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12 dezembro 2025

"Sorry, Baby" reflete sobre o impacto de uma agressão sexual na vida de uma mulher

A cineasta e roteirista franco-americana Eva Victor também protagoniza este drama que narra sua própria experiência no passado (Fotos: A24)
 
 

Patrícia Cassese

 
No dia 19 de novembro deste ano, a Organização Mundial da Saúde divulgou dados apontando que cerca de 840 milhões de mulheres em todo o mundo já sofreram algum episódio de violência doméstica ou sexual ao longo da vida. 

Na ocasião, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da agência especializada da ONU, lembrou que, por trás de cada um desses corpos que compõem a estatística, uma vida foi alterada para sempre. 

O número, claro, pode ser muito maior, já que muitas vítimas sequer denunciam as agressões sofridas. Em cartaz no Cineart Ponteio e demais cinemas, "Sorry, Baby", primeiro longa-metragem da cineasta e roteirista franco-americana Eva Victor, tem como espinha dorsal justamente um caso de abuso. 


No caso, impetrado por um homem do círculo de convívio da vítima - o orientador da tese da personagem central, a estudante Agnes, interpretada pela própria Eva, hoje com 31 anos.

Embora o início da narrativa flagre a personagem passados alguns anos do fatídico episódio, não demora para que o espectador tenha a contextualização dos eventos que antecederam esse momento. 

Agnes é abusada pelo professor/orientador Preston Decker (Louis Cancelmi) durante um encontro na casa do docente, teoricamente articulado por uma revisão de alguns pontos do trabalho da garota - o qual, aliás, ele tece elogios. A câmara não mostra exatamente o que acontece ali dentro. 


O detalhamento possível (posto que um acontecimento desse impacto não raro turva a mente da vítima) chega ao público por meio do relato de Agnes à amiga com a qual divide a casa, Lydie (Naomi Ackie). 

De todo modo, a diretora marca pontos ao, no momento em que a violência se desenrola, fixa a câmera diante da parte frontal da residência de Decker, passando a sinalizar a passagem das horas pela variação cromática que marca o dia. 

A sequência encerra-se com a noite já caída, quando Agnes sai apressada e extremamente nervosa da casa, preocupada em amarrar os cadarços de suas botas e sem olhar para trás. 


Corroborando as palavras do diretor da OMS, citadas no início da matéria, naquele dia, a vida de Agnes é, pois, alterada para sempre. Ao contrário das mulheres que silenciam, porém, ela resolve sim, se submeter a um exame de corpo de delito até para ter subsídios em uma eventual denúncia contra o agressor. 

As perguntas protocolares do médico - sim, um homem - encarregado do atendimento já deixam claro que Agnes não vai encontrar, ali, a guarida necessária. 

Mais tarde, ao tentar levar o caso à própria instituição de ensino, a jovem se depara com outra barreira: horas antes, a pretexto de ir morar em Nova Iorque, o agressor se desligou do quadro de funcionários da universidade. Assim, como o relato da dicente se dá após a saída dele, eventuais sanções profissionais não podem mais ser aplicadas por lá.


Em um misto de raiva, dor, impotência, Agnes chega a pensar em soluções extremas, embora não leve o plano que lhe acorre à cabeça a cabo. Resta-lhe, pois, seguir tocando a vida, ainda que as implicações do ocorrido sigam assombrando a garota, num compasso demarcado com muita sagacidade pela diretora. 

Inclusive na escolha dos figurinos pós-evento, severos, marcados por tons sombrios, fechados, e de modelagem ampla, inclusive "masculinizada" - como se fosse uma saída inconsciente para que seu corpo deixe de provocar desejo nos homens.

Neste percurso, várias nuances de uma agressão sexual são abordadas de forma muito competente. Caso da reconexão de Agnes com a possibilidade de afeto, ativada quando, no meio de um trajeto, se depara com um filhote de gato. Ou seja, um ser que demanda cuidados. 


Ou, ainda, de uma situação inusitada e específica que envolve o felino. Da mesma maneira, quando ela entende ser o momento de tentar reativar a pulsão sexual, que foi bruscamente interrompida. 

Há uma cena particularmente curiosa, quando a jovem, escolhida para compor um corpo de jurados, pede ao tribunal que seja dispensada, por ter vivido uma situação de violência que pode influenciar em suas deliberações. 

Ao ser instada a falar mais detalhes, ela pontua que não quer compartilhar o episódio que sofreu com estranhos. No entanto, em outra cena, é a um estranho - um homem que vende sanduíches - que a socorre em um ataque de pânico que ela resolve se abrir um pouco. Aliás, atenção para esse diálogo, muito contundente e assertivo.


A palavra "sorry", do título, é proferida durante o filme mais de uma vez, inclusive na já referida situação envolvendo o gato. Mas é no final, quando Agnes estabelece uma conversa com um interlocutor muito particular (não dá para citar pormenores), é que o filme endossa o que já de certa forma já estava no cerne da conversa com o vendedor de sanduíches, com a amiga de vida e mesmo com o vizinho de casa. 

Se não há nada que possa afastar o mal de nosso caminho, que pelo menos seja possível encontrar pessoas que possam nos ajudar a reunir forças para seguir adiante.


Ficha técnica:
Direção e roteiro:
Eva Victor
Produção: High Frequency Entertainment, Big Beach, Tango Entertainment, Pastel
Distribuição: Mares Filmes e Alpha Filmes
Exibição: Cineart Ponteio e rede Cinemark
Duração: 1h44
Classificação: 14 anos
Países: Espanha, França
Gêneros: drama, comédia

14 abril 2025

"Abá e sua Banda": música para discutir temas sociais importantes

Com uma preocupação evidente com a linguagem, o roteiro aposta numa fala acessível às crianças
(Fotos: Studio Z)

 

Silvana Monteiro

 
"Abá e sua Banda" é um desses projetos que parecem brotar de um desejo sincero de reunir gerações diante da tela. E, nesse sentido, acerta em cheio: crianças se encantam com o ritmo, as cores e o humor simples; adultos são fisgados pela estética que, de relance, evoca os desenhos das manhãs de sábado dos anos 1980.

Tem também a trilha sonora que aposta em músicos de verdade, como André Mehmari, Silvia Fraiha e Milton Guedes — nomes que não são apenas ornamentais, mas que emprestam textura e sofisticação à experiência sonora. 

A animação, dirigida por Humberto Avelar, estreia nesta quinta-feira (17) em salas de cinema de Belo Horizonte e Poços de Caldas, e de diversas cidades brasileiras.


A proposta do filme — que mistura 3D e 2D de forma fluida — é tão ousada quanto gentil. Um grupo de frutas-personagens forma uma banda em que o ritmo é ferramenta de inclusão, a harmonia é metáfora de democracia, e a diferença entre um caju e uma jabuticaba é justamente o que faz a música acontecer. 

Pode parecer simples (e é), mas essa simplicidade carrega uma inteligência visual e narrativa que surpreende em diversos momentos. Ao tratar de temas como luto, busca pela realização dos sonhos, diversidade, equidade e inclusão, o filme sai à frente com uma abordagem leve, porém efetiva. 


Há uma preocupação evidente com a linguagem: o roteiro aposta numa fala acessível, sem jamais subestimar a criança ou forçar piadas ao adulto. O humor está mais na situação do que no excesso de referências. 

E os dubladores — Robson Nunes, Filipe Bragança, Zezé Motta, Carol Valença, Mauro Ramos e Rafael Infante, entre outros — entregam personagens vivos, ainda que previsíveis. 

Esse talvez seja o ponto em que a animação menos ousa: os arquétipos estão todos ali — o sonhador, a sabichona, o teimoso, o inflexível— e seguem o trilho esperado.


Mas a previsibilidade não tira a força do conjunto. Ao contrário, em tempos de saturação de multiversos e piadas autoconscientes, "Abá e sua Banda" se apoia na ternura e na clareza de sua proposta. 

É um longa que acredita na escuta, no encontro e na beleza do coletivo. Talvez não reinvente a roda, mas certamente faz dela um bom tambor.

Portanto, a obra chega a ser nostálgica sem ser saudosista, animada sem ser atropelada e educativa sem ser doutrinadora, "Abá e sua Banda" é aquele tipo de produção que poderia tranquilamente ser exibida em praça pública — com gente de todas as idades assistindo, vibrando, cantando junto e refletindo.


Curiosidades

- A banda tem um Instagram que vale conferir -https://www.instagram.com/abaesuabanda/

- Assista aos vídeos dos bastidores clicando aqui

- Desde que estreou mundialmente no Festival de Gramado de 2024, o longa já conquistou três prêmios: Melhor Filme Oficial do Júri no Epic ACG Fest, nos Estados Unidos; Melhor Filme de Animação no Kids Festival em Málaga, na Espanha; e Melhor Filme no Festival Internacional de Cinema Ambiental (Ecocine), no Brasil. 

- A obra também participou de mais de 15 festivais e esteve entre os 10 finalistas do New York Animation Film Awards. 


Ficha técnica:
Direção:
Humberto Avelar
Roteiro: Silvia Fraiha, Sylvio Gonçalves, Daniel Fraiha
Produção: Fraiha Produções e coprodução Globo Filmes, Gloob e Rio Filme
Distribuição: Manequim Filmes
Exibição: Cineart Del Rey – sessão 14h40
Duração: 1h24
Classificação: Livre
País: Brasil
Gênero: animação

19 março 2025

Disney acerta em CGI de animais, mas peca como musical em "Branca de Neve"

Rachel Zegler e Gal Gadot dividem o protagonismo do novo live-action  da Disney dirigido por Mark Webb (Fotos: Walt Disney Pictures)


Maristela Bretas


Os irmãos Grimm, autores da famosa obra "Branca de Neve e os Sete Anões" não devem estar nada satisfeitos em seus túmulos com a nova produção da Disney, "Branca de Neve" ("Disney's Snow White"), que estreia nesta quinta-feira (20) nos cinemas. 

Não bastassem as muitas polêmicas nas redes sociais (uma delas até envolvendo o filho do diretor, que não gostou do filme), a produção deverá deixar muito espectador que acompanhou o desenho na infância, como eu, decepcionado com este novo live-action.


Apesar de ter classificação livre, o longa é um musical, com algumas belas canções, mas cansativo e até chato em certos momentos, o que não deve prender a atenção das crianças. 

Para elas, o atrativo serão os bichinhos animados que vivem na floresta encantada. Eles são fofos e carismáticos, têm vida no olhar e movimentos, ao contrário do que houve com os animais de "O Rei Leão" (2019). 

Desta vez o estúdio acertou, o cervo, os coelhinhos, os passarinhos e o simpático ouriço valem o filme. Outro ponto que agrada, o visual com cores vivas e alegres, contrastando com o reino tomado pelas sombras após a Rainha Má assumir o poder. Muitas cenas são reproduções bem próximas do desenho.

Desenho" Branca de Neve e os Sete Anões",
 de 1937 (Walt Disney Pictures)

A produção também recupera algumas canções de "Branca de Neve e os Sete Anões", de 1937, como "Heigh Ho" (conhecida em português como "Eu Vou"), que marcou gerações e foi a primeira animação da Disney. Esta é uma versão com poucos recursos, mas com encanto, que vale muito a pena conferir. Está disponível no Disney+.

Para quem não conhece a história, Branca de Neve era uma princesa que tinha uma vida feliz, até perder seus pais e virar uma escrava de sua madrasta má que tenta matá-la por inveja de sua beleza. Na floresta onde se esconde, conhece novos amigos que vão ajudá-la a recuperar o reino.


Mas parou por aí. Falei em polêmicas e uma delas é sobre a comparação da beleza de Branca de Neve, interpretada pela colombiana Rachel Zegler ("Amor, Sublime Amor" - 2021), com a da Rainha Má, papel de Gal Gadot ("Mulher Maravilha" - 2017). 

A explicação do "Espelho, Espelho Meu" é tão míope quanto ele e só funcionou para os produtores. Gadot é muito mais bonita, mas não convence cantando. 

Já Zegler não tem uma beleza tão grande, mas vai ganhando a simpatia do público a partir do meio da animação e está mais à vontade cantando muito bem e entregando boa interpretação. Além de formar um par romântico simpático com o ladrão e rebelde Jonathan (Andrew Burnap).


Por trás da história de fantasia, há uma abordagem, às vezes sutil, outras nem tanto, dos sentimentos e traumas dos personagens. Branca de Neve vive o dilema de não conseguir se tornar a líder que seu pai, o rei, disse que ela seria um dia. Mas tem coragem e bom coração, briga por seus direitos e pelo reino e não depende de um príncipe no cavalo branco para salvá-la. 

A Rainha Má, por sua vez, é caricata, histérica e dependente de um espelho mágico (Patrick Page) para se sentir eternamente bela e poderosa. A empatia da personagem é zero, salva apenas pela interpretação de Gadot, mas até nisso perdeu para sua antecessora que foi mais marcante.


Sem falar nos sete anões, cada um com seu dilema, especialmente Dunga (Andrew Barth Feldman). Mas todos são bem simpáticos, até mesmo o rabugento Zangado (Martin Klebba). 

Além deles temos Dengoso (Tituss Burgess), Atchim (Jason Kravits), Mestre (Jeremy Swift), Feliz (George Salazar) e Soneca (Andy Grotelueschen). Mais uma polêmica, uma vez que todos foram criados por computação gráfica, no lugar de usar pessoas com nanismo. 

Para quem já esteve nos parques da Disney, uma das cenas com os Sete Anões é a reprodução do brinquedo Seven Dwarfs Mine Train, no Magic Kingdom, em Orlando, que é ótimo. Agora é conferir nos cinemas e contar pra gente o que achou do novo "Branca de Neve".


Ficha técnica:
Direção: Marc Webb
Produção: Walt Disney Pictures
Distribuição: Disney Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h49
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: fantasia, musical, aventura

06 novembro 2024

"Ainda Estou Aqui" - um filme sobre resiliência, coragem e tempos sombrios

O aguardado longa de Walter Salles entra em cartaz nos cinemas de BH e promete cativar o público
(Fotos: Alile Dara Onawale/Divulgação)


Eduardo Jr.


Estreia nesta quinta-feira (7/11), o longa "Ainda Estou Aqui", novo trabalho do diretor Walter Salles, distribuído pela Sony Pictures. Coincidência ou não, no mesmo dia da morte de Evandro Teixeira, fotojornalista que clicou momentos icônicos do combate à ditadura no Brasil, a equipe do Cinema no Escurinho foi convidada para acompanhar, no Cineart Boulevard, a pré-estreia deste que se configura como mais um resgate memorável desse triste período da história. 

O buzz em torno do filme, após a exibição no Festival de Veneza, tem tudo para se justificar em terras brasileiras. Adaptado do livro homônimo do jornalista Marcelo Rubens Paiva, o longa conta a história de Eunice Paiva, mãe de Marcelo e mulher do ex-deputado Rubens Paiva, que é levado de casa por policiais, nos anos 1970, dando início ao drama.


Aliás, o termo "drama" se aplica mais ao segundo ato da obra, que inicia com a apresentação das personagens e com um suspense, canalizado na presença dos caminhões com militares, que passam pelas ruas e provocam um incômodo na protagonista, em contraste com o cotidiano festivo do casal e seus cinco filhos. 

Walter Salles é inteligente ao mostrar Rubens Paiva (Selton Mello) com uma rotina familiar e depois sua prisão sem motivos claros. Imprime a percepção de que, na ditadura, qualquer coisa era motivo para violar direitos. 

Deixa no espectador o vazio da falta daquele personagem (talvez uma espécie de simulacro da falta que um ente desaparecido deixa nos familiares). É aí que o cotidiano solar e colorido da família começa a se transformar.  

(Foto: Lais Catalano Aranha/Divulgação)

A entrada dos milicos é digna de "O Poderoso Chefão" (1972), com sujeitos mal-intencionados emergindo das sombras. A fotografia faz questão de escurecer a tela. A maldade do regime consegue causar impacto no espectador sem apelar para arroubos cinematográficos ou de emoção. E nem precisa. 

A câmera nos faz enxergar a Eunice criada por Fernanda Torres, uma escolha visual que se mostra acertadíssima! A protagonista começa uma mulher de classe média alta, muda para dona de casa sem privilégios, se reinventa como advogada, e comunica tudo com uma atuação e expressões impecáveis, entregando melancolia e força até nos gestos mais sutis. 

Além de Fernanda, todo o elenco parece ter entendido que menos é mais. O filme traz atuações precisas e bem sintonizadas entre atores que dão vida aos personagens na 1ª fase e os que assumem após a passagem de tempo. 


Ponto positivo também para a excelente trilha sonora, com músicas da época muito condizentes com a mensagem e com o momento (de ontem e o atual, embora o filme seja também sobre memória). 

Uma dessas pautas da atualidade já era parte da biografia de Eunice. Após a tragédia familiar, ela voltou a estudar, se formou em Direito e passou a atuar em prol das causas indígenas (que voltaram aos noticiários, recentemente) e violações dos Direitos Humanos. 

Se assim podemos dizer, uma das vitórias foi a dela própria, ao obter a certidão de óbito do marido. Eunice recebe o documento como sempre fez, sorrindo. Por ordem dela, não era permitido à família Paiva chorar ou sofrer frente às câmeras, pois essa seria uma vitória dos assassinos que destruíram tantas outras famílias brasileiras. 


Eunice morreu em dezembro de 2018, com 86 anos, em decorrência do Mal de Alzheimer. Está representada nessa fase final por Fernanda Montenegro. E com a mesma força expressiva que a filha deu à personagem no início e meio do longa. 

No final deste filme, de tamanho refinamento técnico que mal se percebe o passar das duas horas de exibição, o espectador observa algo que pode ser interpretado como o que essas famílias experimentam: a busca de uma completude que nunca mais existirá. O que fica, é memória. Filme imperdível! 

"Ainda Estou Aqui" é a produção brasileira escolhida para integrar a lista de possíveis indicados ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2025. A prévia dos finalistas sai no dia 17 de dezembro e a lista com os cinco escolhidos será divulgada no dia 17 de janeiro. 


Ficha técnica:
Direção: Walter Salles
Roteiro: Murilo Hauser e Heitor Lorega
Produção: Mact Productions, VideoFilmes, Arte France, RT Features
Distribuição: Sony Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h15
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gêneros: drama, suspense

09 abril 2024

"Evidências do Amor" é um filme para fãs de Sandy e Fábio Porchat

Dupla tem boa química, mas comédia longa e morna não traz nada de novo e fica bem cansativa da metade
em diante (Fotos: Warner Bros. Pictures)


Maristela Bretas


Curtiu Sandy e Júnior na adolescência? Acompanha Fábio Porchat no Porta dos Fundos ou em seus programas? Não consegue ficar livre de uma música chiclete, mesmo sendo uma de suas preferidas? Então, "Evidências do Amor", que estreia nesta quinta-feira (11 de abril) é um filme que poderá lhe agradar. 

Dirigido por Pedro Antônio Paes, a comédia traz o casal pouco provável como artistas num romance que começa num piscar de olhos e acaba sem explicações. 


Para delírio dos fãs, o roteiro coloca Sandy e Porchat se beijando de uma maneira bem convincente do início ao fim do filme, ao som de "Evidências", que apesar de ser uma música linda, gruda na cabeça a ponto de irritar, de tanto que toca e nos mais variados formatos.

O filme é inspirado na música, composta por José Augusto e Paulo Sérgio Valle e lançada pela dupla Chitãozinho & Xororó. A história acompanha o casal, Marco Antônio (Fábio Porchat) e Laura (Sandy), que se apaixonam após cantarem "Evidências" juntos em um karaokê. 


Em meio a muitos altos e baixos, eles acabam terminando o namoro, mas todas as vezes que escuta a música, Marco sofre um apagão e retorna a momentos em que discutia com sua ex. Agora ele só quer colocar um fim neste tormento.

A dupla mostra uma boa química, mas não apresenta nada além do que os artistas já fazem em suas carreiras. Sandy é a cantora com uma voz linda e o mesmo rosto bonito de quando era adolescente, que volta a atuar depois de 10 anos e deverá arrastar uma infinidade de seguidores para os cinemas.


Já o humorista exagera nas caras e bocas em cenas cômicas e até mesmo nas dramáticas. Exceto quando o personagem lembra do pai - este é um momento emocionante e ele segurou bem. Mas Porchat passa o filme sendo Porchat. 

Os personagens são superficiais, assim como o roteiro cheio de clichês, com piadas sem graça. A cena de nudez do humorista durante uma festa careta de família até arranca algumas risadas do público. 

Ponto positivo para Evelyn Castro (a amiga Júlia) que, com seu jeito espalhafatoso, consegue segurar os momentos engraçados e poderia ter sido mais bem aproveitada.


A trilha sonora, além da música-tema também é recheada de sucessos sertanejos conhecidos do público, especialmente os cantados pela dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó, que também faz uma pequena participação no longa, claro.

Não espere muito de "Evidências do Amor". É uma comédia de sessão da tarde longa e morna, com efeitos especiais que, de tão repetitivos e forçados, chegam a ficar chatos. Mas o que mais marca o filme é a maldição de sair do cinema sem conseguir tirar a música-tema da cabeça. Uma produção para fãs, com certeza.


Ficha técnica:
Direção: Pedro Antônio Paes
Produção: Framboesa Filmes e Warner Bros. Pictures
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h46
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gêneros: comédia, romance

06 março 2024

Comédia “Os Farofeiros 2” aposta na popularidade do primeiro filme

A viagem do grupo de amigos de empresa para um resort na Bahia tem tudo para dar errado
novamente (Fotos: Camisa Listrada)



Eduardo Jr.


Após uma viagem recheada de problemas, Lima, Alexandre, Rocha e Diguinho estão de volta. Em “Os Farofeiros 2”, o diretor Roberto Santucci agora coloca os quatro colegas de trabalho e suas famílias em uma viagem à Bahia. Distribuído pela Downtown Filmes, o longa chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (7), trazendo piadas que fazem o público se identificar. 

A equipe do Cinema no Escurinho acompanhou a pré-estreia em uma das salas da rede Cineart, e observou uma plateia reagindo bem ao roteiro de Paulo Cursino - que também escreveu para o primeiro filme da franquia. 

Desta vez, a trama tem como ponto de partida a tentativa de Alexandre (Antônio Fragoso) de resgatar a popularidade junto à sua equipe de trabalho, e assim conseguir um cargo mais alto na empresa. 


Ao ganhar uma viagem, o gerente é convencido pela chefe a dividir o prêmio com os colegas, como forma de reconquistá-los. E claro, a temporada em um resort de luxo se transforma em uma farofada (daquelas com situações com as quais muita gente vai se identificar). 

Mas a comédia demora um pouquinho pra conquistar as primeiras risadas, porque começa com os filhos dos protagonistas na escola, convocados pela diretora para explicar porque apresentaram redações idênticas sobre suas férias. Serão eles os narradores dos eventos na Bahia. 

Do conhecido elenco, Lima (Maurício Mafrini), Jussara (Cacau Protásio) e Rocha (Charles Paraventi) conduzem muito bem a comédia. Danielle Winits segue como a madame histriônica, usando caras e bocas (até demais, diga-se de passagem). 

Em contrapartida, o Alexandre vivido por Fragoso não arranca risos. Seu resgate de popularidade fica em segundo plano. 


O mesmo acontece com as personagens Vanete (Elisa Pinheiro), Ellen (Aline Campos) e Diguinho (Nilton Bicudo). Este último está altamente paranoico com a pandemia - deixando margem para questionamentos sobre fazer piada com o Covid-19. 

Outro ponto de gosto duvidoso é a construção de piadas sobre a personagem Darcy (Sulivã Bispo). A despachada gerente do resort é uma mulher trans, e a direção optou por tentar fazer graça com a dificuldade das famílias em saber qual pronome usar para se referir a ela, e sobre o incômodo das esposas em dividir espaço na sauna com a funcionária. 


Apesar desses pontos que podem soar como “contras” da produção, as piadas “de tiozão”, a entrada de figuras como o ótimo personagem Edvan e o uso de paródias de outros filmes colocam “Os Farofeiros 2” com grandes chances de repetir o sucesso de bilheteria do primeiro longa e de cair nas graças do público. 

Curiosidades

- "Os Farofeiros", de 2018, esteve no topo das bilheterias, atraindo mais de um milhão de espectadores. 

_ O primeiro filme estreou há exatos seis anos e repete agora o mesmo elenco. 

- O diretor Roberto Santucci também assina este longa, além de outros sucessos da comédia nacional como “De Pernas para o Ar” (2010), "O Porteiro" (2023) e a trilogia “Até Que a Sorte nos Separe” (2012 a 2015).


Ficha técnica:
Direção: Roberto Santucci
Produção: Camisa Listrada, com coprodução Globo Filmes, Globoplay, Telecine e Panorama Filmes
Distribuição: Downtown Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h44
Classificação: Livre
País: Brasil
Gêneros: Comédia, família

26 fevereiro 2024

"Madame Teia" tenta fugir das fórmulas prontas, mas carece de conteúdo e criatividade

Dakota Johnson protagoniza a super-heroína integrante do Universo Homem-Aranha (Fotos: Sony Pictures)


Marcos Tadeu
Blog Narrativa Cinematográfica


Em cartaz nos cinemas o novo longa da Sony Pictures, "Madame Teia" ("Madame Web"), filme solo de mais um integrante do Aranhaverso que até oferece momentos divertidos e muita ação, mas o conteúdo é fraco e sem criatividade. Uma produção que corre o risco de não ser bem sucedida no cinema, como aconteceu com "Venom" (2018) e "Morbius" (2022). 

Especialmente porque "Morbius" teve a mesma dupla de roteiristas de "Madame Teia" - Matt Sazama e Burk Sharpless -, o que pode explicar as críticas e a baixa bilheteria que o filme atual está registrando. Mesmo assim, a produtora está apostando para este ano na estreia de outro inimigo do "teioso" nos quadrinhos Marvel - "Kraven: O Caçador".


Com direção de S.J. Clarkson, conhecida por trabalhos como "Segredos de um Escândalo", da Netflix, e alguns episódios da série "Succession", da HBO Max, "Madame Teia" conta a origem da super-heroína, estrelada por Dakota Johnson (franquia "Cinquenta Tons de Cinza" - 2015 a 2018).

Ela é Cassandra Webb, ou "Cassie", uma paramédica em Manhattan que descobre possuir habilidades de clarividência. Confrontada com revelações sobre seu passado e fatos relacionados à sua mãe, a protagonista estabelece uma ligação com três garotas comuns, destinadas a terem futuros com superpoderes. Infelizmente o público não vai saber como isso acontece porque o filme não explica.


O desenvolvimento do personagem de Dakota Johnson é adequado, mas nada que não tenhamos visto em outros filmes. O poder de ver o futuro é extremamente sem graça e o roteiro não ajuda muito. 

Apesar de ser a protagonista, Cassie assume mais a postura de "mentora" do que de aprendiz. O foco real fica nas três jovens e a relação da super-heroína com elas.

Sabemos que no futuro as quatro se tornarão heroínas também. Julia Carpenter/Arcane (Sydney Sweeney), Mattie Franklin/Mulher-Aranha (Celeste O'Connor) e Aña Corazon/Garota-Aranha (Isabel Merced) têm uma química que funciona bem e geram boas cenas, com aquele típico humor Marvel. 


Talvez isso agrade alguns espectadores que buscam filmes do gênero, principalmente porque elas precisam se dar bem com a mentora para garantirem suas vidas.

Já o vilão Ezekiel Sims (Tahar Rahim) é um personagem extremamente genérico e mal desenvolvido. Suas motivações são rasas como um pires. Remetem mais a um homem covarde que teme seu passado sombrio do que alguém que enfrenta seu destino. 

Sims é praticamente um Homem-Aranha de uniforme preto e olhos vermelhos. Não entrarei em detalhes para não prejudicar a experiência do público.


Os efeitos visuais também deixam muito a desejar, principalmente no arco final. O uso de Chroma key é evidente, chega a ser ridículo, parecendo mais um filme de qualidade duvidosa do que uma história que nos levaria a torcer pela protagonista. 

As cenas de ação desafiam a lógica, como a do ferro entrando em contato com o fogo, esquentando e machucando.

Sem contar os easter eggs forçados, remetendo constantemente à ideia de que se trata apenas de um spin-off sobre uma aliada do Homem-Aranha. Até a jornada da protagonista parece repetitiva e sem propósito. O único ponto positivo é a história da mãe de Cassie, que tenta ser um fio condutor para amarrar a trama.


"Madame Teia" diverte na medida do possível ao tentar fugir de uma fórmula pronta de herói. Vale a pena assistir se você não conhece nada do personagem ou está buscando algo "leve", sem grandes pretensões, que esquecerá mais tarde. O grande feito da produção é ser bem superior a "Morbius", mas tinha material para ser melhor trabalhado.

Ao sair da sala, fiquei com a sensação de "é ruim, mas poderia ser pior". Pela condução da história (e dependendo da bilheteria), o longa pode ganhar sequências, até para explicar muitas pontas soltas deixadas pelo roteiro. Fica o alerta: "Madame Teia" não tem cenas pós-crédito como nos filmes da Marvel. 


Ficha técnica
Direção: S. J. Clarkson
Produção: Sony Pictures, Di Bonaventura Pictures, Marvel Entertainment
Distribuição: Sony Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h40
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: ação, aventura

30 outubro 2023

"O Tubarão Martelo - O Filme" ganha o mundo com mensagem contra poluição ambiental

Sucesso do Youtube agora tem formato de animação, novos personagens e direção de Carlos Magalhães (Fotos: Tubarão Martelo/Divulgação)


Maristela Bretas


São mais de 30 milhões de visualizações no Youtube, sucesso nos vídeos musicais animados e no teatro entre um público bem exigente e inquieto - a turminha de até 6 anos de idade. Agora, "O Tubarão Martelo e Os Habitantes do Fundo do Mar - O Filme" ganha o formato de animação e estreia em breve nos cinemas brasileiros. 

Com direção de Cláudio Fraga e Carlos Magalhães, a obra apresenta novos personagens que falam e fazem um grande alerta ambiental para conscientizar as novas gerações. E o filme soube abordar bem o assunto, com linguagem simples, de fácil compreensão para o público infantil, que entendeu bem a mensagem de não jogar lixo nem poluir o mar.


O filme é um média-metragem de animação infantil de 26 minutos e única produção mineira vencedora nesta categoria da Seleção de animação do edital Petrobras Cultural, realizado com recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura - a Lei Rouanet. A obra agora segue para a participação em festivais pelo mundo e tem previsão de estreia no circuito comercial no Brasil em 2024. 

A pré-estreia gratuita para a criançada e suas famílias aconteceu no dia 28 de outubro, no Cineart Boulevard, em Belo Horizonte, e foi um sucesso. Com direito a fotos com os personagens, contou com a presença do diretor, do criador Cláudio Fraga e do elenco de dubladores. Claro que eu e o colaborador Marcos Tadeu não perdemos a oportunidade. 


Fotos:  Ana Cecília Rezende, Marcos Tadeu
  e Maristela Bretas


Maria Beatriz, de 7 anos, e a irmãzinha Maria Gabriela, de 3, assistiram a exibição e gostaram muito do filme. 

                                               Crédito: Ana Cecília Rezende - @Ahhbeaga

Carlos Magalhães falou de sua experiência com a obra infantil. "Tenho mais de 40 anos no audiovisual e é a primeira vez que faço um filme de animação. Foi um aprendizado, é um trabalho muito complexo, cheio de detalhes e decisões importantes que você toma desde o início do processo que vão ter repercussão lá na frente". 

Cláudio Fraga, que assina a criação, co-direção e direção musical, explicou quais serão os próximos passos. "Queremos rodar bastante os festivais e levar essa história tão importante. O mundo precisa muito de vozes que falem do meio ambiente e da importância da infância. Esse filme é uma pegada de amor pelo planeta e depois dos festivais vamos trazer para o circuito comercial de todo o Brasil. Esperamos que essa animação seja um start para produções bem maiores. A gente almeja uma série e futuramente um longa do Tubarão Martelo".


"O Tubarão Martelo e Os Habitantes do Fundo do Mar - O Filme" conta a história do valente navegador Capitão Jack que parte em busca de tesouros escondidos nos oceanos e é surpreendido pelo nosso herói dos sete mares, o Tubarão Martelo e seu fiel escudeiro, o Peixe-Piloto. 

Ajudado pelas sereias Luna e Maya, Jack vai viver uma aventura cheia de suspense e conhecer o maior de todos os tesouros: o fundo do mar, com seus habitantes e riquezas naturais, que estão ameaçados por terríveis predadores, os seres humanos. 


O roteiro é de com Ana Luiza Alves, Carlos Magalhães e Cláudio Fraga, que também participa da criação da trilha, com Richard Neves, Tatá Sympa, Rogério Delayon. A mixagem é de André Cabelo e a animação da Dogzilla Estúdio e Immagini, com produção da Luz Comunicação e de O Tubarão Martelo. 


As dublagens foram feitas por atores mineiros e a finalização pela produtora Caturra Filmes. Cláudio Fraga, o homem das 1001 funções, é também o dublador do Capitão Jack; Ricardo Righi Filho dubla o Tubarão Martelo; Cecília Fernandes faz as vozes das sereias Luna e Maya, e o falador e mal-humorado Peixe-Piloto, recebeu a divertida dublagem de Gustavo Marquezine. 


Animado com a pré-estreia, Ricardo Righi Filho falou sobre sua participação e a importância de falar para o novo público infantil. "Normalmente eu gravo até rápido o trabalho de dublagem. Esse demorou um bocadinho mais, até encontrar o tom de voz. No final, basicamente ficou a minha voz, um pouco mais aveludada (rsrsrsrs). Quem fala pra crianças de até 7 anos tem de ser muito franco, ir direto ao ponto, não tratar como criancinha, é dar a real das coisas. O mais importante é tratá-las de igual pra igual".

E pra galera, o Tubarão Martelo deixa o seguinte recado: "vamos parar de poluir os mares, é muito importante cuidar do nosso lixo porque a situação está mais do que alarmante".


Ficha técnica:
Direção: Carlos Magalhães
Produção: Caturra Filmes e Luz Comunicação
Duração: 26 minutos
Classificação: Livre
Gêneros: animação, infantil