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14 agosto 2025

Impactante e surpreendente, "Os Enforcados" é sobre jogo, culpa e confiança

Leandra Leal e Irandhir Santos entregam excelentes atuações como o casal que vive da contravenção e
acredita que pode manter as mãos limpas (Fotos: Paris Filmes)
 
 

Maristela Bretas

 
Reunindo várias semelhanças com fatos reais e atuações brilhantes de Leandra Leal e Irandhir Santos, estreia nesta quinta-feira (14) a produção nacional "Os Enforcados". O filme, dirigido por Fernando Coimbra, é um thriller tragicômico impactante, com reviravoltas a todo instante.

Na trama, o casal Valério (Irandhir Santos) e Regina (Leandra Leal) vive numa mansão na Zona Oeste do Rio de Janeiro, à custa do império do jogo do bicho construído pelo pai e pelo tio dele, Linduarte, vivido por Stepan Nercessian. Até que Valério revela à esposa que está falido, cheio de dívidas e pretende vender ao tio a parte herdada do pai.


Tudo muda quando ele resolve seguir os conselhos da ambiciosa Regina e dar um grande golpe, que consideram infalível, em Linduarte e nos contraventores do bicho e sair de mãos limpas. Ao contrário do que esperavam, o crime passa a ser uma rotina do casal e até mesmo o casamento começa a desandar.

Em "Os Enforcados", quando você acredita que já sabe qual caminho o filme está seguindo, ele toma novo rumo. E prova que todo mundo que se envolve com o mundo do crime e conquista poder está sujeito a ser contaminado e sujar as mãos. Se torna até mesmo capaz de matar para manter este poder e o padrão alto de vida.


Leandra Leal e Irandhir Santos estão excelentes em seus papéis e são os responsáveis pela trama dar certo do início ao fim, expondo uma realidade diária da criminalidade no Rio de Janeiro e os esquemas por trás do jogo do bicho.

A violência, o crime organizado e a corrupção de autoridades policiais da capital carioca são apontados no roteiro, inclusive numa fala da sempre excelente Irene Ravache, no papel de mãe de Regina. 

A cartomante de araque não se surpreende com as ações do genro e da filha e só se interessa em tirar proveito do lucrativo negócio de Valério.


No elenco temos ainda Pêpê Rapazote, como delegado da Polícia Federal; Thiago Tomé, braço direito de Valério; Augusto Madeira e Ernani Moraes, parceiros de Linduarte, entre outros.

Coincidências?

Coincidência ou não, "Os Enforcados" apresenta situações semelhantes a uma disputa entre familiares do bicheiro Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, após o assassinato dele em 1998. Ele era chamado de "Rei do Rio" e era padrinho da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel.

Assim como Maninho, Linduarte era o padrinho da Escola de Samba Unidos da Pavuna e quando Valério assume os negócios da família após a morte do tio, ele recebe uma coroa dourada durante o ensaio da escola.


Terceiro filme do diretor

Este é o terceiro filme de Fernando Coimbra e marca seu retorno ao cinema brasileiro, após dirigir episódios das séries internacionais “Narcos”, “Outcast” e “Perry Mason” e o longa “Castelo de Areia”, com Nicholas Hoult e Henry Cavill. 

Coimbra explica que "Os Enforcados" é, antes de tudo, sobre um casamento. "O casal sela um pacto e faz um plano de vida que é incapaz de cumprir. Só que esse plano se faz a partir de um crime que os levaria em direção à realização dos seus sonhos. Mas a realidade é muito diferente do sonho, e as coisas desandam".



"Os Enforcados" é violento e brutal, tanto nos crimes envolvendo a guerra pelo poder quanto na relação conjugal de Valério e Regina. E a cereja do bolo é a trilha sonora, que tem o sucesso "Muito Estranho", com Nando Reis, como música principal.

"Cuida bem de mim" é um refrão que vai acompanhando as etapas da vida do casal quando tudo começa a desmoronar até o final brilhante. Filme imperdível e merece entrar na disputa para a indicação brasileira ao Oscar.


Ficha técnica:
Direção:
Fernando Coimbra
Produção: Gullane e coprodução da Fado Filmes, Telecine, Globo Filmes e Pavuna Pictures
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h03
Classificação: 18 anos
País: Brasil
Gêneros: drama, suspense, thriller de crime

12 agosto 2025

"Juntos" até que a morte - ou algo pior - os separe

Terror corporal com Dave Franco e Alison Brie utiliza o sobrenatural para explorar uma relação de codependência (Fotos: Neon) 
 
 

Maristela Bretas

 
Com a proposta de ser um filme de terror corporal, "Juntos" ("Together"), que estreia nesta quinta-feira (14) nos cinemas com roteiro e direção de Michael Shanks, mergulha no psicológico a partir de acontecimentos estranhos e sobrenaturais que afetam um casal.

Nos papéis principais estão Dave Franco ("Truque de Mestre: O 2º Ato" - 2016) e Alison Brie ("A Comédia dos Pecados" - 2020), casados na vida real, interpretando Tim, um músico que não consegue alcançar sucesso, e Millie, uma professora de inglês. 

Duas pessoas com objetivos opostos, mas que resolvem construir uma vida a dois em uma pequena cidade do interior dos EUA. 


Enquanto caminham por uma mata próxima à nova casa, eles caem em uma caverna durante uma tempestade e decidem acampar lá dentro durante a noite. 

Tim bebe de uma poça no local e, a partir daí, a vida do casal - e sua união - nunca mais será a mesma.

Mesmo vivendo um momento ruim e desgastado da relação, uma força estranha e dominadora faz com que permaneçam unidos, praticamente colados, ameaçando a sanidade de ambos, especialmente quando perdem o controle sobre seus próprios corpos. 


Na escola, Millie conhece Jamie (Damon Herriman, de "Era Uma Vez em... Hollywood" - 2019), um colega de trabalho, que entra vida do casal e agrava o problema ao explicar que "eles precisam ser um só para serem felizes e se tornarem inteiros". 

"Juntos" é um filme sobre relações e sobre uma dependência que chega a ser doentia entre duas pessoas, mesmo quando ambas desejam seguir caminhos diferentes. A trilha sonora acerta ao incluir a música "2 Become 1", das "Spice Girls", como referência ao enredo.


Terror sem sangue

O longa não aposta em sustos, mas apresenta várias cenas de possessão "incômodas" provocadas pela força sobrenatural que atua sobre o casal. A dos olhos é a mais angustiante. 

O sangue aparece pouco para um filme de terror, e há até alguns momentos de humor protagonizados por Tim, que provocam risos do público. 

O final pode surpreender por seguir uma linha diferente de outros filmes do gênero, mas não espere uma grande produção. Não é um filme indicado para quem pretende se casar ou começar uma vida a dois. Em "Juntos", a frase "Até que a morte os separe" ganha um novo significado.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Michael Shanks
Produção: Picture Start, Princesa Pictures, 30West, Tango Entertainment
Distribuição: Diamond Films
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h42
Classificação: 16 anos
Países: EUA/Austrália
Gênero: Terror psicológico

09 agosto 2025

“Grades Invisíveis - Ela Ainda Está Aqui” junta lenda urbana e pauta feminista


Curta com direção de Sérgio Cunha e produção de Flávia Flores se apoia na história
da “Loira do Bonfim” (Fotos: Reprodução/Youtube)
 
 

Eduardo Jr.


Uma lenda urbana, conhecida por boa parte dos moradores de Belo Horizonte, agora encontra representação no curta-metragem “Grades Invisíveis - Ela Ainda Está Aqui”, que estreou no Youtube.

Feito a quatro mãos, com direção do jornalista e escritor Sérgio Cunha, e produção de Flávia Flores, o filme se apoia na história da “Loira do Bonfim”, personagem do além que perambula pela cidade. E mistura esse enredo à violência de gênero contra mulheres.

A experiência é rápida. O curta tem três minutos de duração e é filmado com um celular, na vertical (formato típico para o consumo ágil das redes sociais).

Na tela, o espectador é levado a entender que a protagonista solicitou uma corrida por carro de aplicativo e tentou levar o motorista para seus domínios, o Cemitério do Bonfim, na capital mineira. Prática atribuída à mulher que alguns belo-horizontinos juram ser real.


"Fazer cinema"

A narração amarra duas histórias que, até então, estavam posicionadas em pontos diferentes da sabedoria popular: de um lado, a lenda da década de 1940 da noiva abandonada no altar, que morreu de desgosto e que, há décadas, perambula por Belo Horizonte seduzindo homens para vingar suas dores.

Do outro, o histórico de silenciamento e violências contra mulheres, que se perpetua há séculos. No entanto, o esforço dos realizadores de ‘fazer cinema’ se enfraquece na tela. Enquanto o discurso tenta sustentar a obra, as imagens perdem a oportunidade de se aproximar da lenda da noiva vingativa.

O apelo à memória coletiva da Loira do Bonfim é uma estratégia interessante de atrair o público. No entanto, características que habitam esse imaginário não se apresentam. Quem deseja ver o figurino branco da personagem abandonada no altar, passará, sim, em brancas nuvens.


Ela nunca foi embora

A analogia entre a história trágica da mulher abandonada, vítima de irresponsabilidade afetiva, e o cenário frequente de mulheres afetadas por violência psicológica e física tenta criar a ideia de que situações semelhantes à da Loira se repetem.

Com isso, se produzem novas vítimas - que também poderiam desejar uma resposta seja ela justiça ou vingança. Ou seja, A Loira nunca foi embora, pois não falta motivação para que outras “Loiras do Bonfim” se mantenham presentes na sociedade.

Mas isso fica só nas camadas inferiores do curta. Porque, na tela, a presença dessa mulher não tem lá muita força. A quase-ausência da noiva vingativa tenta conferir uma aura sobrenatural à personagem ali retratada - e a mulher do além, obviamente, não faz questão de ser amplamente vista.


Questões técnicas

Em suma, a entrega deste produto audiovisual é um ato de coragem. Duas pessoas realizando uma obra de resgate (ou manutenção) da crendice popular é um feito interessante. No entanto, a execução não entrega nada que salte aos olhos - nem pelo encanto, nem para o susto do sobrenatural.

A edição com ar de experimental, a precariedade do som e a música cujos cortes chamam mais atenção do que a trama são questões técnicas que pesam. Se a memória da Loira do Bonfim promete durar ainda muito tempo, o curta não parece que terá a mesma sorte.



Ficha técnica:
Direção:
Sérgio Cunha
Roteiro: Sérgio Cunha, Flávia Flores
Produção: Flávia Flores
Câmera: Flávia Flores, Sérgio Cunha
Edição: Flávia Flores
Duração: 3'19”
País: Brasil

08 agosto 2025

"A Prisioneira de Bordeaux" - O florescer de uma amizade de matizes inusitados

Hafsia Herzi e Isabelle Huppert protagonizam o instigante longa francês dirigido por Patrícia Mazuy
(Fotos: Autoral Filmes)
 
 

Patrícia Cassese

 
Logo nos primeiros momentos de "A Prisioneira de Bordeaux" ("La Prisionnière de Bordeaux"), filme da diretora e roteirista francesa Patrícia Mazuy em cartaz no Cine Una Belas Artes, os acontecimentos vistos em tela suscitam um ponto de interrogação na mente do espectador. 

Numa penitenciária, vemos o encontro fortuito de duas mulheres de classes sociais distintas, que, no entanto, estão ali pelo mesmo motivo: visitar os maridos. Mas se são eles, os cônjuges, a estarem ali, encarcerados, por que o título cita "a prisioneira" - ou seja, no feminino e no singular? 

A resposta só poderá ser obtida mais ao final da trama que, embora parecesse até dispensável pontuar, por estar evidente no nome da obra, se passa na cidade localizada a sudoeste da França.  


Unidas pelo crime alheio

As duas personagens são vividas por Isabelle Huppert e Hafsia Herzi. A primeira encarna Alma Lund, uma mulher rica que, desde a prisão do parceiro, Christopher Lund (Magne Brekke), vive sozinha em uma casa recheada de obras de arte e memórias. O marido, diga-se, foi condenado após uma tragédia no trânsito. 

Já a franco-tunisiana Hafsia Herzi dá vida a Mina Hirti, cujo companheiro Nasser (Lionel Dray), por seu turno, cumpre pena por um assalto sucedido por um confronto com a polícia que resultou na morte de seu comparsa. 

Com dois filhos pequenos, ela tenta se desdobrar para dar conta de sustentá-los, driblando também os preconceitos que recaem sobre pessoas de ascendência árabe na Europa. 


O encontro das duas se dá logo nas cenas iniciais, quando, ao se dar conta de que errou o dia da visita (estava, na verdade, agendada para o seguinte), Mina ensaia passar mal para tentar comover os funcionários da prisão de modo a deixá-la entrar. Assim, evitaria uma viagem em vão - mesmo porque, trata-se de um percurso longo, já que não mora nas cercanias.  

Porém, a encenação de um desmaio, pífia que só, só faz despertar o olhar condoído de Alma, que, na sequência, vê Mina dormindo no banco da parada de ônibus e para o carro. A reação de Alma soa inusitada quando pensamos no mundo atual, em que desconfiamos das nossas próprias sombras e fugimos do contato com estranhos. 


Amizade pouco crível

No entanto, inesperadamente ela convida Mina a passar a noite em sua casa (os filhos, pondera Alma, poderiam ficar sob os cuidados de alguma amiga), de modo a, no outro dia, ela não ter que enfrentar o desgastante deslocamento para, enfim, ver o marido. 

Após hesitar, Alma assente e, daí, nasce uma amizade que, na vida real, nas condições colocadas na história, parece pouco, pouquíssimo crível. Não tarda e Mina propõe a Alma que se mude de vez para sua casa, levando também os filhos.

Com a presença dos três em casa, o cotidiano de Alma adquire cores. Em vez do silêncio vigente, a algazarra dos meninos, a quem Alma também acompanha na escola e com quem brinca. Radiante, a milionária trata de garantir um emprego para Mina na empresa do marido. 


Tudo caminharia para uma convivência pacífica de uma nova configuração familiar não fosse a presença de Yacine (William Edimo), irmão do companheiro de Nasser morto no citado roubo.

Yacine empareda Mina e cobra dela uma posição quanto à localização de relógios que teriam sido obtidos por meio do assalto, mas que, com a prisão de Nasser, desapareceram, e com os quais ele poderia ganhar muito dinheiro. Acuada, Mina trama uma solução para se ver livre desse fantasma e poder seguir em frente.

O que se dá a partir daí fica reservado para quem for assistir ao filme. No entanto, cumpre analisar que, no material enviado pela assessoria de imprensa da distribuidora do filme, uma frase da diretora lembra que a amizade entre as duas personagens centrais foi desde o início pensado como o pilar da narrativa. "Mina defende Alma quando as mulheres na sala de visitas querem silenciá-la. Alma convida Mina para sua casa.


Relações construídas sob regras

Conduzido com delicadeza e, ao mesmo tempo, tensão, "A Prisioneira de Bordeaux" entra em cena no Brasil com um potencial enorme de atingir profundamente o público feminino. 

E isso, não apenas por abordar a amizade entre duas mulheres de classes sociais bem distintas, mas, principalmente, por questionar a validade de algumas relações construídas sob regras de uma sociedade hoje em desconstrução. 

Regras as quais muitos insistem em seguir por razões como o comodismo (mesmo inconsciente) e o receio justificável que atrela-se ao ensejo de grandes mudanças.

Não menos importante, a cena em que os amigos de Alma se dão conta da presença de Mina na casa, o que dá vez a uma série de comentários que demarcam bem o preconceito estrutural que paira sobre os imigrantes.

Vale reparar, ainda, na bela música que toca ao final, "Je Sens tu Mens", de Amine Bouhafa e Sarah McCoy, e que foi composta para o filme de Mazuy. 


Ficha técnica:
Direção: Patrícia Mazuy
Produção: Rectangle Productions, Picseyes, coprodução ARTE France Cinéma
Distribuição: Autoral Filmes
Exibição: Cine Una Belas Artes
Duração: 1h48
Classificação: 14 anos
País: França
Gêneros: drama, ficção

07 agosto 2025

"A Hora do Mal" - Um fato, seis capítulos e violência extrema que só chega no final

O desaparecimento de 17 crianças durante a madrugada dá início a esta trama, narrada em capítulos
(Fotos: Warner Bros. Pictures)
 
 

Maristela Bretas

 
Com duração acima do necessário, "A Hora do Mal" ("Weapons") estreia nesta quinta-feira nos cinemas prometendo um terror recheado de cenas de violência extrema, que, no entanto, só começam a acontecer nos 30 minutos finais. 

O longa é narrado por uma criança e apresentado a partir do ponto de vista de vítimas e de moradores da cidade, cujas histórias se entrelaçam até o último relato que vai explicar toda a trama.

"A Hora do Mal" tem um pouco de tudo para agradar aos fãs do gênero: bruxaria e rituais macabros, mortes sangrentas e brutais, e pessoas enlouquecidas correndo de braços abertos pelas ruas como zumbis de um condomínio onde, teoricamente, todos levavam uma vida perfeita e sem grandes acontecimentos. 


Tudo muda quando 17 crianças de uma mesma sala de aula, com exceção de uma - Alex Lilly (Cary Christopher) - saem correndo de suas casas exatamente às 2h17, de forma desconexa e com os braços abertos como se estivessem voando. 

Elas nunca mais são vistas. A aparente paz do local deixa de existir e dá lugar a uma atmosfera sombria, cheia de fatos estranhos e novos surtos de violência inexplicável de outros moradores. 


Boas atuações sustentam o filme

A principal suspeita, segundo os pais, é a recém-chegada professora Justine Gandy (Julia Garner, que interpreta a Surfista Prateada em "Quarteto Fantástico"), responsável pela classe dos alunos desaparecidos. 

Determinada a descobrir o que houve com as crianças, Justine começa a investigar o caso e tentar entender por que Alex foi o único sobrevivente. 
Ela conta com a ajuda de Archer Graff (Josh Brolin, o vilão Thanos, de "Vingadores: Ultimato" - 2019), pai de uma das 17 crianças, e do policial Paul Morgan (Alden Ehrenreich, de "Han Solo" - 2018).

No elenco, temos ainda a presença essencial de Amy Madigan, como Gladys Lilly, tia de Alex, uma personagem mais sinistra que o palhaço Pennywise, de "It - A Coisa" (2017). 

Destaque também para as boas atuações de Benedict Wong ("Homem-Aranha: Sem Volta Pra Casa" - 2021), no papel do diretor Andrew, e Austin Abrams (das séries "This is Us" e "Euphoria"), como James, um ladrão comum que estava no lugar errado e na hora errada.


Fotografia em destaque

A fotografia de Larkin Seipe é um dos pontos altos da produção. Ela consegue traduzir com precisão a transição do clima leve e colorido - marcado pelos gramados perfeitamente verdes e casas bem cuidadas - para a escuridão sombria das ruas e mata para onde as crianças fugiram. 

Após o desaparecimento das crianças, a narrativa se desenvolve em capítulos, iniciando pela perspectiva de Justine e seguindo com outros cinco relatos de personagens que estavam envolvidos nos fatos, direta ou indiretamente. 

O suspense cresce com a presença de elementos ocultos e aparições inexplicáveis que dão a tensão perturbadora, reforçado pela ótima trilha sonora composta por Zach Cregger ("Noites Brutais" - 2022), também dirige, roteiriza e produz o filme. 


Pontos negativos

"A Hora do Mal", no entanto, peca em alguns pontos: a duração exagerada cansa, e o final que desagrada ao dar solução para uns e deixar outros de fora. Não vou contar mais para não dar spoiler. 

O filme é bom, mas está mais para suspense que terror, mesmo com as cenas grotescas e perturbadoras. Há até momentos de humor involuntário, como a referência ao clássico "O Iluminado", de 1980. Ainda assim, não colocaria na minha lista de melhores do ano do gênero.


Ficha técnica:
Direção e roteiro
: Zach Cregger
Produção: New Line Cinema, Subconscious, Vertigo Entertainment e Boulderlight Pictures
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h08
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: terror, suspense

06 agosto 2025

“Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda” prova que um raio pode cair duas vezes no mesmo lugar

Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan estrelam a sequência desta divertida comédia, perfeita para assistir
com uma pipoca no colo (Fotos: Walt Disney)
 
 

Maristela Bretas

 
De volta ao corpo errado — e ao coração do público. Quem disse que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar? Em “Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda” (Freakier Friday), Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan provam que sim e voltam como Tess e Anna Coleman, mãe e filha que já enfrentaram uma troca de corpos no sucesso de 2003, “Sexta-Feira Muito Louca”. 

Agora, 22 anos depois, a confusão vem em dose dupla! A sequência estreia nos cinemas nesta quinta-feira (7) e promete encantar não só aos fãs como também uma nova geração.


Desta vez, além de Tess e Anna, duas novas personagens também terão suas identidades trocadas: Harper (Julia Butters), filha de Anna, e Lily (Sophia Hammons), filha do noivo de Anna.

O motivo da nova troca? Nada de biscoito da sorte chinês. Quem causa a bagunça é uma vidente trambiqueira durante uma festa — e o resultado é hilário.

Novas trocas, novos dilemas

A história gira em torno do novo relacionamento de Anna com Eric Davies (Manny Jacinto). O problema é que as filhas Harper e Lily — inimigas declaradas na escola — não aceitam bem a ideia de estarem na mesma família e a possível mudança de Los Angeles para Londres.

Apesar de se odiarem, Harper e Lily, presas nos corpos de duas adultas, acabam se unindo para tentar impedir o casamento dos pais e a mudança da família de Los Angeles para Londres. 


Mas a troca traz também responsabilidades de trabalho, criação dos filhos e até mesmo a troca por um guarda-roupa, completamente diferente do que estavam acostumadas a usar. 

O mesmo acontece com Tess e Anna, nos corpos de adolescentes, vivendo os problemas na escola, os colegas, as aulas e atividades físicas. Com uma vantagem: com a disposição de um corpo jovem.

Nostalgia com toque moderno

A química entre Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan continua intacta — e isso dá o tom cativante do filme. Ambas estão também envolvidas como produtoras executivas, o que mostra o carinho que têm pelo projeto e por seus personagens.

Curtis, aos 66 anos, comentou que este era o momento perfeito para retomar a história, já que Lohan, agora com 39, pode interpretar uma mãe com propriedade, enquanto ela assume o papel da avó.


Além das protagonistas, o filme traz de volta rostos conhecidos do primeiro longa, como Chad Michael Murray (Jake, o crush de Anna), Mark Harmon (Ryan, marido de Tess), Stephen Tobolowsky (Sr. Bates). Até a banda fictícia Pink Slip com o hit “Take Me Away” está volta.

Uma comédia leve e divertida

Sob a direção de Nisha Ganatra, “Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda” aposta em um tom leve, com momentos quase uma comédia pastelão — o tipo de humor que agrada crianças, adolescentes e adultos com saudade dos anos 2000.

A história entrega exatamente o que promete: diversão, boas atuações, e claro, um final feliz no melhor estilo Disney — com direito a erros de gravação nos créditos finais para fechar com chave de ouro.

Vale a pena assistir? Claro! Se você é fã do original, vai se emocionar com as referências e reencontros. Se está conhecendo agora, vai dar boas risadas e, quem sabe, se apaixonar por essa dupla icônica. Prepare a pipoca: “Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda” é uma comédia que faz jus ao nome — e ao legado.


Ficha técnica:
Direção: Nisha Ganatra
Produção: Walt Disney Company
Distribuição: Walt Disney Studios
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h51
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: comédia, família

04 agosto 2025

3ª Mostra Cine RMBH fortalece o cinema mineiro com sessões gratuitas

Espaços culturais de Contagem vão receber o evento entre os dias 5 e 8 de agosto (Fotos: Divulgação)
 
 

Da Redação

 
Com a missão de fortalecer, difundir e promover a produção audiovisual da Região Metropolitana de BH, a 3ª Mostra Cine RMBH ocupará quatro espaços públicos da cidade de Contagem, entre os dias 5 e 8 de agosto. Com entrada gratuita, o evento conta com 30 curtas-metragens selecionados pelos curadores Carine Fiúza e Felipe Pedrosa. 

As obras convidadas para a Mostrinha foram selecionadas pelo cineasta e produtor Marco Antônio Pereira. O evento é realizado pela Move Cultura com recursos da PNAB Municipal – Edital 002/2024 – Apoio a Mostras, Feiras e Festivais. Confira a programação dos filmes abaixo.

"O Vô tá On"

“Esta edição é um convite para que o espectador, por meio do cinema, olhe, escute e observe os povos residentes nos territórios metropolitanos — localidades riquíssimas em histórias! Selecionamos filmes que abordam, com criatividade, afeto e potência política, temas diversos como arte, cultura, velhice, religiosidade, lutas sociais e o cotidiano de quem habita e constrói esse chão coletivo”, aponta Carine Fiúza, mestra em comunicação e cineasta. 

"O Coração Delator"

“A música e a religiosidade também estão presentes. Elas aparecem como forças simbólicas marcantes, estruturando as vivências e memórias de uma população que resiste e reinventa seu modo de estar no mundo. E a família — um lugar dual do abrigo e da solidão, do conforto e do confronto, do acolhimento e da agressão — surge em múltiplas formas”, completa o documentarista Felipe Pedrosa.

"Oca Ilê"

Nesta edição da Mostra Cine RMBH, há dezenas de filmes viabilizados por programas públicos de fomento à cultura, o que reforça a importância das políticas culturais na democratização do fazer audiovisual e na multiplicação das vozes que compõem o imaginário metropolitano. 

A curadoria destaca que temas muitas vezes invisibilizados, como a deficiência física, a velhice e a não heteronormatividade, são abordados com sensibilidade, deslocando estereótipos e propondo outras possibilidades de existir. 

Há também uma escuta atenta às lutas por moradia, trabalho e território, tratadas com proximidade, afeto e dignidade.

"Pátria Livre: Moradia, Saúde e Vida"

“Desta vez, registramos 89 inscrições, o que demonstra um crescimento da mostra. Tivemos filmes de diferentes cidades da Região Metropolitana de BH e dos mais variados gêneros. A curadoria teve bastante trabalho para fazer essa seleção que, com certeza, vai encantar o público. Desde o início, quando realizamos a primeira edição em 2023, estamos colaborando na formação de público, na formação de cineastas e no surgimento de novas mostras e festivais na cidade de Contagem. O nosso objetivo é valorizar a cadeia produtiva do audiovisual da RMBH”, garante o idealizador do projeto, Rafael Aquino.



Serviço
3ª Mostra Cine RMBH
Data:
5 a 8 de agosto
Horário: das 18 às 21 horas
Locais em Contagem
Dia 5 - Parque Ecológico Eldorado - Rua Paineiras, 753 - Eldorado
Dia 6 - CSU Amazonas - Rua Tiradentes, 2.750, Industrial 3ª Seção
Dia 7 - Parque Sapucaias - Av. das Tulipas s/nº - Sapucaias
Dia 8 - CEU da Artes Nova Contagem - Rua VP-2, nº 2.490 - Nova Contagem
Mais informações: no site mostracinermbh.com.br/
Instagram: instagram.com/mostracinermbh/

03 agosto 2025

Em "Drácula - Uma História de Amor Eterno", a paixão arrebatadora toma o lugar do terror

Caleb Landry Jones interpreta com perfeição o famoso Mestre dos Vampiros na nova versão romântica
dirigida por Luc Besson (Fotos: Paris Filmes/Divulgação)
 
 

Maristela Bretas

 
A nova e impactante aposta do diretor Luc Besson no gênero terror, "Drácula - Uma História de Amor Eterno" ("Dracula: A Love Tale") estreia nesta quinta-feira (7) nos cinemas. Esta é mais uma adaptação do clássico literário de Bram Stoker a chegar às telas, mas se diferencia ao fugir do terror habitual de outras versões. 

Focando na paixão arrebatadora do personagem, além de entregar muita ação, o longa é tão envolvente que o espectador pode até se pegar torcendo pelo "vilão". 

A trama começa no século XV, quando o príncipe Vlad (Caleb Landry Jones) perde sua esposa Elisabeta (Zoe Bleu). Desesperado, culpa Deus por não tê-la protegido enquanto ele lutava em Seu nome. 

Amaldiçoado com a vida eterna, Vlad se transforma no Conde Drácula e passa séculos em busca de sua amada, contando com a ajuda de um exército de vampiros criados por ele ao longo de sua jornada. 


Até que no século XIX, em Londres, ele finalmente encontra Mina (também interpretada por Zoe Bleu), uma jovem que acredita ser a reencarnação da falecida. Contudo, terá de enfrentar um padre exorcista e caçador de vampiros, papel do brilhante Christoph Waltz, vai tentar pôr fim ao reinado de Drácula e impedir que ele faça mais uma vítima.

Apesar das guerras sangrentas e os inúmeros ataques, o filme tem seu principal foco na paixão de Vlad por Elisabeta. Ele não se conforma em tê-la perdido, retornando sempre a seu túmulo e tentando em vão se matar inúmeras vezes para quebrar a maldição. 


Incapaz de morrer, ele cria um exército de vampiros pelo mundo que lhe garante o sangue necessário para a juventude e o auxilia a encontrar sua amada novamente.

Um contraponto interessante explorado por Besson: Drácula perde a fé em Deus, mas mantém uma esperança inabalável em reviver seu único e verdadeiro amor. 

Para o Mestre dos Vampiros, nada mais importa. As pessoas transformadas por suas mordidas sejam adultos ou crianças, não passam de escravos descartáveis, usados apenas para que ele atinja seu objetivo. 


Caleb Landry Jones está arrebatador no papel principal, em uma parceria notável com o ótimo Christoph Waltz. A cena do confronto final entre o bem e o mal é uma das mais marcantes do filme, tanto por sua estética quanto pela abordagem profunda sobre o amor e o que se é capaz de fazer em nome dele. 

Todo o elenco cumpre muito bem seus papéis, especialmente as atuações de Zoe Bleu e Matilda de Angelis, como a vampira Maria.


Destaque também para os figurinos e os cenários, explorando os tons quentes do outono europeu. As locações na Hungria, Florença, Finlândia e Paris oferecem um visual deslumbrante. 

Até mesmo as cenas internas, que se passam dentro de um convento, no castelo de Vlad ou no quarto onde o casal se amava loucamente foram muito bem conduzidas pelo diretor francês, que possui inúmeros sucessos em sua filmografia, como o frenético e alucinante "Lucy" (2014) e o eletrizante "Anna - O Perigo tem Nome" (2019).


Tudo isso somado à trilha sonora, composta por belos arranjos de Danny Elfman. O compositor e ex-vocalista e líder da banda Oingo Boingo, é conhecido por trabalhos em filmes como "Batman" (1989), "Batman, O Retorno" (1992), "O Estranho Mundo de Jack" (1993), a franquia Homem-Aranha (2002, 2004 e 2007), "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" (2022), "Os Fantasmas Ainda se Divertem" (2024), entre outras dezenas de sucessos.

"Drácula - Uma História de Amor Eterno" é um filme que merece muito ser assistido, tanto pela excelente direção, quanto pelo trabalho visual surpreendente e pelas atuações de alta qualidade do elenco.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Luc Besson
Produção: Europa Corp, LBP Productions, Actarus e TF1
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h09
Classificação: 16 anos
País: França
Gêneros: terror, romance

31 julho 2025

Em tempos de Tinder, “Amores Materialistas” fala sobre as dificuldades de se encontrar alguém para amar

Longa é uma comédia com pé no chão sobre amor e relacionamentos, sem romantização (Fotos: Divulgação)
 
 

Jean Piter Miranda

 
Lucy (Dakota Johnson) é uma casamenteira. Ela trabalha em uma agência de encontros, onde os clientes procuram o “amor pra vida inteira”. Ela é uma espécie de “personal Tinder”. Em vez do aplicativo, quem paga pelo serviço tem a consultoria de uma pessoa especializada no assunto. 

Durante a festa de casamento de uma de suas clientes, Lucy conhece Harry (Pedro Pascal). Rico, bonito, charmoso, solteiro, gentil e interessado nela desde o primeiro olhar. Só que aí aparece o garçom John (Chris Evans), o ex-namorado dela. Bonitão, charmoso, porém, pobre. Duro, quebrado, liso. 

Com quem Lucy vai ficar? Esse poderia ser o título do filme, mas estamos falando de “Amores Materialistas”. O novo filme da diretora Celine Song, do ótimo “Vidas Passadas” (2024), que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (31).


Poderia ser uma comédia romântica. Até tem cenas engraçadas, romance, mas a pitada de drama adicionada à história muda tudo. É sobre amor e relacionamentos, sem romantização. Uma comédia com pé no chão e conversa séria, pra gente adulta, ideal para os dias atuais. 

Os clientes de Lucy são sempre muito exigentes. Altura, peso, profissão, renda, gostos musicais, idade, se tem pet ou não, fumante ou não, preferência política... Se o primeiro encontro der certo, Lucy marca o segundo, o terceiro... Ela vai intermediando até que o casal decida se casar. Aí é case de sucesso!


Em meio aos encontros que vai mediando, Lucy começa a engatar um namoro com Harry. O cara perfeito, nas palavras dela. Ele seria uma ótima opção para todas as mulheres que ela tem na cartela de clientes. Porém, o bonitão só quer a bonitona. 

Mas e o John? Além de garçom, ele é aspirante a ator, sem muita expectativa de dias melhores. Principalmente quando se trata de dinheiro. O encontro entre ele e Lucy mexeu com os dois. Por que eles não deram certo? Por que se separaram? Dá pra voltar ou ficarem juntos outra vez? Ainda se amam? Será que se amavam? São questões para ambos.


O rico bonitão perfeito ou o gato pobre que já não deu certo uma vez? Até onde o dinheiro interfere ou pode interferir nessa equação? Só o amor não basta? É possível encontrar amor e prosperidade financeira na mesma pessoa? E as outras muitas coisas da vida a dois? Essas questões vão surgindo ao longo do filme com reflexões que certamente vão mexer com quem assiste. 

Há também observações sobre os clientes de Lucy que vão interferindo no curso da história. Em tempos de customização de tudo, é possível achar a pessoa ideal, com todos os requisitos que enumeramos? Ou será que isso é um impedimento para se conhecer uma pessoa interessante? E se tirarmos as exigências, por sorte, pode aparecer a “pessoa certa”?


São questões muito atuais abordadas no filme. Em um mundo onde tudo é mercadoria, serviço e descartável, é justo que pessoas também sejam tratadas assim? Onde tudo é passageiro, inclusive os amores, é possível amar e ser amado? A gente tá procurando do jeito certo e no lugar certo?

Esses muitos questionamentos apresentados direcionam as decisões dos personagens e o desfecho do filme. Haverá aqueles que irão gostar e também os que não desgostarão do fim. 

A história é conduzida com sensibilidade e, acima de tudo, com sensatez. Sem malabarismos ou situações de contos de fadas. Não há a menor pretensão de dar receitas prontas ou oferecer respostas. Cada expectador vai levar um caminhão de reflexões pra casa. É isso. 

Gostando ou não do filme, estando solteiro ou à procura de alguém, casado ou separado, não importa. “Amores Materialistas” vai ficar na sua cabeça por um bom tempo.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Celine Song
Produção: Stage 6 Films, A24
Distribuição: Sony Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h57
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: comédia, romance