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14 agosto 2025

Impactante e surpreendente, "Os Enforcados" é sobre jogo, culpa e confiança

Leandra Leal e Irandhir Santos entregam excelentes atuações como o casal que vive da contravenção e
acredita que pode manter as mãos limpas (Fotos: Paris Filmes)
 
 

Maristela Bretas

 
Reunindo várias semelhanças com fatos reais e atuações brilhantes de Leandra Leal e Irandhir Santos, estreia nesta quinta-feira (14) a produção nacional "Os Enforcados". O filme, dirigido por Fernando Coimbra, é um thriller tragicômico impactante, com reviravoltas a todo instante.

Na trama, o casal Valério (Irandhir Santos) e Regina (Leandra Leal) vive numa mansão na Zona Oeste do Rio de Janeiro, à custa do império do jogo do bicho construído pelo pai e pelo tio dele, Linduarte, vivido por Stepan Nercessian. Até que Valério revela à esposa que está falido, cheio de dívidas e pretende vender ao tio a parte herdada do pai.


Tudo muda quando ele resolve seguir os conselhos da ambiciosa Regina e dar um grande golpe, que consideram infalível, em Linduarte e nos contraventores do bicho e sair de mãos limpas. Ao contrário do que esperavam, o crime passa a ser uma rotina do casal e até mesmo o casamento começa a desandar.

Em "Os Enforcados", quando você acredita que já sabe qual caminho o filme está seguindo, ele toma novo rumo. E prova que todo mundo que se envolve com o mundo do crime e conquista poder está sujeito a ser contaminado e sujar as mãos. Se torna até mesmo capaz de matar para manter este poder e o padrão alto de vida.


Leandra Leal e Irandhir Santos estão excelentes em seus papéis e são os responsáveis pela trama dar certo do início ao fim, expondo uma realidade diária da criminalidade no Rio de Janeiro e os esquemas por trás do jogo do bicho.

A violência, o crime organizado e a corrupção de autoridades policiais da capital carioca são apontados no roteiro, inclusive numa fala da sempre excelente Irene Ravache, no papel de mãe de Regina. 

A cartomante de araque não se surpreende com as ações do genro e da filha e só se interessa em tirar proveito do lucrativo negócio de Valério.


No elenco temos ainda Pêpê Rapazote, como delegado da Polícia Federal; Thiago Tomé, braço direito de Valério; Augusto Madeira e Ernani Moraes, parceiros de Linduarte, entre outros.

Coincidências?

Coincidência ou não, "Os Enforcados" apresenta situações semelhantes a uma disputa entre familiares do bicheiro Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, após o assassinato dele em 1998. Ele era chamado de "Rei do Rio" e era padrinho da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel.

Assim como Maninho, Linduarte era o padrinho da Escola de Samba Unidos da Pavuna e quando Valério assume os negócios da família após a morte do tio, ele recebe uma coroa dourada durante o ensaio da escola.


Terceiro filme do diretor

Este é o terceiro filme de Fernando Coimbra e marca seu retorno ao cinema brasileiro, após dirigir episódios das séries internacionais “Narcos”, “Outcast” e “Perry Mason” e o longa “Castelo de Areia”, com Nicholas Hoult e Henry Cavill. 

Coimbra explica que "Os Enforcados" é, antes de tudo, sobre um casamento. "O casal sela um pacto e faz um plano de vida que é incapaz de cumprir. Só que esse plano se faz a partir de um crime que os levaria em direção à realização dos seus sonhos. Mas a realidade é muito diferente do sonho, e as coisas desandam".



"Os Enforcados" é violento e brutal, tanto nos crimes envolvendo a guerra pelo poder quanto na relação conjugal de Valério e Regina. E a cereja do bolo é a trilha sonora, que tem o sucesso "Muito Estranho", com Nando Reis, como música principal.

"Cuida bem de mim" é um refrão que vai acompanhando as etapas da vida do casal quando tudo começa a desmoronar até o final brilhante. Filme imperdível e merece entrar na disputa para a indicação brasileira ao Oscar.


Ficha técnica:
Direção:
Fernando Coimbra
Produção: Gullane e coprodução da Fado Filmes, Telecine, Globo Filmes e Pavuna Pictures
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h03
Classificação: 18 anos
País: Brasil
Gêneros: drama, suspense, thriller de crime

03 agosto 2025

Em "Drácula - Uma História de Amor Eterno", a paixão arrebatadora toma o lugar do terror

Caleb Landry Jones interpreta com perfeição o famoso Mestre dos Vampiros na nova versão romântica
dirigida por Luc Besson (Fotos: Paris Filmes/Divulgação)
 
 

Maristela Bretas

 
A nova e impactante aposta do diretor Luc Besson no gênero terror, "Drácula - Uma História de Amor Eterno" ("Dracula: A Love Tale") estreia nesta quinta-feira (7) nos cinemas. Esta é mais uma adaptação do clássico literário de Bram Stoker a chegar às telas, mas se diferencia ao fugir do terror habitual de outras versões. 

Focando na paixão arrebatadora do personagem, além de entregar muita ação, o longa é tão envolvente que o espectador pode até se pegar torcendo pelo "vilão". 

A trama começa no século XV, quando o príncipe Vlad (Caleb Landry Jones) perde sua esposa Elisabeta (Zoe Bleu). Desesperado, culpa Deus por não tê-la protegido enquanto ele lutava em Seu nome. 

Amaldiçoado com a vida eterna, Vlad se transforma no Conde Drácula e passa séculos em busca de sua amada, contando com a ajuda de um exército de vampiros criados por ele ao longo de sua jornada. 


Até que no século XIX, em Londres, ele finalmente encontra Mina (também interpretada por Zoe Bleu), uma jovem que acredita ser a reencarnação da falecida. Contudo, terá de enfrentar um padre exorcista e caçador de vampiros, papel do brilhante Christoph Waltz, vai tentar pôr fim ao reinado de Drácula e impedir que ele faça mais uma vítima.

Apesar das guerras sangrentas e os inúmeros ataques, o filme tem seu principal foco na paixão de Vlad por Elisabeta. Ele não se conforma em tê-la perdido, retornando sempre a seu túmulo e tentando em vão se matar inúmeras vezes para quebrar a maldição. 


Incapaz de morrer, ele cria um exército de vampiros pelo mundo que lhe garante o sangue necessário para a juventude e o auxilia a encontrar sua amada novamente.

Um contraponto interessante explorado por Besson: Drácula perde a fé em Deus, mas mantém uma esperança inabalável em reviver seu único e verdadeiro amor. 

Para o Mestre dos Vampiros, nada mais importa. As pessoas transformadas por suas mordidas sejam adultos ou crianças, não passam de escravos descartáveis, usados apenas para que ele atinja seu objetivo. 


Caleb Landry Jones está arrebatador no papel principal, em uma parceria notável com o ótimo Christoph Waltz. A cena do confronto final entre o bem e o mal é uma das mais marcantes do filme, tanto por sua estética quanto pela abordagem profunda sobre o amor e o que se é capaz de fazer em nome dele. 

Todo o elenco cumpre muito bem seus papéis, especialmente as atuações de Zoe Bleu e Matilda de Angelis, como a vampira Maria.


Destaque também para os figurinos e os cenários, explorando os tons quentes do outono europeu. As locações na Hungria, Florença, Finlândia e Paris oferecem um visual deslumbrante. 

Até mesmo as cenas internas, que se passam dentro de um convento, no castelo de Vlad ou no quarto onde o casal se amava loucamente foram muito bem conduzidas pelo diretor francês, que possui inúmeros sucessos em sua filmografia, como o frenético e alucinante "Lucy" (2014) e o eletrizante "Anna - O Perigo tem Nome" (2019).


Tudo isso somado à trilha sonora, composta por belos arranjos de Danny Elfman. O compositor e ex-vocalista e líder da banda Oingo Boingo, é conhecido por trabalhos em filmes como "Batman" (1989), "Batman, O Retorno" (1992), "O Estranho Mundo de Jack" (1993), a franquia Homem-Aranha (2002, 2004 e 2007), "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" (2022), "Os Fantasmas Ainda se Divertem" (2024), entre outras dezenas de sucessos.

"Drácula - Uma História de Amor Eterno" é um filme que merece muito ser assistido, tanto pela excelente direção, quanto pelo trabalho visual surpreendente e pelas atuações de alta qualidade do elenco.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Luc Besson
Produção: Europa Corp, LBP Productions, Actarus e TF1
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h09
Classificação: 16 anos
País: França
Gêneros: terror, romance

24 junho 2025

"Quebrando Regras", um filme sobre coragem, persistência e barreiras vencidas

Produção é baseada na história da professora Roya Mahboob, que criou o primeiro time feminino de
robótica do Afeganistão (Fotos: Angel Studios)

 
Maristela Bretas

Estreia nesta quinta-feira (26) nos cinemas o longa "Quebrando Regras" ("Rule Breakers"), um drama emocionante que narra uma história real de luta, persistência e coragem, tendo a educação como o fator de transformação de um grupo de jovens afegãs.

A trama tem início no Afeganistão de 2017, sob a orientação de Roya Mahboob (interpretada por Nikohl Boosheri), uma professora visionária que se opôs às rígidas normas sociais do país ao ousar ensinar computação para meninas – uma área tradicionalmente restrita aos meninos. 


Desde a infância, Roya não se conformava em ver jovens como ela, serem excluídas do acesso à ciência e tecnologia. Já adulta, com muita luta contra os costumes impostos pelo regime talibã, ela conseguiu ser a primeira mulher a fundar uma startup dedicada ao ensino de robótica para estudantes secundaristas no Afeganistão. Esse ato, considerado de rebeldia, poderia até mesmo custar a vida do grupo.

O filme é baseado ma trajetória da professora Roya Mahboob e seus irmãos Ali (Noorin Gulamgaus) e Elaha, que juntos batalharam para criar o primeiro time feminino afegão de construtoras de robôs, as "Afghan Dreamers". 


As alunas Taara (Nina Hosseinzadeh), Haadiya (Sara Malal Rowe), Arezo (Mariam Saraj) e Esin (Amber Afzali) se juntam à professora para provar sua capacidade. Apesar dos imprevistos, ameaças e atentados enfrentados, este ato revolucionário torna o grupo conhecido em diversas nações, a partir da primeira competição que participa.

Mas o maior dos desafios para estas jovens afegãs era vencer o preconceito e os tabus do regime, que começava dentro de casa, com os pais e irmãos. 


Mesmo após provarem seu valor conquistando o mundo e vários prêmios em ciência e robótica, Roya e suas alunas eram vistas como uma vergonha em seu país e perseguidas por terem "confraternizado com o Ocidente".

"Quebrando Regras" é um filme sobre resiliência, determinação e a força das conquistas, apresentando um elenco jovem para o público de outros países. O único rosto conhecido é o de Ali Fazal (de "Victoria e Abdul" - 2017), no papel de Samir Khan, o empresário do ramo de tecnologia que apoia Roya e patrocina as meninas.


A autenticidade da narrativa é reforçada pela participação da verdadeira Roya Mahboob como uma das produtoras executivas e de sua irmã Elaha Mahboob como uma das roteiristas. 

A produção contou com o apoio de equipes de robótica de diversos países, incluindo EUA, Alemanha, França, Itália, China, Reino Unido, Turquia, entre outras. As locações foram feitas na Hungria e Marrocos, conferindo uma dimensão global à história.


Ficha técnica:
Direção: Bill Guttentag
Roteiro: Bill Guttentag, Jason Brown e Elaha Mahboob
Produção: Angel Studios, Slingshot Productions, Shape Pictures, Parallax Productions
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: Cinemark Pátio Savassi 
Duração: 2 horas
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gênero: drama

04 junho 2025

"Bailarina" - Um novo banho de sangue do universo John Wick

Ana de Armas é a nova assassina que busca vingança contra os matadores de sua família (Fotos: Divulgação)
 
 

Maristela Bretas

 
Violento, com muitas cenas de lutas e um banho de sangue, como era de se esperar, "Bailarina - Do Universo de John Wick" ("From The World of John Wick: Ballerina") estreia nesta quarta-feira (4) nos cinemas trazendo de volta o estilo que marcou a franquia protagonizada por Keanu Reeves.

Encerrada em 2023, a saga conta ainda com a série "The Continental", lançada no mesmo ano e que está disponível no Prime Video, assim como todos os quatro filmes da franquia: "De Volta ao Jogo" (2014), "Um Novo Dia Para Matar" (2017), "Parabellum" (2019) e "John Wick 4: Baba Yaga" (2023).

A nova produção é um spin-off que tem Ana de Armas no papel principal de Eve Macarro, a nova assassina de aluguel. Ela é criada desde criança para ser uma bailarina pelas tradições da organização Ruska Roma enquanto aprende a arte de matar. Viu o pai ser morto e agora busca vingança contra aqueles que destruíram sua família. 


"Bailarina" se passa entre os longas "Parabellum" e "Baba Yaga". E como não poderia deixar de ser, aproveitando o sucesso do personagem, Keanu Reeves está presente, mostrando que John Wick ainda é capaz de atrair público para a saga. 

Pronunciando a mesma meia dúzia de palavras de sempre e dando muita porrada, mas num papel secundário, deixa o brilho para Ana de Armas.

O elenco traz boas surpresas e a participação de atores que marcaram a franquia, como Ian McShane (Winston Scott) e Lance Reddick (o concierge Charon), que faleceu pouco depois. 

Além de nomes conhecidos como Angélica Huston (diretora da escola de mercenários Ruska Roma), Gabriel Byrne (Chanceler) e Norman Reedus (o matador Pine).


Além da violência e dos ótimos efeitos visuais, "Bailarina apresenta Ana de Armas muito bem no papel da implacável Eve, repetindo as façanhas de Wick, com muitos tiros, facadas, explosões, não deixando em nada a desejar aos filmes da franquia. 

Ela seguiu o exemplo de Reeve e fez um treinamento físico intenso de quatro meses para interpretar, sem dublê, muitas das cenas de luta. 

De Armas transmite a fúria e a determinação da personagem com uma intensidade impressionante. Visualmente, "Bailarina" eleva o patamar da franquia. 

As sequências de ação são coreografadas com uma precisão impressionante, misturando a brutalidade dos combates corpo a corpo com a elegância dos movimentos de sua personagem.


As locações são também destaque do filme. Filmado em Budapeste (Hungria), Praga (República Tcheca), Áustria e Croácia, a produção entrega belíssimas paisagens e cenas eletrizantes gravadas em pontos turísticos conhecidos do Leste Europeu que surpreendem. É o caso de Hallstatt, um vilarejo austríaco cercado pelas montanhas cobertas de neve. 

Mesmo sendo um bom filme, que pode ser considerado o quinto da franquia, "Bailarina" passou por momentos delicados ao ter seu lançamento adiado por um ano. 

A direção é de Len Wiseman, mas segundo rumores da imprensa estrangeira, Chad Stahelski, que dirigiu os quatro filmes da saga, teria feito várias mudanças na primeira versão do longa, regravando muitas cenas para deixá-lo como está.


E foi um trabalho muito bem feito. A produção entrega uma experiência alinhada com o tom e o estilo estabelecidos pela franquia, sem parecer uma mera imitação. "Bailarina" expande o universo de John Wick, apresentando uma nova protagonista carismática que pode abrir a oportunidade para outros spin-offs continuarem dando fôlego à franquia. 

Só não é certa a participação de Reeves, como aconteceu neste, uma vez que o ator anunciou sua aposentadoria com "Baba Yaga" (será?). Se depender do desempenho de Ana de Armas, ela pode até se tornar a nova Baba Yaga em novas produções. 

Para os fãs de ação estilizada e narrativas de vingança implacáveis, "Bailarina" é um espetáculo imperdível.


Ficha técnica:
Direção: Len Wiseman
Produção: Lionsgate, Lakeshore Recirds
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h29
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: ação, suspense

03 junho 2025

“A Lenda de Ochi” uma fábula de pertencimento de espécies distintas

Helena Zengel é uma jovem que enfrenta todos para ajudar uma criatura mística bebê a reencontrar sua
família (Fotos: A24)
 
 

Marcos Tadeu
Parceiro do blog Jornalista de Cinema


Dirigido e roteirizado por Isaiah Saxon, está em cartaz no cinema o filme "A Lenda de Ochi" ("The Legend of Ochi"), produzido pelo estúdio A24, que conta com um elenco formado por Helena Zengel, Willem Dafoe, Emily Watson e Finn Wolfhard.

Conhecemos Yuri (Helena Zengel), uma jovem que desafia os medos de sua vila ao ajudar o filhote de um Ochi, uma criatura mística que aterroriza a região. Ao atravessar a floresta, ela descobre um mundo mágico e aprende sobre coragem, empatia e conexão com a natureza.


O ponto mais forte do filme está na rivalidade entre humanos e os Ochi. Segundo a lenda, eles são criaturas demoníacas, caçadoras, piores que lobos. Tudo muda quando Yuri, a única menina da vila, encontra um Ochi bebê e assume o risco de cuidar dele e levá-lo para casa. 

É interessante como a protagonista e a criaturinha aprendem a se comunicar e desenvolvem uma linguagem própria. Ambos precisam dessa noção de pertencimento: mesmo morando com o pai, Yuri não se sente parte da família e sofre com a ausência da mãe, enquanto o pequeno Ochi sente falta da sua família como um todo.


O antagonismo surge em Maxim (Dafoe), o pai, que, vestido com roupas de soldados antigos — armadura, escudo e faca —, faz de tudo para manter vivo dentro de casa o ódio pela criatura. Ele escolhe sempre a intolerância e impõe sua autoridade quase como um militar. A violência e o silêncio são suas formas de controle, e fica evidente que Yuri é maltratada por ele.

Tecnicamente, o longa é um deleite visual. A fotografia de Evan Prosofsky valoriza as paisagens, as criaturas, o universo fantástico e um ar meio vintage que ajuda a contar a história. A trilha sonora de David Longstreth reforça o tom intimista e sombrio do lugar, mas com uma camada emocional afetiva. 


A montagem de Paul Rogers é lenta, gradual, sem pressa e eficaz em seu ritmo. Aos poucos, ele revela quem são os personagens e, principalmente, mostra suas transformações. A evolução deles acontece por meio das ações. 

Aqui, o diretor está mais interessado em fazer um cinema independente e experimental do que em aprofundar a história tradicional.

É impossível assistir ao filme sem lembrar de criaturas encantadoras que sempre aparecem para ensinar algo, como os Gremlins, os Goonies, Stitch e, especialmente, E.T. (há cenas que chegam quase a ser uma cópia do sucesso de Steven Spielberg). 

Há também um forte conflito geracional, e essas figuras mágicas ajudam os personagens humanos a enxergar novos caminhos.


Talvez o maior ponto fraco do filme seja a falta de aprofundamento no passado de Maxim. O que o transformou nesse homem autoritário? Como era sua vida familiar antes de se tornar essa figura armada e amargurada? São perguntas que ficam em aberto.

A "Lenda de Ochi" é uma fábula sobre ligação entre espécies distintas, contada de forma contundente, direta ao ponto. O filme diverte e faz pensar sobre quem escolhemos como família e qual lugar ocupamos no mundo.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Isaiah Saxon
Produção: Estúdio A24
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: Cinemark Diamond Mall
Duração: 1h36
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: aventura, fantasia

25 maio 2025

"Manas" – Um retrato doloroso e cruel de uma Ilha de Marajó exuberante

Destaque para a atuação de Jamilli Correa, como Marcielle, uma jovem sensível e corajosa, forçada a amadurecer antes da hora (Fotos: Divulgação)


Marcos Tadeu
Parceiro do blog Jornalista de Cinema


O longa-metragem de ficção de Marianna Brennand fez barulho nos festivais de Veneza e São Paulo e está em exibição no Cine Una Belas Artes, em BH. Com delicadeza e firmeza, o filme coloca o dedo na ferida da violência sexual presente na Ilha de Marajó, trazendo à tona um ciclo cruel que atravessa gerações de mulheres.

A protagonista Marcielle (Jamilli Correa), uma garota de 13 anos, vive numa realidade marcada pelo machismo e pela violência que fazem parte do cotidiano da periferia ribeirinha. 


Com a partida da irmã mais velha, Claudinha, Marcielle começa a perceber com mais nitidez os padrões de opressão que se repetem dentro de sua família. Cabe a ela agora, proteger a irmã mais nova e tentar romper com esse destino, tão comum quanto brutal.

Um dos grandes destaques do filme é a atuação de Jamilli Correa, que entrega uma personagem sensível e corajosa, forçada a amadurecer antes da hora. Marcielle, aos poucos, entende por que a irmã mais velha se afastou da família e passa a desconfiar da “troca” que os homens da comunidade parecem exigir constantemente das mulheres.


A direção de Marianna Brennand é cuidadosa e, ao mesmo tempo, incisiva. Ela denuncia as violências e o tráfico infantil nessas comunidades sem expor as meninas ou recorrer a cenas gráficas. 

Pelo contrário: é no silêncio, nos olhares, nos gestos e nos não ditos que o filme se torna mais poderoso. A brutalidade não precisa ser mostrada diretamente — ela é sentida.

Em uma das cenas mais simbólicas, o pai (interpretado por Rômulo Braga) convida a filha para caçar. A sequência, carregada de tensão, coloca a menina como presa e o pai como predador — uma metáfora que resume o desequilíbrio de poder e o perigo constante vivido por essas garotas. A atuação de Braga, aliás, é marcante por essa ambiguidade: um homem de aparência gentil, mas profundamente hostil.


O filme também explora com beleza as paisagens da Ilha de Marajó — rios, matas, o verde intenso do Pará e da Amazônia — criando um contraste entre o paraíso natural e a vida dolorosa das meninas que ali habitam. 

Dira Paes, como a policial Aretha, tem um papel que cresce com força do segundo para o terceiro ato, representando uma mulher que tenta proteger as demais ao denunciar os abusos e incentivar a quebra do ciclo. O elenco conta ainda com Fátima Macedo (como Danielle, mãe de Marcielle), atores e atrizes locais da região.


Até mesmo a religião, muitas vezes vista como acolhimento, é retratada de maneira crítica. Em "Manas", a igreja aparece como espaço que incentiva as mulheres a "lidarem com a dor em casa", perpetuando o silêncio e a submissão. 

A cena em que Marcielle e outras meninas dançam ao som de “Conquistando o Impossível” é simbólica: um pedido de socorro camuflado de fé e esperança.


Talvez o longa pudesse se aprofundar um pouco mais nos antecedentes do pai, explorando como a violência masculina se reproduz entre gerações e no próprio tecido social da comunidade. Ainda assim, isso não compromete a força da narrativa.

"Manas" é um filme necessário, feito com respeito, cuidado e precisão. Ele denuncia o que precisa ser dito, mas sem expor as feridas — nos mostrando que até o silêncio carrega gritos. Um longa que fala com mulheres que vivem essa realidade, e com todos nós que precisamos ouvi-las.


Ficha técnica:
Direção: Marianna Brennand
Produção: Inquietude, em coprodução com Globo Filmes, Canal Brasil, Prodígio e Fado Filmes (Portugal)
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: Cine Una Belas Artes - sala 2 - sessão 18 horas
Duração: 1h46
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gêneros: drama, ficção

23 maio 2025

Caótico como ela, o documentário "Ritas" decepciona e não sai do lugar comum

Produção traz a última e inédita entrevista da artista, e registros feitos pela própria (Fotos: Biônica Filmes)
 
 

Mirtes Helena Scalioni

 
O que faz a diferença num documentário? Primeiramente, as entrevistas e imagens inéditas, principalmente quando o filme for sobre alguém muito conhecido. Só que esse não é o caso de "Ritas", sobre a nossa rainha do rock, com direção de Oswaldo Santana.

O longa entrou em cartaz nos cinemas no dia 22, quando se celebra o "Dia de Rita Lee" na cidade de São Paulo e pode ser conferido em BH no Centro Cultural Unimed-BH Minas, Cine Una Belas Artes e Cinemark Pátio Savassi.


Estão lá a eterna irreverência e desobediência da ovelha negra, a entrada - e saída traumática - dos Mutantes, o casamento certinho com Roberto de Carvalho, tudo entremeado com velhos e manjados clipes. Novidade nenhuma.

Se fosse possível apontar uma característica de "Ritas", talvez essa seja o tom meio blasée com que tudo é mostrado e narrado. Nada de novidades ou de surpresas, já que a vida da cantora foi exaustivamente exposta e comentada assim e ela morreu, em 8 de maio de 2023.


Quem sabe o documentário surtisse outro efeito se tivessem esperado mais tempo para lançá-lo, permitindo que o público sentisse saudade da artista. O longa é inspirado na autobiografia publicada por Rita Lee em 2016 e é ela também quem narra a história. Por enquanto, tudo parece extremamente óbvio.

Outro problema do filme são as muitas idas e vindas. Os clipes, recortes e entrevistas não obedecem a uma ordem cronológica, misturando temas como bichos de estimação, apresentação com Gilberto Gil, shows polêmicos, recantos da casa onde ela morou, infância, censura, plantas, doença, misticismo. Tudo na mais absoluta desordem. Chega a cansar. 


E olha que Oswaldo Santana trabalhou na montagem de outros filmes, entre eles, "Tropicália" (2012), "Bruna Surfistinha" (2011), e  "Tremores Urbanos" (2019). E também atuou como roteirista do longa "Ouvidor" (2023). "Ritas" é sua primeira produção como diretor. 

Como há outro documentário sobre a estrela, "Rita Lee: Mania de Você" de Guido Goldemberg, em cartaz no canal Max, a comparação é inevitável. Não que seja uma obra-prima, mas o filme do streaming é mais surpreendente e organizado do que "Ritas". 

Ele revela mais a intimidade da cantora, com participação de familiares e amigos, dando voz a artistas importantes como Gilberto Gil e Ney Matogrosso contando histórias. Convém assistir. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Oswaldo Santana e Karen Harley
Produção: Biônica Filmes em coprodução com a 7800 Productions e Claro
Distribuição: Paris Filmes e codistribuição Biônica Filmes
Exibição: Cine Una Belas Artes - sala 2; Centro Cultural Unimed-BH Minas, sala 2; e Cinemark Pátio Savassi, sala 8
Duração: 1h22
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gênero: documentário

01 maio 2025

"Homem com H" faz brilhar na telona a inventividade e a coragem de Ney Matogrosso

Jesuíta Barbosa encarna os olhares e trejeitos do cantor de forma quase perfeita (Fotos: Marina Vancini) 
 
 

Eduardo Jr.

 
Estreia nos cinemas, neste dia 1º de maio, a cinebiografia do homem que ousou ser livre: Ney Matogrosso. Distribuído pela Paris Filmes, "Homem com H", longa escrito e dirigido por Esmir Filho, expõe na telona a vida e a formação de um dos maiores artistas do Brasil e dono de uma das mais belas vozes do mundo. 

A apresentação do artista com uma sequência de imagens que o compara a um bicho se mostra acertada. O próprio Ney se define assim, em alguns momentos. Quando menino, ao se ver diferente dos irmãos, buscava se encontrar. 


No entanto, o caminho foi difícil, o único apoio vinha da mãe Beita (interpretada por Hermila Guedes). O maior dos obstáculos era a figura do pai (vivido por Rômulo Braga), um militar conservador e violento, que não tolerava os dons artísticos do jovem e dizia que não queria um filho gay.    

Sob a condução de Esmir fica fácil uma identificação com histórias da vida real. O público pode encontrar, inclusive, elementos que expliquem a dureza do pai, a conduta de colegas de banda e ‘otras cositas más’. 


Em uma das cenas, Ney sai de casa de cabeça em pé, dizendo ao pai que não era viado, mas que, quando fosse, o Brasil inteiro iria saber. Começava ali a trajetória de descobertas e autoconhecimento de Ney Pereira da Silva, que mais tarde se tornaria Ney Matogrosso. 

A direção mostra a passagem do artista pela Aeronáutica (isso mesmo, Aeronáutica). E curiosamente, naquele ambiente castrador, Ney viveu um amor platônico. Foi na corporação que ele se reconheceu e vislumbrou uma autoaceitação. 


Ao sair dali foi que se deparou com o que o destino reservava: a morte do jovem para se tornar, então, o homem com H dos dias atuais, além do contato com o artesanato. 

A atividade permitiria posteriormente a ele criar alguns de seus próprios acessórios e figurinos - que inclusive foram utilizados por Jesuíta Barbosa (que encarna os olhares e trejeitos de Ney de forma quase perfeita). 


A interpretação elogiável de Jesuíta vai além do trabalho de corpo. Se deve também a uma impetuosidade que o ator imprime e que adere à personalidade do cantor, já conhecida por entrevistas e posicionamentos ao longo da vida. 

No entanto, o biografado não é força bruta o tempo todo. A sensibilidade se apresenta no longa, entre outras coisas, pela insegurança do cantor em certas escolhas, enquanto a classe artística via nele uma potência que o próprio Ney parecia não se dar conta.  


O público ganha uma forcinha para comprovar que certos artistas, quando em cena, crescem. A câmera faz questão de mostrar, nas primeiras apresentações da banda que se tornaria o fenômeno Secos e Molhados, que as provocações do público faziam Ney Matogrosso se agigantar no palco. 

Uma demonstração metafórica da força do artista que, desde cedo, sabia o que estava fazendo e o quão poderosa era sua liberdade. E claro, tem muito brilho, 'sex appeal' e atuações provocativas.  


A liberdade para o amor também marca presença no longa. A tão falada relação entre Ney e Cazuza (papel de Júllio Reis) também é apresentada, mas vestida de forma mais robusta de sentido se em comparação com as demais obras que já abordaram essa passagem da vida de Ney. 

Mais clara também é a abordagem de um dos relacionamentos mais importantes da vida de Ney. O namoro com o médico que traz para o longa um recorte do drama da AIDS nos anos 1980 e a incredulidade de Ney Matogrosso sobre nunca ter se contaminado (algo que o cantor já mencionou em diversos depoimentos). 


Não dá pra deixar de destacar a riqueza desta produção - em diversos aspectos. Alguns dos figurinos utilizados em cena não são réplicas, e sim peças originais, garimpados no acervo do cantor e que serviram com perfeição no corpo de Jesuíta Barbosa. 

Ney Matogrosso gravou canções para que Jesuíta dublasse. Como na cena do coral e a versão de “O Mundo é Um Moinho” - que provocam arrepios, tamanha a qualidade vocal registrada. 


Gostar ou não do artista pode ser algo muito particular - e como devem ter notado, este que vos fala, gosta. Mas independente disso, ir aos cinemas assistir "Homem com H" é, além de mais uma chance de privilegiar o cinema nacional, uma oportunidade de conhecer e entender um pouco mais sobre um personagem importante da história da música brasileira. 

Porque, pra fazer o que Ney Matogrosso fez e vem fazendo até aqui, com seus 82 anos, só sendo um homem com H maiúsculo. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro:
Esmir Filho
Produção: Paris Entretenimento
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h09
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gêneros: drama, documentário

23 abril 2025

"Looney Tunes - O Filme: O Dia que a Terra Explodiu" eleva o caos clássico a uma escala cósmica

Gaguinho e Patolino estão de volta, agora com novos amigos para tentarem salvar o planeta de um extraterrestre (Fotos: Warner Bros. Animation)
 
 

Maristela Bretas

 
"Looney Tunes - O Filme: O Dia que a Terra Explodiu" ("The Day the Earth Blew Up: A Looney Tunes Movie"), que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (24) traz de volta a inconfundível dupla Gaguinho e Patolino (ambos dublados por Eric Bauza) para uma aventura que expande a tradicional loucura dos desenhos animados para proporções galácticas. 

A animação nos leva desde a infância dos icônicos personagens em uma fazenda até a vida adulta, com o comportamento de Patolino sempre resultando num caos completo e a constante tentativa de Gaguinho de consertar as situações, reforçando a marca registrada da dupla. 


A introdução da super cientista Petúnia (dublada por Candi Milo), uma porquinha que vai fazer o coração do Gaguinho disparar e também adicionar uma nova dinâmica ao time, que se une para a nobre missão de salvar o planeta de um invasor alienígena (voz de Peter MacNicol).

O filme abraça sem pudor a essência dos Looney Tunes, entregando uma avalanche de gritaria, explosões e ferramentas ACME (marca registrada dos desenhos), perseguições frenéticas e aquele humor físico e sem noção que definiu gerações. Ao mesmo tempo, reforça a importância da amizade e da confiança.


Para os fãs de longa data, a familiaridade com esse formato é, sem dúvida, um dos grandes atrativos. A animação não tenta reinventar a roda, mas sim entregar uma dose concentrada daquela loucura adorável que consagrou Pernalonga e sua turma.

"Looney Tunes: de Volta à Ação" serve como um lembrete do histórico da franquia em transitar para a tela grande, misturando a animação característica com elementos do mundo real. 


Bons exemplos disso são dois sucessos no cinema em que a turma contracenou com personagens reais: "Space Jam: O Jogo do Século" (1996), com a presença do astro Michael Jordan, e "Space Jam: Um Novo Legado (2021), com a também estrela do basquete, LeBron James.

Embora o diretor Peter Browngardt tenha optado por uma abordagem puramente animada, a comparação mostra que os Looney Tunes ainda mantêm um público cativo. Ideal para quem busca uma experiência nostálgica e quer relembrar o humor despretensioso, barulhento e divertido dos famosos lunáticos.


"O Dia que a Terra Explodiu" não chega a proporcionar gargalhadas, tem uma história comum, não muito diferente de outras animações com estes personagens. 

Mostra que a fórmula de muita gritaria e explosões ainda funciona, com o foco principal no humor físico e nas situações absurdas, em detrimento de um enredo mais elaborado. 

"Looney Tunes - O Filme: O Dia que a Terra Explodiu" é uma celebração da anarquia clássica, em proporções cósmicas e politicamente incorreta que os fãs da franquia tanto apreciam. Um convite para desligar o cérebro e se divertir com as palhaçadas de Gaguinho, Patolino e seus novos amigos.


Ficha técnica:
Direção: Peter Browngardt
Produção: Warner Bros. Animation
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h31
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: aventura, animação, comédia, família