26 novembro 2020

Filme comovente que dá voz aos invisíveis, “Rosa e Momo” traz Sophia Loren no papel principal

 

Produção italiana traz a veterana atriz de 86 anos depois de uma década afastada das telas (Fotos: Regine de Lazzaris Aka Greta/ Netflix)



Mirtes Helena Scallioni


Algumas verdades sobre cinema parecem consolidadas há muito tempo. Raramente, são desmentidas ideias como: histórias que falam do relacionamento entre velhos e crianças são sucesso garantido. Ou: filmes que se referem ao holocausto dos judeus despertam interesse e paixões. Ou ainda: o tema dos imigrantes e suas dores costuma tocar muita gente ao redor do mundo.
 

 
Talvez resida aí o motivo do sucesso de “Rosa e Momo” ("La vita davanti a sé"), um dos mais vistos e elogiados filmes da #Netflix nos últimos tempos. Ele contempla esses três argumentos citados e ainda exagera: traz no elenco, como protagonista, a veterana Sophia Loren, que depois de dez anos afastada das telas, reaparece com sua beleza madura e muita dignidade aos 86 anos. E o que é melhor: dirigida pelo filho caçula Edoardo Ponti.
 


Remake de “Madame Rosa – A Vida à Sua Frente”, que ganhou Oscar de Filme de Língua Estrangeira em 1977, “Rosa e Momo” é uma adaptação de “The Life Before Us” (algo como “A Vida Antes de Nós”), livro de Romain Gary. No caso da versão em cartaz na Netflix, sai subúrbio de Paris, entra periferia de Bari, cidade litorânea ao sul da Itália.

A história, por si só, promete: Rosa (Sophia Loren), ex-prostituta e sobrevivente traumatizada dos campos de concentração, ganha a vida cuidando dos filhos de suas colegas mais jovens que fazem a vida na zona boêmia de Bari. Um dia, seu amigo médico, Dr. Cohen, coloca aos seus cuidados, mesmo que contra a sua vontade, o rebelde Momo, menino senegalês órfão que está a poucos passos da marginalidade.
 

De atrito em atrito, o afeto e a cumplicidade entre a mulher e o menino vão sendo construídos. Às vezes, de um jeito que pode parecer rápido demais, quase mágico, e que, de certa forma, poderia até comprometer a verossimilhança do filme. Isso só não acontece pela atuação perfeita e na medida de ambos, convincentes cada um ao revelar ao espectador suas dores, limitações e carências.

 
A atuação do estreante Ibrahima Gueye na pele de Momo é comovente. Há que se elogiar também outros nomes do elenco como Baback Karimi como o comerciante muçulmano Hamil, Renato Carpentieri como o Dr. Choen e Abril Zamora como a prostituta Lola, amiga de Rosa.
 

Uma curiosidade: a canção tema de “Rosa e Momo” é “Lo sé”, na voz de Laura Pausini. Mas, em certo momento do longa, Lola coloca na vitrola o samba “Malandro”, de Jorge Aragão, cantado por Elza Soares, enquanto ela e Rosa saem dançando e rindo pela sala. Não há como não se emocionar.

 

Nesses dias de solidão e pandemia, não convém perder “Rosa e Momo”. Além da rara oportunidade de rever a sempre diva Loren, faz bem ao coração a ideia de que a amizade e a empatia podem prosperar, apesar dos preconceitos. E que, com amor e generosidade, pode sim ser construído um espaço para a fala dos invisíveis, mesmo que os tempos sejam de intolerância.

 


Ficha técnica:
Direção:
Edoardo Ponti
Exibição: Netflix
Duração: 1h35
Classificação: 14 anos
País: Itália
Gênero: Drama

Tags: #RosaEMomo, #Netflix, #preconceito, #fiilmeitaliano, #drama, #holocausto, #cinemanoescurinho


23 novembro 2020

Com “A Dama e o Vagabundo”, Disney+ traz de volta a fantasia, a emoção e muita choradeira

 

Plataforma de streaming estreou no Brasil com um catálogo de seus maiores sucessos do passado e do presente (Disney/Divulgação)



Maristela Bretas


Apesar de ser uma apaixonada pela franquia Star Wars, paixão que passei para meu filho, foi com uma marcante animação infantil de 1955 que fiz minha estreia no Disney+. A escolha foi por um famoso casal canino que se apaixona enquanto come um prato de espaguete com almôndegas, à luz de velas e ao som da linda canção italiana "Bella Notte". Sim, "A Dama e o Vagabundo" ("Lady and The Tramp") foi o filme escolhido para me fazer voltar a um tempo de pura magia.
 
 

Claro, rios de lágrimas de saudade, alegria, boas memórias e a certeza que o desenho animado (como era chamado) ainda é capaz de emocionar. E como não poderia deixar de ser, assisti na sequência o live-action da história, que não chegou a estrear no cinema por causa da pandemia."A Dama e o Vagabundo" de 2019 consegue dar vida ao par principal, o que não ocorreu com "O Rei Leão". Talvez porque histórias com cães sempre despertaram mais atenção do público.
 

Nesta versão foram usados animais de verdade, que ganham uma "personalidade especial" graças à computação gráfica que foi usada pelos produtores na medida certa para que o romance e a aventura fluíssem sem parecer uma coisa plástica. 
 
 
Há também a preocupação em mudar conceitos do passado. Enquanto no desenho há cenas de cigarros, não existem negros no elenco e as cenas mais empolgantes são protagonizadas pelo sexo masculino, na live-action isso cai por terra. As mulheres ganham destaque, a partir de Querida, dona de Lady, que agora é negra, assim como seu filho (no original ambos eram louros e brancos), casada com um músico branco. É dela que partem as decisões importantes.
 
 
 
O mesmo acontece com a cadelinha, que deixa a versão mimada para protagonizar o filme de igual para igual com Vagabundo. Mas sem esquecer seu papel de guardiã de todos da casa, especialmente do bebê que acabou de chegar. Mesmo que ele tenha tomado seu lugar na preferência dos donos.
 
Também um dos amigos de Lady, deixa de ser Joca e passa a ser uma Terrier escocesa de nome Jaque, cuja dona tem hábitos excêntricos. Claro que outro amigo, o velho Caco, também está nesta versão, mas batizado como Faro. Além dos amigos de rua de Vagabundo, como Peg e Bull, que agora formam um casal. 
 


Além dos diálogos também o roteiro foi modificado para que acompanhasse a evolução dos tempos, mas nada que tirasse a essência dessa bela história de amor entre uma cadelinha Cocker Spaniel americana doméstica e um vira-lata muito esperto, mas de coração mole que gosta de viver livre. Como no desenho, o live-action de "A Dama e o Vagabundo" tem muita aventura, romance efeitos especiais e encantamento. Merece ser visto. E o desenho revisto.

 
Disney+
 
Desenhos animados marcaram a infância de muitas gerações e se hoje eles vêm ganhando uma nova roupagem com as versões live-action (nem sempre acertadas) é porque ainda ocupam um lugar especial no coração e na memória das pessoas. A entrada da plataforma de streaming Disney+ no Brasil retoma boas lembranças de um passado que remetia a castelos, florestas, príncipes e princesas. Histórias que faziam o maior dos durões se desmanchar em lágrimas. Ainda tenho em fita VHS muitos desses sucessos, gravados para mostrar a meu filho o poder da magia.


Se o passado é marcante, não menos importantes são as produções atuais, capazes de darem vida e sentimentos a brinquedos e personagens que mereciam uma atenção especial. Ou proporcionar grandes batalhas com sabres de luz e naves velozes. Sem esquecer os super-heróis de várias origens e raças - verdes, brancos, negros e até vegetais - que se unem para defender o planeta.

 
Não importa a idade de quem está assistindo ou o aparelho escolhido para exibição. Seja um desenho animado, uma saga com grandes efeitos especiais, um live-action ou um documentário. O que vale é reviver grandes sucessos, do passado ou do presente que mexem com as emoções e trazem magia e encantamento. E nisso, a Disney sempre se destacou.
 


Ficha técnica:
Direção: Charlie Bean
Exibição: Disney+
Duração: 1h51
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: Romance / Aventura /Ação /Família
Nota: 5 (de 0 a 5)


Tags: #DisneyPlusBrasil, #ADamaEOVagabundo, #LadyAndTheTramp, #romance, #aventura, #família, @cinemanoescurinho

07 novembro 2020

"A Última Jornada" é um suspense sem emoção, ação e sentido

Sobreviventes do apocalipse enfrentam uma entidade poderosa para chegar a um local místico (Fotos: Matt Wilkinson/Divulgação)


Maristela Bretas


"A Última Jornada" * ("The Last Boy") é um filme curto - com apenas 87 minutos de duração - mas que consegue ter uma narrativa lenta. Ao mesmo tempo, se apressa em contar já no s minutos iniciais todo o enredo, tirando o suspense do final. Não passa emoção nem mesmo nos momentos de perda, e o diretor e roteirista Perry Bhandal (que dirigiu "Entrevista com Hitman" - 2012) passa o carro na frente dos bois e entrega uma história confusa e cheia de buracos sobre um mundo pós-apocalíptico.

A ação fica quase toda para o final e não é tão significativa porque as situações vão surgindo sem explicações e passam como se nunca tivessem acontecido. O suspense perde o impacto, assim como a atuação decepcionante de um elenco pouco conhecido, que tem como "destaque" Luke Goss (dirigido por Bhandal em "Entrevista com Hitman", além de ter participado de "Traffik - Liberdade Roubada" - 2018). 
 


Ao jovem estreante Flynn Allen ainda falta muita estrada para rodar até pegar o jeito, assim como a garotinha Matilda Freeman. Os demais são apenas peças numa produção com diálogos que deixam a desejar e comprometem ainda mais a fraca trama.


No filme, a mãe de Sira (Flynn Allen) está morrendo e dá a ele uma missão: com um misterioso artefato, o garoto terá de encontrar um lugar especial, capaz de realizar os desejos das pessoas. O dispositivo vai protegê-lo do ataque de uma força chamada de "o vento", capaz de matar instantaneamente qualquer ser vivo.

 


Pelo caminho, Sira conhece a pequena Lilly (Matilda Freeman) e juntos enfrentam um monge (Peter Guinness) que pratica abuso sexual contra um grupo de mulheres de um mosteiro. O vilão humano quer se apossar do dispositivo de Sira e dos poderes que tem contra o Vento. Assim como Lilly, aparecem durante a jornada o militar Jay (Luke Goss) e a cientista Jesse (Jennifer Elise Gould) que vão ajudar Sira a chegar ao destino especial e salvar o mundo do Vento (???).

Nem mesmo as locações salvam a história, que ainda conta com uma trilha sonora inexpressiva. Como se não bastasse, o diretor deixa a entender no final que "A Última Jornada" pode ganhar uma continuação. Se esta ocorrer vai precisar melhorar muito todos os componentes, para que se torne atraente ao público.

 
O filme de Perry Bhandal é distribuído em versões dublada e legendada nas plataformas digitais Now, Looke, Microsoft, Vivo Play, Google Play e Apple TV. 
 
Vale um alerta: não confunda este "A Última Jornada" com a também produção britânica "Journey's End" (2018) sobre a 1ª Guerra Mundial, dirigida por Saul Dibb, que recebeu o mesmo título em português.
 
 

 
Ficha técnica:
Direção e roteiro:
Perry Bhandal
Distribuição: A2 Filmes
Duração: 1h27
Gêneros: Drama / Suspense
País: Reino Unido
Classificação: 12 anos

 
* Título assistido via streaming, a convite da A2 Filmes
 
Tags: #AUltimaJornada, #TheLastBoy, #suspense, #A2Filmes, #drama, #PerryBhandal, #cinemanoescurinho