17 julho 2025

"O Último Amor de Mr. Morgan" - uma crônica sobre afeto familiar

Michael Caine é um viúvo que vive em Paris isolado e apático até conhecer a radiante Clémence Poésy,
que vai mudar sua vida (Fotos: Amazon Prime)
 
  

Marcos Tadeu
Parceiro do blog Jornalista de Cinema

 
Luto e relações familiares têm sido temas recorrentes no cinema recente e "O Último Amor de Mr. Morgan" ("Mr. Morgan’s Last Love"), filme de 2013 dirigido e roteirizado por Sandra Nettelbeck, se junta a essa lista com delicadeza. 

Estrelado por Michael Caine, Clémence Poésy e Gillian Anderson, o longa é uma crônica silenciosa sobre solidão, reconexão e a força inesperada das amizades.

A história acompanha Matthew Morgan (Michael Caine), um viúvo que vive em Paris, mas nunca aprendeu a falar francês. Sempre confiou na esposa, Joan (Jane Alexander), para se comunicar com o mundo ao redor. Desde a morte dela, ele se isola em si, mergulhado no luto e na apatia. 


Tudo muda quando conhece Pauline (Clémence Poésy), uma jovem professora de dança, empática e cheia de vida, que entra na vida de Matthew quase como uma luz acesa num quarto escuro. A amizade entre os dois nasce do improvável, mas se desenvolve com uma ternura que desafia a diferença de idade.

Matthew ainda fala com a esposa falecida, a espera. Ele é frio, contido, enquanto Pauline é o oposto: solar, generosa, espontânea. Mas ambos compartilham um vazio, o da perda e da incompreensão. 

Aos poucos, essa amizade inesperada os transforma. Ele encontra um novo sentido de presença e ela, uma forma de acolher sem carregar o outro. A conexão entre eles oferece mais do que companhia. Traz uma nova forma de lidar com a solidão.


O filme se destaca pelas sutilezas. Pequenas cenas e gestos, com uma fotografia sensível e um texto afiado, fazem toda a diferença para o desenvolvimento da narrativa. 

Não há vilões, apenas a vida acontecendo. E talvez por isso o longa seja tão crível e tocante. É preciso atenção aos detalhes, pois é justamente neles que a obra revela sua força.

A trilha sonora, assinada por Hans Zimmer, é outro ponto alto. O compositor, conhecido por trabalhos como "Duna" (2023), "Duna 2" (2024), "Top Gun: Maverick" (2022) e "F1: O Filme" (2025), entrega aqui um instrumental sutil e emocional. 

Os temas transitam entre um toque francês delicado e momentos tensos que pedem maior intensidade. Zimmer entende a proposta do filme e apresenta uma trilha que acompanha, sem invadir.


Outro aspecto importante do filme é a relação de Matthew com os filhos. Marcada por distanciamento e ressentimentos desde a morte da mãe, essa relação volta à tona com mais intensidade quando Pauline entra em cena.

Ela transita entre as feridas dessa família, despertando reflexões e incômodos. Todos ali precisam entender o papel que ocupam dentro da dinâmica familiar e o que ainda pode ser curado, mesmo que tardiamente.


O final pode não agradar a todos, mas é coerente com a proposta do filme. Mesmo com escolhas que podem parecer desconfortáveis, a narrativa mantém sua coerência, com uma conclusão sensível que respeita o tom da história e suas viradas inesperadas. Afinal, a vida é feita de recomeços, muitas vezes tristes, mas necessários.

O "Último Amor de Mr. Morgan" é uma bela crônica sobre o afeto, o envelhecimento e o que permanece mesmo depois da perda. Um filme para ser assistido com calma, de preferência em família, para pensar sobre os papéis que ocupamos uns na vida dos outros e como eles se alternam ou precisam mudar com o tempo.


Ficha técnica
Direção e roteiro
: Sandra Nettelbeck
Produção: Kaminski Stiehm Film, Bavaria Pictures, Senator Film
Exibição: Amazon Prime Video
Duração: 1h51
Classificação: 12 anos
Países: EUA, Bélgica, Alemanha, França
Gêneros: comédia, romance, drama

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