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| Keanu Reeves interpreta um anjo insatisfeito com seu trabalho que quer mudar a vida de seus protegidos (Fotos: Lionsgate) |
Maristela Bretas
Para quem curte uma comédia leve sobre caos celestial, crise existencial, duas pessoas vivendo situações sociais opostas e um anjo cheio de boa vontade, mas atrapalhado, vale conferir “Quando o Céu se Engana” ("Good Fortune"), que estreia nesta quinta-feira (6) nos cinemas.
No filme, Keanu Reeves troca as armas e os ternos de John Wick por asas, ainda que pequenas e um tanto amassadas. Ele interpreta Gabriel, um anjo da guarda "basiquinho", encarregado de proteger motoristas distraídos que insistem em checar o celular enquanto dirigem por Los Angeles. É uma função burocrática, repetitiva e desinteressante para alguém que sonha com promoções celestiais.
Cansado de salvar motoristas distraídos e de preencher relatórios espirituais sobre “intervenções mínimas”, Gabriel decide provar que pode fazer mais. O problema é que, ao tentar “melhorar” a vida dos humanos que protege, ele bagunça completamente o sistema celestial — e a vida de dois homens na Terra.
O primeiro é Arj, vivido por Aziz Ansari, que também assina o roteiro, a direção e a produção do longa. Ele é um cara honesto, espirituoso, mas completamente sem sorte — dorme no carro, vive de bicos e tenta manter a dignidade em meio à precariedade moderna. Com tantos pontos contra, Arj não vê sentido para sua vida e Gabriel acompanha tudo isso com preocupação.
O segundo protegido é Jeff, interpretado por Seth Rogen, um milionário superficial que tem tudo, mas vive entediado e não se preocupa com o mundo normal, apenas como seus carros importados e banhos especiais.
Em um momento de “excesso de zelo celestial”, Gabriel decide trocar as vidas dos dois para que saibam as dificuldades e os prazeres que suportam. Arj acorda na mansão de Jeff, e este, em pânico, se vê vivendo em um carro velho, cheiro de batata frita fria e tendo de procurar empregos de baixa remuneração para sobreviver.
“Quando o Céu se Engana” é uma comédia de erros divina em que as boas intenções de Gabriel podem levá-lo a uma reavaliação profissional por parte de sua chefe, Martha, interpretada por Sandra Oh. A ponto de ele precisar viver as dificuldades de ser humano.
Humor afiado com toque filosófico
Aziz Ansari acerta ao equilibrar comédia absurda com reflexão existencial. A troca de corpos, um clichê clássico do cinema, aqui ganha novas camadas:
- O rico descobre o valor das pequenas coisas;
- O pobre percebe que o dinheiro pode ser uma prisão disfarçada;
- E o anjo percebe que talvez os humanos não precisem de salvação, mas de empatia.
O humor é rápido, inteligente e muitas vezes autodepreciativo. A cena em que Gabriel tenta “corrigir” a confusão usando um aplicativo de mensagens para anjos é puro caos tecnológico celestial — com Keanu Reeves entregando uma das atuações mais cômicas (e estranhamente doces) de sua carreira.
Crítica social com boas risadas
O longa também fala sobre classes sociais, culpa, ego espiritual e a eterna busca humana (e divina) por propósito. Ansari faz humor com a desigualdade sem parecer cínico, e Reeves traz um anjo confuso, frustrado e adorável — quase um funcionário público do além.
Seth Rogen, por sua vez, interpreta o milionário Jeff com aquele equilíbrio perfeito entre arrogância e ingenuidade, tornando sua “queda terrena” uma das partes mais divertidas do filme.
Keanu Reeves prova que pode ser engraçado sem perder a alma, Aziz Ansari reafirma seu talento como contador de histórias. “Quando o Céu se Engana” é uma comédia leve, espirituosa e cheia de coração, que lembra o público de que errar — mesmo no céu — faz parte do aprendizado. Entrega exatamente o que promete: uma bagunça divina com coração humano.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Aziz AnsariProdução: Lionsgate
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h39
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gênero: comédia











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