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04 junho 2025

"Bailarina" - Um novo banho de sangue do universo John Wick

Ana de Armas é a nova assassina que busca vingança contra os matadores de sua família (Fotos: Divulgação)
 
 

Maristela Bretas

 
Violento, com muitas cenas de lutas e um banho de sangue, como era de se esperar, "Bailarina - Do Universo de John Wick" ("From The World of John Wick: Ballerina") estreia nesta quarta-feira (4) nos cinemas trazendo de volta o estilo que marcou a franquia protagonizada por Keanu Reeves.

Encerrada em 2023, a saga conta ainda com a série "The Continental", lançada no mesmo ano e que está disponível no Prime Video, assim como todos os quatro filmes da franquia: "De Volta ao Jogo" (2014), "Um Novo Dia Para Matar" (2017), "Parabellum" (2019) e "John Wick 4: Baba Yaga" (2023).

A nova produção é um spin-off que tem Ana de Armas no papel principal de Eve Macarro, a nova assassina de aluguel. Ela é criada desde criança para ser uma bailarina pelas tradições da organização Ruska Roma enquanto aprende a arte de matar. Viu o pai ser morto e agora busca vingança contra aqueles que destruíram sua família. 


"Bailarina" se passa entre os longas "Parabellum" e "Baba Yaga". E como não poderia deixar de ser, aproveitando o sucesso do personagem, Keanu Reeves está presente, mostrando que John Wick ainda é capaz de atrair público para a saga. 

Pronunciando a mesma meia dúzia de palavras de sempre e dando muita porrada, mas num papel secundário, deixa o brilho para Ana de Armas.

O elenco traz boas surpresas e a participação de atores que marcaram a franquia, como Ian McShane (Winston Scott) e Lance Reddick (o concierge Charon), que faleceu pouco depois. 

Além de nomes conhecidos como Angélica Huston (diretora da escola de mercenários Ruska Roma), Gabriel Byrne (Chanceler) e Norman Reedus (o matador Pine).


Além da violência e dos ótimos efeitos visuais, "Bailarina apresenta Ana de Armas muito bem no papel da implacável Eve, repetindo as façanhas de Wick, com muitos tiros, facadas, explosões, não deixando em nada a desejar aos filmes da franquia. 

Ela seguiu o exemplo de Reeve e fez um treinamento físico intenso de quatro meses para interpretar, sem dublê, muitas das cenas de luta. 

De Armas transmite a fúria e a determinação da personagem com uma intensidade impressionante. Visualmente, "Bailarina" eleva o patamar da franquia. 

As sequências de ação são coreografadas com uma precisão impressionante, misturando a brutalidade dos combates corpo a corpo com a elegância dos movimentos de sua personagem.


As locações são também destaque do filme. Filmado em Budapeste (Hungria), Praga (República Tcheca), Áustria e Croácia, a produção entrega belíssimas paisagens e cenas eletrizantes gravadas em pontos turísticos conhecidos do Leste Europeu que surpreendem. É o caso de Hallstatt, um vilarejo austríaco cercado pelas montanhas cobertas de neve. 

Mesmo sendo um bom filme, que pode ser considerado o quinto da franquia, "Bailarina" passou por momentos delicados ao ter seu lançamento adiado por um ano. 

A direção é de Len Wiseman, mas segundo rumores da imprensa estrangeira, Chad Stahelski, que dirigiu os quatro filmes da saga, teria feito várias mudanças na primeira versão do longa, regravando muitas cenas para deixá-lo como está.


E foi um trabalho muito bem feito. A produção entrega uma experiência alinhada com o tom e o estilo estabelecidos pela franquia, sem parecer uma mera imitação. "Bailarina" expande o universo de John Wick, apresentando uma nova protagonista carismática que pode abrir a oportunidade para outros spin-offs continuarem dando fôlego à franquia. 

Só não é certa a participação de Reeves, como aconteceu neste, uma vez que o ator anunciou sua aposentadoria com "Baba Yaga" (será?). Se depender do desempenho de Ana de Armas, ela pode até se tornar a nova Baba Yaga em novas produções. 

Para os fãs de ação estilizada e narrativas de vingança implacáveis, "Bailarina" é um espetáculo imperdível.


Ficha técnica:
Direção: Len Wiseman
Produção: Lionsgate, Lakeshore Recirds
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h29
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: ação, suspense

03 junho 2025

“A Lenda de Ochi” uma fábula de pertencimento de espécies distintas

Helena Zengel é uma jovem que enfrenta todos para ajudar uma criatura mística bebê a reencontrar sua
família (Fotos: A24)
 
 

Marcos Tadeu
Parceiro do blog Jornalista de Cinema


Dirigido e roteirizado por Isaiah Saxon, está em cartaz no cinema o filme "A Lenda de Ochi" ("The Legend of Ochi"), produzido pelo estúdio A24, que conta com um elenco formado por Helena Zengel, Willem Dafoe, Emily Watson e Finn Wolfhard.

Conhecemos Yuri (Helena Zengel), uma jovem que desafia os medos de sua vila ao ajudar o filhote de um Ochi, uma criatura mística que aterroriza a região. Ao atravessar a floresta, ela descobre um mundo mágico e aprende sobre coragem, empatia e conexão com a natureza.


O ponto mais forte do filme está na rivalidade entre humanos e os Ochi. Segundo a lenda, eles são criaturas demoníacas, caçadoras, piores que lobos. Tudo muda quando Yuri, a única menina da vila, encontra um Ochi bebê e assume o risco de cuidar dele e levá-lo para casa. 

É interessante como a protagonista e a criaturinha aprendem a se comunicar e desenvolvem uma linguagem própria. Ambos precisam dessa noção de pertencimento: mesmo morando com o pai, Yuri não se sente parte da família e sofre com a ausência da mãe, enquanto o pequeno Ochi sente falta da sua família como um todo.


O antagonismo surge em Maxim (Dafoe), o pai, que, vestido com roupas de soldados antigos — armadura, escudo e faca —, faz de tudo para manter vivo dentro de casa o ódio pela criatura. Ele escolhe sempre a intolerância e impõe sua autoridade quase como um militar. A violência e o silêncio são suas formas de controle, e fica evidente que Yuri é maltratada por ele.

Tecnicamente, o longa é um deleite visual. A fotografia de Evan Prosofsky valoriza as paisagens, as criaturas, o universo fantástico e um ar meio vintage que ajuda a contar a história. A trilha sonora de David Longstreth reforça o tom intimista e sombrio do lugar, mas com uma camada emocional afetiva. 


A montagem de Paul Rogers é lenta, gradual, sem pressa e eficaz em seu ritmo. Aos poucos, ele revela quem são os personagens e, principalmente, mostra suas transformações. A evolução deles acontece por meio das ações. 

Aqui, o diretor está mais interessado em fazer um cinema independente e experimental do que em aprofundar a história tradicional.

É impossível assistir ao filme sem lembrar de criaturas encantadoras que sempre aparecem para ensinar algo, como os Gremlins, os Goonies, Stitch e, especialmente, E.T. (há cenas que chegam quase a ser uma cópia do sucesso de Steven Spielberg). 

Há também um forte conflito geracional, e essas figuras mágicas ajudam os personagens humanos a enxergar novos caminhos.


Talvez o maior ponto fraco do filme seja a falta de aprofundamento no passado de Maxim. O que o transformou nesse homem autoritário? Como era sua vida familiar antes de se tornar essa figura armada e amargurada? São perguntas que ficam em aberto.

A "Lenda de Ochi" é uma fábula sobre ligação entre espécies distintas, contada de forma contundente, direta ao ponto. O filme diverte e faz pensar sobre quem escolhemos como família e qual lugar ocupamos no mundo.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Isaiah Saxon
Produção: Estúdio A24
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: Cinemark Diamond Mall
Duração: 1h36
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: aventura, fantasia

25 maio 2025

"Manas" – Um retrato doloroso e cruel de uma Ilha de Marajó exuberante

Destaque para a atuação de Jamilli Correa, como Marcielle, uma jovem sensível e corajosa, forçada a amadurecer antes da hora (Fotos: Divulgação)


Marcos Tadeu
Parceiro do blog Jornalista de Cinema


O longa-metragem de ficção de Marianna Brennand fez barulho nos festivais de Veneza e São Paulo e está em exibição no Cine Una Belas Artes, em BH. Com delicadeza e firmeza, o filme coloca o dedo na ferida da violência sexual presente na Ilha de Marajó, trazendo à tona um ciclo cruel que atravessa gerações de mulheres.

A protagonista Marcielle (Jamilli Correa), uma garota de 13 anos, vive numa realidade marcada pelo machismo e pela violência que fazem parte do cotidiano da periferia ribeirinha. 


Com a partida da irmã mais velha, Claudinha, Marcielle começa a perceber com mais nitidez os padrões de opressão que se repetem dentro de sua família. Cabe a ela agora, proteger a irmã mais nova e tentar romper com esse destino, tão comum quanto brutal.

Um dos grandes destaques do filme é a atuação de Jamilli Correa, que entrega uma personagem sensível e corajosa, forçada a amadurecer antes da hora. Marcielle, aos poucos, entende por que a irmã mais velha se afastou da família e passa a desconfiar da “troca” que os homens da comunidade parecem exigir constantemente das mulheres.


A direção de Marianna Brennand é cuidadosa e, ao mesmo tempo, incisiva. Ela denuncia as violências e o tráfico infantil nessas comunidades sem expor as meninas ou recorrer a cenas gráficas. 

Pelo contrário: é no silêncio, nos olhares, nos gestos e nos não ditos que o filme se torna mais poderoso. A brutalidade não precisa ser mostrada diretamente — ela é sentida.

Em uma das cenas mais simbólicas, o pai (interpretado por Rômulo Braga) convida a filha para caçar. A sequência, carregada de tensão, coloca a menina como presa e o pai como predador — uma metáfora que resume o desequilíbrio de poder e o perigo constante vivido por essas garotas. A atuação de Braga, aliás, é marcante por essa ambiguidade: um homem de aparência gentil, mas profundamente hostil.


O filme também explora com beleza as paisagens da Ilha de Marajó — rios, matas, o verde intenso do Pará e da Amazônia — criando um contraste entre o paraíso natural e a vida dolorosa das meninas que ali habitam. 

Dira Paes, como a policial Aretha, tem um papel que cresce com força do segundo para o terceiro ato, representando uma mulher que tenta proteger as demais ao denunciar os abusos e incentivar a quebra do ciclo. O elenco conta ainda com Fátima Macedo (como Danielle, mãe de Marcielle), atores e atrizes locais da região.


Até mesmo a religião, muitas vezes vista como acolhimento, é retratada de maneira crítica. Em "Manas", a igreja aparece como espaço que incentiva as mulheres a "lidarem com a dor em casa", perpetuando o silêncio e a submissão. 

A cena em que Marcielle e outras meninas dançam ao som de “Conquistando o Impossível” é simbólica: um pedido de socorro camuflado de fé e esperança.


Talvez o longa pudesse se aprofundar um pouco mais nos antecedentes do pai, explorando como a violência masculina se reproduz entre gerações e no próprio tecido social da comunidade. Ainda assim, isso não compromete a força da narrativa.

"Manas" é um filme necessário, feito com respeito, cuidado e precisão. Ele denuncia o que precisa ser dito, mas sem expor as feridas — nos mostrando que até o silêncio carrega gritos. Um longa que fala com mulheres que vivem essa realidade, e com todos nós que precisamos ouvi-las.


Ficha técnica:
Direção: Marianna Brennand
Produção: Inquietude, em coprodução com Globo Filmes, Canal Brasil, Prodígio e Fado Filmes (Portugal)
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: Cine Una Belas Artes - sala 2 - sessão 18 horas
Duração: 1h46
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gêneros: drama, ficção

23 maio 2025

Caótico como ela, o documentário "Ritas" decepciona e não sai do lugar comum

Produção traz a última e inédita entrevista da artista, e registros feitos pela própria (Fotos: Biônica Filmes)
 
 

Mirtes Helena Scalioni

 
O que faz a diferença num documentário? Primeiramente, as entrevistas e imagens inéditas, principalmente quando o filme for sobre alguém muito conhecido. Só que esse não é o caso de "Ritas", sobre a nossa rainha do rock, com direção de Oswaldo Santana.

O longa entrou em cartaz nos cinemas no dia 22, quando se celebra o "Dia de Rita Lee" na cidade de São Paulo e pode ser conferido em BH no Centro Cultural Unimed-BH Minas, Cine Una Belas Artes e Cinemark Pátio Savassi.


Estão lá a eterna irreverência e desobediência da ovelha negra, a entrada - e saída traumática - dos Mutantes, o casamento certinho com Roberto de Carvalho, tudo entremeado com velhos e manjados clipes. Novidade nenhuma.

Se fosse possível apontar uma característica de "Ritas", talvez essa seja o tom meio blasée com que tudo é mostrado e narrado. Nada de novidades ou de surpresas, já que a vida da cantora foi exaustivamente exposta e comentada assim e ela morreu, em 8 de maio de 2023.


Quem sabe o documentário surtisse outro efeito se tivessem esperado mais tempo para lançá-lo, permitindo que o público sentisse saudade da artista. O longa é inspirado na autobiografia publicada por Rita Lee em 2016 e é ela também quem narra a história. Por enquanto, tudo parece extremamente óbvio.

Outro problema do filme são as muitas idas e vindas. Os clipes, recortes e entrevistas não obedecem a uma ordem cronológica, misturando temas como bichos de estimação, apresentação com Gilberto Gil, shows polêmicos, recantos da casa onde ela morou, infância, censura, plantas, doença, misticismo. Tudo na mais absoluta desordem. Chega a cansar. 


E olha que Oswaldo Santana trabalhou na montagem de outros filmes, entre eles, "Tropicália" (2012), "Bruna Surfistinha" (2011), e  "Tremores Urbanos" (2019). E também atuou como roteirista do longa "Ouvidor" (2023). "Ritas" é sua primeira produção como diretor. 

Como há outro documentário sobre a estrela, "Rita Lee: Mania de Você" de Guido Goldemberg, em cartaz no canal Max, a comparação é inevitável. Não que seja uma obra-prima, mas o filme do streaming é mais surpreendente e organizado do que "Ritas". 

Ele revela mais a intimidade da cantora, com participação de familiares e amigos, dando voz a artistas importantes como Gilberto Gil e Ney Matogrosso contando histórias. Convém assistir. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Oswaldo Santana e Karen Harley
Produção: Biônica Filmes em coprodução com a 7800 Productions e Claro
Distribuição: Paris Filmes e codistribuição Biônica Filmes
Exibição: Cine Una Belas Artes - sala 2; Centro Cultural Unimed-BH Minas, sala 2; e Cinemark Pátio Savassi, sala 8
Duração: 1h22
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gênero: documentário

01 maio 2025

"Homem com H" faz brilhar na telona a inventividade e a coragem de Ney Matogrosso

Jesuíta Barbosa encarna os olhares e trejeitos do cantor de forma quase perfeita (Fotos: Marina Vancini) 
 
 

Eduardo Jr.

 
Estreia nos cinemas, neste dia 1º de maio, a cinebiografia do homem que ousou ser livre: Ney Matogrosso. Distribuído pela Paris Filmes, "Homem com H", longa escrito e dirigido por Esmir Filho, expõe na telona a vida e a formação de um dos maiores artistas do Brasil e dono de uma das mais belas vozes do mundo. 

A apresentação do artista com uma sequência de imagens que o compara a um bicho se mostra acertada. O próprio Ney se define assim, em alguns momentos. Quando menino, ao se ver diferente dos irmãos, buscava se encontrar. 


No entanto, o caminho foi difícil, o único apoio vinha da mãe Beita (interpretada por Hermila Guedes). O maior dos obstáculos era a figura do pai (vivido por Rômulo Braga), um militar conservador e violento, que não tolerava os dons artísticos do jovem e dizia que não queria um filho gay.    

Sob a condução de Esmir fica fácil uma identificação com histórias da vida real. O público pode encontrar, inclusive, elementos que expliquem a dureza do pai, a conduta de colegas de banda e ‘otras cositas más’. 


Em uma das cenas, Ney sai de casa de cabeça em pé, dizendo ao pai que não era viado, mas que, quando fosse, o Brasil inteiro iria saber. Começava ali a trajetória de descobertas e autoconhecimento de Ney Pereira da Silva, que mais tarde se tornaria Ney Matogrosso. 

A direção mostra a passagem do artista pela Aeronáutica (isso mesmo, Aeronáutica). E curiosamente, naquele ambiente castrador, Ney viveu um amor platônico. Foi na corporação que ele se reconheceu e vislumbrou uma autoaceitação. 


Ao sair dali foi que se deparou com o que o destino reservava: a morte do jovem para se tornar, então, o homem com H dos dias atuais, além do contato com o artesanato. 

A atividade permitiria posteriormente a ele criar alguns de seus próprios acessórios e figurinos - que inclusive foram utilizados por Jesuíta Barbosa (que encarna os olhares e trejeitos de Ney de forma quase perfeita). 


A interpretação elogiável de Jesuíta vai além do trabalho de corpo. Se deve também a uma impetuosidade que o ator imprime e que adere à personalidade do cantor, já conhecida por entrevistas e posicionamentos ao longo da vida. 

No entanto, o biografado não é força bruta o tempo todo. A sensibilidade se apresenta no longa, entre outras coisas, pela insegurança do cantor em certas escolhas, enquanto a classe artística via nele uma potência que o próprio Ney parecia não se dar conta.  


O público ganha uma forcinha para comprovar que certos artistas, quando em cena, crescem. A câmera faz questão de mostrar, nas primeiras apresentações da banda que se tornaria o fenômeno Secos e Molhados, que as provocações do público faziam Ney Matogrosso se agigantar no palco. 

Uma demonstração metafórica da força do artista que, desde cedo, sabia o que estava fazendo e o quão poderosa era sua liberdade. E claro, tem muito brilho, 'sex appeal' e atuações provocativas.  


A liberdade para o amor também marca presença no longa. A tão falada relação entre Ney e Cazuza (papel de Júllio Reis) também é apresentada, mas vestida de forma mais robusta de sentido se em comparação com as demais obras que já abordaram essa passagem da vida de Ney. 

Mais clara também é a abordagem de um dos relacionamentos mais importantes da vida de Ney. O namoro com o médico que traz para o longa um recorte do drama da AIDS nos anos 1980 e a incredulidade de Ney Matogrosso sobre nunca ter se contaminado (algo que o cantor já mencionou em diversos depoimentos). 


Não dá pra deixar de destacar a riqueza desta produção - em diversos aspectos. Alguns dos figurinos utilizados em cena não são réplicas, e sim peças originais, garimpados no acervo do cantor e que serviram com perfeição no corpo de Jesuíta Barbosa. 

Ney Matogrosso gravou canções para que Jesuíta dublasse. Como na cena do coral e a versão de “O Mundo é Um Moinho” - que provocam arrepios, tamanha a qualidade vocal registrada. 


Gostar ou não do artista pode ser algo muito particular - e como devem ter notado, este que vos fala, gosta. Mas independente disso, ir aos cinemas assistir "Homem com H" é, além de mais uma chance de privilegiar o cinema nacional, uma oportunidade de conhecer e entender um pouco mais sobre um personagem importante da história da música brasileira. 

Porque, pra fazer o que Ney Matogrosso fez e vem fazendo até aqui, com seus 82 anos, só sendo um homem com H maiúsculo. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro:
Esmir Filho
Produção: Paris Entretenimento
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h09
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gêneros: drama, documentário

23 abril 2025

"Looney Tunes - O Filme: O Dia que a Terra Explodiu" eleva o caos clássico a uma escala cósmica

Gaguinho e Patolino estão de volta, agora com novos amigos para tentarem salvar o planeta de um extraterrestre (Fotos: Warner Bros. Animation)
 
 

Maristela Bretas

 
"Looney Tunes - O Filme: O Dia que a Terra Explodiu" ("The Day the Earth Blew Up: A Looney Tunes Movie"), que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (24) traz de volta a inconfundível dupla Gaguinho e Patolino (ambos dublados por Eric Bauza) para uma aventura que expande a tradicional loucura dos desenhos animados para proporções galácticas. 

A animação nos leva desde a infância dos icônicos personagens em uma fazenda até a vida adulta, com o comportamento de Patolino sempre resultando num caos completo e a constante tentativa de Gaguinho de consertar as situações, reforçando a marca registrada da dupla. 


A introdução da super cientista Petúnia (dublada por Candi Milo), uma porquinha que vai fazer o coração do Gaguinho disparar e também adicionar uma nova dinâmica ao time, que se une para a nobre missão de salvar o planeta de um invasor alienígena (voz de Peter MacNicol).

O filme abraça sem pudor a essência dos Looney Tunes, entregando uma avalanche de gritaria, explosões e ferramentas ACME (marca registrada dos desenhos), perseguições frenéticas e aquele humor físico e sem noção que definiu gerações. Ao mesmo tempo, reforça a importância da amizade e da confiança.


Para os fãs de longa data, a familiaridade com esse formato é, sem dúvida, um dos grandes atrativos. A animação não tenta reinventar a roda, mas sim entregar uma dose concentrada daquela loucura adorável que consagrou Pernalonga e sua turma.

"Looney Tunes: de Volta à Ação" serve como um lembrete do histórico da franquia em transitar para a tela grande, misturando a animação característica com elementos do mundo real. 


Bons exemplos disso são dois sucessos no cinema em que a turma contracenou com personagens reais: "Space Jam: O Jogo do Século" (1996), com a presença do astro Michael Jordan, e "Space Jam: Um Novo Legado (2021), com a também estrela do basquete, LeBron James.

Embora o diretor Peter Browngardt tenha optado por uma abordagem puramente animada, a comparação mostra que os Looney Tunes ainda mantêm um público cativo. Ideal para quem busca uma experiência nostálgica e quer relembrar o humor despretensioso, barulhento e divertido dos famosos lunáticos.


"O Dia que a Terra Explodiu" não chega a proporcionar gargalhadas, tem uma história comum, não muito diferente de outras animações com estes personagens. 

Mostra que a fórmula de muita gritaria e explosões ainda funciona, com o foco principal no humor físico e nas situações absurdas, em detrimento de um enredo mais elaborado. 

"Looney Tunes - O Filme: O Dia que a Terra Explodiu" é uma celebração da anarquia clássica, em proporções cósmicas e politicamente incorreta que os fãs da franquia tanto apreciam. Um convite para desligar o cérebro e se divertir com as palhaçadas de Gaguinho, Patolino e seus novos amigos.


Ficha técnica:
Direção: Peter Browngardt
Produção: Warner Bros. Animation
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h31
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: aventura, animação, comédia, família

16 abril 2025

Emocionante e perturbador, "A Mais Preciosa das Cargas" faz o coração bater mais forte

Ambientado durante a 2ª Guerra Mundial, animação trata de humanidade e amor ao próximo, contrastando com a dor e a crueldadedo ser humano (Fotos: StudioCanal)
  
  

Maristela Bretas

 
Impactante, sensível, arrebatadora. São alguns dos adjetivos para descrever um pouco a animação "A Mais Preciosa das Cargas" ("La Plus Précieuse Des Marchandises"). O coração bate mais forte e as lágrimas descem pelo rosto já no início do filme, que estreia nesta quinta-feira (17), em versão legendada, no Cinemark Pátio Savassi. O que posso garantir é que dificilmente quem assistir não sairá tocado pela história.

O drama se passa durante a 2ª Guerra Mundial, em um lugar isolado no meio de uma floresta, durante o rigoroso inverno da Europa Central. O frio e a fome são constantes na vida dos poucos moradores, como o humilde lenhador e sua esposa (vozes de Grégory Gadebois e Dominique Blanc). A única distração desta vida dura, cercada pelo conflito armado, é a passagem diária de um trem que corta a mata em alta velocidade, sem nunca parar. 


Até que um dia, a mulher escuta o choro de um bebê atirado de um dos trens e o encontra em meio ao gelo. Ela resolve ficar com a criança, mesmo contra a vontade do marido que a considera amaldiçoada por pertencer aos chamados "sem coração" que ocupavam os trens. 

O que o casal não imaginava era que este bebê iria mudar por completo suas vidas. E que eles seriam capazes de tudo para protegê-la da desumanidade do mundo.

Baseada no conto homônimo escrito por Jean-Claude Grumberg e que no Brasil foi publicado como "A Mercadoria Mais Preciosa", a animação brilha em todos os sentidos ao abordar o amor materno, humanidade, dor, sofrimento, guerra e, especialmente, o holocausto.


A narrativa começa trazendo as questões da solidão, da pobreza e do isolamento em meio à guerra. O pouco que o casal consegue conquistar com a lenha vendida mal dá para alimentá-los. E o pouco de luxo, como uma cabra que produz leite, é algo a ser escondido de todos. 

Os diálogos do casal são curtos e diretos, com uma carga pesada de dor e rancor contra o mundo externo e as perdas diárias. Sem acesso à informação correta do que ocorre além da floresta, consideram todos inimigos. Mas por mais dura que seja a realidade, o lenhador e sua esposa ainda conseguem resgatar o pouco de humanidade que ainda resta em suas vidas com a chegada do bebê. 

O "serzinho" fofo, de bochechas rosadas, jogado do trem e encontrado enrolado num cobertor (que vai dar a primeira dica direta da temática da história) será capaz de amolecer o mais duro dos corações com seu olhar e gargalhadas. E mostrar ao velho e rabugento lenhador que nem todo mundo que está no trem é um "sem coração".


Além do casal, outro personagem que tem importante papel na trama é o também morador da floresta e dono da cabra conhecido como o homem do rosto quebrado, na voz de Denis Podalydès. Ele e Dominique Blanc são atores do Comédie-Française. A narração do conto, em francês, foi entregue a ninguém menos que o famoso ator francês Jean-Louis Trintignant.

Outro ponto que mexe com os sentidos do espectador é a parte gráfica. O diretor emprega um traço leve e cores pastéis que variam do cinza e branco da neve, aos tons mais escuros e carregados como a escuridão da floresta ou das luzes de velas que mal iluminam a casa do lenhador. 

Até mesmo a passagem do trem reforça a escuridão do ambiente e da narrativa, especialmente pela fumaça preta de suas chaminés e seu aspecto sombrio, sem indicar o tipo de carga que transporta.


Ao mesmo tempo em que a escuridão é parte da composição para tornar o ambiente sombrio e preparar para o rumo que vai tomar a narrativa da metade para frente, ela também atrapalha. A cópia que assisti estava tão escura em algumas partes que mal dava para distinguir a cena. No cinema a situação deverá ser diferente. 

Talvez o propósito do diretor Michel Hazanavicius e do escritor Jean-Claude Grumberg, que atuou como roteirista, seja exatamente mostrar quão sombrio, cruel e desumano foi este período da história: o massacre de judeus nos campos de concentração. 

O diretor soube fazer uma abordagem equilibrada do tema Holocausto, chamado pelos judeus de Shoah, para que fosse compreensível para todas as idades. Usou uma linguagem simples e sensível, ilustrada com imagens gráficas de cenas marcantes da história. Emprega o preto e branco em momentos críticos, além de diálogos repletos de ódio e ignorância, que contrastam com momentos de amor e ternura de uma família simples. 


Mas o que seria de uma narrativa sem uma boa trilha sonora. A animação não deixou por menos e o responsável, Alexandre Desplat, incluiu obras como "La Berceuse" (Schluf Je Iedele), e "Chiribim, Chiribom", ambas interpretadas em iídiche, idioma usado pelos judeus da Europa Central.

Assistir à animação foi capaz de me fazer retomar o bom e velho hábito da leitura, abandonado há tempos pela correria diária. Por indicação da amiga e grande colaboradora, Carolina Cassese, que leu o livro e também viu o filme, acabei comprando a obra. 

"A Mais Preciosa das Cargas" é imperdível, para ser vista com o coração e um lencinho do lado. Certeza de muita emoção, o longa é merecedor de todos os prêmios de cinema que vier a concorrer este ano.


Ficha técnica:
Direção, criação gráfica dos personagens e montagem: Michel Hazanavicius
Roteiro: Michel Hazanavicius e Jean-Claude Grumberg
Produção: Ex Nihilo, Les Compagnons Du Cinéma, com coprodução de StudioCanal, France 3 Cinéma, Les Films Du Fleuve, Radio Télévision Belge Francophone (RTBF)
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: Cinemark Pátio Savassi
Duração: 1h21
Classificação: 12 anos
Países: França e Bélgica
Gêneros: animação, drama, história

03 abril 2025

"Desconhecidos", um suspense brutal que revela a reviravolta antes da hora

Willa Fitzgerald é a jovem caçada por um homem misterioso após uma noite de sexo (Fotos: Paris Filmes)


Maristela Bretas


"Desconhecidos" ("Strange Darling"), suspense do diretor e roteirista J.T. Moliner, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, mergulha o espectador em uma perseguição implacável de um desconhecido a uma jovem, com momentos de terror e violência extrema. 

Após um encontro aparentemente casual e uma noite de muito sexo, Lady, papel de Willa Fitzgerald, se vê implacavelmente caçada por um homem (Kyle Gallner) com intenções sinistras. 

Paralelo a isso, a polícia está à procura por um serial killer que já matou várias pessoas pelo país com requintes de crueldade e que consegue fugir deixando um banho de sangue por onde passa.


Gostou da premissa? Mas ela pode mudar completamente. A trama é contada em capítulos intercalados, formando um flashback confuso inicialmente, mas que vai ganhando consistência à medida que avança. 

A crescente sensação de perigo é palpável desde os primeiros momentos. E as cenas de violência e caçada aumentam o suspense e a dúvida: quem é o gato e quem é o rato?

No entanto, a narrativa dá uma escorregada ao entregar muito cedo ao público a principal reviravolta da história. Essa revelação precoce pode ter sido intencional por parte do diretor para adicionar uma camada de tensão dramática, mas acaba por minar significativamente o impacto da história. 


O que poderia ser uma surpreendente guinada nos acontecimentos se torna uma mera confirmação do que já se suspeitava, reduzindo o mistério envolvendo os protagonistas. 

O filme só não se torna desinteressante graças às cenas de suspense e violência, construídas com competência, utilizando a trilha sonora e a cinematografia para criar uma atmosfera ameaçadora. São cenas cruas e impactantes que podem chocar o espectador.


A atuação de Willa Fitzgerald, mais conhecida por sua participação em várias séries de TV, também é outro trunfo de "Desconhecidos". A atriz entrega uma interpretação muito convincente como a jovem aterrorizada, carregando grande parte da carga emocional da narrativa. 

Ela consegue transmitir bem a angústia e o desespero da protagonista, tornando sua luta pela sobrevivência envolvente, mesmo quando o roteiro vacila. E ainda conta com um sucesso dos anos de 1970 para embalar sua personagem - "Love Hurts", da banda Nazareth.


Participam também do elenco Barbara Hershey, Ed Begley Jr., Jason Patric, entre outros.

"Desconhecidos" tem uma premissa interessante e a promessa de uma reviravolta cria expectativa. Contudo, a decisão de revelar cedo demais o plot twist principal enfraquece a experiência geral. 

Mesmo assim, o terror e o suspense são eficazes, e fazem com que o público espere por um final tão tenso quanto foi o restante da trama, mesmo que a surpresa tenha chegado antes da hora.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: J.T. Moliner
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h36
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: terror, suspense

17 março 2025

"Parthenope - Os Amores de Nápoles": estranho, mas belo e comovente

A protagonista, que dá nome ao longa, é interpretada pela modelo Celeste Dalla Porta a partir da adolescência (Fotos: Paris Filmes)


Mirtes Helena Scalioni


Impossível sair impune depois de assistir a "Parthenope: Os Amores de Nápoles", não por acaso um filme que tem sua origem na Itália, não por acaso a terra das artes e da beleza. Em uma direção tão peculiar quanto estranha, o não por acaso napolitano Paolo Sorrentino ("A Mão de Deus" - 2021) mistura mitologia, moralidade, filosofia, maternidade, hipocrisia, tempo, religião, academicismo, antropologia, suicídio e alguma bizarrice para fazer um recorte na vida da bela Parthenope, jovem que, de certa forma, carrega a própria beleza quase como um fardo. 


A personagem é interpretada pela modelo Celeste Dalla Porta e, na maturidade, por Stefania Sandrelli. A jovem carrega em seu nome a lenda mitológica da sereia que dá origem ao nome da cidade de Nápoles. Ela usa a sedução para conquistar os homens ao seu redor, incluindo os proibidos.

Junte-se a tudo isso, paisagens deslumbrantes daquela região, com suas praias e rochas, além de exploração quase abusiva de belos corpos expostos ao sol - às vezes lembrando peças de propaganda. 

Para completar, uma trilha sonora que inclui "Gira", um samba-batuque do Trio Ternura de 1973; "My Way", na voz inconfundível de Frank Sinatra, e, claro, lindas canções italianas embalando casais em noites enluaradas.


No que você está pensando? Essa é a pergunta mais frequente do filme, que acompanha a trajetória de Parthenope em busca não só de uma carreira acadêmica como professora de Antropologia, mas também de respostas para a própria vida. 

Enquanto estuda e se diverte, ela convive com o cínico escritor norte-americano John Cheever, vivido por Gary Oldman, e seu professor e orientador da faculdade, Devoto Marotta, interpretado por Silvio Orlando.


Misterioso e, às vezes, irônico, o longa, roteirizado pelo próprio Sorrentino, é repleto de frases de efeito, como se o objetivo fosse confundir o espectador ou - quem sabe - fazê-lo pensar. A heroína, nascida na década de 1950, é libertária e dona absoluta da própria vida. 

Mas ela carrega uma culpa pela morte do irmão Raimondo (Daniele Rienzo) com quem mantinha uma relação incestuosa e dividida com o amigo de infância Sandrini (Dario Aita).

Nápoles é, de certa forma, uma personagem do filme com seus conflitos e dualidades. Além das paisagens enfatizando um azul profundo do mar, não faltam ruelas, casebres, gente feia e miséria. 


Em certo momento, a diva do cinema Greta Cool (Luisa Ranieri), em discurso que parece ser a inauguração de um navio, decreta, com todas as letras: "Vocês, napolitanos, são deprimidos e não sabem. São pobres, desgraçados e retrógrados e se orgulham disso". 

Estão ainda no elenco, em participações ao redor de Parthenope, Antonino Annina como Raimondo criança, Rivardo Copolla como Sandrino criança, Peppe Lanzetta, no papel do bispo, entre outros nomes do cinema italiano.


Outro personagem forte do filme é o cigarro, constantemente nas mãos e bocas de quase todos os personagens, sejam eles velhos ou jovens. Há quem enxergue traços até de Fellini em "Parthenope: Os Amores de Nápoles". 

Teatral e fantasioso, o longa de Paolo Sorrentino pode chocar com suas bizarrices, causando inevitável estranhamento no espectador. Mas, certamente, o público vai sair do cinema bastante comovido. Além de cheio de perguntas.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Paolo Sorrentino
Produção: Pathé Films, A24, FremantleMedia, The Apartment Pictures
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h17
Classificação: 16 anos
País: Itália
Gêneros: drama, romance, fantasia