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04 setembro 2024

Pioneirismo, revelações e histórias de racismo fazem de “Othelo, o Grande” um documentário imprescindível

Longa dirigido por Lucas Rossi levou dez anos para ficar pronto e procura intercalar a vida pessoal e a
carreira do ator (Fotos: Davi G. Goulart)


Mirtes Helena Scalioni


Pode parecer, a princípio, que o grande mérito do documentário de Lucas Rossi seja mostrar às novas gerações o tamanho da importância do comediante Grande Otelo (1915-1993). Mas não é só isso. 

Quem teve oportunidade de acompanhar a carreira do ator, vai ficar sabendo um pouco mais sobre a vida desse homem múltiplo, nascido em Uberlândia, chamado Sebastião Bernardes de Souza Prata. “Othelo, O Grande” estreia nos cinemas em Belo Horizonte no dia 5 de setembro.


Narrado pelo próprio artista em primeira pessoa, o documentário que, segundo o diretor, levou dez anos para ficar pronto, procura intercalar fatos da vida pessoal atribulada de Sebastião com sucessos de sua carreira. Principalmente quando ele era contratado da Atlântida e lotava os cinemas do país com suas saborosas chanchadas. 

O lado ruim desse jeito de contar a história é que o espectador não fica conhecendo casos e características de Grande Otelo vividos e percebidos pelas pessoas que conviveram com ele.


Embora misture vida pessoal e trabalho, o filme peca também por não localizar a época dos fatos. Num momento o homem está chorando por causa de suas tragédias familiares e, no próximo minuto, o artista está em cena rindo e fazendo rir. Faltam referências, datas. 

O longa tem a participação especial da atriz Zezé Motta como narradora e traz imagens raras de arquivo, feitas em pesquisas na Cinemateca Brasileira.


Uma curiosidade revelada no filme, e que talvez a maioria do público não saiba, é o motivo pelo qual o pequeno Sebastião Prata passou a ser conhecido – até internacionalmente – como Grande Otelo. 

Homem de muitos talentos, ia fácil do drama à comédia, o artista foi também exímio compositor de sambas, alguns deles presentes no documentário, com destaque especial ao histórico e nostálgico “Praça Onze”, parceria com Herivelto Martins.


Produzido pela Franco Filmes, “Othelo, o Grande” tem parceiros poderosos na produção como Globo Filmes, RioFilme, Canal Brasil e Globonews. A princípio, isso facilitaria a divulgação e exibição do trabalho, que já foi vencedor do Prêmio Redentor de Melhor Documentário no Festival do Rio.

Careteiro e de humor mais escrachado, o comediante faz questão de salientar, em suas falas, as participações em filmes fora do circuito da chanchada. Trabalhou com diretores ditos sérios como Joaquim Pedro de Andrade, Werner Herzog, Nelson Pereira dos Santos e até o norte-americano Orson Welles. Afinal, foram mais de 100 filmes.


Neto de escravos e órfão, Sebastião comeu o pão que o diabo amassou, desde que se mudou para o Rio de Janeiro acompanhando uma companhia teatral que passou por Uberlândia. 

Não por acaso, o documentário é todo permeado por questões raciais, evidenciando as humilhações que o ator viveu até ser o primeiro protagonista negro do cinema brasileiro. Em muitos deles, quando chegava para trabalhar, Grande Otelo tinha que entrar pela porta dos fundos por causa de sua cor.


Ficha técnica:
Direção: Lucas H. Rossi
Produção: Franco Filmes, em coprodução com Globo Filmes, GloboNews, Canal Brasil e RioFilme
Distribuição: Livres Filmes
Exibição: Centro Cultural Unimed BH - Minas
Duração: 1h22
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gênero: documentário

06 junho 2024

"Grande Sertão" não perde em nada para produções hollywoodianas

Luísa Arraes e Caio Blat interpretam Diadorim e Riobaldo, os protagonistas na adaptação da obra literária de Guimarães Rosa (Foto: Helena Barreto)


Larissa Figueiredo 


Com ares de distopia cyberpunk, o filme "Grande Sertão", de Guel Arraes, estreia nos cinemas nesta quinta-feira (6). Adaptação do romance homônimo de Guimarães Rosa, "Grande Sertão: Veredas”, a produção é protagonizada por Luísa Arraes, como Diadorim, e Caio Blat, na pele de Riobaldo. 

O tempo da narrativa oscila entre o passado e o presente de Riobaldo. O roteiro e a montagem preservam as divagações do protagonista sobre o certo e o errado, Deus e o diabo, amor e ódio, e todas as dicotomias que moldam o desenrolar da história. 

Foto: Ricardo Brajterman/Divulgação

É nessas cenas que Blat “encarna” o jagunço, ora louco, ora lúcido, e mostra um total domínio do texto dinâmico, melódico e lírico, assim como na obra literária. 

Já Luisa Arraes, em sua primeira vez sendo dirigida pelo pai, não soou natural como Blat ao adentrar o universo da obra. A complexa personagem Diadorim é a força motriz do enredo e demanda uma profundidade que Arraes não correspondeu, entregando uma performance carregada de artificialidade. 

Intencionalmente ou não, a atriz também atribuiu à personagem trejeitos cômicos e exagerados que decepcionam o público que conheceu Diadorim no romance literário de Guimarães Rosa. 

Foto: Paris Filmes/Divulgação

A interpretação de Eduardo Sterblitch é uma das grandes surpresas do longa de Arraes. O ator e humorista encarou o desafio de trazer Hermógenes às telas. O personagem impiedoso e sinistro que tem pacto com o diabo ganhou um carisma assustadoramente único. Em "Grande Sertão", ele mostra sua genialidade e prova ao grande público sua versatilidade. 

A história se passa numa grande comunidade da periferia brasileira chamada “Grande Sertão”. A luta entre policiais e bandidos assume ares de guerra e traz à tona questões como lealdade, vida e morte, amor e coragem, Deus e o diabo. 

Riobaldo entra para o crime por amor a Diadorim, mas não tem coragem de revelar sua paixão. A identidade de Diadorim é um mistério constante para Riobaldo, que lida com escolhas morais e dilemas éticos, enquanto busca entender seu lugar no mundo e sua própria natureza. 

Foto: Helena Barreto/Divulgação

De forma geral, além do texto lírico, a obra remonta às origens do cinema e traz forte contribuição do teatro. Todos os personagens são hiperbólicos em seus movimentos, falas e expressões. 

O cenário de "Grande Sertão", que na adaptação é uma favela, não perde em nada para produções hollywoodianas, assim como a fotografia e a montagem, altamente coerentes esteticamente com a proposta da adaptação. 

Foto: Helena Barreto/Divulgação

As cenas de ação são extensas na medida certa entre o extraordinário e cansativo, mas bem coreografadas. Elas abordam com profundidade a estrutura das milícias nas comunidades e a retroalimentação do ciclo da violência na “luta” entre bandidos e policiais. 

"Grande Sertão" veio em boa hora. A adaptação é fiel ao livro e renova as discussões elaboradas por Guimarães Rosa em 1956. Por fim, é inegável dizer que o filme pode cativar tanto o público que leu o romance, quanto o que não conhece a obra. 


Ficha técnica:
Direção: Guel Arraes
Roteiro: Guel Arraes e Jorge Furtado
Produção: Paranoid Filmes, coprodução Globo Filmes
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h48
Classificação: 18 anos
País: Brasil
Gêneros: ação, drama
Nota: 4 (0 a 5)

06 março 2024

Comédia “Os Farofeiros 2” aposta na popularidade do primeiro filme

A viagem do grupo de amigos de empresa para um resort na Bahia tem tudo para dar errado
novamente (Fotos: Camisa Listrada)



Eduardo Jr.


Após uma viagem recheada de problemas, Lima, Alexandre, Rocha e Diguinho estão de volta. Em “Os Farofeiros 2”, o diretor Roberto Santucci agora coloca os quatro colegas de trabalho e suas famílias em uma viagem à Bahia. Distribuído pela Downtown Filmes, o longa chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (7), trazendo piadas que fazem o público se identificar. 

A equipe do Cinema no Escurinho acompanhou a pré-estreia em uma das salas da rede Cineart, e observou uma plateia reagindo bem ao roteiro de Paulo Cursino - que também escreveu para o primeiro filme da franquia. 

Desta vez, a trama tem como ponto de partida a tentativa de Alexandre (Antônio Fragoso) de resgatar a popularidade junto à sua equipe de trabalho, e assim conseguir um cargo mais alto na empresa. 


Ao ganhar uma viagem, o gerente é convencido pela chefe a dividir o prêmio com os colegas, como forma de reconquistá-los. E claro, a temporada em um resort de luxo se transforma em uma farofada (daquelas com situações com as quais muita gente vai se identificar). 

Mas a comédia demora um pouquinho pra conquistar as primeiras risadas, porque começa com os filhos dos protagonistas na escola, convocados pela diretora para explicar porque apresentaram redações idênticas sobre suas férias. Serão eles os narradores dos eventos na Bahia. 

Do conhecido elenco, Lima (Maurício Mafrini), Jussara (Cacau Protásio) e Rocha (Charles Paraventi) conduzem muito bem a comédia. Danielle Winits segue como a madame histriônica, usando caras e bocas (até demais, diga-se de passagem). 

Em contrapartida, o Alexandre vivido por Fragoso não arranca risos. Seu resgate de popularidade fica em segundo plano. 


O mesmo acontece com as personagens Vanete (Elisa Pinheiro), Ellen (Aline Campos) e Diguinho (Nilton Bicudo). Este último está altamente paranoico com a pandemia - deixando margem para questionamentos sobre fazer piada com o Covid-19. 

Outro ponto de gosto duvidoso é a construção de piadas sobre a personagem Darcy (Sulivã Bispo). A despachada gerente do resort é uma mulher trans, e a direção optou por tentar fazer graça com a dificuldade das famílias em saber qual pronome usar para se referir a ela, e sobre o incômodo das esposas em dividir espaço na sauna com a funcionária. 


Apesar desses pontos que podem soar como “contras” da produção, as piadas “de tiozão”, a entrada de figuras como o ótimo personagem Edvan e o uso de paródias de outros filmes colocam “Os Farofeiros 2” com grandes chances de repetir o sucesso de bilheteria do primeiro longa e de cair nas graças do público. 

Curiosidades

- "Os Farofeiros", de 2018, esteve no topo das bilheterias, atraindo mais de um milhão de espectadores. 

_ O primeiro filme estreou há exatos seis anos e repete agora o mesmo elenco. 

- O diretor Roberto Santucci também assina este longa, além de outros sucessos da comédia nacional como “De Pernas para o Ar” (2010), "O Porteiro" (2023) e a trilogia “Até Que a Sorte nos Separe” (2012 a 2015).


Ficha técnica:
Direção: Roberto Santucci
Produção: Camisa Listrada, com coprodução Globo Filmes, Globoplay, Telecine e Panorama Filmes
Distribuição: Downtown Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h44
Classificação: Livre
País: Brasil
Gêneros: Comédia, família

01 janeiro 2024

Tatá Werneck e Ingrid Guimarães têm a química perfeita do humor em "Minha Irmã e Eu"

Longa dirigido por Susana Garcia é muito divertido, tem emoção e ainda atores e cantores tarimbados do passado e do presente
(Fotos: Paris Filmes)


Maristela Bretas


Garantia de boas gargalhadas e também momentos de emoção. Ingrid Guimarães e Tatá Werneck têm a química perfeita para divertir o público na comédia "Minha Irmã e Eu", em cartaz nos cinemas. São quase duas horas de trapalhadas, diálogos escrachados, com duplo e até triplo sentido e situações tão ridículas que fica impossível não rir (e muito).

A diretora Susana Garcia ("Minha Mãe é Uma Peça 3" - 2019, "Minha Vida em Marte" - 2018) acertou novamente na escolha do elenco e do roteiro, entregando um longa que deixa a gente leve quando sai do cinema, especialmente pela interpretação das duas comediantes protagonistas. 


Tatá interpreta Mirelly, a irmã caçula, que mora no Rio de Janeiro, se passa por descolada, amiga de famosos, vivendo de luxo e glamour. Puro "fake". 

Mentirosa compulsiva, mora num "apertamento", vive de bicos pra se sustentar e faz postagens arranjadas para se dar bem nas redes sociais. Ela é a mais doida das duas, mas também a que entrega as cenas e diálogos mais divertidos do filme.

Ingrid é Mirian, a mais velha, que nunca saiu de Rio Verde no interior de Goiás, vive para o lar, é casada com Jayme (Márcio Vito), tem dois filhos - Jayme Jr. e Marcelly - e cuida da mãe Dona Márcia, a tarimbada Arlete Salles. 


Mirian representa bem a esposa certinha, mas insatisfeita, que gostaria de ter a vida da irmã, apesar de estar sempre às turras com ela. E para desilusão de Dona Márcia, as filhas nunca realizaram seu sonho de formarem uma dupla sertaneja.

As duas quase não se encontram, até que uma discussão no lugar errado e na hora errada entre as irmãs leva Dona Márcia a desaparecer. Começa aí o Road movie de Miriam e Mirelly.


Em busca da mãe perdida, a dupla vai percorrer as estradas de Goiás de carro, a pé, de bicicleta, em caminhão pau-de-arara, o transporte que aparecer na hora. E por onde passam, vão deixando um rastro de boas risadas.

Bastariam as duas atrizes para o filme ter tudo para ser bom, mas o elenco ainda ganha peso com a participação de Lázaro Ramos e Taís Araújo, no papel deles mesmos, o grande Antônio Pedro, que infelizmente morreu em março deste ano, além de Leandro Lima, que faz o papel do cowboy sarado, e o colunista Hugo Gloss. 


Na parte musical, como participações especiais, estão a cantora Iza e a dupla Chitãozinho e Xororó, que tem uma história passada com Dona Márcia.

Durante sua jornada, a partir do Rio de Janeiro, de onde Mirelly agora precisa fugir por uns tempos, as duas irmãs vão conhecendo e encontrando personagens, retomando a amizade de infância e descobrindo uma nova realidade.


Além das belas locações da região Centro-Oeste do pais, "Minha Irmã e Eu" foi muito bem dirigido por Susana Garcia a partir de um roteiro leve e cativante. Como se os roteiristas estivessem contando suas próprias experiências familiares. 

Ele é isso, um filme produzido para divertir toda a família, falando sobre a relação entre mães e filhos e, especialmente, entre irmãs, com direito a brigas, picuinhas e acertos. Mas não mexa com uma delas, porque com certeza vai arranjar problema com a família toda. Não perca nos cinemas, vale muito a pena.


Ficha técnica:
Direção: Susana Garcia
Ideia original: Ingrid Guimarães e Tatá Werneck
Roteiro: Célio Porto, Ingrid Guimarães, Veronica Debom, Leandro Muniz
Produção: Paris Entretenimento, com coprodução da Paramount Pictures, Telecine, Simba e Globo Filmes
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h52
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gênero: comédia nacional
Nota: 4 (0 a 5)

28 novembro 2023

"Ó Paí, Ó 2" utiliza uma trama simples para reforçar a importância da representatividade negra na tela

Lázaro Ramos protagoniza novamente o personagem Roque, que se une à comunidade para ajudar uma
amiga e preservar a tradição do Pelourinho (Fotos: Divulgação) 


Marcos Tadeu
Narrativa Cinematográfica


Mais de 15 anos após o primeiro filme retornamos ao cortiço de Dona Joana com Roque contextualizando o que mudou ou não nesse período e buscando seu espaço como artista negro. Este é o enredo de "Ó Paí, Ó 2", que está em cartaz nos cinemas. 

O protagonista, novamente interpretado por Lázaro Ramos, persiste em viver de sua música. No longa fica evidente como a cultura branca é mais facilmente aceita e como é mais simples excluir um negro do mercado musical do que inseri-lo.


O cerne deste segundo longa parte de uma premissa simples: todos na comunidade se unem para salvar o bar de Neuzão (Tânia Toko), que foi vendido a outro dono, deixando-a sem teto e sem meios de subsistência. 

Encontramos Dona Joana (Luciana Souza), uma mulher solitária e complexa, ainda lidando com o luto pela morte de seus filhos. Essa ausência a assombra e confronta, levando-a a adotar três crianças de rua. 


A obra aborda a questão do despejo de forma séria, unindo antigos personagens, como Maria (Valdinéia Soriano) e Reginaldo (Érico Brás), Yolanda (Lyu Árisson), mãe Raimunda (Cássia Valle) e Matias (Jorge Washington) aos novos moradores. Eles planejam uma festa para Iemanjá como estratégia para arrecadar fundos e salvar o bar. 

A nova geração demonstra resiliência ao criar o metaverso, utilizando o conceito da internet como um espaço para compartilhar suas experiências sobre os dilemas relacionados à cor da pele, desafiando normas e enfatizando a importância da resistência para superar padrões preestabelecidos. 


É interessante ver como "Ó Paí, Ó 2" se preocupa em mostrar o verdadeiro lugar do negro e onde ele deve se posicionar na sociedade. Talvez a falha esteja em não inserir figuras baianas icônicas no Pelourinho, o que poderia ser uma oportunidade para mostrar como os jovens se relacionam com essa tradição.

Viviane Ferreira, responsável pela direção, reforça a ideia de que os direitos dos negros não devem ser ignorados nem excluídos pela sociedade. O roteiro não apenas discute questões raciais, mas também de gênero e sexualidade, evidenciando a luta contínua da mulher negra e do transexual, visível na tela.


Quanto à parte musical, a produção é só elogios. Lázaro Ramos está maravilhoso em sua performance e voz, unindo não apenas os personagens na tela, mas também atraindo o público espectador. Nomes como Margareth Menezes (que interpreta ela mesma), Baiana System, João Gomes e Olodum contribuem para uma trilha sonora sinérgica e alegre.

"Ó Paí, Ó 2" é leve e divertido, mas também uma peça importante para a cultura negra. Mostra como cada história é relevante, especialmente em um país racista onde, por vezes, o óbvio precisa ser reiterado e exposto.


Ficha técnica:
Direção: Viviane Ferreira
Produção: Dueto Produções, Casé Filmes, coprodução Globo Filmes e Canal Brasil
Distribuição: H2O Films
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h30
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gênero: comédia

15 agosto 2023

"Tempos de Barbárie - Ato I" é repleto de falhas e irresponsável no conteúdo

Cláudia Abreu é destaque no filme, entregando interpretação primorosa
(Foto: Raquel Tanugi e Mariana Vianna/Atômica)


Larissa Figueiredo 


O longa nacional "Tempos de Barbárie - Ato I: Terapia da Vingança" estreia nesta quinta-feira (17), trazendo a trajetória de uma mãe, a advogada Carla (Cláudia Abreu), que vê a filha ser baleada durante uma tentativa de assalto. 

Carla, sem conseguir aceitar o destino da filha e a falta de soluções por parte da polícia, transforma a busca por justiça em uma vingança contra todo o sistema que alimenta a violência no Brasil. 


O que era para ser uma crítica de apelo moral sobre justiça com as próprias mãos, se tornou um conteúdo sem sentido e irresponsável. O roteiro do filme é repleto de falhas e não é nem de longe uma boa ideia.

A protagonista com a saúde debilitada se transforma em uma espécie de Exterminador do Futuro e de algum modo, consegue executar seus planos sem muita dificuldade. 


Os outros personagens, como o marido de Carla (César Mello), mal aparecem no longa, não há nenhuma complexidade, desenvolvimento e trama secundária, o que torna o filme repetitivo e pesado para quem está do outro lado da tela. 

Alexandre Borges também está no elenco interpretando Miranda, colega de trabalho de Carla que a incentiva a fazer sua própria justiça. Além de Julia Lemmertz, Kikito Junqueira, Pierre Santos, Adriano Garib, Claudia Di Moura, Roberto Frota e Giovanna Lima. 


Outro ponto que chama atenção é a forma que o longa alimenta todos os lugares comuns e estereótipos do contexto da violência nas grandes periferias brasileiras. 

O filme poderia ter explorado com maior complexidade o modus operandi das milícias e organizações criminosas de contrabando de armas de fogo, por exemplo, como vemos no clássico "Tropa de Elite" (2007). Mas a direção parece ter escolhido a mediocridade e um simplismo desleixado. 


A atuação de Claudia Abreu é um dos únicos pontos positivos de "Tempos de Barbárie - Ato I: Terapia da Vingança". Mesmo com as inúmeras falhas no roteiro, a atriz cumpriu seu papel com primor. 

Os planos curtos intercalados e os filtros frios na imagem trazem certo desespero ao espectador misturado com apatia, expressando os sentimentos de Carla na busca por vingança. Destaque também para a montagem do longa, fotografia e direção de arte. 


Ficha técnica:
Direção: Marcos Bernstein
Roteiro: Marcos Bernstein e Victor Atherino
Produção: Hungry Man, Pássaro Films e Neanderthal MB, com a coprodução da Globo Filmes
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h55
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gêneros: drama, suspense
Nota: 2 (0 a 5)

28 agosto 2022

UNA Cine Belas Artes completa 30 anos como referência em filmes de arte

Espaço é um reduto de produções independentes de diferentes países e de pré-estreias de títulos nacionais (Fotos: Divulgação)


Da Redação


O cinema de rua resiste em Belo Horizonte. Prova disso é que o UNA Cine Belas Artes completa 30 anos na terça-feira (30 de agosto) e continua sendo um importante espaço cultural multiuso que remodelou a experiência cinematográfica do público da capital mineira.

Desde a sua inauguração, o local se transformou em um reduto de filmes independentes, de arte, de diferentes países, além de pré-estreias de títulos nacionais. Grande parte dos filmes exibidos ali, apesar de sua imensa relevância cultural, não encontra outro espaço em Belo Horizonte.


O complexo, que abriga três salas de exibição, café e livraria, retomou suas atividades em agosto de 2021 após passar por atualização técnica, reparos e reformas que facilitam a higienização do local, além de adequação do espaço aos protocolos de segurança das autoridades sanitárias. 

Essas melhorias só foram possíveis com a forte adesão da população à campanha de crowdfunding SOS Belas BH, realizada de setembro a novembro de 2020, que contou com o financiamento coletivo de 2.547 benfeitores, além da parceria com a Una Liberdade, instituição que integra o Ecossistema Ânima, localizada em frente ao cinema.


Vale destacar que o Belas Artes e a Una Liberdade são vizinhos próximos, ambos no bairro de Lourdes, região Centro-Sul da capital. É precisamente nessa unidade que a Una oferece o seu tradicional curso de cinema. A parceria é, portanto, precedida por uma tradicional afinidade cultural e geográfica. 

A aproximação com o Centro Universitário se dá de forma natural e muito feliz, já que a Una se propõe a fazer parte da vida da comunidade, ter as suas unidades abertas e integradas aos aparelhos culturais do Circuito Liberdade.

30 anos de arte e cultura

O UNA Cine Belas Artes privilegia o cinema brasileiro e o cinema independente, por isso é o único espaço de Belo Horizonte com uma programação diferenciada que dá valor à diversidade. São três salas oferecendo 336 lugares num total. 

"Marte Um", longa do mineiro Gabriel Martins

Na programação, "Marte Um", longa do mineiro Gabriel Martins, que foi premiado com quatro Kikitos no festival de cinema de Gramado como Melhor Filme pelo Júri Popular, Melhor Roteiro, Melhor Trilha Musical e Prêmio Especial do Júri.

Dia 30 de agosto tem a pré-estreia, às 20h30, de “Maria, Ninguém Sabe Quem Sou Eu”, um documentário sobre Maria Bethânia. O filme tem imagens raras de ensaios e shows da cantora ao longo de seus 57 anos de carreira, além de um depoimento inédito de Bethânia, com roteiro e direção de Carlos Jardim. No site www.belasartescine.com.br é possível acompanhar a programação completa e adquirir ingressos.


Serviços:
UNA Cine Belas Artes
Endereço: Rua Gonçalves Dias, 1581 – Bairro Lourdes
Telefone: (31) 3324-7232
Informações e programação: www.belasartescine.com.br

01 outubro 2021

Beleza, cores, intimidade e leveza fazem de “O Jardim Secreto de Mariana” um filme poético e reflexivo

Andreia Horta e Gustavo Vaz são os protagonistas do longa-metragem filmado em Brumadinho e no Museu de Inhotim (Fotos: Mariana Vianna/Palavra Assessoria)


Mirtes Helena Scalioni


Depois de “O Homem da Capa Preta” (1986), “Guerra de Canudos” (1997), "Zuzu Angel" (2006), "Em Nome da Lei" (2015) e “O Paciente O Caso Tancredo Neves” (2017) - só para citar alguns sucessos -, fica difícil reconhecer Sergio Rezende como diretor de “O Jardim Secreto de Mariana”, um filme sutil, intimista e – por que não? – romântico. 


As idas e vindas de um casal em busca de reconciliação, acerto de contas e consolidação de um amor que teima em não acabar, fazem da produção um momento de leveza e reflexão, embora haja, desde o início, uma violência suspensa no ar.

A partir do momento em que João (Gustavo Vaz) pega sua bicicleta e decide pedalar uma longa distância para procurar Mariana (Andréia Horta) com o objetivo de reconquistá-la, o espectador começa a entender, aos poucos, que eles formavam um casal perfeito até cinco anos antes, quando romperam abruptamente após ressentimentos e a impossibilidade de terem um filho.


Antes da separação, viviam numa espécie de paraíso próximo a Brumadinho, em Minas, entre verduras orgânicas e flores que eles próprios cultivavam quando não estavam se amando por todos os recantos da casa, perdidamente apaixonados.

A história de amor entre a botânica Mariana e o economista João vai sendo lentamente revelada ao público em flashbacks, como convém aos filmes modernos. Por algum mérito da equipe, as idas e vindas na trama não são tão vertiginosas como às vezes acontece, dando algum fôlego para que o espectador curta – de certa forma – as lindas cenas de flores coloridas, os trechos de aulas sobre a sexualidade e reprodução das plantas e as muitas DRs do casal. 


Alguns mistérios só são desvendados quase no final do filme. Embora possa ser considerado um romance, “O Jardim Secreto de Mariana” não tem nada de água com açúcar. As atuações corretas e precisas de Andréia Horta e Gustavo Vaz dão o tom do naturalismo que permeia todo o filme.

Participações luxuosas dos experientes Denise Wenberg como Linda, mãe da protagonista, e de Paulo Gorgulho como Zé Cristiano, pai de João, colaboram para que a dramaticidade seja mantida em alto nível. Merecem destaque o papel e a interpretação de Gorgulho, veterano ator que valoriza, na trama, a mineiridade dos lugares onde tudo acontece.


Como não poderia deixar de ser em se tratando de botânica e flores, a fotografia é quase um personagem do filme. As cenas filmadas no Museu de Inhotim, em Brumadinho (MG) e em Nova Friburgo (RJ) chamam atenção pela profusão de cores e o requinte dos detalhes.

Diferentemente das plantas, os humanos continuam se perguntando por que os relacionamentos acabam, quem é o culpado pelo fim, se feridas podem ser cicatrizadas e se o perdão é possível para a reconstrução de um amor. As questões, claro, permanecem abertas, já que, segundo insinua o diretor, todos temos, dentro de nós, um certo jardim - secreto e imprevisível – sobre o qual não temos qualquer comando.


Ficha técnica:
Direção: Sérgio Rezende
Produção: Morena Filmes / Arpoador Audiovisual / Globo Filmes
Distribuição: H20 Films
Exibição: Una Cine Belas Artes - Sala 2 - sessão 18h30
Duração: 1h25
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gêneros: Drama / Romance

24 setembro 2021

"O Silêncio da Chuva" chega às telas atualizado, sem perder a atmosfera de um policial clássico

Lázaro Ramos protagoniza o detetive Espinosa, personagem do livro de Luiz Alfredo Garcia-Roza e adaptado para o cinema (Fotos: Mariana Vianna)


Carolina Cassese


Estamos habituados a ver um Rio de Janeiro diurno e repleto de cores. No entanto, logo na primeira cena de "O Silêncio da Chuva" (2020), longa assinado por Daniel Filho, nos damos conta de que aquele cenário está muito mais sombrio do que de costume. O filme é uma das estreias da semana e está em exibição no Cineart Cidade.

Além da atmosfera misteriosa, apresentada para nós em tons de sépia, temos todos os elementos de um clássico policial: um provável assassinato, uma investigação, vários suspeitos que escondem muitos segredos, femmes fatales e uma dupla de detetives bastante entrosada. O filme protagonizado por Lázaro Ramos é uma adaptação do consagrado livro homônimo de 1996 escrito por Luiz Alfredo Garcia-Roza, que recebeu os prêmios Nestlé e Jabuti e foi publicado em nove países.


Além de Lázaro, que interpreta o conhecido detetive Espinosa, o elenco conta com nomes como Cláudia Abreu (que interpreta Bia, a viúva), Thalita Carauta (Daia, que compõe a dupla de detetives com Espinosa), Mayana Neiva (Rose, que era amante da vítima), Guilherme Fontes (Ricardo, o executivo morto), entre outros.

Podemos perceber que houve uma atualização do texto, escrito há 22 anos. A personagem de Daia é uma das que melhor exemplifica essa renovação, já que é uma mulher que integra a polícia. E ainda, não se sente impelida a esconder seus desejos. O próprio fato de o personagem principal ser negro já representa uma mudança significativa em relação ao livro original.


Para os que estão acostumados a ver filmes policiais, talvez "O Silêncio da Chuva" não pareça exatamente inovador. Um de seus diferenciais, no entanto, reside justamente no fato de que a produção não é hollywoodiana e apresenta elementos bastante brasileiros. Em entrevista ao site C7nema, Lázaro Ramos definiu o longa como um noir. 

“O Brasil, infelizmente, insiste em vender seu cinema para o público sem comunicar as especificidades de cada gênero. É como se ‘cinema brasileiro’ fosse um gênero em si, e não é. Este nosso filme tem uma cara e uma comunicação de gênero, e sem perder o jeito brasileiro de ser”, declarou o ator.


Sabemos que, no Brasil, o termo “policial” muitas vezes ganha conotações violentas: programas policialescos são aqueles que falam de crimes bárbaros, reportagens “policiais” muitas vezes são sensacionalistas… O longa de Daniel Filho, no entanto, não sucumbe à lógica "pinga-sangue". Por mais que algumas cenas sejam mais explícitas, a produção está longe de ser apelativa e tem muito mais o que oferecer.

Do começo ao fim, "O Silêncio da Chuva" é bastante eficiente em prender a nossa atenção. Repleto de boas atuações, o longa diverte na medida certa e, apesar de fazer uso de alguns arquétipos, não incorre demasiadamente em estereótipos. Que, daqui pra frente, o cinema brasileiro aposte em mais filmes ditos “de gênero” - temos sim muitos profissionais qualificados para contar novas histórias.


Ficha técnica:
Direção: Daniel Filho
Roteiro: Lusa Silvestre
Produção: Globo Filmes / Lereby
Distribuição: ELO Company
Exibição: Cineart Cidade - sala 1 - sessões às 16h40 e 20h40 // Una Cine Belas - sala 3 - sessão 20h10
Duração: 1h36
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gêneros: Drama / Policial

03 setembro 2021

Com Nathalia Dill e Marcos Veras, “Um Casal Inseparável” é uma comédia romântica boa de assistir

Produção nacional dirigida por Sérgio Goldenberg estreia exclusivamente nos cinemas (Fotos: Rachel Tanugi e Reprodução)


Jean Piter Miranda


Manuela (Nathalia Dill) é jogadora e professora de vôlei de praia. Léo (Marcos Veras) é um médico pediatra bem sucedido. Ela é independente e tem personalidade forte. Ele é do tipo certinho, boa praça. Apesar das diferenças, eles se apaixonam e começam um relacionamento. Mas um mal entendido pode colocar tudo a perder. Essa é a história de “Um Casal Inseparável”, nova comédia romântica nacional que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 09 de setembro.


A história dos dois começa por acaso. Ele parece se apaixonar à primeira vista e faz de tudo para se aproximar. Ela não está em busca de um relacionamento e nem tem isso como prioridade. Mas dá uma chance para o cara. Manu, por sinal, é bem focada no trabalho, determinada e não abre mão das suas convicções. Léo faz o tipo mocinho, um tanto romântico e engraçado. E mesmo com essas diferenças, elas acabam formando um belo casal.

O casal tem química, funciona bem junto. O resto é tudo clichê. Não que isso seja ruim. Apenas típico de comédias românticas. Os pais da menina são engraçados e fazem de tudo para ajudar o casal. Claro, ela tem sua melhor amiga e ele tem seu melhor amigo. E estão quase sempre juntos. Tem ainda os coadjuvantes que sempre aparecem para dar bons conselhos, pra render bons diálogos, participações importantes.


O filme é bem leve. Dá pra gostar do casal e torcer por eles logo de cara. As partes de humor são bem dosadas e não deixam a história cair no besteirol. É previsível que haverá uma separação e está aí o ponto fraco. A confusão que põe fim ao relacionamento de Léo e Manu é um tanto forçada. Os mais exigentes vão apontar isso como furo de roteiro. Mas é perfeitamente aceitável para quem vê o filme como entretenimento.


As atuações são muito boas. Nathalia Dill e Marcos Veras mandam muito bem, inclusive nos momentos de emoção. Sim dá pra se emocionar e também pra rir de várias situações. É uma comédia romântica boa de se ver, muito bem produzida e que acerta inclusive na trilha sonora. O elenco tem ainda Danni Suzuki, Stepan Nercessian e Totia Meirelles (os pais de Manu), Claudio Amado, Ester Dias, Carlos Bonow, Junno de Andrade e Cridemar Aquino.


O diretor de “Um Casal Inseparável” é Sérgio Goldenberg, que também assina o roteiro em parceria com George Moura. Os dois fizeram juntos as séries de TV “O Canto da Sereia” (2013), “Amores Roubados” (2014) e “Onde Nascem os Fortes” (2018), além da minissérie “Onde Está Meu Coração” (2021). A produção é da TvZERO com Trópico Arte & Comunicação, Globo Filmes e Telecine e distribuição da H2O Films.


Ficha técnica:
Direção: Sérgio Goldenberg
Roteiro: Sérgio Goldenberg e George Moura
Produção: TVZero
Distribuição: H2O Films
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h38
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gêneros: comédia // romance
Nota: 4 (de 0 a 5)