31 janeiro 2022

"Tratamento de Realeza" - romance trivial com elenco miscigenado

Mena Massoud e Laura Marano formam o casal que vai viver uma história no estilo Cinderela (Fotos: Kirsty Griffin/Netflix)


Silvana Monteiro


Elenco distinto, humor, uma pitada de musical e romance é o que promete o mais novo título da Netflix - "Tratamento de Realeza" (”The Royal Treatment”) - que está na lista dos top 10. Estrelado por Mena Massoud o ator canadense de origem egípcia que fez sucesso como "Aladdin" (2019), e Laura Marano, de "Lady Bird: a Hora de Voar” (2018), o filme é mais um daqueles clichês que retrata o envolvimento de um nobre e uma plebeia.



Izzy (Marano, que também é uma das produtoras do filme) é uma cabeleireira nova-iorquina de origem italiana, que vive na ralação e no vermelho, enquanto que Thomas (Massoud) é o príncipe sério e dedicado, de uma pequenina nação europeia.


A jovem é confundida com outra profissional e acaba indo prestar serviço para o príncipe, exatamente em um dos momentos mais importantes da vida dele. O contato entre cabeleireira e príncipe é muito amistoso e joga luz sobre a situação vivida por ele em relação ao casamento arranjado a que ele deve se submeter para salvar o reino.


Embora centrado no chavão romance entre uma pessoa comum e um integrante da realeza às vésperas de um casamento arranjado, o filme sai na frente ao apresentar um elenco negro na monarquia, incomum em filmes dessa temática. As cenas externas ao castelo, quando os protagonistas visitam a província de Lavania, são incríveis e burlescas.


Chama a atenção o fato de os súditos representarem uma linda mistura étnica. A fotografia e a trilha sonora são lindas. É um filme leve e divertido. Destaque para a construção do enredo, com um toque de musical. Os protagonistas funcionam maravilhosamente bem, com intensidade e sintonia. E aí, vai torcer por esse casal?


Ficha técnica
Direção: Rick Jacobson
Produção: Netflix / Focus Features International
Exibição: Netflix
Duração: 1h37
Classificação: Livre
Gêneros: Romance / Musical / Comédia

29 janeiro 2022

Lento e sem ação, “Ataque dos Cães” é um inesperado e brilhante faroeste dramático

Todo o elenco brilha, com destaque para Benedict Cumberbatch em uma de suas melhores interpretações (Fotos: Kirsty Griffin/Netflix)


Mirtes Helena Scalioni

Pode não ser verdade, mas já tem gente dizendo que o filme foi construído com a intenção de ser, no mínimo, um concorrente a Melhor Filme no Oscar 2021. Sombrio, dramático, enigmático e cheio de silêncios, “Ataque dos Cães”, em exibição na Netflix, foge dos clichês e consegue ser, ao mesmo tempo, faroeste e lento, além de ser um western que fala de homossexualidade. Mais paradoxal impossível. 

Experiente e respeitada, a diretora Jane Campion baseou sua obra num livro de 1967 chamado “The Power of the Dog” (“O Poder do Cão”, em tradução literal). O escritor, Thomas Savage, era autor de histórias de faroeste e sempre procurou esconder sua homossexualidade. Quem já assistiu ao filme sabe que isso faz todo o sentido.


Os irmãos Burbank – Phill e George – donos de uma grande fazenda em Montana nos anos de 1920, são como água e azeite. O primeiro, interpretado por Benedict Cumberbatch ("Doutor Estranho" - 2016), é violento, rude, ignorante. O segundo, em atuação de Jesse Plemons ("O Irlandês” - 2020), é doce, gentil e delicado. A partir daí, o conflito Caim/Abel começa a se desenhar. 


Principalmente quando George se casa com Rose Gordon (Kirsten Dunst, de "Estrelas Além do Tempo” - 2017), que traz a tiracolo seu filho gay Peter Gordon (Kodi Smit-McPhee, de "X-Men: A Fênix Negra" - 2019). Aqui é preciso um parênteses para dizer que todo o elenco está magistral, merecendo todos os prêmios por terem feito, na medida certa, personagens complexos e misteriosos. 

A ideia de levar o espectador, por um bom tempo, ao desconforto da dúvida, é plenamente cumprida. Nada é muito claro naqueles poucos diálogos e olhares.


Na medida em que os personagens são apresentados, “Ataque dos Cães” cresce ao mesmo tempo em dramaticidade. A lentidão, os longos silêncios e a falta de ação vão revelando a masculinidade tóxica de Phill, que insiste em agredir Peter até decidir transformá-lo num legitimo vaqueiro valente e macho.

O filme tem como partida o Salmo 22 que diz algo como “Salva a minha vida da espada/livra o meu ser do ataque dos cães”. Outra ideia que faz sentido no longa: ele é repleto de metáforas que esbarram na intimidade e nos segredos de cada personagem, na sexualidade e nos desejos reprimidos. Enfim, na diversidade e complexidade dos bichos internos de cada um.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Jane Campion
Exibição: Netflix
Duração: 2h06
Classificação: 14 anos
Países: EUA / Reino Unido / Austrália / Canadá / Nova Zelândia
Gêneros: Faroeste // Drama

27 janeiro 2022

"Fortaleza Hotel": Amizade e companheirismo em meio às problemáticas da vida

Clébia Sousa e Lee Young-Lan são as protagonistas deste drama nacional dirigido por Armando Praça (Fotos: Jorge Silvestre/Divulgação)


Marcos Tadeu


Momentos difíceis e de mudanças, de país, de vida, de relações, barreiras culturais e de idiomas. Mesmo com todas essas dificuldades, uma amizade sincera e solidária pode surgir. É com essa temática que estreia nesta quinta-feira nos cinemas o filme "Fortaleza Hotel", dirigido por Armando Praça.

Pilar (Clébia Sousa) é camareira do Hotel Fortaleza e tem o grande sonho de sair do Brasil e se mudar para Dublin, na Irlanda, em busca de melhores condições de vida. Na sua rotina diária de limpeza ela conhece Shin (Lee Young-Lan), uma hospede sul-coreana que veio para o Brasil buscar o corpo do marido e levar de volta para seu pais de origem. As duas, com suas diferenças e dificuldades semelhantes, começam uma amizade de solidariedade e superação. 


É válido destacar aqui a incrível atuação de Clébia Sousa, cuja personagem, logo no inicio do filme, mostra que é uma mulher determinada, forte, que sabe o que quer. Como na cena em que faz um treino de conversação em inglês para a entrevista que vai enfrentar na imigração da Irlanda. 

Pilar foi mãe aos 13 anos e teve que trabalhar muito cedo, conseguindo uma renda que dava apenas para sobreviver e não para viver seus sonhos. Teve também um namorado que nem é tão presente e como a própria Pilar diz, "uma filha que mais lhe dá problemas do que alegrias".


Diretamente da Coréia do Sul para o Brasil, temos Shin que precisou partir de sua terra, em condições desesperadoras, após descobrir o suicídio do marido, e vir para um país estranho para tentar entender o que aconteceu.

Pilar sofre com a filha que vive envolvida com traficantes e o mundo do crime até ser sequestrada. A partir daí, a camareira precisa conseguir, com urgência, o dinheiro para libertar a jovem com vida. 

Com Shin, os problemas não são menores. Ao tentar fazer um velório descente e enterrar o marido, descobre que a empresa em que ele trabalhava desviou dinheiro e se eximiu de qualquer responsabilidade, deixando assim a viúva sem dinheiro. 


A situação financeira é o que guia a desesperadora trajetória das duas personagens. Ambas estão tentando conseguir dinheiro para resolverem seus dilemas e essa narrativa é construída de maneira inteligente com o telespectador.

O destaque do filme está na forma como o diretor trabalhou as questões que envolvem os contrastes de realidades opostas, mas da mesma forma difíceis. E como isso é encenado, toda a mise-en-scène por trás da produção. 


Faltou, no entanto, mostrar mais do passado de Pilar, como aconteceu a gravidez, o relacionamento com o pai da menina e quem era ele. Também é superficial a abordagem sobre o marido de Shin, a chegada dele ao Brasil e a influência que tinha na empresa em que trabalhava.

“Fortaleza Hotel” é um filme que usa e abusa das diferenças para se completar. Pilar aprende com Shin e o mesmo acontece de maneira inversa. O companheirismo e a amizade se fazem presentes para juntas enfrentarem as circunstâncias da vida, por mais crua que ela seja.


Ficha técnica:
Direção: Armando Praça
Roteiro: Isadora Rodrigues, Pedro Cândido
Produção: Moçambique Audiovisual / Carnaval Filmes
Distribuição: Vitrine Filmes
Exibição: Nos cinemas
Duração: 1h17
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gênero: Drama

24 janeiro 2022

"Cobra Kai" está de volta para uma quarta temporada mais emocionante

Daniel (Ralph Macchio) e Johnny (William Zabka) unem forças para enfrentarem o maior inimigo da arte do caratê (Fotos: Netflix)


Silvana Monteiro


A quarta temporada de “Cobra Kai” continua a busca pela montagem do quebra-cabeça com a inserção de personagens da franquia Karate Kid. Terry Silver (Thomas Ian Griffith) é o revival dessa temporada. Ele chega como uma possível solução para John Kreese (Martin Kove), mas a verdade é que vai ser muito mais. Sua sina de algoz continua. Mesas serão viradas e tapetes puxados. Quem será que cai?


Dividida em 10 episódios, essa parte da série aprofunda nas discussões de gênero e diversidade, sobretudo pontuando a história de mulheres como Amanda LaRusso (Courtney Henggeler) e Tory (Peyton List) em uma emocionante jornada sobre suas histórias de vida. 

O mote entre essas duas personagens promete emoção. E por falar em diversidade, o próximo torneio All-Valley exige a premiação para o feminino e o masculino, e essa busca pela feminilidade dos dojôs é uma das grandes sacadas desta temporada. 


Destaque para a novata Devon (Oona O’Brien), que se apresenta como uma destemida lutadora movimentando o núcleo de mulheres. Ainda entre os novos alunos do Cobra Kai, Kenny (Dallas Dupree Young) é mais um garoto em busca de solução para a tormenta do bullying. Será que ele terá equilíbrio para conseguir superar esse desafio? Ou vai entrar de cabeça nas ideias maldosas de Kreese? 


Mais uma vez, a saga da rivalidade e tentativa de associação entre os senseis Johnny Lawrence (William Zabka) e Daniel (Ralph Macchio) vai dar pano pra manga. Parte dos momentos engraçados e, ao mesmo tempo, tensos, da temporada, se passa na construção de um paralelismo entre os dois.

É nítido que o autor usa e abusa das personalidades dos dois para trazer um pouco mais de humor ácido ao público. E até por isso, a ideia é apostar nessas diferenças, ao invés da homogeneização. No núcleo jovem, o quarteto Tory Nichols (Peyton List), Samantha LaRusso (Mary Mouser), Falcão (Jacob Bertrand) e Robby Keene (Tanner Buchanan) ganha mais destaque no quesito fator psicológico, para então, se destacar no mano a mano. 


É hora de entrar na cabeça e no coração desses jovens lutadores. Desta vez, Miguel Diaz (Xolo Maridueña) tem menos destaque que na temporada 3, mas o personagem vai viver uma busca importante em sua vida pessoal. Enquanto ele se distancia de seu sensei, sua mãe Carmen (Vanessa Rubio) vai se aproximar mais de Johnny para tentar definir os rumos de sua história com ele. Será que rola? 

O público ainda vai poder rever personagens da segunda e terceira temporadas, como Aisha (Nicole Brown). Mais uma vez "Cobra Kai" surpreende e mantém um ritmo que pode garantir mais e mais episódios. 


Ficha técnica:
Criação: Josh Heald, Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg
Exibição: Netflix
Duração: 10 episódios (média de 30 minutos cada)
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: Artes marciais / drama / comédia / ação

22 janeiro 2022

Com poucas palavras e muita criatividade, "Poropopó" traz de volta o encanto e a magia do circo

História é centrada na família Dandelion e sua forma de fazer do mundo um lugar mais alegre e divertido (Fotos: Juliana Pereira/Divulgação)


Maristela Bretas


O circo não perdeu sua magia. Prova disso é a linda e contagiante produção "Poropopó", que tem pré-estreia nacional online neste sábado (22), dentro da programação ínfantojuvenil da Mostrinha da 25ª Mostra de Cinema Tiradentes. A produção já está disponível e pode ser assistida gratuitamente até as 23h59 do dia 29 de janeiro. Basta clicar no link https://mostratiradentes.com.br/filme/poropopo/.

E para quem acha que o cinema mudo está ultrapassado,. "Poropopó" prova o contrário. Usando uma linguagem universal que dispensa palavras, o longa-metragem será facilmente compreendido pelos pequenos, que acabam se envolvendo com a mágica história. As crianças vão torcer com as aventuras dos personagens e cantar a música-tema - Poropopó - que gruda na mente como um chiclete.


Com muita cor, sons, desenhos e malabarismos, a produção é bem divertida, cheia de vida e traz referências ao mundo do circo que muitos acreditam que tenha deixado de existir. Como num passe de mágica, ele ganha força por meio de uma família de palhaços que vai transformar toda uma comunidade usando criatividade e seu símbolo mais precioso: a flor Taraxacum, que no Brasil é conhecida como Dente-de-leão.


Criado por Denise Bernardes e dirigido por Luís Antônio Igreja, o filme conta a história de Julieta Dandelion (Letícia Pedro), uma palhacinha adolescente que nasceu e cresceu junto com sua grande família sob a lona do circo. Ela vê seu sonho de manter a magia circense quebrado com a chegada de um irmãozinho e a decisão dos pais de deixarem a vida nômade para morar numa casa na cidade. A jovem atriz entrega uma ótima atuação.


Resta a Julieta se adaptar à nova realidade de um teto de tijolos. Além da adaptação, a jovem também terá de viver outras mudanças, se apaixonar, lutar pelo direito de expressar sua arte e se tornar uma líder entre os jovens locais. Para isso vai contar com a ajuda do novo amigo e vizinho Romeu da Silva (Luigi Montez), um jovem todo conectado, que gosta de passar o dia olhando para um tablet e brincando de filmar com um drone. 


Uma novidade para Julieta, que sempre viveu uma realidade lúdica, de magia, desenhos e fantasias. Ela vai ensinar ao novo amigo que, para conhecer o mundo, basta levantar a cabeça e olhar ao redor, fora da tela. 

Chama atenção os trajes de Julieta, semelhantes aos da boneca Emília, do Sítio do Picapau Amarelo, que também era espevitada, brigona e não levava desaforo para casa. Será com esse espírito que a jovem irá lutar pelo circo que idealizou montar um dia na praça da nova cidade, atraindo todos aqueles dispostos a mostrarem seus talentos. 


Como o mendigo que dormia na praça e ninguém notava, ou a florista, o entregador de flores, a moradora solitária em busca de um amor. Até mesmo aqueles que vivem sob o domínio do medo e da repressão vão se descobrir. A todo momento, o filme ensina que gentileza gera gentileza e que isso é uma das melhores formas de unir as pessoas.

Rodado em 2018 na cidade de Nova Friburgo (RJ), o longa foi dedicado por seus criadores à memória do diretor Roberto Farias, falecido naquele ano. Conta com um elenco formado basicamente por artistas de grupos teatrais locais. Destaque para Amir Haddad como Zé Dandelion, avô da menina, e André Abujamra, a Mulher Barbada, sua avó.  


André Garcia Alvez garante as cenas divertidas da produção. Ator e palhaço na vida real, ele trabalha há 30 anos com teatro de rua e interpreta Migué Dandelion, pai de Julieta. Seu personagem solta puns barulhentos, é bem atrapalhado mas encantador e carinhoso e não deixa a fantasia de palhaço de lado nem quando procura emprego, mantendo sempre a maquiagem e o nariz vermelho.

"Poropopó" representa o sonho de cada um que se torna possível graças a uma palhacinha que correu atrás e brigou para realizar seu próprio sonho e mostrou que isso era possível para todos. Com criatividade, força e encanto, coisas que a magia do circo podem proporcionar. Imperdível.


Mostrinha 

Além de "Poropopó", a Mostrinha apresenta no próximo final de semana outro longa-metragem, “Pequenos Guerreiros”, da diretora Bárbara Cariry. O filme ficará disponível das 10h30 do dia 28 até às 23h59 do dia 29 de janeiro e poderá ser acessado pelo link https://mostratiradentes.com.br/filme/pequenos-guerreiros/.  

Nos dias 29 e 30 haverá a exibição gratuita de cinco curtas que tratam sobre perdas, amores, descobertas e resistências: "Raone", "A Primeira Perda da Minha Vida", "Nonna", "O Fundo dos Nossos Corações" e "Rua Dinorá". Eles poderão ser acessados pelo link  https://mostratiradentes.com.br/filmes/mostrinha/.

Curte "Nonna" (Foto: Universo Produção)

25ª Mostra de Cinema de Tiradentes

Maior evento do cinema brasileiro contemporâneo em formação, reflexão, exibição e difusão realizado no país, a Mostra de Cinema de Tiradentes chega a sua 25ª edição, iniciada nessa sexta-feira com encerramento no dia 29 de janeiro de 2022, em formato online.

Serão mais de 100 filmes brasileiros em pré-estreias nacionais e mostras temáticas, com homenagem a personalidades do audiovisual, seminários, debates, a série Encontro com os filmes, oficinas, Mostrinha de Cinema e atrações artísticas. Toda a programação é gratuita. Maiores informações no site oficial: www.mostratiradentes.com.br.


Ficha técnica:
Direção: Luis Antônio Igreja
Roteiro: Denise Bernardes e Rodrigo Parra

Produção: Samba Filmes/ Leblon Filmes / Valkyria Filmes

Exibição: online gratuita de 22 a 29 de janeiro, pelo link https://mostratiradentes.com.br/filme/poropopo
Duração: 1h20
Classificação: Livre
País: Brasil
Gêneros: família / ficção / infantojuvenil
Nota: 4,5 (de 0 a 5)

21 janeiro 2022

Drama psicológico com pinceladas de terror, "Vozes do Passado" estreia em plataformas digitais

Julia Ormand é o destaque interpretando uma mãe manipuladora e opressiva (Fotos: AtômicaLab)


Maristela Bretas

Com narrativa arrastada e confusa nos primeiros 20 minutos (a duração é de 1h34), o drama psicológico "Vozes do Passado" ("Reunion") já está disponível para compra e aluguel nas plataformas digitais Claro Now, Vivo Play, Tunes/Apple TV, Google Play e YouTube Filmes. Apesar de ter em seu elenco principal a ótima Julia Ormand (como Ivy) e Emma Draper (Ellie) que entregam boas atuações, elas só começam a mostrar seus trabalhos  depois de meia hora de exibição.

Mesmo assim, o diretor e também roteirista Jack Mahaffy fica indeciso se quer explorar a instabilidade emocional de Ellie que se agrava com lembranças do passado, ou se quer seguir para o lado do terror provocado na mente da jovem pela antiga casa da infância. Mas as situações que deveriam assustar não abalam nem criancinha, são bem básicas e só vão melhorar no final. 


Não acredito que a proposta do filme seja a de assustar. O roteiro, apesar das muitas cenas paradas, trabalha muito em cima de flashbacks que provocam dúvidas no espectador sobre a sanidade da jovem e de sua família e o que está por trás de toda trama.

Passados 12 anos da morte da meio-irmã Cara (Ava Keane), Ellie, é uma escritora, está grávida e separada do pai da criança. Ela retorna à casa onde viveu com os pais, Ivy e Jack e, imediatamente começa a ter visões e a sensação de que está sendo perseguida por algo ou alguém. 

A culpa pela tragédia que marcou sua vida no passado, alimentada por uma mãe possessiva, controladora e também instável, vai agravar o fraco lado emocional da jovem..


Emma Draper está bem no papel, mas é Julia Ormand quem se destaca como Ivy, uma mulher com raiva da situação que se encontra, cuidando de um marido inválido que ela odeia por todas as traições que ele lhe impôs durante o casamento, que esconde segredos cruéis. Ela quer manipular de novo a vida da filha como se ela fosse ainda uma garotinha. E também a do filho que ela espera, apossando dele como se fosse seu.

A relação turbulenta e doente entre mãe e filha vai forçando Ellie a enfrentar o passado e a verdade sobre a morte da irmã, da qual se julga culpada. No elenco estão ainda Gina Laverty (como Ellie jovem, cujo olhar dá até medo), Cohen Holloway (namorado da jovem) e John Back (Jack, marido de Ivy e pai de Ellie e Cara).

Filmado na Nova Zelândia, “Vozes do Passado” exige paciência até metade do filme, mas tem um bom elenco e um final que é quase previsível, mas agrada. O longa poderá ser encontrado nas versões dublada e legendada. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Jack Mahaffy
Distribuição: Synapse Distribution
Exibição: Claro Now, Vivo Play, Tunes/Apple TV, Google Play e YouTube Filmes
Duração: 1h34
Classificação: 14 anos
Gêneros: Drama / Terror

19 janeiro 2022

Cruel e real, "Pureza" retrata o Brasil invisível onde a abolição da escravatura ainda não chegou

Dira Paes tem interpretação impecável da mulher forte que lutou para encontrar o filho desaparecido (Fotos: Divulgação)


Maristela Bretas


Não bastasse ser um filme sobre uma das maiores chagas do país, o trabalho análogo à escravidão, "Pureza", do diretor Ricardo Barbieri, conseguiu reunir vários outros pontos positivos que vão além da denúncia: fotografia, locação, luz, roteiro e especialmente elenco. 

Ainda que lento no início, o longa vai ganhando vigor quando a protagonista deixa tudo para trás para iniciar sua jornada na busca incansável pelo filho Abel (Matheus Abreu, de "O Segredo dos Diamantes"- 2014) desaparecido há meses.

Com previsão de estreia em 2022 nos cinemas nacionais, “Pureza” já foi exibido em 34 festivais. Ganhou 26 prêmios nacionais e internacionais em 17 países: Brasil, França, EUA, Guadalupe, Itália, Rússia, China, Alemanha, Panamá, Bolívia, Marrocos, Cuba, Reino Unido, México, Argentina, Colômbia e Líbano. 


Dira Paes ("Veneza" - 2019) entrega uma interpretação profunda, real e emocionante de Pureza Loyola, sem esconder as marcas no rosto de uma vida sem descanso. A atriz dá um show, passando da trabalhadora simples, que faz tijolos para sustentar a família, com resignação e humildade, à mãe forte que quer resgatar o filho a qualquer custo. 

Na sua busca, Pureza Loyola se torna meio mãe de outros filhos que também trabalham escravizados em fazendas no Pará. A força e o amor dessa mulher podem ser resumidos numa cena de cortar o coração: a reprodução da Virgem Maria que desce o corpo de Jesus da cruz e reza sobre ele, debaixo de chuva. 


Sem falar nos outros homens, velhos e novos, que só têm na presença daquela mulher um pouco de alento desde que deixaram suas famílias para buscar uma condição melhor de vida e acabaram caindo na armadilha de patrões poderosos que comandam, matam e escravizam impunemente. 

Aos poucos, ela se torna a voz, muitas vezes solitária, daqueles que foram esquecidos, denunciando os fatos às autoridades federais, mesmo que, para conseguir provas, coloque em risco a própria vida.

Adonias Mendes dos Santos ("Baiano"), João Batista Gonçalves Lima ("Siracura") e Milson Gomes de Souza Almeida ("Tiozão")

O longa é quase um documentário, incluindo no elenco 11 ex-trabalhadores rurais que foram resgatados de fazendas e que dão depoimentos tocantes. É o caso de Adonias Mendes dos Santos ("Baiano"), João Batista Gonçalves Lima ("Siracura") e Milson Gomes de Souza Almeida ("Tiozão"), entre muitos outros. 

Como representante dos "vilões" temos a ótima interpretação de Flávio Bauraqui ("Faroeste Caboclo" - 2013) no papel de Narciso, gerente das fazendas e mandante dos assassinatos, que sente prazer com a imagem que criou de si próprio.

A verdadeira Pureza e seu filho Abel (Reprodução)

Além do elenco e da história, ambos fortes e comoventes, Renato Barbieri, que dividiu roteiro e produção com Marcus Ligocki Jr., também contou com um belo trabalho da equipe técnica, desde a fotografia, montagem, figurino à edição e locações. 

O filme foi gravado no Pará, em áreas rurais de Marabá e Itupiranga, com riqueza na reprodução de detalhes. Para completar, é preciso registar a beleza da trilha sonora do compositor americano Kevin Riepl, que contou com duas músicas de Aurélio Santos.

Combate ao trabalho escravo



O diretor também conseguiu reunir abolicionistas que fizeram parte do Grupo de Fiscalização Móvel de Combate ao Trabalho Escravo no país naquela época, composto por integrantes de várias instituições, e também o então ministro Paulo Paiva. Foi a partir daí e da luta de Pureza Loyola que as ações no campo se intensificaram, com maior apoio à atuação dos fiscais do trabalho, também vítimas dos criminosos.


Um exemplo disso foi a Chacina de Unaí (Noroeste de Minas), que no dia 28 de janeiro completa 18 anos. Três auditores fiscais e um motorista, funcionários do Ministério do Trabalho, foram mortos a tiros na região quando investigavam denúncias desde crime em fazendas de café da região. 

De 1995 a 2021, o Grupo Móvel resgatou mais de 55 mil trabalhadores em situação degradante e análoga à escravidão no país. "Pureza" tenta mostrar um pouco dessa triste realidade. É a arte a serviço da justiça social.


Ficha técnica:
Direção: Renato Barbieri
Roteiro: Renato Barbieri e Marcus Ligocki Jr.
Produção: Gaya Filmes / Ligocki Entretenimento
Distribuição: Paris Filmes / Downtown Filmes
Duração: 1h41
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gêneros: drama // documentário
Nota: 4,8 (de 0 a 5): 

17 janeiro 2022

"Eduardo e Mônica" é Renato Russo em prosa, verso e vídeo, com simpatia e emoção

Gabriel Leone e Alice Braga formam o casal que vive um grande amor apesar da idade e personalidade diferentes (Fotos: Janine Moraes)


Maristela Bretas


Encantador e envolvente, "Eduardo e Mônica", que estreia dia 20 de janeiro em mais de 500 salas de cinema do país, faz a gente sorrir, cantar e se emocionar com as "coisas feitas pelo coração" Com uma história simples, que muitas pessoas já viveram ou gostariam de viver, o filme traz para as telas a versão do sucesso homônimo da banda Legião Urbana, lançado em 1986 no disco "Dois". 

O diretor René Sampaio e a produtora Bianca De Felippes souberam captar bem a essência da música composta por Renato Russo, ambientando locações e situações à letra. Como fizeram com “Faroeste Caboclo” (2013), outro grande sucesso da banda brasiliense adaptado para o cinema, que foi visto por mais de 1,5 milhão de espectadores. 


"Eduardo e Mônica" foi filmado em 2018 com um custo total de 10 milhões de reais e conquistou em 2020 o prêmio de Melhor Filme no Festival de Edmonton, no Canadá. Alice Braga ("O Esquadrão Suicida" - 2021) e Gabriel Leone formam o casal romântico totalmente diferente que vive um amor de encontros e desencontros na cidade de Brasília nos anos 1980. 

Mesmo com idades e personalidades distintas, Eduardo e Mônica resolvem se conhecer melhor. Mas "ela fazia medicina e falava alemão e ele ainda nas aulinhas de inglês. Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus, de Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud. E o Eduardo gostava de novela e jogava futebol-de-botão com seu avô".


A química da dupla principal funcionou muito bem e é carismática. Como na música, "ele completa ela e vice-versa, que nem feijão com arroz". Gabriel Leone está fofo como um adolescente de 16 anos, como na letra da música (apesar de seus 28 anos de idade). Entregou uma interpretação simpática, divertida e também dramática quando precisou. Alice está cada dia melhor como atriz e mais parecida fisicamente com a tia, Sônia Braga, principalmente quando sorri. Quanto ao talento, este é inquestionável. 


Outro destaque é a atuação de Victor Lamoglia, que faz o papel de Inácio, amigo de Eduardo, garantindo os momentos divertidos do longa. Também estão no elenco Otávio Augusto (como Bira, avô de Eduardo), Juliana Carneiro da Cunha (Lara, mãe de Mônica), Bruna Spínola (Karina, irmã de Mônica) e Fabrício Boliveira em participação especial relâmpago e até dispensável. Dá a impressão que ele apareceu somente para atrair público e associar com "Faroeste Caboclo" que ele protagonizou.

Com uma equipe de mais de 200 pessoas, "Eduardo e Mônica" foi filmado em Brasília, no Rio de Janeiro e no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, durante oito semanas em 2018. As locações são um destaque à parte da produção, criando a ambientação perfeita, especialmente nos desfiladeiros, quedas d’água e piscinas naturais de uma das áreas ambientais mais bonitas do país.


Em entrevista, o diretor René Sampaio explica que o filme é uma delicada história de amor. "Ela fala, entre outras coisas, sobre como é possível amar e respeitar quem pensa muito diferente de você". Bianca De Felippes conta que era importante ser fiel ao espírito de Renato Russo. "Das músicas compostas por ele, esta é a mais solar. Então, a ideia era manter essa energia". 

Uma playlist da trilha sonora original, composta por Lucas Marcier, Fabiano Krieger e Pedro Guedes, do ARPX Estúdio, foi disponibilizada pela TIM, uma das patrocinadoras do filme, na plataforma de streaming Deezer. Ela pode ser acessada por todos os usuários do app. A coletânea está disponível no link https://www.deezer.com/br/playlist/9793270762. Não deixe de conferir, "Eduardo e Mônica é uma agradável volta no tempo.


Ficha técnica:
Direção: René Sampaio
Produção: Gavea Filmes, Barry Company, Fogo Cerrado e Globo Filmes
Distribuição: Downtown Filmes e Paris Filmes
Exibição: Somente nos cinemas
Duração: 1h54
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gêneros: comédia / drama / romance

14 janeiro 2022

“Juntos e Enrolados”, comédia romântica à moda brasileira para morrer de rir

Cacau Protásio e Rafael Portugal protagonizam a festa de casamento mais divertida do ano (Fotos: Rachel Tanugi/Primeiro Plano)


Mirtes Helena Scalioni

Talvez nem se possa dizer que se trata de uma comédia romântica. Mas pode-se assegurar que “Juntos e Enrolados” é uma comédia rasgada na mais genuína acepção da palavra. Nada melhor, portanto, para abrir a temporada 2022 de filmes nacionais para fazer rir, principalmente porque, certamente, o brasileiro vai se identificar imediatamente com o casal guerreiro protagonizado pela salva-vidas Daiana (Cacau Protásio) e o encanador Júlio (Rafael Portugal).


Assim, de cara, pode parecer improvável e sem química uma dupla formada pelos dois. Mas talvez resida aí o trunfo do longa dirigido por Eduardo Vasman e Rodrigo Van Der Put. O roteiro, de Rodrigo Goulart, Sabrina Garcia e Cláudio Torres Gonzaga, parece ter sido construído de tal forma que o talento e carisma dos atores prevaleçam, minimizando, inclusive, quaisquer possibilidades de clichês.


Bombeira, Daiana trabalha como salva-vidas num clube e, um dia, é obrigada a pular na água para salvar Júlio, encanador que estava lá a serviço mas resolveu aproveitar um pouco da piscina. 

Começa aí a romântica história de amor dos dois, com direito a declarações melosas e canções que ele compõe e canta pra ela ao violão. Para completar tanta felicidade, só falta mesmo uma festa de casamento daquelas, com direito a convites, cerimonialista, muitos comes e bebes, docinhos, Dj de primeira, arranjos de flores.


Depois de dois anos de muito planejamento, sacrifício e economia – mas sem perder a fofura - Daiana e Júlio conseguem, finalmente, concretizar o sonho da festa. E é exatamente nessa, digamos, segunda parte do filme que o público vai começar a rir com gosto, só parando no final. 


Um mal-entendido faz desandar a recepção, que se transforma numa espécie de praça de guerra onde não apenas os protagonistas vão ter oportunidade de exibir seus talentos. A começar por Fábio de Luca e Evelyn Castro como Carlos Mário e Suzie, o casal padrinho e amigo, outros tantos atores e atrizes, a maioria veteranos, tiveram, em algum momento, chance de mostrar seus dotes de comediantes. 

Estão na festa, em papéis pequenos, mas imprescindíveis, Marcos Pasquim, Emanuelle Araújo, Matheus Ceará, Berta Loran, Fafy Siqueira, Tony Tornado, Neuza Borges, Paulo Carvalho, César Maracujá, Leandro Ramos. Enfim, um time de respeito.


Curiosidade 1: apenas um trecho mínimo da cena de Cacau Protásio dançando na frente de um pelotão de bombeiros foi mantido, talvez para não realimentar o crime de racismo do qual a atriz foi vítima durante as filmagens.
Curiosidade 2: a canção que Júlio canta incansavelmente para Daiana, “My love you”, é estudadamente simplória e foi composta por Rafael Portugal. Impossível não sair do cinema cantarolando a música.

Em exibição nas redes Cineart, Cinemark e Cinépolis Estação BH, “Juntos e Enrolados” é um filme na medida para esses tempos de tristezas, inseguranças e perdas. 


Ficha técnica:
Direção: Eduardo Vaisman e Rodrigo Van Der Put
Roteiro: Rodrigo Goulart, Sabrina Garcia
Produção: Chamon Produtora & Kromaki // Globo Filmes
Distribuição: Imagem Filmes
Exibição: Nos cinemas
Duração: 1h34
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gênero: Comédia

12 janeiro 2022

Fiel ao livro, o filme “A Filha Perdida” perturba, provoca, incomoda, instiga e faz pensar no tabu da maternidade

Olivia Colman dá vida a Leda, uma professora que aos 50 anos precisa rever e confrontar seu passado (Fotos: Yannis Drakoulidis/Netflix) 


Mirtes Helena Scalioni


Historicamente, livros são sempre melhores do que filmes. Na maioria das vezes, infinitamente melhores. Esse não é o caso, porém, de “A Filha Perdida” ("The Lost Daughter"), em exibição no Netflix, baseado na história de mesmo nome da escritora Elena Ferrante. Aqui, ambos são excelentes, igualmente complexos, instigantes e desconfortáveis, exatamente por tocar num tema sacralizado, e quase sempre romantizado: a maternidade e seus tabus.

A culpa dessa espécie de empate entre as duas obras cabe a três mulheres: à roteirista e diretora Maggie Gyllenhaal, que soube transformar com maestria o texto em filme sem que nada da ideia original se perdesse, e às atrizes Olivia Colman e Jessie Buckley, que dão vida à protagonista Leda na maturidade e na juventude. A interpretação das duas dá o tom e o ritmo do filme.


A professora universitária de Literatura Comparada beirando os 50 anos (Colman) chega a uma ilha da Itália aparentemente para descansar e - quem sabe? - estudar. Hospeda-se num apartamento alugado, cujo caseiro é o simpático e solícito Lyle (Ed Harris). 

Só que em sua primeira ida à praia, depois de conhecer rapidamente Will (Paul Mescal), o dono do café-restaurante, ela se surpreende com a chegada de uma família americana, tão numerosa quanto ruidosa, e descobre, aos poucos, que seu sossego acabou.


A forma como Leda observa e interage com os componentes daquela família, vai se transformando, aos poucos, em perguntas, dúvidas e até certo ponto, em incômodo. Principalmente quando ela se aproxima de Nina (Dakota Johnson), a jovem e angustiada mãe da pequena Helena, sempre às voltas com sua boneca. 

E quando essa relação vai sendo intercalada com flashbacks de suas próprias lembranças de estudante e profissional ávida por conhecimento, novidades e paixões, em confronto com seu ofício de mãe de duas filhas pequenas, o desconforto pode virar aflição.


A entrada do personagem da professora jovem parece confundir mais ainda – e talvez seja esse o objetivo do longa. Com precisão e muito brilho, ambas as atrizes entregam uma Leda pulsante, mas partida, às vezes disposta ao grito, às vezes ao riso. 

Mas são os olhares, as expressões, gestos e até o andar de Leda na pele de Olívia Colman que conduzem o espectador, de um jeito torto, à estranheza, a algum lugar semelhante a uma angústia. Que atriz extraordinária! E que pode ser novamente indicada ao Oscar 2022 como Melhor Atriz.


Em algum momento, às voltas com um casamento complicado, Nina se abre com Leda e pergunta: quando essa angústia vai passar? Ao final do filme, a questão permanece sólida. Assim como continua a ideia de que ser mãe é tão difícil – quase impossível - quanto descascar uma laranja sem romper a casca.

 
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Maggie Gyllenhaal
Exibição: Netflix
Duração: 2h02
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gênero: Drama