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29 julho 2025

Com muita ação, “Predador: Assassino de Assassinos” une filmes da franquia e abre novas possibilidades

Animação tem uma dinâmica muito boa com a divisão em três histórias distintas que acabam interligadas (Fotos. 20th Century Studios)
 
 

Jean Piter Miranda

 
Está disponível no Disney+ “Predador: Assassino de Assassinos” (2025). O longa-metragem de animação dá continuidade à franquia dos Yautjas. São três histórias, ocorridas em épocas distintas, que acabam se cruzando. 

Primeiro, uma guerreira viking busca vingança junto de seu grupo. Eles são observados por um predador. Da mesma forma, no Japão feudal, dois irmãos, um ninja e um samurai lutam entre si para resolver questões pessoais. O outro personagem é um piloto estadunidense em batalha na Segunda Guerra Mundial. 


Nas três histórias, os personagens são confrontados por predadores. Os Yautjas, como sempre, estão em busca de enfrentar os guerreiros mais fortes do universo. 

O filme é dirigido por Dan Trachtenberg, que também esteve à frente do ótimo “Predador: A Caçada” (2022). A animação tem um gráfico bem particular. É um tanto sombrio e bem envolvente, reforçado pela trilha sonora de Alan Silvestri, responsável pelas composições de sucessos como "Vingadores: Ultimato" (2019) e "Vingadores: Guerra Infinita" (2018).


A divisão do longa em três histórias dá uma dinâmica muito boa à animação. Os diálogos são suficientes e não se perdem em explicações desnecessárias e repetitivas. Os trechos silenciosos também dizem muito. Tudo na medida certa. 

As cenas de ação são intensas, bem desenvolvidas e muito bem construídas. A parte da guerreira viking traz uma violência bruta, em cenários de neve e gelo. Uma composição muito acertada. Da mesma forma a representação do Japão feudal com seus guerreiros e suas espadas afiadas. É poesia em forma de pancadaria. 


Destoando das duas primeiras histórias, a parte do piloto estadunidense é menos envolvente. Por se tratar de batalhas aéreas, perde o envolvimento das narrativas anteriores. Mesmo tudo sendo feito com a mesma qualidade, fica a sensação de que algo ficou faltando. 

No fim, como se espera, as histórias se cruzam e deixam muitas portas abertas. Com certeza uma continuação já está em produção. Há ainda pontos que ligam o filme com a série “Predador: Badlands (2025)”, que será lançada em novembro no Disney+. 


Também são apresentadas conexões com “Predador: A Caçada” (2022) e com os dois primeiros filmes da franquia: “O Predador” (1987), com Arnold Schwarzenegger, e “O Predador 2: A Caçada Continua” (1990), com Danny Glover. 

E pra deixar os fãs ainda mais eufóricos, há também ligações com “Alien: Romulus” (2024). Ao que tudo indica, muito em breve, predadores e aliens devem se enfrentar novamente.

“Predador: Assassino de Assassinos” tem muitas qualidades e faz uma ligação entre todos os filmes já produzidos pela franquia. Mostra que há muita coisa a ser explorada sem ser repetitivo. É pra curtir e esperar os próximos capítulos.


Ficha técnica:
Direção: Dan Trachtenberg e Josh Wassung
Roteiro: Micho Rutare
Produção: 20th Century Studios
Exibição: Disney+ Brasil
Duração: 1h30
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: ação, ficção, animação

10 julho 2025

James Gunn acerta com seu "Superman” mais humano e menos super

David Corenswet entrega uma boa atuação do herói da capa vermelha nesta nova versão (Fotos: Warner Bros.)
 
 

Maristela Bretas

 
Um super-herói que se distancia das versões anteriores mostradas no cinema e se revela mais humano. Este é o novo "Superman" que estreia  nos cinemas oferecendo uma visão diferenciada do diretor e roteirista James Gunn (da aclamada franquia "Guardiões da Galáxia" - 2014, 2017 e 2023). A trama é repleta de muita ação, questionamentos políticos e sociais e grandes efeitos visuais, expostos de maneira audaciosa e eficaz.

Gunn escolhe não revisitar a história original e já conhecida do alienígena Kal-El: sua chegada à Terra, o despertar dos poderes, a entrada no Planeta Diário como Clark Kent, o encontro com Lois Lane e o surgimento de Lex Luthor em sua vida. 


Esqueça tudo isso. Quem já viu qualquer filme do Superman já sabe estes pontos, e Gunn não quis ser repetitivo. Optou por abrir com um breve histórico em texto e entrar diretamente no presente, com o herói em meio a confrontos e apanhando muito. 

Uma vulnerabilidade que o torna mais humano, confirmando a icônica frase de Batman em "A Origem da Justiça" (2016) - "o Superman sangra".

Além de sangrar, o Homem de Aço, interpretado por David Corenswet, mostra-se mais emotivo, romântico, sofre com as críticas que recebe pela forma de agir em favor da salvação do planeta Terra e de seus habitantes. Admito que fui com poucas expectativas para este filme e me surpreendi com a boa interpretação do personagem feita por Corenswet. 


Apesar de ser muito parecido fisicamente com Henry Cavill, seu antecessor (que é ainda mais bonito), ele tem um olhar mais doce. Ele passa mais credibilidade ao demonstrar o amor por Lois Lane (Rachel Brosnahan) e a importância da família em sua formação. 

Sem esquecer a preocupação com a humanidade e os animais, do esquilo ao cachorro, estando sempre pronto para tentar salvar todos que puder. Nesta nova versão, Clark Kent aparece pouco, deixando o protagonismo para o Superman.


Destaque absoluto para a atuação de Nicholas Hoult como Lex Luthor. O ator vem realizando ótimos trabalhos e está excelente no papel do gênio bilionário, arrogante, machista e invejoso, cuja obsessão é destruir o Superman - o alienígena que conquistou a humanidade e é responsável por sempre frustrar seus planos.

Hoult entrega um vilão à altura do personagem, que vai de explosões de fúria a momentos de choro quanto seus planos falham. O ator talvez seja um dos melhores ou o melhor Lex Luthor já apresentado pelo cinema.


Outro ponto alto é o fofo e alucinado Krypto, o cão que Superman está cuidando temporariamente para sua prima Supergirl. As cenas em que ele aparece, criadas em CGI, são as mais divertidas e, em algumas situações, decisivas, especialmente pela forma descontrolada como ele se comporta. Nem o Homem de Aço dá conta de tanta adrenalina canina. Apaixonei pela versão macho do meu cachorro.

A Lois Lane de Rachel Brosnahan também ganha mais tempo de tela e também é essencial em diversas cenas. Com habilidade, o diretor aproveita para relembrar a franquia "Guardiões da Galáxia" ao colocar a jornalista pilotando uma espaçonave no estilo de Peter Quill/Star Lord.


"Superman" também entrega efeitos visuais incríveis, dignos de um grande super-herói dos quadrinhos e da telona. Embora algumas informações tecnológicas complexas possam deixar o público em geral confuso (os fãs "nerds" vão entender), isso nada impede a compreensão do enredo.

A trama é recheada de monstros gigantescos, Inteligência Artificial avançada e portais tridimensionais. Além disso, dá uma "cutucada" nada sutil em conflitos mundiais e nos replicadores de fake news que trabalham incessantemente para destruir a imagem do super-herói. 

Outros super-heróis atuam também na defesa de Metrópolis e do mundo: Lanterna Verde (Nathan Fillion, num papel que deixa o personagem abobalhado), Isabela Merced (Mulher Gavião) e Edi Gathegi (Senhor Incrível). 


O elenco conta ainda com nomes conhecidos em papéis menores como Bradley Cooper, Frank Grillo, Maria Gabriela de Faria, Skyler Gisondo, Milly Alcock, entre outros. 

Até William Reeve, filho caçula de Christopher Reeve, o primeiro e um dos mais queridos Superman do cinema, teve uma breve aparição no longa como o âncora de um noticiário. 

A música-tema original, composta por John Williams, ganhou novas versões e continua marcante nos principais momentos do super-herói. Associada a ela, a trilha sonora sob a batuta de John Murphy reunindo outros sucessos, está disponível no Spotify.


James Gunn acertou na escolha do elenco, na qualidade dos efeitos visuais e na abordagem da narrativa para contar a história de um dos mais emblemáticos super-heróis da DC, sem cair na mesmice. 

Mas será o sucesso nas bilheterias de "Superman", adaptado dos quadrinhos de Jerry Siegel e Joe Shuster, que irá ditar a fórmula a ser aplicada nas próximas produções do estúdio. 

Esta ficou ótima e merece ser assistida em IMAX ou 3D para uma experiência mais completa. Uma dica: não saia correndo da sala de cinema, o filme tem duas cenas pós-credito.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: James Gunn
Produção: DC Studios, Warner Bros.
Distribuição: Warner Bros Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h09
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: ação, ficção, aventura

27 junho 2025

"M3GAN 2.0" entrega mais violência, ação e uma versão atualizada para combate

Boneca-robô assassina retorna após dois anos do último filme com upgrade para enfrentar uma rival
criada com IA (Fotos: Universal Pictures)
 
 

Maristela Bretas

 
A icônica robô assassina que arrebatou mais de 2 milhões de espectadores nos cinemas nacionais em 2023, mantendo-se por cinco semanas entre as dez maiores bilheterias do país, está de volta.

"M3GAN 2.0" estreou nos cinemas pronta para confrontar uma adversária ainda mais violenta e sem controle, criada com Inteligência Artificial para ser uma máquina de guerra.

A história se passa dois anos após Gemma (Allison Williams) ter criado M3GAN para ser a companhia ideal de sua sobrinha Cady (Violet McGraw). A androide, no entanto, se tornou uma boneca assassina implacável e precisou ser desativada. 

Gemma agora é uma autora de prestígio e defensora da supervisão governamental da IA, enquanto Cady, já adolescente, discorda da superproteção da tia.


Sem o conhecimento da criadora, a tecnologia de M3GAN é roubada e utilizada para desenvolver um novo protótipo cuja única missão é ser uma arma militar extremamente letal. Batizada de Amélia (Ivanna Sakhno), ela rapidamente cria consciência própria e se torna uma máquina sem controle, disposta a exterminar a raça humana. 

A única chance de impedir que esta versão 2.0 destrua a humanidade é ressuscitar M3GAN (interpretada por Amie Donald e dublada por Jenna Davis), fazendo algumas atualizações para deixá-la mais rápida, mais forte e preparada para enfrentar Amélia. Apesar de ter se tornado uma assassina, M3GAN não perdeu seu principal objetivo - proteger Cady.


Assim como no filme original, "M3GAN 2.0" é violento, com sangue espirrando nas paredes e apresenta mais de um vilão, que inicialmente até parece bonzinho. 

Os efeitos visuais são destaque, principalmente nas coreografias de luta, capazes de transformar até mesmo personagens comuns em verdadeiros lutares no estilo Bruce Lee. O ponto alto da produção é o confronto eletrizante entre M3GAN e Amélia. 

Embora o filme apresente situações por vezes forçadas, elas estão dentro do esperado e contribuem para a agilidade da trama, mantendo a narrativa dinâmica e envolvente. 


O longa se afasta do gênero terror puro, apesar de contar com a Blumhouse (responsável por sucessos como "Sobrenatural - A Porta Vermelha" - 2023 e "O Homem Invisível" - 2020), e James Wan (diretor de "Invocação do Mal 2" - 2016 e "Maligno" - 2021) como produtores.

"M3GAN 2.0" explora mais a ação, o suspense violento e uma abordagem futurista que questiona o destino da humanidade caso os robôs assumirem o controle da tecnologia global. É quase uma Skynet de "O Exterminador do Futuro", mas com um corpo humanizado e atualizada com Inteligência Artificial.


No elenco, além das protagonistas temos o retorno de Brian Jordan Alvarez (Cole) e Jen Van Epps (Tess), parceiros de pesquisa de Gemma no primeiro filme. E novos participantes como Aristotle Athari (Christian, namorado de Gemma), Timm Sharp (Agente Sattler), Jermaine Clement (o empresário Alton Appleton) e Mayen Mehta (Naveen).

Com efeitos visuais de alta qualidade e uma boa produção, o filme apresenta a famosa robô mais madura e uma rival assassina tão bela quanto letal, prometendo mais uma vez conquistar o público.


Sucesso do anterior

A nova produção pretende repetir o sucesso de seu antecessor que permaneceu por cinco semanas entre as dez maiores bilheterias do Brasil. "M3GAN", que teve um orçamento de US$ 12 milhões, também quebrou recordes, arrecadando US$ 30,4 milhões em sua estreia nos EUA.

O filme tornou-se a maior abertura de final de semana de um filme de terror PG-13 desde “Um Lugar Silencioso - Parte II”. No total, ultrapassou US$ 180 milhões na bilheteria mundial. A expectativa é de que "M3GAN 2.0" alcance números de bilheteria tão impressionantes quantos os de seu antecessor. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Gerard Johnstone
Produtores: James Wan, Jason Blum e Allison Williams
Produção: Blumhouse Productions e Atomic Monsters
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2 horas
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: terror, ficção, ação, suspense

17 junho 2025

“Prédio Vazio” tenta desbravar o campo do terror urbano no cinema brasileiro

Longa ambientado na cidade de Guarapari mescla o horror com o folclore (Fotos: Retrato Filmes)
 
 

Eduardo Jr.

 
Primeira história de Rodrigo Aragão a se passar em ambiente urbano, “Prédio Vazio”, distribuído pela Retrato Filmes que está em exibição no Centro Cultural Unimed-BH Minas, é uma tentativa de colocar uma obra como referência do gênero terror-ficção no cinema nacional.  

O diretor capixaba é conhecido pelas produções “Mangue Negro”, “A Noite do Chupacabras” e “O Cemitério das Almas Perdidas", todas ambientadas longe das grandes cidades. 

Aragão também é renomado por mesclar o horror com o folclore, criando narrativas que destacam a cultura e a identidade regional do Espírito Santo.


Neste longa de terror, uma jovem embarca de Belo Horizonte para Guarapari (ES) para procurar a mãe desaparecida no último dia de carnaval. Ao encontrar o prédio onde ela morava, a garota é envolvida pelo perigo, pois o sobrenatural habita o edifício que parecia vazio após o término do feriado.  

O que o espectador pode perceber, no geral, é ousadia. Embora no início seja algo morno, que flerta com o trash em razão da luz estourada e das cenas apresentadas, o filme é, na verdade, uma identidade assumida - uma identidade composta de exagero. 


Grandes quantidades de sangue não demoram a ocupar a tela, e a sensação de que o mal é, também, humano, fica clara na boa atuação de Gilda Nomacce, que dá vida a uma zeladora digna de toda a nossa desconfiança. 

E ela se confirma como uma aliada dos espíritos malignos que promovem o terror no assustador edifício. E mais que isso, é executante de atos brutais. Mas não se trata de um banho de sangue sem motivo. O diretor traz uma explicação e um final interessante para a trama. 


Para o espectador, vale destacar que não encontrar neste longa uma cópia da estética hollywoodiana é algo positivo. O sangue, os cenários, os efeitos criados artesanalmente e a violência executada por corpos reais, é sinal de coragem do cineasta - e pode acabar ganhando o público. 

Um sinal do valor deste filme está no reconhecimento obtido até aqui, como o Prêmio Retrato Filmes, na 28ª Mostra de Tiradentes, que garantiu investimento e contrato de distribuição para o longa. 


Ficha técnica:
Direção, roteiro e efeitos especiais: Rodrigo Aragão
Produção: Fábula Filmes
Distribuição: Retrato Filmes
Exibição: Centro Cultural Unimed-BH Minas
Duração: 1h20
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gêneros: terror, ficção

25 maio 2025

"Manas" – Um retrato doloroso e cruel de uma Ilha de Marajó exuberante

Destaque para a atuação de Jamilli Correa, como Marcielle, uma jovem sensível e corajosa, forçada a amadurecer antes da hora (Fotos: Divulgação)


Marcos Tadeu
Parceiro do blog Jornalista de Cinema


O longa-metragem de ficção de Marianna Brennand fez barulho nos festivais de Veneza e São Paulo e está em exibição no Cine Una Belas Artes, em BH. Com delicadeza e firmeza, o filme coloca o dedo na ferida da violência sexual presente na Ilha de Marajó, trazendo à tona um ciclo cruel que atravessa gerações de mulheres.

A protagonista Marcielle (Jamilli Correa), uma garota de 13 anos, vive numa realidade marcada pelo machismo e pela violência que fazem parte do cotidiano da periferia ribeirinha. 


Com a partida da irmã mais velha, Claudinha, Marcielle começa a perceber com mais nitidez os padrões de opressão que se repetem dentro de sua família. Cabe a ela agora, proteger a irmã mais nova e tentar romper com esse destino, tão comum quanto brutal.

Um dos grandes destaques do filme é a atuação de Jamilli Correa, que entrega uma personagem sensível e corajosa, forçada a amadurecer antes da hora. Marcielle, aos poucos, entende por que a irmã mais velha se afastou da família e passa a desconfiar da “troca” que os homens da comunidade parecem exigir constantemente das mulheres.


A direção de Marianna Brennand é cuidadosa e, ao mesmo tempo, incisiva. Ela denuncia as violências e o tráfico infantil nessas comunidades sem expor as meninas ou recorrer a cenas gráficas. 

Pelo contrário: é no silêncio, nos olhares, nos gestos e nos não ditos que o filme se torna mais poderoso. A brutalidade não precisa ser mostrada diretamente — ela é sentida.

Em uma das cenas mais simbólicas, o pai (interpretado por Rômulo Braga) convida a filha para caçar. A sequência, carregada de tensão, coloca a menina como presa e o pai como predador — uma metáfora que resume o desequilíbrio de poder e o perigo constante vivido por essas garotas. A atuação de Braga, aliás, é marcante por essa ambiguidade: um homem de aparência gentil, mas profundamente hostil.


O filme também explora com beleza as paisagens da Ilha de Marajó — rios, matas, o verde intenso do Pará e da Amazônia — criando um contraste entre o paraíso natural e a vida dolorosa das meninas que ali habitam. 

Dira Paes, como a policial Aretha, tem um papel que cresce com força do segundo para o terceiro ato, representando uma mulher que tenta proteger as demais ao denunciar os abusos e incentivar a quebra do ciclo. O elenco conta ainda com Fátima Macedo (como Danielle, mãe de Marcielle), atores e atrizes locais da região.


Até mesmo a religião, muitas vezes vista como acolhimento, é retratada de maneira crítica. Em "Manas", a igreja aparece como espaço que incentiva as mulheres a "lidarem com a dor em casa", perpetuando o silêncio e a submissão. 

A cena em que Marcielle e outras meninas dançam ao som de “Conquistando o Impossível” é simbólica: um pedido de socorro camuflado de fé e esperança.


Talvez o longa pudesse se aprofundar um pouco mais nos antecedentes do pai, explorando como a violência masculina se reproduz entre gerações e no próprio tecido social da comunidade. Ainda assim, isso não compromete a força da narrativa.

"Manas" é um filme necessário, feito com respeito, cuidado e precisão. Ele denuncia o que precisa ser dito, mas sem expor as feridas — nos mostrando que até o silêncio carrega gritos. Um longa que fala com mulheres que vivem essa realidade, e com todos nós que precisamos ouvi-las.


Ficha técnica:
Direção: Marianna Brennand
Produção: Inquietude, em coprodução com Globo Filmes, Canal Brasil, Prodígio e Fado Filmes (Portugal)
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: Cine Una Belas Artes - sala 2 - sessão 18 horas
Duração: 1h46
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gêneros: drama, ficção

06 março 2025

Robert Pattinson é um trabalhador totalmente descartável em "Mickey 17"

Novo longa do diretor Bong Joon-ho aborda a exploração do trabalhador, clonagem e doutrinação religiosa (Fotos: Warner Bros. Pictures)


Maristela Bretas


Não me interpretem mal, a intenção foi justamente dizer o contrário. Robert Pattinson está excelente como Mickey Barnes, o trabalhador que assina um contrato para se tornar descartável no filme "Mickey 17". 

A produção estreia nesta quinta-feira (6), com distribuição da Warner Bros. e traz no elenco Mark Ruffalo, Toni Collette e Steven Yeun. Todos sobre a direção do premiado Bong Joon-ho, de "Parasita" (2019).

Ambientado num futuro não determinado, com a Terra sofrendo as consequências da degradação ambiental, pesquisadores buscam outras opções na galáxia para iniciar novas colonizações. 


Mickey é um homem que perdeu tudo, deve a um mafioso, está ameaçado de morte e vê no projeto de recolonização sua única saída. Para acelerar o processo, candidata-se a ser um trabalhador "descartável". Mas faltou ler as "letrinhas" do contrato. 

Começa aí sua jornada de tarefas perigosas e mortais na colônia espacial. E a cada exemplar perdido, um novo clone de Mickey é criado a partir do DNA e das memórias do anterior, permitindo que o trabalho continue sem atrasos e indenizações, para alegria e sucesso dos contratantes.


Robert Pattinson ("The Batman" - 2021) está brilhante no papel, especialmente quando o Mickey de número 17 se depara com sua réplica posterior. Apesar de terem o mesmo DNA e pensamentos, os comportamentos dos clones são opostos e é ai que o ator mostra seu potencial.

Não bastasse a atuação do protagonista, temos os indicados ao Oscar, Mark Ruffalo ("Pobres Criaturas" - 2023), como o explorador e visionário Kenneth Marshall, e Toni Collette ("Hereditário" - 2018), no papel de Yifa, sua fiel esposa. 


Eles dominam as cenas quando aparecem, com personagens bem caricatos representando os patrões que consideram todo e qualquer trabalhador substituível de imediato. 

Para Marshall e Yifa, são dignos de entrar na colônia que estão criando apenas os brancos, ricos e de famílias que possam fazer grandes doações e aceitem os dogmas que pregam. Isso mesmo, "Mickey 17" fala de exploração do trabalhador e de seguidores por meio da doutrinação religiosa. 


Quanto mais apanham ou perdem bens ou pessoas, mais os fanáticos seguidores do pastor/empresário Kenneth Marshall acreditam que serão dignos de chegar ao planeta Niflheim (quase um Reino dos Céus). Por trás do pregador está a esposa que controla suas falas e domina toda a operação.

O elenco conta ainda com as boas interpretações de Naomi Ackie (“Star Wars: Episódio IX – A Ascensão Skywalker” - 2019), como a integrante da segurança da nave colonizadora e namorada de Mickey 17, e Steven Yeun ("Não! Não Olhe!" - 2022), no papel de Timo, único "amigo" de Mickey Barnes. Sem esquecer as criaturas alienígenas que habitam o novo planeta e que fazem toda a diferença na trama.


"Mickey 17" é uma produção intrigante, que reúne ficção científica, ação e comédia de humor ácido, adaptada do romance "Mickey7", de Edward Ashton. 

Além da doutrinação e da exploração do trabalho, a história também trata da questão moral da clonagem e dos perigos que a coexistência entre clones iguais pode representar para os planos dos criadores. 

Bons efeitos visuais, ótima direção e abordagem de temas bem atuais, mesmo sendo ambientado no futuro. E você, até onde iria para conseguir um emprego? Toparia ser "descartável" e morreria por ele? Confira "Mickey 17" nos cinemas e saiba onde sua escolha pode levar.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Bong Joon-ho
Produção: Warner Bros. Pictures, Plan B, Kate Street Picture Company
Distribuição: Warner Bros.
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h17
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: ação, ficção, comédia

22 fevereiro 2025

"Dentro da Caixinha - Mundo de Papel" é um mergulho nas antigas cantigas de infância

Filme é o terceiro da série a estrear nos cinemas e, como nos anteriores, a direção é de Guilherme Reis
(Fotos: Postura Digital)


Da Redação


Uma ótima dica de programa em família neste domingo (23) é o filme "Dentro da Caixinha - Mundo de Papel", dirigido por Guilherme Reis. Esta é a terceira produção da série mineira lançada no cinema. 

Iniciada em 2016 com o musical infantil "Dentro da Caixinha, distribuído pela Cineart Filmes, teve como sequência "Dentro da Caixinha - Segredo de Criança", em 2022.

"Mundo de Papel" é uma fábula sobre reconexão da infância contemporânea com as cantigas e as tradições folclóricas do Brasil. O filme pode ser conferido na sessão das 11 horas, no Cineart Boulevard, ou das 15 horas, no Sesc Palladium, com ingressos a R$ 10,00 a inteira e R$ 5,00 a meia.


O longa, lançado em janeiro deste ano durante a 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes, foi concebido a partir da montagem dos episódios da primeira temporada da série "Dentro da Caixinha", vencedora do edital #AudiovisualGeraFuturo, do Ministério da Cultura. 

O projeto foi realizado pela produtora Postura Digital, com patrocínio do Uni-BH por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura da Prefeitura de Belo Horizonte.


Na história, o menino Lúcio (Victor Morais) está no hospital quando recebe a visita da avó Neusa, dos filmes "Dentro da Caixinha", vestida de palhaça. A doutora Parafina (Marta Morais) empresta uma misteriosa caixinha ao garoto. 

Ao abri-la, o jovem é transportado, junto com sua mãe Alda (Bárbara Lima) e a irmã Zulma (Maria Clara Naene), para o Sertão da Memória, um lugar fantástico habitado por personagens das cantigas de roda. 

Mulher Rendeira (Valentina Melo), Mestre André (Fábio Martins), Marinheiro Só (Asafe Azevedo de Paula), Dona Baratinha (Alice Aguiar), Soldado Cabeça de Papel (Pedro Martins Dornelas Araújo e Dudu Santana), e outros estão entre os personagens.


A presença das crianças no esquecido mundo das canções antigas faz renascer a esperança e desperta, em todos os habitantes, o desejo que eles fiquem para sempre dentro a caixinha.

O elenco infantil foi selecionado a partir de uma oficina de interpretação oferecida a 80 crianças no Sesc Palladium. Ao todo são mais de 60 crianças envolvidas, entre figurantes e elenco. 

Destaque para a atriz e palhaça Marta Morais, que interpreta a avó Neusa em todos os filmes da série. Vale a pena conferir, uma verdadeira volta à infância, que fará pais e filhos cantarem juntos. Saiba mais sobre ao mundo "Dentro da Caixinha" clicando aqui.


Ficha técnica:
Direção: Guilherme Reis
Roteiro: Caio Ducca e Guilerme Reis
Produção: Postura Digital
Exibição: domingo (23/02), sessões às 11 horas, no Cineart Boulevard; e às 15 horas no Sesc Palladium
Ingressos: preços especiais - R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia)
Duração: 1h23
Classificação: livre
País: Brasil
Gêneros: ficção, família

09 fevereiro 2025

"Acompanhante Perfeita" equilibra bem ficção, comédia e um terror brutal

Sophie Thatcher protagoniza a história, vivendo uma mulher dominada e submissa numa relação com Jack Quaid (Fotos: Warner Bros. Pictures)


Maristela Bretas


Escrito e dirigido por Drew Hancock, com distribuição da Warner Bros. Pictures, está em cartaz nos cinemas a comédia de terror (se é que posso chamar assim) "Acompanhante Perfeita" ("Companion"). 

Com boas atuações de Sophie Thatcher (de "Boogeyman: Seu Medo é Real" - 2023) e Jack Quaid ("Oppenheimer" - 2023), o filme, logo no início, dá um choque no espectador. E vai mantendo este ritmo ao longo de toda a narrativa.

A trama segue Iris (Thatcher) e Josh (Quaid) que vivem um relacionamento complexo, que vai da paixão à primeira vista à toxidade da manipulação, com cenas bem perturbadoras. 


Em entrevista, a atriz descreveu o relacionamento de sua personagem como intenso e codependente, com Iris disposta a fazer qualquer coisa para que Josh se sinta amado e cuidado. 

Do encontro ao acaso que dá início à relação a um fim de semana com os amigos de Josh - Kat (Mega Suri, de "Não Abra" - 2023), Sergei (Ruper Friend, de "Asteroid City" - 2023), Eli (Harvey Guillén, de "Besouro Azul" - 2023) e Patrick (Lukas Cage, de "Sorria 2" - 2024) -, o casal vai passando por diversas situações e mudanças nos planos. 

Até a surpreendente revelação de que um dos hóspedes é um robô de companhia com tendências assassinas, o que vai provocar uma reviravolta completa na trama. 


"Acompanhante Perfeita" se destaca por sua mistura de gêneros, ao conseguir equilibrar bem comédia, ficção e terror. O diretor usa a relação dominadora dos protagonistas para mostrar o quanto ela pode se tornar doente e abusiva e as consequências disso. 

Iris representa a mulher tratada como objeto, um simples acessório na vida de um homem (Josh) que usa e abusa dela como e quando quer. 

Drew Hancock também não economiza em cenas brutais, com variadas formas de mortes e torturas. Um filme de terror diferente, com toques de ficção graças ao androide que substitui um ser humano. 


O que nos leva a pensar sobre o uso da inteligência artificial e um futuro não muito distante do que vivemos hoje, com máquinas ocupando lugares de pessoas para suprir a solidão.

Para alguns, "Acompanhante Perfeita" pode desagradar, mas a produção vem caindo nas graças do público. Pelo menos dos norte-americanos, que garantiram o retorno do valor investido de US$ 10 milhões na primeira semana de bilheteria nas salas do país. 

Eu, particularmente gostei da abordagem. Confira na Semana do Cinema, com ingressos a R$ 10,00 e combos com valores promocionais. Depois conta aqui nos comentários o que achou.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Drew Hancock
Produção: New Line Cinema, Boudelirlight Pictures, Vertigo Entertainment e Subconscious
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h37
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: ficção, terror, comédia

17 janeiro 2025

Com muita ação, “The Moon: Sobrevivente” coloca a bandeira da Coreia do Sul na Lua

O ator e cantor Do Kyung-soo (D.O.), do grupo Kpop E.X.O., é o astronauta que fica preso em solo lunar
(Fotos: Sato Company)


Jean Piter Miranda


O ano é 2029. A Coreia do Sul realiza uma missão espacial para mandar astronautas à Lua. Na reta final da operação, a tripulação enfrenta problemas. Hwang Sun-woo (Do Kyung-soo, do grupo Kpop EXO) fica sozinho em solo lunar. 

Esse é apenas um dos problemas que ele enfrenta. Isso, enquanto o governo de seu país faz todos os esforços para tentar trazê-lo de volta à Terra. Este é “The Moon: Sobrevivente” ("Deo Mun"), filme sul-coreano, dirigido por Kim Yong-hwa, que estreia nos cinemas brasileiros. 


A história tem dois personagens principais. Além do Hwang Sun-woo, quem tem muito tempo de tela é o ex-diretor do centro espacial sul-coreano, Kim Jae-gook (Sol Kyung-gu). Ele é chamado para integrar uma equipe remota de resgate.

Na Lua, Hwang mantém contato constante com a equipe do centro espacial. Tudo que ele passa é acompanhado no telão do comando de operação. Cenário o qual já vimos em muitos filmes norte-americanos: dezenas de pessoas sentadas em frente aos seus computadores, com headphones, uma tela gigante e diretores dando ordens. 


Por falar no que já foi visto, é inevitável a comparação com “Perdido em Marte” (2015), em que Matt Damon tenta voltar para casa. É bem verdade que “The Moon: Sobrevivente” reproduz um pouco do muito que já foi apresentado em filmes do gênero, sem nenhuma novidade. 

Falando em técnica, as imagens do espaço e da Lua são muito bem feitas. Uma produção de alto nível que não deixa nada a desejar. Os efeitos especiais são usados na medida certa e dão a impressão de que o astronauta realmente está fora da Terra.  As qualidades técnicas do longa garantiram a ele o troféu Blue Dragon Film Awards for Tecnical Award, premiação importante em seu país.


De roteiro, temos muitos coadjuvantes. É difícil memorizar nomes, funções e estabelecer as relações entre eles e a importância de cada um na história. Isso sem falar que filme toca em temas como a possível exploração Lua e a disputa tecnológica entre a Coreia do Sul e as outras nações. Mas nada disso se aprofunda. 

O desenrolar da história traz muitas reviravoltas. Hwang enfrenta vários problemas para tentar retornar à Terra. São muitos momentos de tensão. Ao mesmo tempo, a direção força bastante ao explorar as emoções e as ligações afetivas entre os personagens. 


Temos que considerar, no entanto, que tudo isso seja apenas um choque cultural. Obras com muitos coadjuvantes, sem que nenhum deles tenha um desenvolvimento significativo. O sentimentalismo exagerado, muitas reviravoltas e poucos cenários, entre outros pontos, talvez sejam características comuns do cinema sul-coreano, o que, por aqui, pode causar estranhamento. 

São duas horas e 10 minutos de filme e muita coisa para digerir. A impressão é que pegaram um roteiro de uma série de uns 10 capítulos e resumiram para caber em um longa-metragem. “The Moon: Sobrevivente” é um bom entretenimento e uma boa oportunidade para conhecer mais do cinema asiático. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Kim Yong-hwa
Distribuição: Sato Company
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h10
Classificação: 14 anos
País: Coreia do Sul
Gêneros: ficção, suspense