Longa é uma comédia com pé no chão sobre amor e relacionamentos, sem romantização (Fotos: Divulgação)
Jean Piter Miranda
Lucy (Dakota Johnson) é uma casamenteira. Ela trabalha em uma agência de encontros, onde os clientes procuram o “amor pra vida inteira”. Ela é uma espécie de “personal Tinder”. Em vez do aplicativo, quem paga pelo serviço tem a consultoria de uma pessoa especializada no assunto.
Durante a festa de casamento de uma de suas clientes, Lucy conhece Harry (Pedro Pascal). Rico, bonito, charmoso, solteiro, gentil e interessado nela desde o primeiro olhar. Só que aí aparece o garçom John (Chris Evans), o ex-namorado dela. Bonitão, charmoso, porém, pobre. Duro, quebrado, liso.
Com quem Lucy vai ficar? Esse poderia ser o título do filme, mas estamos falando de “Amores Materialistas”. O novo filme da diretora Celine Song, do ótimo “Vidas Passadas” (2024), que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (31).
Poderia ser uma comédia romântica. Até tem cenas engraçadas, romance, mas a pitada de drama adicionada à história muda tudo. É sobre amor e relacionamentos, sem romantização. Uma comédia com pé no chão e conversa séria, pra gente adulta, ideal para os dias atuais.
Os clientes de Lucy são sempre muito exigentes. Altura, peso, profissão, renda, gostos musicais, idade, se tem pet ou não, fumante ou não, preferência política... Se o primeiro encontro der certo, Lucy marca o segundo, o terceiro... Ela vai intermediando até que o casal decida se casar. Aí é case de sucesso!
Em meio aos encontros que vai mediando, Lucy começa a engatar um namoro com Harry. O cara perfeito, nas palavras dela. Ele seria uma ótima opção para todas as mulheres que ela tem na cartela de clientes. Porém, o bonitão só quer a bonitona.
Mas e o John? Além de garçom, ele é aspirante a ator, sem muita expectativa de dias melhores. Principalmente quando se trata de dinheiro. O encontro entre ele e Lucy mexeu com os dois. Por que eles não deram certo? Por que se separaram? Dá pra voltar ou ficarem juntos outra vez? Ainda se amam? Será que se amavam? São questões para ambos.
O rico bonitão perfeito ou o gato pobre que já não deu certo uma vez? Até onde o dinheiro interfere ou pode interferir nessa equação? Só o amor não basta? É possível encontrar amor e prosperidade financeira na mesma pessoa? E as outras muitas coisas da vida a dois? Essas questões vão surgindo ao longo do filme com reflexões que certamente vão mexer com quem assiste.
Há também observações sobre os clientes de Lucy que vão interferindo no curso da história. Em tempos de customização de tudo, é possível achar a pessoa ideal, com todos os requisitos que enumeramos? Ou será que isso é um impedimento para se conhecer uma pessoa interessante? E se tirarmos as exigências, por sorte, pode aparecer a “pessoa certa”?
São questões muito atuais abordadas no filme. Em um mundo onde tudo é mercadoria, serviço e descartável, é justo que pessoas também sejam tratadas assim? Onde tudo é passageiro, inclusive os amores, é possível amar e ser amado? A gente tá procurando do jeito certo e no lugar certo?
Esses muitos questionamentos apresentados direcionam as decisões dos personagens e o desfecho do filme. Haverá aqueles que irão gostar e também os que não desgostarão do fim.
A história é conduzida com sensibilidade e, acima de tudo, com sensatez. Sem malabarismos ou situações de contos de fadas. Não há a menor pretensão de dar receitas prontas ou oferecer respostas. Cada expectador vai levar um caminhão de reflexões pra casa. É isso.
Gostando ou não do filme, estando solteiro ou à procura de alguém, casado ou separado, não importa. “Amores Materialistas” vai ficar na sua cabeça por um bom tempo.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Celine Song Produção: Stage 6 Films, A24 Distribuição: Sony Pictures Exibição: nos cinemas Duração: 1h57 Classificação: 14 anos País: EUA Gêneros: comédia, romance
Paul Mescal e Pedro Pascal protagonizam a nova obra do diretor Ridley Scott (Fotos: Paramount Pictures)
Wallace Graciano
Continuações de grandes obras nasceram fadadas ao fracasso. Também pudera, meu caro amigo leitor. Elas são muitas vezes elevadas a uma expectativa que trama alguma conseguiria suprir. Por isso, antes de falar sobre “Gladiador 2” ("Gladiator II"), em cartaz nos cinemas de todo o Brasil, eu o convido para se despir de seus sentimentos em relação à obra icônica de Ridley Scott. Você não vai se decepcionar.
Se outrora Russell Crowe se consagrou no papel de “Maximus Decimus”, um poderoso general romano amado pelo povo e por Marcus Aurelius, agora o protagonista não tem nenhuma alta patente no Império. Seu nome é Hanno (ou Lucius…), interpretado por Paul Mescal, e ele se encontra na África, onde vê seu povo atacado por Roma e ser dominado.
Buscando vingança após ser capturado como prisioneiro de guerra pelo general Acacius (Pedro Pascal), que agia sob as ordens dos gêmeos imperadores Greta (Joseph Quinn) e Caracala (Fred Hechinger), ele cai nas mãos de Macarius (Denzel Washington). Macarius, que outrora era um mercenário, deseja transformar os prisioneiros em gladiadores e usá-los em busca de sua ascensão política. Ao conhecer Hanno, vê nele sua grande oportunidade de fazer um movimento certeiro.
E é nesse momento que a trama começa a se mostrar forte. Aproveitando a sede de vingança do até ali Hanno, Macarius atiça a ira de seu prisioneiro ao seu favor enquanto começa a explorar o desejo de Greta e Caracalla por novos jogos no Coliseu.
Paralelamente, Acacius e sua mulher, Lucilla (Connie Nielsen), que fora casada com Maximus, tramam uma operação para tentar derrubar a tirania dos gêmeos imperadores.
Fugindo dos clichês, mas explorando ao máximo a narrativa épica que o período pode trazer, "Gladiador 2" passa a te sugar neste momento. Apesar de ser repleto de batalhas espetaculares e paisagens grandiosas, a continuação se destaca por ter uma trama de fundo envolvente, com a profundidade que te faz prender o ar não somente nas cenas de ação.
A direção de Ridley Scott é magistral, com cenas de batalha visceralmente realistas e uma fotografia impecável que transporta o espectador para a antiga Roma. Somado a isso, temos a atuação magistral de Denzel Washington, que é, sem dúvida, o melhor personagem de toda a trama.
Porém, precisamos dizer que a história, embora complexa, peca por não desenvolver suficientemente os personagens secundários e por ter uma duração excessiva. A atuação de Paul Mescal é competente, mas não consegue alcançar a intensidade de Russell Crowe. O personagem mais carismático da obra, dessa forma, vem de Washington.
Ainda assim, precisamos dizer que a comparação com o primeiro filme é inevitável, mas que Scott acertou ao explorar desta vez temas como poder, honra e vingança de forma mais ampla, englobando elementos políticos e sociais.
É uma sequência muito boa, que seria uma obra de grande impacto na história, mas existe o primeiro, que, sim, está em um degrau superior. O que não é nenhum demérito.
Curiosidades
- "Gladiador 2" surge 24 anos após o filme original, também dirigido por Ridley Scott, que arrecadou mais de US$ 460 milhões nas bilheterias e conquistou cinco Oscars.
- Pedro Pascal, das séries "The Last of Us" e "The Mandalorian", atuou ao lado de Denzel Washington, em "O Protetor 2" (2018), e de Connie Nielsen, em "Mulher Maravilha 1984" (2020).
Ficha técnica
Direção: Ridley Scott Roteiro: David Scarpa Produção: Paramount Pictures, Red Wagon Entertainment, Scott Free Productions Distribuição: Paramount Pictures Exibição: nos cinemas Duração: 2h30 Classificação: 16 anos País: EUA Gêneros: ação, drama, épico
Gal Gadot retorna a seu papel de super-heroína e entrega
outra grande produção (Fotos: Clay Enos/ DC Comics)
Maristela Bretas
Patty Jenkins e Gal Gadot provam mais uma vez que duas
mulheres inteligentes e engajadas fazem a diferença. "Mulher-Maravilha
1984" não é mais um filme de super-heroína, mesmo com toda a ação, efeitos
visuais fantásticos, ótimas batalhas e grandes vilões. A famosa personagem que
usa um maiô dourado, vermelho e azul entrega um filme que explora sentimentos,
medos e, principalmente, desejos. Coisas comuns dos seres humanos, mas que agora
atingem uma das maiores guerreiras de Themyscira.
A esperada produção apresenta um equilíbrio pouco visto nos
demais personagens da DC Comics, com a Mulher-Maravilha novamente interpretada
pela bela e carismática Gal Gadot, dividindo o espaço quase que em igualdade
com seus dois arqui-inimigos: Mulher-Leopardo (Kristen Wiig) e Max Lord (Pedro
Pascal). Difícil dizer quem está melhor.
Não espere ver apenas lutas da heroína contra os excelentes
vilões. O forte de todo o enredo é o desejo, para o bem ou para o mal, que move
o ser humano. Diana Prince, mesmo sendo uma semideusa não escapa de sucumbir a
seu mais profundo desejo - o de ter de volta seu grande amor, Steve Trevor
(Chris Pine), morto na 1ª Grande Guerra ("Mulher-Maravilha”- 2017).
E é assim que os fãs vão poder ver o belo e apaixonado casal
junto novamente. Mas como Superman, Trevor é a criptonita de Diana. O público
vai conhecer também a mulher fragilizada e quase sem poderes, capaz de sangrar
e de se ferir, mas nunca de deixar de amar seu piloto e a humanidade, por pior
que ela seja.
Se uma guerreira não resiste a ter um desejo realizado, não
seriam os pobres mortais como Bárbara Minerva (Kristen Wiig) e Maxwell Lord
(Pedro Pascal) que ficariam ilesos. E tudo isso graças a uma misteriosa pedra
do passado. E não só eles, mas todos que são expostos a ela.
Wiig (de "Perdido em Marte" - 2015 e
"Caça-Fantasmas" - 2016) arrasa na transformação de Bárbara, uma
pesquisadora desleixada e quase invisível ao mundo numa poderosa e atraente
mulher, mas sem sentimentos. Para depois se tornar a Mulher-Leopardo, com
poderes semelhantes aos da Mulher Maravilha. Ela está demais, sem ser caricata.
Mas é em Pascal que estão concentradas todas as ações do
filme e ele entrega um vilão excelente, sem ser caricato. O ator, conhecido por
papéis em sucessos como as séries "Narcos" (2015 a 2017), da
@Netflix, e "The Mandalorian", em exibição na @Disney+, interpreta o
empresário de boa lábia, mas falido que se torna o homem mais poderoso do
mundo. Ele muda comportamento e feições, sem alterar sua aparência ou usar
fantasia, como acontece com muitos vilões dos quadrinhos. Seu mal é interior,
faz parte da essência dos seres humanos - a ganância.
O filme traz de volta também duas grandes atrizes do
primeiro filme - Robin Wright, como Antíope, e Connie Nielsen, a rainha
Hippolyta, mãe de Diana. Apesar da participação apenas no início, elas
representam os valores que vão guiar Diana por toda a sua vida e fazer a
diferença na luta contra os inimigos.
Mas e os efeitos visuais? Claro que estão bem presentes e
como era esperado, excelentes e com muita destruição, mas sem matança e sangue
jorrando. Uma característica da Mulher-Maravilha que, como ela mesma diz, não
gosta de armas. O laço dourado é seu aliado contra os bandidos. Tudo se resolve
com charme, um sorriso, uma piscada ou uma boa briga. Tem também perseguição
com tanque, só para ficar diferente.
A ótima trilha sonora foi acertadamente entregue ao grande
Hans Zimmer, responsável por sucessos como "Batman vs Superman - A Origem
da Justiça" (2016), que conta também com a Mulher-Maravilha no elenco,
"Dunkirk" (2017), "O Rei Leão" (2019) e outros inúmeros
sucessos para o cinema. Não poderia ficar de fora a música tema.
Gal Gadot está mais madura, segura de seu papel como super-heroína
e símbolo da força das mulheres. E encontrou em Jenkins, também roteirista do
filme, a parceira ideal para apresentar esta personagem inspiradas nos quadrinhos
da DC Comics. As duas também são produtoras do filme, juntamente com Zack e
Deborah Snyder e Charles Roven.
"Mulher-Maravilha 1984", assim como a primeira, é
outra grande produção e merece ser assistida no cinema, tomando as devidas
medidas de segurança: use máscara durante toda a exibição e não esqueça o
álcool gel antes e depois da sessão.
Ficha técnica: Direção: Patty Jenkins Distribuição: Warner Bros. Pictures Duração: 2h30 Classificação: 14 anos País: EUA Gêneros: Ação / Aventura /Fantasia Nota: 5 (de 0 a 5)