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12 dezembro 2025

"Sorry, Baby" reflete sobre o impacto de uma agressão sexual na vida de uma mulher

A cineasta e roteirista franco-americana Eva Victor também protagoniza este drama que narra sua própria experiência no passado (Fotos: A24)
 
 

Patrícia Cassese

 
No dia 19 de novembro deste ano, a Organização Mundial da Saúde divulgou dados apontando que cerca de 840 milhões de mulheres em todo o mundo já sofreram algum episódio de violência doméstica ou sexual ao longo da vida. 

Na ocasião, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da agência especializada da ONU, lembrou que, por trás de cada um desses corpos que compõem a estatística, uma vida foi alterada para sempre. 

O número, claro, pode ser muito maior, já que muitas vítimas sequer denunciam as agressões sofridas. Em cartaz no Cineart Ponteio e demais cinemas, "Sorry, Baby", primeiro longa-metragem da cineasta e roteirista franco-americana Eva Victor, tem como espinha dorsal justamente um caso de abuso. 


No caso, impetrado por um homem do círculo de convívio da vítima - o orientador da tese da personagem central, a estudante Agnes, interpretada pela própria Eva, hoje com 31 anos.

Embora o início da narrativa flagre a personagem passados alguns anos do fatídico episódio, não demora para que o espectador tenha a contextualização dos eventos que antecederam esse momento. 

Agnes é abusada pelo professor/orientador Preston Decker (Louis Cancelmi) durante um encontro na casa do docente, teoricamente articulado por uma revisão de alguns pontos do trabalho da garota - o qual, aliás, ele tece elogios. A câmara não mostra exatamente o que acontece ali dentro. 


O detalhamento possível (posto que um acontecimento desse impacto não raro turva a mente da vítima) chega ao público por meio do relato de Agnes à amiga com a qual divide a casa, Lydie (Naomi Ackie). 

De todo modo, a diretora marca pontos ao, no momento em que a violência se desenrola, fixa a câmera diante da parte frontal da residência de Decker, passando a sinalizar a passagem das horas pela variação cromática que marca o dia. 

A sequência encerra-se com a noite já caída, quando Agnes sai apressada e extremamente nervosa da casa, preocupada em amarrar os cadarços de suas botas e sem olhar para trás. 


Corroborando as palavras do diretor da OMS, citadas no início da matéria, naquele dia, a vida de Agnes é, pois, alterada para sempre. Ao contrário das mulheres que silenciam, porém, ela resolve sim, se submeter a um exame de corpo de delito até para ter subsídios em uma eventual denúncia contra o agressor. 

As perguntas protocolares do médico - sim, um homem - encarregado do atendimento já deixam claro que Agnes não vai encontrar, ali, a guarida necessária. 

Mais tarde, ao tentar levar o caso à própria instituição de ensino, a jovem se depara com outra barreira: horas antes, a pretexto de ir morar em Nova Iorque, o agressor se desligou do quadro de funcionários da universidade. Assim, como o relato da dicente se dá após a saída dele, eventuais sanções profissionais não podem mais ser aplicadas por lá.


Em um misto de raiva, dor, impotência, Agnes chega a pensar em soluções extremas, embora não leve o plano que lhe acorre à cabeça a cabo. Resta-lhe, pois, seguir tocando a vida, ainda que as implicações do ocorrido sigam assombrando a garota, num compasso demarcado com muita sagacidade pela diretora. 

Inclusive na escolha dos figurinos pós-evento, severos, marcados por tons sombrios, fechados, e de modelagem ampla, inclusive "masculinizada" - como se fosse uma saída inconsciente para que seu corpo deixe de provocar desejo nos homens.

Neste percurso, várias nuances de uma agressão sexual são abordadas de forma muito competente. Caso da reconexão de Agnes com a possibilidade de afeto, ativada quando, no meio de um trajeto, se depara com um filhote de gato. Ou seja, um ser que demanda cuidados. 


Ou, ainda, de uma situação inusitada e específica que envolve o felino. Da mesma maneira, quando ela entende ser o momento de tentar reativar a pulsão sexual, que foi bruscamente interrompida. 

Há uma cena particularmente curiosa, quando a jovem, escolhida para compor um corpo de jurados, pede ao tribunal que seja dispensada, por ter vivido uma situação de violência que pode influenciar em suas deliberações. 

Ao ser instada a falar mais detalhes, ela pontua que não quer compartilhar o episódio que sofreu com estranhos. No entanto, em outra cena, é a um estranho - um homem que vende sanduíches - que a socorre em um ataque de pânico que ela resolve se abrir um pouco. Aliás, atenção para esse diálogo, muito contundente e assertivo.


A palavra "sorry", do título, é proferida durante o filme mais de uma vez, inclusive na já referida situação envolvendo o gato. Mas é no final, quando Agnes estabelece uma conversa com um interlocutor muito particular (não dá para citar pormenores), é que o filme endossa o que já de certa forma já estava no cerne da conversa com o vendedor de sanduíches, com a amiga de vida e mesmo com o vizinho de casa. 

Se não há nada que possa afastar o mal de nosso caminho, que pelo menos seja possível encontrar pessoas que possam nos ajudar a reunir forças para seguir adiante.


Ficha técnica:
Direção e roteiro:
Eva Victor
Produção: High Frequency Entertainment, Big Beach, Tango Entertainment, Pastel
Distribuição: Mares Filmes e Alpha Filmes
Exibição: Cineart Ponteio e rede Cinemark
Duração: 1h44
Classificação: 14 anos
Países: Espanha, França
Gêneros: drama, comédia

22 outubro 2025

"Frankie e os Monstros": uma divertida aventura gótica de terror sobre amizade e diferenças

Os monstros criados pelo Doutor Maluco vivem em um assustador castelo, escondidos dos seres humanos (Fotos: Gringo Filmes e Senator Film Produktion)
 
 

Maristela Bretas

 
Chega aos cinemas nesta quinta-feira (23), a animação "Frankie e os Monstros" ("Stitch Head"), uma aventura gótica de terror divertida e cheia de easter eggs, do início ao fim. O filme mistura um pouco de tudo: um cientista maluco que lembra o Doutor Emmett Brown (interpretado por Christopher Lloyd em De Volta para o Futuro), monstros simpáticos e bem coloridos, além de um clima sombrio, mas nada assustador. 

A produção, dirigida por Steve Hudson e com direção de animação de David Nasser — conhecido por sucessos como "Meu Malvado Favorito", "Hotel Transilvânia" e "Rio 2" — ainda faz alusões a "Pinóquio", à personagem Tristeza de "Divertida Mente", aos "Minions", e até ao clássico "E.T. – O Extraterrestre". 


São referências que enriquecem a narrativa e tornam a história mais cativante. Cada cena que lembrava uma produção do passado é capaz de fazer o público vibrar e se emocionar. A produção é inspirada na série de livros infantis Stitch Head, de Guy Bass.

Tudo começa no Castelo Grotescal, onde o Professor Maluco (voz original de Rib Brydon) vive tentando criar o monstro perfeito em seu laboratório. Como um verdadeiro Doutor Frankenstein, ele dá vida a diferentes criaturas, mas logo se esquece de cada uma delas, passando para a próxima experiência.


Entre essas criações está Stitch Head/Frankie (dublado por Asa Butterfield), seu assistente e primeira criatura, um pequeno menino de aparência estranha remendada e cabeça careca. Stitch está sempre em busca da atenção e do carinho de seu criador, mas nunca recebe ou sequer é notado. 

Enquanto isso, ele se dedica a proteger e esconder os demais monstros criados no laboratório, mantendo o castelo seguro. Todos temem que os humanos que habitam a vila de Grubbers Nubbin, localizada ao pé da montanha, descubram que eles existem e queiram destruí-los.


Até que a chegada à cidade de um Circo de Horrores decadente em busca de novas atrações muda toda a rotina de Stitch. Ao descobrir a existência do jovem, o dono do espetáculo oferece a ele a ilusão de que se fizesse parte do grupo conquistaria tudo o que sempre desejou: amor, fortuna e fama. Mas esta escolha trará sérias complicações para os monstros e os moradores da vila.

O elenco de personagens é carismático e diverso. Destaque para a Criatura (dublado por Joel Fry), o mais recente experimento do Doutor Maluco, que considera Stitch seu melhor amigo; Arabella (voz de Tia Bannon), uma jovem moradora da cidade que não tem medo de monstros; a ranzinza Nan (Alison Steadman), tutora de Arabella que acredita que todos no castelo são perigosos e cruéis.


Além da história encantadora que traz boas lembranças de filmes que marcaram a infância de diferentes gerações, "Frankie e os Monstros" também tem uma trilha sonora, composta por Nick Urata, que é um show à parte. Com grandes sucessos do passado, contribui para o clima nostálgico e emocional do filme.

Apesar de sua atmosfera gótica e alguns momentos sombrios, "Frankie e os Monstros" é conduzido com leveza e sensibilidade, de uma forma divertida, mas que toca o coração do público ao tratar de temas como abandono, preconceito, ganância, medo do desconhecido, lealdade, e acima de tudo, amizade. Uma animação que promete emocionar diferentes gerações.


Ficha técnica:
Direção e roteiro:
Steve Hudson
Produção: Gringo Films GmbH, Fabrique d’Images, Senator Film Produktion, Traumhaus Studios, Mia Wallace Productions e Senator Film Köln
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h32
Classificação: Livre
Países: Alemanha, Luxemburgo, Reino Unido, França e República Tcheca
Gêneros: aventura, família, animação, comédia   
 

16 agosto 2025

"Meu Ano em Oxford": quando o amor desafia o tempo e veste a beleza dos jardins ingleses e da poesia

Longa com Sofia Carson e Corey Mylchreest se destaca por seu cuidado visual e sua atmosfera envolvente (Fotos: Netflix)


Silvana Monteiro

 
"Não há tempo consumido
nem tempo a economizar
O tempo é todo vestido

de amor e tempo de amar."
Carlos Drummond de Andrade
 
Os versos do poeta mineiro abrem com perfeição o caminho para falar de outro tipo de poesia: a cinematográfica. E mais que isso: uma poesia que atravessa os corredores da literatura e se manifesta nas imagens de "Meu Ano em Oxford" ("My Oxford Year").

O filme, adaptado do romance de Julia Whelan e lançado em 2024, acaba de entrar na coleção da Netflix e é dos mesmos produtores de "A Culpa é das Estrelas" (2014).


A história gira em torno de Anna de La Vega, uma jovem norte-americana vivida por Sofia Carson, que se muda para Oxford, na Inglaterra, para cursar seu tão sonhado mestrado. 

Lá, ela conhece Jamie Davenport, interpretado por Corey Mylchreest, um professor-adjunto carismático, admirado e temido por sua fama de amores efêmeros. 

O encontro entre os dois rende mais do que trocas intelectuais: nascem sentimentos atribulados, atravessados por obstáculos, escolhas difíceis e um segredo que vira a perspectiva da história de cabeça para baixo.

Apesar de o enredo seguir a linha clássica dos romances de formação com tintas dramáticas e reviravoltas já conhecidas do público, o filme se destaca por seu cuidado visual e sua atmosfera envolvente. 


Destaque para a fotografia 

A fotografia é um espetáculo à parte. Oxford é retratada em toda sua glória: bibliotecas de madeira antiga com vitrais coloridos, salões silenciosos onde a luz atravessa o tempo, jardins palaciais em flor e uma paleta que remete ao romantismo vitoriano.

Mas o que realmente marca a experiência de "Meu Ano em Oxford" é a sensibilidade com que trata a relação entre amor e tempo. Afinal, quantos dias são necessários para um amor valer à pena? 

O filme não responde com fórmulas prontas, mas convida à reflexão. Em tempos acelerados, é um lembrete delicado de que há sentimentos que não se medem em anos, e que o amor pode ser eterno mesmo quando breve.


Anna se reinventa ao longo da trama, e é isso que torna o filme mais interessante do que apenas a história romântica. É uma narrativa sobre recomeços, amadurecimento e coragem. E sim, é um clichê, mas daqueles que acolhem, emocionam e aquecem o coração.

"Meu Ano em Oxford" é um romance que, mesmo querendo aprofundar em uma complexidade sobre a duração da vida, consegue ser raso, mas sem deixar de oferecer beleza, esperança e a certeza de que, como dizia Drummond, "amar é mesmo o sumo da vida".

E ficam a pergunta e a resposta que intitulam a poesia do nosso grande escritor: "O tempo passa? Não passa. Para o amor, não passa".


Ficha técnica:
Direção: Iain Morris
Produção: Temple Hill Entertainment
Exibição: Netflix
Duração: 1h53
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: romance, comédia

09 agosto 2025

Qual filme você assistiria com seu maior amigo?

 

  

Equipe do Cinema no Escurinho

 
Chegamos a mais um Dia dos Pais. E se aqui, no mundo real tem pais de todos os tipos, ausentes, presentes, despachados, formais e vários outros... na dramaturgia não seria diferente, né? 

Aqui vai uma listinha da equipe do Cinema no Escurinho, pra você se divertir, se emocionar, odiar, ou até questionar por que aquele pai daquela série ou daquele filme não apareceu por aqui. Deixe seu comentário também.

Eduardo Jr.
- Julius ("Todo Mundo Odeia o Chris")
- Joel ("The Last of Us")
- Don Vito Corleone ("O Poderoso Chefão")
- Mufasa ("Mufasa: O Rei Leão")
- Chris Gardner ("À Procura da Felicidade")


Marcos Tadeu
- Jack ("This is Us")
- Gepeto ("Pinóquio")
- Marlin ("Procurando Nemo")
- Francisco ("2 Filhos de Francisco")
- Max ("Meu Filho, Nosso Mundo")
 
Mirtes Helena Scalioni
- David Sheff ("Querido Menino")
- Osamu Shibata ("Assunto de Família")
- Memo - ("O Milagre da Cela 7")
- Chris Gardner ("À Procura da Felicidade")
- Anthony ("Meu Pai")



Maristela Bretas

- Parker ("Sempre a Seu Lado")
- Darth Vader ("Star Wars")
- Ben ("Capitão Fantástico")
- Bryan Mills ("Busca Implacável")
- Indiana Pai ("Indiana Jones e a Última Caçada")
 
Filipe Mateus
- Guido ("A Vida é Bela")
- Nate Oullman ("Extraordinário")
- Eddie Palmer "(Palmer")
- Joe Kingman ("Treinando o Papai")
- Luiz Gonzaga ("Gonzaga de Pai pra Filho")



Silvana Monteiro
- Richard ("King Richard: Criando Campeãs")
- Memo ("O Milagre da Cela 7")
- Dr. Seyolo Zantoko ("Bem-vindo a Marly-Gomont")
- Ollie Trinke ("Menina dos Olhos")
- Harry Hamilton ("Tal Pai, Tal Filha")

 
SUGESTÕES DE ANIMAÇÕES
- Shrek - "Shrek Terceiro" (2007)
- Stoico - "Como Treinar Seu Dragão" (2010)
- Drácula - "Hotel Transilvânia" (2012)
- Roz - "Robô Selvagem" (2024)
- Gru - "Meu Malvado Favorito" (2010)
- Beto - "Os Incríveis" (2004)
- Grug - "Os Croods" (2013)
- Homer Simpson - "Os Simpsons" (a partir de 1989)
- Sr. Anderson - "Divertida Mente" (2015)





17 julho 2025

"O Último Amor de Mr. Morgan" - uma crônica sobre afeto familiar

Michael Caine é um viúvo que vive em Paris isolado e apático até conhecer a radiante Clémence Poésy,
que vai mudar sua vida (Fotos: Amazon Prime)
 
  

Marcos Tadeu
Parceiro do blog Jornalista de Cinema

 
Luto e relações familiares têm sido temas recorrentes no cinema recente e "O Último Amor de Mr. Morgan" ("Mr. Morgan’s Last Love"), filme de 2013 dirigido e roteirizado por Sandra Nettelbeck, se junta a essa lista com delicadeza. 

Estrelado por Michael Caine, Clémence Poésy e Gillian Anderson, o longa é uma crônica silenciosa sobre solidão, reconexão e a força inesperada das amizades.

A história acompanha Matthew Morgan (Michael Caine), um viúvo que vive em Paris, mas nunca aprendeu a falar francês. Sempre confiou na esposa, Joan (Jane Alexander), para se comunicar com o mundo ao redor. Desde a morte dela, ele se isola em si, mergulhado no luto e na apatia. 


Tudo muda quando conhece Pauline (Clémence Poésy), uma jovem professora de dança, empática e cheia de vida, que entra na vida de Matthew quase como uma luz acesa num quarto escuro. A amizade entre os dois nasce do improvável, mas se desenvolve com uma ternura que desafia a diferença de idade.

Matthew ainda fala com a esposa falecida, a espera. Ele é frio, contido, enquanto Pauline é o oposto: solar, generosa, espontânea. Mas ambos compartilham um vazio, o da perda e da incompreensão. 

Aos poucos, essa amizade inesperada os transforma. Ele encontra um novo sentido de presença e ela, uma forma de acolher sem carregar o outro. A conexão entre eles oferece mais do que companhia. Traz uma nova forma de lidar com a solidão.


O filme se destaca pelas sutilezas. Pequenas cenas e gestos, com uma fotografia sensível e um texto afiado, fazem toda a diferença para o desenvolvimento da narrativa. 

Não há vilões, apenas a vida acontecendo. E talvez por isso o longa seja tão crível e tocante. É preciso atenção aos detalhes, pois é justamente neles que a obra revela sua força.

A trilha sonora, assinada por Hans Zimmer, é outro ponto alto. O compositor, conhecido por trabalhos como "Duna" (2023), "Duna 2" (2024), "Top Gun: Maverick" (2022) e "F1: O Filme" (2025), entrega aqui um instrumental sutil e emocional. 

Os temas transitam entre um toque francês delicado e momentos tensos que pedem maior intensidade. Zimmer entende a proposta do filme e apresenta uma trilha que acompanha, sem invadir.


Outro aspecto importante do filme é a relação de Matthew com os filhos. Marcada por distanciamento e ressentimentos desde a morte da mãe, essa relação volta à tona com mais intensidade quando Pauline entra em cena.

Ela transita entre as feridas dessa família, despertando reflexões e incômodos. Todos ali precisam entender o papel que ocupam dentro da dinâmica familiar e o que ainda pode ser curado, mesmo que tardiamente.


O final pode não agradar a todos, mas é coerente com a proposta do filme. Mesmo com escolhas que podem parecer desconfortáveis, a narrativa mantém sua coerência, com uma conclusão sensível que respeita o tom da história e suas viradas inesperadas. Afinal, a vida é feita de recomeços, muitas vezes tristes, mas necessários.

O "Último Amor de Mr. Morgan" é uma bela crônica sobre o afeto, o envelhecimento e o que permanece mesmo depois da perda. Um filme para ser assistido com calma, de preferência em família, para pensar sobre os papéis que ocupamos uns na vida dos outros e como eles se alternam ou precisam mudar com o tempo.


Ficha técnica
Direção e roteiro
: Sandra Nettelbeck
Produção: Kaminski Stiehm Film, Bavaria Pictures, Senator Film
Exibição: Amazon Prime Video
Duração: 1h51
Classificação: 12 anos
Países: EUA, Bélgica, Alemanha, França
Gêneros: comédia, romance, drama

19 junho 2025

Dia 19 de junho, uma data para comemorar o Cinema Nacional

 
 

Equipe do Cinema no Escurinho

 
Neste 19 de junho celebramos o Dia do Cinema Nacional, uma data que reverencia a rica história e a vibrante produção audiovisual brasileira. É um momento para reconhecer a paixão e o talento de nossos cineastas, roteiristas, atores e equipes que, com criatividade e resiliência, contam nossas histórias, retratam nossa diversidade cultural e refletem as complexidades da sociedade. 

Desde os pioneiros até os talentos contemporâneos, o cinema brasileiro tem emocionado, provocado e divertido públicos dentro e fora do país, consolidando-se como uma poderosa ferramenta de expressão artística e de identidade nacional. 

Que esta data sirva de inspiração para que mais obras sejam produzidas, distribuídas e, acima de tudo, valorizadas por todos. Os colaboradores do Cinema no Escurinho também participam desta comemoração e indicam produções de suas preferências,  algumas disponíveis em canais de streaming.  

"Querô" (Gullane Filmes)

Eduardo Jr.

"Querô" (2007)
Na pegada do famoso (e adorado) "Pixote", de 1981, o longa de Carlos Cortez traz um jovem nascido e criado na criminalidade. Na Febem, coleciona mais desafetos e tem no primeiro contato com o amor a possibilidade de trilhar outro caminho. Mas será que um sentimento transforma a natureza de alguém? Ainda nao disponível no streaming.


"Homem com H" (2025)
O longa, dirigido por Esmir Filho, evidencia a vida, o legado e a coragem de um dos maiores cantores do Brasil, Ney Matogrosso, interpretado por Jesuíta Barbosa. Em tempos difíceis, como na Ditadura Militar, Ney virou arte e não cansou de lutar. Não era mais sobre ele, mas sobre liberdade. Em um dia tão especial, falar de histórias assim não só ressalta o poder do cinema nacional, mas também mostra a importância da cultura. Em um país laico, onde pretos, gays e mulheres ainda são marcados pelo preconceito, escancarar as mazelas da sociedade é um grande passo para a mudança dentro e fora do cinema. Disponível no Netflix.

"Homem com H" (Paris Filmes)

Jean Piter Miranda

"Como Esquecer" (2010)
Longa dirigido por Malu de Martino, conta a história de uma mulher, abandonada pela companheira após 10 anos de relacionamento, que passa por uma série de conflitos internos. Com a ajuda de dois amigos ela vai tentar superar o passado e encontrar a felicidade. Disponível no Amazon Prime Video.

"Entre Nós" (2013)
Com direção de Paulo Morelli e tendo um elenco global formado por Caio Blat, Carolina Dieckmann, Maria Ribeiro, Julio Andrade e Lee Taylor, o drama aborda a viagem de sete amigos que escrevem cartas para serem abertas 10 anos depois. Mas ao fim da viagem um deles morre e, mesmo assim, o grupo só vai se reencontrar em dez anos para ler o que haviam escrito. Disponível no Globoplay.

"Entre Nós" (O2 Filmes)


"Pasárgada" (2024)
Com direção de Dira Paes, o longa explora o tráfico de pássaros silvestres e como isso acontece. Em um filme belo visualmente que trata muito a questão das aves presas, a saúde mental de uma mulher, seus desejos e seus conflitos éticos. Disponível no Globoplay.

"Pasárgada" (Bretz Filmes)


Maristela Bretas

"Bacurau" (2019)
Filme dirigido por Kleber Mendonça e Juliano Dornelles, conta a história de moradores do povoado de Bacurau, no sertão brasileiro, que deixa de existir no mapa, mas passa a enfrentar a criminalidade trazida por estrangeiros que chegam ao local. Agora eles precisam se unir para defender seu pequeno vilarejo. O longa parte de uma situação inusitada para uma violência dos moradores que choca, mas considerada "justificável", uma vez que, sem identidade geográfica, não querem perder também seu espaço físico. Disponível no Globoplay.

"Bacurau" (Victor Jucá)

Mirtes Helena Scalioni

"O Corpo" (1991)
Meu filme brasileiro de hoje é “O Corpo”, uma comédia dramática surpreendente com Antônio Fagundes, Marieta Severo, Cláudia Jimenez e Carla Camurati. É assim: Xavier vive naturalmente - muito naturalmente - com suas duas mulheres. A complicação acontece quando ele começa a traí-las com uma terceira. Tipo do filme que já nasceu moderno, com um humor ácido, sutil e inteligente. Com direção de José Antônio Garcia, o filme ainda não está disponível no streaming.

"O Corpo" (Cineart Produções Cinematográficas)

Silvana Monteiro

"O Som ao Redor" (2012)
Kleber Mendonça Filho dirige com maestria este thriller dramático que se passa numa rua de classe média na zona sul de Recife. A tranquilidade do local é mudada com a chegada de uma empresa de segurança que divide as opiniões dos moradores. O filme conquistou diversas premiações e indicações, especialmente o de Melhor Roteiro Original no Prêmio Grande Otelo do Cinema Brasileiro. Disponível no Netflix, Amazon Prime Vídeo, Telecine e Apple TV.

"O Som ao Redor" (Survivance)

Homenagem do Canal Brasil

Também nesta quinta-feira, o Canal Brasil dedica sua programação para homenagear o cinema brasileiro com uma maratona especial que percorre a história, os bastidores e os grandes nomes da nossa cinematografia. 

Documentários sobre cineastas fundamentais, movimentos marcantes e curiosidades da produção audiovisual brasileira ganham espaço na tela, destacando o legado de figuras como Luiz Carlos Barreto, Eduardo Coutinho, Nelson Pereira dos Santos, Ruy Guerra, Ana Maria Magalhães e Hector Babenco. 

(Canal Brasil/Divulgação)

O Canal também já exibiu mais de seis mil filmes, entre longas e curtas-metragens, além de programas de diferentes épocas, fases e gêneros, da ficção ao documentário, junto aos diversos sotaques brasileiros. O Canal Brasil está disponível pelo Globoplay e TVs por assinatura.

05 maio 2025

"Screamboat - Terror à Bordo": uma canoa furada de muito sangue e violência e pouco riso

Willie, o rato assassino, é a versão repaginada para o terror de "O Vapor Willie", primeira animação do personagem Mickey com imagem e som sincronizados, lançada há 97 anos (Fotos: Imagem Filmes)
 
 

Maristela Bretas

 
Imagine a inocência dos primeiros desenhos animados do Mickey sendo brutalmente subvertida por uma onda de terror slasher. Essa é a premissa ousada e mal-sucedida de "Screamboat - Terror à Bordo", uma reimaginação sombria e sangrenta do clássico curta de animação "O Vapor Willie" ("Steamboat Willie"), que caiu em domínio público e deve estar fazendo o criador, Walt Disney, revirar no túmulo. Especialmente por ser primeira animação do personagem Mickey com imagem e som sincronizados, lançada há 97 anos.

O filme, feito para transgredir o original, do qual ele utiliza imagens até mesmo de Walt Disney, navega por águas turbulentas de violência gráfica, entregando uma experiência chocante, mas ruim. Daquelas produções que dá vontade de parar de assistir nos primeiros 10 minutos de projeção. 


E não porque muda a proposta da animação de 1928, mas por oferecer um protagonista que enjambrado, que parece um boneco de marionete dos Muppets. Só falta aparecerem as cordinhas. Uma figura mal feita, mesmo sendo o rato maligno interpretado por David Howard Thornton, conhecido por seu papel como Art, o Palhaço, da franquia “Terrifier”. 

A atuação de Thornton é boa e salva a produção em parte, mas o personagem é difícil de engolir. Ele não é aterrorizante, é somente muito feio. A maquiagem e as próteses usadas no ator não causam medo, apenas conseguem deixá-lo repulsivo. A produtora de "Screamboat - Terror a Bordo", a Fuzz on the Lens Productions, também é responsável por "Terrifier 2" (2022) e "Terrifier 3" (2024), além de outros longas do gênero. 


Na trama, vários passageiros e tripulantes da última balsa Staten Island da noite em Nova York são caçados pelo rato Willie, que transforma a travessia em um massacre sangrento, matando um a um dos ocupantes das formas mais bizarras e diferentes. Cercados pela água e pelo medo, eles precisam encontrar um jeito de sobreviver até que chegue o socorro. 

O diretor Steven LaMorte (sobrenome bem apropriado) tentou ousar, como seu colega Damien Leone, responsável pelos filmes de Art, o Palhaço, mas errou feio. A proposta de transformar Mickey, um ícone da infância, em uma criatura sinistra com sua inconfundível silhueta, perseguindo um grupo de jovens desprevenidos em um barco a vapor isolado, poderia ser muito melhor aproveitada. 

Mas a condução do roteiro não foi bem sucedida, nem mesmo quando cria familiaridade do cenário de horrores com as cenas infantis do original.


Um ponto que pode ser chamado de positivo é a trilha sonora. Ao remeter para as melodias alegres de "Steamboat Willie", ela ganha tons ameaçadores, reforçando a perversão da inocência. E só.

Os próprios personagens, ao se depararem com a ameaça, parecem conscientes daquela situação absurda. Tomam atitudes tão bobas que chegam a ser cômicas, ideais para uma produção do tipo terror/comédia, que tornam os acontecimentos previsíveis, tirando o suspense e fazendo o longa ficar ainda mais difícil de ver. Além de não provocar risos.

A narrativa, focada na perseguição e nos assassinatos, não aprofunda nos personagens e menos ainda na transformação do Mickey no malvado Willie. O filme parece mais interessado na violência absurda do que em construir um suspense psicológico. 


O roteiro é ruim do início ao fim, mesmo quando brinca com a nostalgia, transformando o inocente em algo brutal, provando que até mesmo ícones da infância podem se tornar um sangrento pesadelo. Uma produção totalmente esquecível e dispensável. É dinheiro de ingresso jogado fora. 

Para os apreciadores deste gênero que buscam uma experiência que promete chocar pela violência, "Screamboat: Terror a Bordo" entrega um banho de sangue pelas paredes Além de apresentar mais um personagem reformulado no final e deixar claro que haverá um segundo filme. Que sofrimento!


Ficha técnica:
Direção: Steven LaMorte
Produção: Fuzz on the Lens Productions
Distribuição: Imagem Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h42
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: terror, comédia

06 março 2025

Robert Pattinson é um trabalhador totalmente descartável em "Mickey 17"

Novo longa do diretor Bong Joon-ho aborda a exploração do trabalhador, clonagem e doutrinação religiosa (Fotos: Warner Bros. Pictures)


Maristela Bretas


Não me interpretem mal, a intenção foi justamente dizer o contrário. Robert Pattinson está excelente como Mickey Barnes, o trabalhador que assina um contrato para se tornar descartável no filme "Mickey 17". 

A produção estreia nesta quinta-feira (6), com distribuição da Warner Bros. e traz no elenco Mark Ruffalo, Toni Collette e Steven Yeun. Todos sobre a direção do premiado Bong Joon-ho, de "Parasita" (2019).

Ambientado num futuro não determinado, com a Terra sofrendo as consequências da degradação ambiental, pesquisadores buscam outras opções na galáxia para iniciar novas colonizações. 


Mickey é um homem que perdeu tudo, deve a um mafioso, está ameaçado de morte e vê no projeto de recolonização sua única saída. Para acelerar o processo, candidata-se a ser um trabalhador "descartável". Mas faltou ler as "letrinhas" do contrato. 

Começa aí sua jornada de tarefas perigosas e mortais na colônia espacial. E a cada exemplar perdido, um novo clone de Mickey é criado a partir do DNA e das memórias do anterior, permitindo que o trabalho continue sem atrasos e indenizações, para alegria e sucesso dos contratantes.


Robert Pattinson ("The Batman" - 2021) está brilhante no papel, especialmente quando o Mickey de número 17 se depara com sua réplica posterior. Apesar de terem o mesmo DNA e pensamentos, os comportamentos dos clones são opostos e é ai que o ator mostra seu potencial.

Não bastasse a atuação do protagonista, temos os indicados ao Oscar, Mark Ruffalo ("Pobres Criaturas" - 2023), como o explorador e visionário Kenneth Marshall, e Toni Collette ("Hereditário" - 2018), no papel de Yifa, sua fiel esposa. 


Eles dominam as cenas quando aparecem, com personagens bem caricatos representando os patrões que consideram todo e qualquer trabalhador substituível de imediato. 

Para Marshall e Yifa, são dignos de entrar na colônia que estão criando apenas os brancos, ricos e de famílias que possam fazer grandes doações e aceitem os dogmas que pregam. Isso mesmo, "Mickey 17" fala de exploração do trabalhador e de seguidores por meio da doutrinação religiosa. 


Quanto mais apanham ou perdem bens ou pessoas, mais os fanáticos seguidores do pastor/empresário Kenneth Marshall acreditam que serão dignos de chegar ao planeta Niflheim (quase um Reino dos Céus). Por trás do pregador está a esposa que controla suas falas e domina toda a operação.

O elenco conta ainda com as boas interpretações de Naomi Ackie (“Star Wars: Episódio IX – A Ascensão Skywalker” - 2019), como a integrante da segurança da nave colonizadora e namorada de Mickey 17, e Steven Yeun ("Não! Não Olhe!" - 2022), no papel de Timo, único "amigo" de Mickey Barnes. Sem esquecer as criaturas alienígenas que habitam o novo planeta e que fazem toda a diferença na trama.


"Mickey 17" é uma produção intrigante, que reúne ficção científica, ação e comédia de humor ácido, adaptada do romance "Mickey7", de Edward Ashton. 

Além da doutrinação e da exploração do trabalho, a história também trata da questão moral da clonagem e dos perigos que a coexistência entre clones iguais pode representar para os planos dos criadores. 

Bons efeitos visuais, ótima direção e abordagem de temas bem atuais, mesmo sendo ambientado no futuro. E você, até onde iria para conseguir um emprego? Toparia ser "descartável" e morreria por ele? Confira "Mickey 17" nos cinemas e saiba onde sua escolha pode levar.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Bong Joon-ho
Produção: Warner Bros. Pictures, Plan B, Kate Street Picture Company
Distribuição: Warner Bros.
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h17
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: ação, ficção, comédia