06 setembro 2016

"Aquarius" é uma história de coragem e resistência

Com atuação emocionante e encantadora de Sônia Braga, ótimo elenco e uma história de coragem, "Aquarius" tem ganhado aplausos por todo o Brasil (Fotos: SBS Distribution)

Mirtes Helena Scalioni


Uma boa história, um roteiro enxuto, uma causa nobre, uma direção correta, alguma polêmica, ótimos atores. "Aquarius" tem tudo isso para ser considerado um filmaço, mas tem mais. Tem Sônia Braga encabeçando o elenco, atuando de um jeito tão encantador e com tanta naturalidade, que o espectador até se esquece de que se trata de um personagem. O encontro da atriz com o pernambucano Kleber Mendonça Filho, o diretor e roteirista do longa, é desses acontecimentos que devem ser comemorados. Não acontecem todo dia.

A polêmica fica por conta da atitude do elenco que, ao subir ao palco do Festival em Cannes, exibiu cartazes onde se lia "Fora Temer". Daí em diante, foi uma sucessão de ti-ti-tis e bate-bocas, quase uma queda de braço entre a produção e o atual Ministério da Cultura, que emplacou uma censura 18 anos ao longa, sob alegação de que "tem cena de sexo explícito".

O exagero foi corrigido depois de muita briga, e o filme indicado para maiores de 16 anos. "Aquarius" também está entre os 16 inscritos para representar o Brasil na categoria de Filme Estrangeiro no Oscar 2017. Aliás, merecidíssimo. A lista será anunciada pelo representante oficial da Secretaria de Audiovisual no próximo dia 12 de setembro.

Sônia Braga é Clara, uma viúva aposentada que já passou dos 60 e vive em um velho apartamento à beira-mar na Praia da Boa Viagem, no Recife. E vive literalmente sozinha no prédio, pois todos os seus vizinhos cederam aos encantos e ao dinheiro da especulação imobiliária e venderam seus apartamentos a uma grande incorporadora que pretende derrubar tudo para construir um condomínio ultramoderno, com tudo o que costuma ter um empreendimento desse tipo.

Acontece que Clara não quer sair e, além de gostar da sua rotina de mulher de classe média alta independente, teima em ter sua liberdade respeitada. Teima em dizer não e se mostra disposta a enfrentar as brigas e consequências desse enfrentamento do poder e da grana. É obstinada, corajosa. 

Clara é avó, tem três filhos, uma empregada que está com ela há quase vinte anos e gosta de preservar as coisas. Seus móveis são antigos, ela adora músicas antigas, tem uma coleção enorme de LPs, guarda com carinho seus álbuns de fotos e valoriza a memória. 


Mas que ninguém se engane: ela não é uma pessoa retrógrada. Toma vinho, sai para dançar com as amigas, costuma fumar seu baseado pra relaxar e, se for preciso, contrata um garoto de programa pra se satisfazer. Valoriza a vida que viveu e vive, não se esquece de que já passou por um câncer de mama e faz questão de ser dona de si.

Além da atuação dos atores - Maeve Jinkings como Ana Paula, a filha questionadora de Clara; o jovem Humberto Carrão como Diego, um típico filhinho de papai dono da construtora; o sempre correto Irandhir Santos como o bombeiro Roberval e por aí vai - todos impecáveis, chama a atenção a trilha sonora de "Aquarius".


As músicas que pontuam os muitos momentos do universo de Clara ajudam a compreender a personagem. Da intensa Betânia à banda Queen, passando por Roberto Carlos, tudo tem um significado. Emoção à parte, a canção "Hoje", de Taiguara, traz arrepios aos que já passaram dos 50: "Hoje, trago em meu corpo as marcas do meu tempo..." Nada mais verdadeiro.

Com duração de 2h25, "Aquarius" é uma coprodução franco-brasileira imperdível que pode ser conferida nas salas 1 do Belas Artes (sessões 15h50, 18h30 e 21h20), 8 do Pátio Savassi (13h45, 17h15 e 20h15), 3 do Net Cineart Ponteio (15h20, 18h20 e 21h10) e no Cine 104 (17h e 19h30).



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05 setembro 2016

Woody Allen declara seu amor ao cinema em “Café Society”

Comédia romântica recria a sétima arte dos anos de 1930 com charme, requinte e olhar crítico (Fotos: Imagem Filmes/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Alguém já disse que o pior filme de Woody Allen ainda é melhor do que muitos melhores filmes de outros diretores. Não é esse o caso de “Café Society”, até porque não se trata de um filme ruim. Não é o melhor – se compararmos com obras-primas como “Meia-Noite em Paris”, “Match Point”, “Noivo Neurótico, Noiva nervosa”, “Vicky Cristina Barcelona” e outros. Ainda que não seja o melhor, é um longa que chama a atenção - se não pelo argumento – mais pela condução da trama, no mais puro estilo do diretor, deixando o público na expectativa do final.

Trama não é exatamente o termo. “Café Society” não envolve tanto pela história, um triângulo amoroso comum como tantos outros da literatura e da cinematografia. O que encanta no longa é a forma como as coisas acontecem e, principalmente, o ambiente onde tudo acontece. O grande trunfo da obra é ser uma homenagem sui generis ao cinemão de Hollywood com todas as suas nuances de charme, hipocrisia, luxo, beleza e – acreditem - violência.


Bobby (Jesse Eisenberg) é um jovem judeu que se muda de Nova York para Los Angeles em busca de trabalho e oportunidades, já que nutre alguma esperança de escrever. E não é por acaso que escolhe Los Angeles. Seu tio Phil Stern (Steve Carell) é um influente produtor de cinema, vive numa das mansões da cidade, tem intimidade com as celebridades e adora festas e famosos.

Claro que Bobby, a princípio tímido, mas no fundo sedutor, apaixona-se por Vonnie, interpretada por Kristen Stewart, lindíssima no filme. Ela é secretária do tio Phil e, como o esperado, não é o que parece: uma mocinha simples, sincera e sem ambições. Vonnie também tem seus segredos.

A porção violência do filme fica por conta do irmão gângster de Bobby, Ben (Corey Stoll) que resolve tudo à sua maneira e, de certa forma, é o responsável pela virada do protagonista na história.  Como a família é judia – e Woody Allen sabe o que isso significa – há brilhantes diálogos no filme sobre judaísmo e religiões, uma crítica mais do que atual ao que o mundo vem assistindo em termos de violência em nome de um Deus.

Mas a grande sacada de “Café Society”, o que o diferencia, é o ambiente, o clima. Passado nos anos de 1930, o filme tem figurinos primorosos e requintados, trilha sonora rica recheada de bom jazz – como tudo que Allen faz – e uma recriação de época impecável. No fundo, o diretor, que narra a história em 'off', faz mais do que uma grande homenagem – é na verdade uma declaração de amor - ao cinema. Imperdível!

Com tem 1h36 de duração, a comédia dramática está em exibição nas salas 2 do Belas Artes (sessões 14h30, 16h40, 19h e 21h), 2 do Diamond Mall (13h, 15h30, 18h e 20h30), 7 do Pátio Savassi (13h30, 16h, 18h15 e 20h30) e 4 do Net Cineart Ponteio (15h30, 17h30, 19h30 e 21h30). Classificação: 14 anos



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