas interpretações, ótimas cenas de ação, bem realistas. Mas o roteiro tem furos, as ações e motivações do herói são questionáveis, inconsistentes. Há possibilidades de ter continuações, o que não é bom nem ruim. 

Para entretenimento, está de bom tamanho. É mais um filme de ação do tipo “exército de um homem só”, como os muitos feitos por Liam Neeson. Pode e deve agradar ao público, mas fica bem à sombra de John Wick.


Ficha técnica:
Direção: Ilya Naishuller
Roteiro: Derek Kolstad
Exibição: em breve nas plataformas de streaming
Produção e distribuição: Universal Pictures
Duração: 1h32
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gênero: Ação

10 setembro 2021

"Maligno" é aterrorizante, instigante e um dos melhores filmes de terror do ano

Annabelle Wallis é a jovem Madison, que tem visões de crimes brutais cometidos por uma entidade ligada a seu passado (Fotos: Warner Bros. Pictures)


Maristela Bretas


Aquele terror que faz você ficar grudado na cadeira do cinema, um roteiro exemplar, uma entidade assustadora em todos os sentidos. Tudo isso num só filme - "Maligno" ("Malignant"), em cartaz nos cinemas, sob a direção de James Wan, responsável por sucessos como (“Aquaman” - 2018 e “Velozes & Furiosos 7” - 2015). 

O longa é estrelado por Annabelle Wallis, que parece estar gostando do gênero terror, tendo participado de “Annabelle” (2014), “A Múmia” (2017) e, mais recentemente, da ficção "Mate ou Morra" (2021). 


Em "Maligno", ela entrega uma ótima interpretação de Madison uma mulher que tem visões de assassinatos brutais que ocorrem em outros lugares, com pessoas desconhecidas. A situação piora quando os sonhos dos crimes passam a ocorrer durante o dia e intrigam a polícia. Ajudada por sua irmã Sidney (papel de Maddie Hasson), ela suspeita que o assassino possa estar ligado a seu passado desconhecido.


Claro, não poderia faltar a casa velha com aspecto de mal assombrada, a neblina e as luzes piscando anunciando a chegada do mal e os ambientes escuros - porque as pessoas insistem em andar pela casa sem acender a luz, só para serem atacadas nos filmes.

 "Maligno" tem uma vantagem sobre outras produções do gênero - as cenas de terror também acontecem durante o dia, nos lugares mais inesperados. E são ótimas, não perdem o impacto por ocorrerem em ambientes iluminados.


A violência nos ataques da entidade podem chocar aqueles de estômago mais fraco, o sangue corre solto e escorre pelas paredes, mas as sequências das cenas prendem do início ao fim. O roteiro é bem amarrado, fazendo as conexões necessárias para que o público entenda o que está acontecendo. Mesmo quando as explicações são óbvias e, às vezes, podem parecer desnecessárias. Mas não são.

O elenco conta ainda com George Young, Jacqueline McKenzie, Jake Abel e Ingrid Bisu (no papel da perita forense), que atuou também em “Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio” (2021) e a “A Freira” (2018), além de ser uma das roteiristas do longa, juntamente com James Wan e Akela Cooper.


James Wan dá um show de direção. Ele literalmente passeia pelos espaços da casa de Madison, com destaque das imagens feitas de cima para baixo, permitindo ao público enxergar o ambiente como num labirinto, à espera do ataque da entidade. Nos outros locais de ataques, a preocupação com os detalhes nos cenários chama a atenção, como no subterrâneo de Seattle, ou acompanhando as vítimas pelos cômodos de suas casas.

O jogo de câmera é perfeito, os efeitos visuais usados na entidade e nas mudanças de cenários durante as visões de Madison, bem como a, fotografia e a maquiagem são uma aula da equipe de produção de Wan, que já participou de outros filmes do gênero, como "Invocação do Mal 2" (2016) e "Sobrenatural: A Última Chave" (2018).


Sem contar a ótima trilha sonora (que pode ser conferida no Spotify) composta por Joseph Bishara, responsável por todos os sete filmes da franquia "Invocação do Mal", iniciada em 2013. Ele compôs ainda a trilha de "The Prodigy" (2019), que no Brasil recebeu também o nome de "Maligno".

Enfim, uma produção que reúne várias influências aplicadas pelo diretor e sua equipe em outros longas, mas que funcionam bem e dão um ritmo que agrada. Vale muito a pena ser conferido.


Ficha técnica:
Direção: James Wan
Roteiro: James Wan, Akela Cooper e Ingrid Bisu
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h51
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Terror /Suspense
Nota: 4,5 (de 0 a 5)