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03 setembro 2024

Nova versão de “O Corvo” é mediana, com personagens fracos, e tem tudo para ser esquecida

Filme dirigido por Rupert Sanders tem Bill Skarsgård que retorna dos mortos para vingar a morte de sua amada (Fotos: Imagem Filmes)


Marcos Tadeu
Blog Jornalista de Cinema


O aguardado "O Corvo" ("The Crow"), dirigido por Rupert Sanders e estrelado Bill Skarsgård e FKA Twigs, já chegou aos cinemas brasileiros carregado com a sensação de que talvez essa nova versão não fosse necessária. Especialmente se consideramos o marketing tímido que acompanhou a produção. 

Diferente do que muitos podem imaginar, o filme não é um remake do clássico de 1994, mas sim uma adaptação inspirada no famoso poema "The Raven", escrito por Edgar Allan Poe em 1845.


A história segue Eric Draven (Skarsgård) e Shelly Webster (Twigs), um casal apaixonado que é brutalmente assassinado. Eric, em um ato sobrenatural, retorna dos mortos com o objetivo singular de vingar a morte da amada e a sua própria. O filme, no entanto, começa tropeçando na falta de química entre os protagonistas. 

O romance entre Eric e Shelly é apresentado de maneira apressada e superficial, dificultando que o público se envolva emocionalmente com a relação dos dois. A escolha da cantora e compositora FKA Twigs para o papel da protagonista parece mais uma tentativa de atrair os fãs do que uma decisão acertada para o desenvolvimento da personagem.


O vilão, por sua vez, é outro ponto fraco. Com uma presença apagada e mal desenvolvida, ele não consegue impor a ameaça necessária para que a trama ganhe força. Seu principal poder, o "cochicho de Satanás", até gera alguma curiosidade, mas falta-lhe a motivação para realmente se destacar como antagonista.

Visualmente, o filme tenta emular uma estética gótica e sombria, com cenas de ação que parecem inspiradas na franquia "John Wick". Infelizmente, o resultado raramente atinge o impacto desejado. Uma exceção é a cena ambientada na ópera, onde a montagem, a trilha sonora e a ação se unem de maneira eficaz, criando um momento que se destaca em meio à mediocridade do restante do filme. 


No entanto, o corvo, que deveria ser a peça central e simbólica da narrativa, acaba se tornando um figurante de luxo, sem o peso que se esperava.

A jornada de vingança de Eric é confusa e mal explorada, deixando o espectador desorientado em vários momentos. A tentativa de criar uma atmosfera sobrenatural se perde em meio à falta de clareza e coesão narrativa, tornando difícil para o espectador acompanhar a trajetória do protagonista.

Apesar de seus muitos defeitos, o filme consegue apresentar alguns pontos positivos, como a estética dark e a tentativa de dialogar com um público jovem. Algo que Rupert Sanders já havia explorado em "Branca de Neve e o Caçador" (2012) e "A Vigilante do Amanhã" (2017).


A temática do luto e da perda, bem como a busca por justiça por meio da vingança, são elementos interessantes, mas não explorados de maneira profunda o suficiente para causar um impacto real. A ideia de como a vingança pode moldar o caráter do ser humano é levantada, porém mal desenvolvida.

Esta versão de "O Corvo", de 2024, será dificilmente lembrada, caindo na mesma categoria de filmes como "Demolidor: O Homem Sem Medo" (2003) e "Elektra" (2005) – obras que, apesar de não serem desastrosas, carecem de conteúdo e rapidamente desaparecem da memória do público. 

É uma tentativa frustrada de reinventar uma história clássica, resultando em um filme com uma narrativa fraca e personagens sem brilho.


Ficha técnica:
Direção: Rupert Sanders
Produção: Edward R. Pressman Film Corporation, Davis Films, Relativity Media, Electric Shadow Productions
Distribuição: Imagem Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h51
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: ação, policial, suspense

01 setembro 2024

"Pisque Duas Vezes": um thriller psicológico sobre dominação e sororidade

Channing Tatum interpreta o bilionário da tecnologia Slater King que promove festas estranhas em sua ilha (Fotos: Warner Bros. Pictures)


Marcos Tadeu
Blog Jornalista de Cinema


Para quem curte um terror psicológico, uma boa indicação em cartaz nos cinemas é "Pisque Duas Vezes" ("Blink Twice"), filme dirigido e roteirizado por Zoë Kravitz, que explora a dominação de gênero, especialmente no mundo das celebridades.

A trama segue Frida (Naomi Ackie, de "I Wanna Dance With Somebody: A História de Whitney Houston" - 2023), uma garçonete que aceita um convite do bilionário da tecnologia Slater King (Channing Tatum, de "Como Vender a Lua" - 2024) para passar férias em sua paradisíaca ilha particular. 


O que parecia uma escapada dos sonhos, com noites selvagens se misturando a dias ensolarados e todos se divertindo muito,. vira um pesadelo quando Jess (Alia Shawkat), amiga de Frida desaparece. Ela começa a duvidar da realidade e luta para descobrir o que está acontecendo se quiser sair viva de lá.

O roteiro de Kravitz é preciso e impactante. No início, Frida absorve informações sobre Slater King e sua empresa de celulares, refletindo uma obsessão pela figura dele. A direção usa ângulos fechados para transmitir a sensação de clausura. A ilha, com sua beleza e luxo, oferece um contraste, com ângulos abertos que destacam a sensação de liberdade.


O suspense é bem construído, com um clima que indica que as coisas não são o que parecem. A revelação da verdadeira intenção do empresário é surpreendente e adiciona uma nova camada ao filme. A trama aborda temas como a seletividade da memória e a diferença entre esquecer e lembrar, refletindo sobre como muitas vezes focamos no negativo.

O thriller é recheado de reviravoltas criativas e eficazes, lembrando o estilo de Jordan Peele. O humor e os estereótipos são bem incorporados, com personagens excêntricos como uma lutadora de boxe famosa e blogueiros que escondem seus verdadeiros instintos sob a fachada da fama.


Naomi Ackie se destaca com uma atuação profunda e segura como Frida. A relação entre Frida e Slater é um ponto positivo, embora reste a dúvida sobre a natureza da ligação deles.

O elenco conta ainda com o vencedor do Globo de Ouro, Christian Slater, Haley Joel-Osment, Simon Rex, Adria Arjona, Levon Hawke (filho de Ethan Hawke e Uma Thurman), Kyle MacLachlan e a vencedora do Oscar, Geena Davis.


Todas as personagens femininas são bem escritas, e a união delas é bem desenvolvida, abordando questões importantes como estupro e submissão com um subtexto rico. No entanto, o final do filme pode parecer simples e óbvio, comprometendo um pouco a força das reviravoltas anteriores.

"Pisque Duas Vezes" certamente está na corrida para os melhores do ano e pode garantir a Zoë Kravitz um prêmio por roteiro original. Sua estreia como diretora mostra um trabalho primoroso na abordagem de temas femininos e sororidade.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Zoë Kravitz
Produção: Amazon MGM Studios
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h42
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: suspense, terror psicológico

20 julho 2022

"Minions 2 - A Origem de Gru" garante boas gargalhadas, vilões divertidos, ótima trilha sonora e até homenagem ao kung-fu

Os amarelinhos mais divertidos do planeta e seu malvado chefe favorito estão de volta numa batalha divertida contra supervilões (Fotos:Universal Pictures)


Maristela Bretas


Pode até parecer que "Minions 2 - A Origem de Gru" ("Minions: The Rise of Gru"), a nova animação da Universal Pictures, é uma continuação da franquia "Meu Malvado Favorito". Mas o segundo filme com os amarelinhos mais loucos do planeta é tão divertido ou mais que seu antecessor, "Minions", de 2015. Prova disso é o sucesso de bilheteria da produção, que atingiu a casa dos 400 milhões de dólares desde sua estreia no dia 30 de junho, ameaçando inclusive a liderança de "Top Gun: Maverick".


Nossos amiguinhos de olhos grandes estão mais atrapalhados que nunca, especialmente porque finalmente se uniram a seu líder definitivo, Gru (novamente com excelente dublagem em português de Leandro Hassum e na versão legendadas com a voz do indicado ao Oscar, Steve Carell). 

A nova produção dá continuidade à história que começou no primeiro filme. O vilão, com apenas 12 anos, quer provar que pode ser o maior de todos e entrar para uma quadrilha de grandes vilões - a Vicious 6.


Os Minions (cujas vozes inconfundíveis são do diretor da franquia, Pierre Coffin) continuam fofos e encantadores e o enredo do filme foca em quatro deles - Stuart, Kevin, Bob e Otto. Este último é um jovem que usa aparelho nos dentes, se distrai com qualquer coisa diferente ou colorida e tem uma necessidade desesperada de agradar.

Junto com os demais irmãos, eles constroem o primeiro esconderijo de seu adorado chefe, projetam suas primeiras armas e unem forças para executar as primeiras missões sob as ordens do nosso adolescente malvado favorito, que não lhes dá o devido valor.


Gru tem outros planos e tenta se separar de seus aliados para entrar no sexteto de supervilões que tinha acabado de expulsar seu líder Wild Knuckles, considerado muito velho para continuar no grupo. Recusado e humilhado pelo grupo por ser considerado criança e baixinho, ele rouba da gangue um importante artefato que dá poderes a quem o possuir.

Um pequeno "deslize" do inocente, mas divertidamente desastrado Oto faz com que Gru também perca o objeto e tem adiado seus planos de se tornar um supervilão. Para piorar, passa a ser perseguido, junto com seus amiguinhos amarelos, pelos integrantes da Vicious 6.


Essa perseguição é uma das mais loucas e engraçadas e atravessa o país. Gru, separado de seus amigos, procura um mestre que lhe ensine a arte da vilania. Enquanto isso, Kevin, Stuart e Bob tentam achar seu chefe e até kung-fu eles irão aprender. Essa é uma das partes mais hilárias do filme. E o fofo Oto, separado de todos, vai viver inesquecíveis aventuras, enquanto tenta recuperar o objeto que perdeu.

"Minions 2 - A Origem de Gru" explica várias situações do primeiro filme da franquia "Meu Malvado Favorito" (2010) - quem assistiu vai entender. Em meio a situações engraçadas, o filme explora também as fraquezas dos personagens. Especialmente Gru, que sente a falta de uma figura paterna que lhe ensine e o apoie em suas descobertas no mundo das malvadezas.


Já os Minions continuam querendo agradar e proteger seu líder, mas precisam encontrar sua força interior. Para isso vão contar com a acupunturista Master Chow (voz de Michelle Yeoh) os ensinamentos do kung fu. O filme também presta homenagem a esta arte marcial e ao trabalho no cinema de artistas como Jackie Chan, em “O Mestre Invencível”, e Stephen Chow, em “Kung-Fusão” e “Kung Fu Futebol Clube”.

Até mesmo o ex- líder do Vicious 6 sofre por ter sido abandonado por seus antigos comparsas por ser considerado velho. Ele também quer encontrar quem lhe dá valor, apesar da idade e divida os momentos de vilania. Ninguém melhor para dar voz ao personagem Wild Knuckles do que o vencedor do Oscar, Alan Arkin. 

O filme também vai apresentar o jovem Dr. Nefário, aspirante à cientista maluco que ninguém dá crédito, estrelado por Russell Brand, e a atriz vencedora do Oscar, Julie Andrews, como a mãe egocêntrica de Gru, outro de seus traumas.


Na versão legendada de "Minions 2 - A Origem de Gru" o expectador poderá conferir as vozes de grandes astros, emprestadas aos personagens. No Vicious 6, Taraji P. Henson é a líder descolada e confiante Belle Bottom, cujo cinto de correntes funciona como um globo de discoteca letal. 

Jean-Claude Van Damme é o niilista Jean Clawed, armado com uma garra robótica gigante; Lucy Lawless é Nunchuck, cujo hábito de freira esconde seus mortais bastões nun-chuck; Dolph Lundgren é o campeão sueco de patins Svengeance, que elimina seus inimigos com chutes giratórios de seus patins afiados; e Danny Trejo é Stronghold, cujas mãos de ferro gigantes são uma ameaça para os outros e um fardo para ele próprio.


Outro ponto superpositivo é a trilha sonora arrebatadora dos anos 1970, quando a era Disco estava arrasando. A produção musical ficou sob a responsabilidade do vencedor do Grammy, Jack Antonoff. A trilha sonora do filme está disponível nas principais plataformas digitais: Confira um pouco clicando aqui

Diana Ross ft. Tame Impala lidera o álbum com o alegre e dançante primeiro single, “Turn Up The Sunshine”. O clipe da música já está com mais de 3,3 milhões de visualizações no Youtube. 

"Minions 2 - A Origem de Gru" é acima de tudo um filme muito divertido sobre amizade, lealdade e respeito, com vilões e monstros coloridos e personagens engraçados. Uma diversão para a família toda e todas as idades. Imperdível.


Ficha técnica:
Direção:
Kyle Balda e Brad Ableson
Produção: Illumination Entertainment / Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h28
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: animação, família, ação

13 junho 2022

"Assassino Sem Rastro" só faz o espectador esquecer da experiência de ver um bom filme

Liam Neeson volta às telas como um assassino de aluguel que está com Alzheimer e quer aposentar (Fotos: Diamond Filmes/Divulgação)



Marcos Tadeu
Blog Narrativa Cinematográfica


Existem filmes incríveis e filmes medianos. "Assassino Sem Rastro" ("Memory"), em cartaz nos cinemas, entra nessa segunda categoria. Confesso que fui conferir porque gosto de Liam Neeson desde "Busca Implacável" (2008), mas do ano desse icônico filme até hoje foram poucas as produções em que o ator entregou algo novo ou diferente.


Na história conhecemos Alex Lewis (Liam Neeson), um assassino de aluguel que quer aposentar sua vida de crimes mas que antes precisa de fazer um último serviço que lhe renderá uma boa grana. Porém, ele descobre que nessa troca de favores com gente do crime terá de executar uma criança. Ao recusar a proposta, passa a ser perseguido por uma rede de corrupção maior do que poderia imaginar.


Nos primeiros minutos do longa, a trama parece ter fôlego suficiente para se sustentar até o final. Principalmente porque o protagonista manda bala e faz justiça com as próprias mãos (apesar de ser clichê, a opção ainda funciona em muitos filmes de ação).

Os carismáticos policiais Vincent Serra (Guy Pearce) e Linda Amistead (Taj Atwal) são o ponto alto da narrativa. Dá para sentir empatia pela dupla, apesar de nosso vilão/protagonista conseguir passá-los para trás.


A trama também aborda a questão do abuso infantil e dos cartéis do narcotráfico. Quem carrega esse papel é Monica Bellucci como a empresária Davana Sealman. Mas na narrativa essas abordagens são tão caricatas que praticamente soam de maneira desconexa perto do restante do filme.

As cenas de ação, a maioria com Alex dando muitos tiros em seus adversários, são até boas. Isso é um dos poucos elementos positivos que Neeson faz e faz bem. O problema maior é na execução do roteiro. Me incomodou as muitas conveniências do roteiro e, principalmente, as atuações.


Quando acrescentamos o ingrediente do Mal de Alzheimer sofrido pelo protagonista, a trama fica em um vai e vem sem fim. Ao mesmo tempo em que Liam Neeson é vilão, a doença o deixa frágil e toda sua construção acaba indo meio que pelos ares.

Algumas vezes, esse artifício do roteiro faz com que o próprio ator soe forçado em seu papel. Existe até uma reviravolta, quase como uma maneira desesperada de fisgar a audiência, mas é tão nos 45 segundos do segundo tempo que faltou um maior desenvolvimento do personagem. "Assassino Sem Rastro" é um filme facilmente esquecível, tanto pelo roteiro fraco quanto por tudo o que o ator tentou entregar.


Ficha técnica:
Direção: Martin Campbell
Produção: Black Bear Pictures, STX Films, Welle Entertainment
Distribuição: Diamond Films
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h54
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: suspense, ação

30 novembro 2021

“Falling – Ainda Há Tempo” é sobre os machões que estão entrando em extinção

Lance Henriksen e Viggo Mortensen entregam excelente atuação num filme que fala de preconceitos e família (Fotos DJames/Califórnia Filmes)


Jean Piter Miranda


Willis (Lance Henriksen) é um velho rabugento, grosseiro e preconceituoso que vive sozinho em sua fazenda. Ele começa a apresentar sintomas de demência. Por isso, precisa ir morar com seu filho gay, John (Viggo Mortensen), em Los Angeles. Isso acaba sendo um problema para os dois, já que a relação entre eles nunca foi boa. Essa é história de "Falling - Ainda Há Tempo" ("Falling"), filme que estreia nesta quinta-feira (2) nos cinemas brasileiros.  


A trama gira em torno de Willis, que pode ser descrito como um velho bem escroto. Como muitos que ainda existem por aí. Inclusive há quem possa dizer que ele se parece com um ou com outro parente. O cara é homofóbico, mesmo tendo um filho gay, casado com outro homem, Eric (Terry Chen). A todo o tempo faz insultos e tenta ofender as pessoas dizendo “você parece um viadinho”, “sua bicha”, e chega a ser bem nojento ao questionar o filho sobre suas práticas sexuais.  


E vai além disso. A produção vai alternando passado e presente. Mostra o casamento do Willis e Gwen (Hannah Gross), o nascimento dos filhos e a relação deles com os pais. E nisso, Willis vai se mostrando aquele homem tosco, que se gaba de ser grosseiro, como se isso fosse sinal de macheza, de virilidade, como se isso o tornasse mais homem que os outros. Ele fuma, tem sempre um isqueiro no bolso, gosta de caça, de armas, e é sempre hostil com todo mundo, principalmente com mulheres. Bem machista por sinal. 
 

Willis também é racista e xenófobo. Tem admiração pelas forças armadas. Diz que arte é coisa de veado. Ele se acha superior por ser branco e estadunidense. Junta tudo isso e podemos traduzi-lo como um típico “cidadão de bem”. Por sorte, seus filhos e netos bem são diferentes. E mesmo com mágoas, o aturam. São até pacientes e compreensivos demais com o pai. Laura Linney interpreta sua filha Sarah, já adulta. E Sverrir Gudnason faz o Willis jovem, em uma bela atuação.  


"Falling - Ainda Há Tempo" é um filme de reencontro de família. Tem centenas deles por aí. Daqueles que os familiares se reúnem por algum motivo. Feridas são reabertas, mágoas colocadas para fora, verdades que estavam entaladas na garganta são ditas. Eles brigam, se machucam e, às vezes, até pedem desculpas. É do tipo acerto de contas. E muitos deles são bem bons. "Falling" pode entrar nesse grupo.  


Por todas essas questões é um filme incômodo. Ele propõe a reflexão se ainda há espaço na sociedade para esses machões. É sobre o atrito de gerações. E, felizmente, de forma geral, os mais jovens têm evoluído e se mostrado pessoas Que mundo está cada vez menor para gente escrota, grosseira e preconceituosa. É uma obra muito necessária para os dias atuais.  


Viggo Mortensen, como era de se esperar, faz mais uma bela atuação, além de trabalhar por trás das câmeras. "Falling - Ainda Há Tempo" é seu primeiro filme como diretor. Ele também assina a produção, roteiro e composição da trilha sonora. O longa está bem longe de ser uma obra prima. É uma boa produção, que não deixa pontas soltas, a montagem de passado e presente funciona bem, o ritmo é bom para propor reflexão, as imagens de sol e neve e as cores são bem bonitas. E o tema bem explorado. Um ótimo trabalho de estreia do ator na direção que deixa boas expectativas para o futuro.  


Ficha técnica
Direção e roteiro:
Viggo Mortensen
Distribuição: Califórnia Filmes
Gênero: Drama
Países: Reino Unido, Canadá, Estados Unidos
Duração: 1h52
Classificação: 16 anos

21 novembro 2021

Cine Brasil Itinerante é exibido de graça em três cidades de Minas



Da Redação


Três lugares com quatro sessões de cinema em cada um deles: esse é o Cine Brasil Itinerante, a nova iniciativa do Cine Theatro Brasil Valllourec de exibição gratuita de filmes nacionais para todos os públicos. O projeto será realizado em três datas: em BH, na região do Barreiro, nos dias 27 e 28 de novembro; em Piedade do Paraopeba, nos dias 04 e 05 de dezembro, e a em Jeceaba, nos dias 10 e 11 de dezembro.

"Malasartes e o Duelo com a Morte" (Foto: O2Filmes)

Serão quatro sessões por local, todas no mesmo horário. A primeira será no sábado, às 16 horas, do filme “Turma da Mônica - Laços” (2020); No mesmo dia, às 19 horas será a vez de “O Filme da Minha Vida” (2017). Já no domingo, o público poderá conferir a obra “O Segredo dos Diamantes” (2014), às 16 horas, e “Malasartes e o Duelo com a Morte” (2017), às 19 horas. 

“Turma da Mônica - Laços” (Biônica Filmes/Divulgação)

Essa mesma programação será repetida em Piedade do Paraopeba, nos mesmos horários, também sábado e domingo. Confira a crítica de “Turma da Mônica - Laços” e “O Segredo dos Diamantes” no blog Cinema no Escurinho clicando nos links.

Em Jeceaba, os filmes serão exibidos na mesma ordem e horário, mas as sessões acontecem, sexta-feira e sábado. As primeiras exibições são voltadas para o público infantil, mas todos os títulos são de classificação livre e contam com audiodescrição. 

"O Filme de Minha Vida" (Foto: Walter Carvalho/Globo Filmes)

Além dos filmes, o público também poderá prestigiar uma exposição sobre a história do centro cultural e sua relação com Belo Horizonte. Ela será guiada pelo Lanterninha do Cine Theatro Brasil Vallourec, figura já conhecida na capital mineira, que também realizará contações de histórias para o público infantil.

Todas as programações são gratuitas, e os ingressos serão disponibilizados uma hora antes de cada sessão, nos próprios locais. O Cine Brasil Itinerante é uma iniciativa do Cine Theatro Brasil Vallourec e tem patrocínio do Instituto Unimed-BH, e da Vallourec, ambos via Lei de Incentivo à Cultura. 

“O Segredo dos Diamantes” (Foto: Estevam Avellar/Quimera Filmes)

Os filmes

Sábado, 16 horas
"Turma da Mônica – Laços", dirigido por Daniel Rezende
Na história, a turminha sai em busca de Floquinho, o cãozinho de Cebolinha, que desapareceu. Para tentar encontrá-lo, o jovem do cabelinho espetado vai criar mais um de seus "planos infalíveis" e precisará contar com a ajuda dos fiéis amigos Mônica, Magali e Cascão. Juntos, eles irão enfrentar grandes desafios e viver uma emocionante aventura para levar o cão de volta para casa e desvendar um mistério.


Sábado, 19 horas: 
"O Filme da Minha Vida", dirigido por Selton Mello
Em 1963, nas Serras gaúchas, o jovem Tony Terranova precisa lidar com a ausência do pai, que foi embora sem avisar à família e, desde então, não deu mais notícias ao filho. Tony é professor de francês num colégio da cidade, convive com os conflitos dos alunos no início da adolescência e vive o desabrochar do amor. Até que a verdade sobre seu pai começa a vir à tona e o obriga a tomar as rédeas de sua vida.


Domingo, 16 horas
"O Segredo dos Diamantes", dirigido por Helvécio Ratton
Angelo é um garoto de 14 anos que descobre uma antiga lenda sobre diamantes perdidos e parte em busca desse tesouro para salvar a vida do pai. Para isso, ele e seus amigos Júlia  e Carlinhos terão que decifrar o enigma do "O Segredo dos Diamantes".


Domingo, 19 horas
"Malasartes e o Duelo com a Morte", dirigido por Paulo Morelli
Pedro Malasartes vive de pequenas trapaças e está sempre se safando das situações, mesmo as criadas por ele. Mas terá que enfrentar dois grandes inimigos: Próspero, que fará de tudo para impedir que sua irmã Áurea namore um sujeito como ele, e a própria Morte encarnada, que quer tirar férias e enganar Malasartes. Ele ainda terá que lidar com a bruxa Parca Cortadeira e Esculápio, assistente da Morte. 


Serviço:
Cine Brasil Itinerante
Locais: Barreiro - Rua Antônio Teixeira Dias, 1600 (Salão de festas da AMCATD) - 27 e 28 de novembro
             Piedade do Paraopeba - Quadra da Escola Municipal Padre Xisto - 04 e 05 de dezembro
             Jeceaba - Ginásio Poliesportivo Municipal (Geraldão) - 10 e 11 de dezembro
Sessões: Sexta-feira: 16 e 19 horas
               Sábado: 16 e 19 horas
Ingressos: Gratuitos

24 setembro 2021

"O Silêncio da Chuva" chega às telas atualizado, sem perder a atmosfera de um policial clássico

Lázaro Ramos protagoniza o detetive Espinosa, personagem do livro de Luiz Alfredo Garcia-Roza e adaptado para o cinema (Fotos: Mariana Vianna)


Carolina Cassese


Estamos habituados a ver um Rio de Janeiro diurno e repleto de cores. No entanto, logo na primeira cena de "O Silêncio da Chuva" (2020), longa assinado por Daniel Filho, nos damos conta de que aquele cenário está muito mais sombrio do que de costume. O filme é uma das estreias da semana e está em exibição no Cineart Cidade.

Além da atmosfera misteriosa, apresentada para nós em tons de sépia, temos todos os elementos de um clássico policial: um provável assassinato, uma investigação, vários suspeitos que escondem muitos segredos, femmes fatales e uma dupla de detetives bastante entrosada. O filme protagonizado por Lázaro Ramos é uma adaptação do consagrado livro homônimo de 1996 escrito por Luiz Alfredo Garcia-Roza, que recebeu os prêmios Nestlé e Jabuti e foi publicado em nove países.


Além de Lázaro, que interpreta o conhecido detetive Espinosa, o elenco conta com nomes como Cláudia Abreu (que interpreta Bia, a viúva), Thalita Carauta (Daia, que compõe a dupla de detetives com Espinosa), Mayana Neiva (Rose, que era amante da vítima), Guilherme Fontes (Ricardo, o executivo morto), entre outros.

Podemos perceber que houve uma atualização do texto, escrito há 22 anos. A personagem de Daia é uma das que melhor exemplifica essa renovação, já que é uma mulher que integra a polícia. E ainda, não se sente impelida a esconder seus desejos. O próprio fato de o personagem principal ser negro já representa uma mudança significativa em relação ao livro original.


Para os que estão acostumados a ver filmes policiais, talvez "O Silêncio da Chuva" não pareça exatamente inovador. Um de seus diferenciais, no entanto, reside justamente no fato de que a produção não é hollywoodiana e apresenta elementos bastante brasileiros. Em entrevista ao site C7nema, Lázaro Ramos definiu o longa como um noir. 

“O Brasil, infelizmente, insiste em vender seu cinema para o público sem comunicar as especificidades de cada gênero. É como se ‘cinema brasileiro’ fosse um gênero em si, e não é. Este nosso filme tem uma cara e uma comunicação de gênero, e sem perder o jeito brasileiro de ser”, declarou o ator.


Sabemos que, no Brasil, o termo “policial” muitas vezes ganha conotações violentas: programas policialescos são aqueles que falam de crimes bárbaros, reportagens “policiais” muitas vezes são sensacionalistas… O longa de Daniel Filho, no entanto, não sucumbe à lógica "pinga-sangue". Por mais que algumas cenas sejam mais explícitas, a produção está longe de ser apelativa e tem muito mais o que oferecer.

Do começo ao fim, "O Silêncio da Chuva" é bastante eficiente em prender a nossa atenção. Repleto de boas atuações, o longa diverte na medida certa e, apesar de fazer uso de alguns arquétipos, não incorre demasiadamente em estereótipos. Que, daqui pra frente, o cinema brasileiro aposte em mais filmes ditos “de gênero” - temos sim muitos profissionais qualificados para contar novas histórias.


Ficha técnica:
Direção: Daniel Filho
Roteiro: Lusa Silvestre
Produção: Globo Filmes / Lereby
Distribuição: ELO Company
Exibição: Cineart Cidade - sala 1 - sessões às 16h40 e 20h40 // Una Cine Belas - sala 3 - sessão 20h10
Duração: 1h36
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gêneros: Drama / Policial

28 abril 2021

"Minhas Férias com Patrick" - uma comédia francesa de belas paisagens e humor leve

Filme narra a jornada inesquecível de Antoinette e o burro Patrick pelo sul da França (Fotos: California Filmes/Divulgação)


Maristela Bretas



Mesmo com muitos clichês e um tema explorado milhares de vezes em outras produções, a comédia francesa "Minhas Férias com Patrick" ("Antoinette Dans Les Cévennes"), que estreia nesta quinta-feira (29) nos cinemas, é uma distração leve sobre um casal totalmente diferente.

O filme, dirigido por Caroline Vignal, nos apresenta uma mulher solteira em busca do amor, que encontra em seu caminho um animal inteligente, apesar de ser chamado de burro, que vai lhe ensinar muito da vida. Ele é Patrick, a maior atração da produção, que divide as atenções com atriz Laure Calamy, interpretando Antoinette Lapouge, uma professora expansiva e engraçada, mas que não ainda não acertou na escolha de seus relacionamentos.


Mas é Patrick quem dá o diferencial para a produção, conseguindo fazer com que o roteiro que é uma repetição de histórias de mulheres sozinhas que correm atrás dos amantes ganhasse um fôlego. Na história, Antoinette está tendo um caso com o pai de uma aluna, Vladimir (Benjamin Lavernhe). 

Ao saber que não vão mais passar uma semana de férias românticas, planejada por meses, porque ele ficará com a esposa e a filha, ela resolve seguir a família até uma área montanhosa belíssima em Cevennes, na região centro-sul da França.


Ao chegar ao local antes de seu amado, a professora conta seu caso aos demais integrantes da excursão e se torna o centro das atenções e também motivo de comentários por onde passa. Mas o pior pesadelo de Antoinette está por vir. No pacote de viagem está Patrick, o burro mais teimoso da área e que vai fazer o percurso carregando a bagagem da tola professora.

Sabe aquele animal que empaca, não obedece, come o que não deve e reclama quando não gosta de alguém? Pois este é Patrick, que tornará a viagem da professora uma experiência inesquecível e formará o par perfeito com ela. Ele pode até ser um burro, mas irá ditar as regras da viagem e ensinar Antoinette o que é viver, ser feliz e encontrar o amor verdadeiro.


Outro destaque "Minhas Férias com Patrick" é a fotografia. A diretora soube explorar muito bem a região onde foi gravado o filme, no Parc National de Cévennes, uma das mais belas cadeias montanhosas da França. O roteiro feito no filme serviu de inspiração também para o escritor escocês Robert-Louis Stevenson, autor do livro "Viagem Com um Burro Pelas Cevenas" (1879), que foi adaptado para a produção.


Os bons momentos do filme são proporcionados pelos apertos que a dupla enfrenta e a relação forte que vai se criando entre os dois protagonistas - desde situações de saia justa àquelas de vergonha alheia. Não se trata de uma comédia que provoca gargalhadas, mas "Minhas Férias com Patrick" garante uma sessão da tarde sem muitas pretensões.


O filme foi muito elogiado pela imprensa francesa, sendo selecionado em 2020 para o Festival de Cannes, além de fazer sucesso no Festival Varilux de Cinema, render oito indicações e o troféu na categoria de Melhor Atriz a Laure Calamy no Prêmio César, o Oscar do cinema francês, também no ano passado.


Ficha técnica
Direção e roteiro: Caroline Vignal
Distribuição: California Filmes
Exibição: Nos cinemas
País: França
Duração: 1h36
Gêneros: Comédia, Aventura

16 abril 2021

"Mank" é um filme Cult muito superestimado, feito para meia dúzia de pessoas

 Produção conta a história do roteirista da obra "Cidadão Kane", Herman J. Mankiewicz (Fotos: Netflix/Divulgação)

Jean Piter Miranda


O filme com mais indicações ao Oscar 2021 - dez no total -, dirigido por David Fincher, com Gary Oldman como protagonista. Todo produzido em preto e branco para retratar parte da Era de Ouro de Hollywood. Mais que isso, para mostrar um pouco dos bastidores do filme “Cidadão Kane” (1941), considerado uma obra-prima de Orson Welles e uma das maiores produções da história do cinema. 

Partindo disso, dá pra imaginar que “Mank” (2020), disponível na Netflix, é de muito bom pra ótimo. Mas não é. É bem fraco, pra não dizer ruim, para decepção da maior parte dos amantes da sétima arte.


Mank (Gary Oldman) é o apelido de Herman Mankiewicz, um roteirista bem conhecido de Hollywood. Ele recebe a missão de escrever um roteiro para o diretor Orson Welles, uma das grandes estrelas do momento. Mank é meio que um alcoólatra, viciado em aposta e ainda tem alguns traumas. E o tempo que ele tem para entregar as centenas de páginas escritas é bem curto. 


Quando o filme começa, a impressão é de que Mank é um tipo de anti-herói. Parece que vai ser uma corrida contra o tempo para escrever o roteiro do que viria a ser o filme “Cidadão Kane”, um dos grandes clássicos da história do cinema. E pelo tanto que ele é conhecido e reconhecido, o roteirista vai colocar sua genialidade e talento em prática. A expectativa é de o filme mostre os bastidores de todo o processo criativo, com momentos e diálogos épicos. Mas não. Não tem nada disso.


Mesmo com muita boa vontade, não dá pra ter simpatia por Mank. É um personagem chato. Muito chato. O processo de escrita não aparece e não dá pra entender porque ele é tão conceituado na indústria do cinema. Ele é antipático e sem carisma algum. 

O filme é um amontoado de momentos desconexos, com diálogos que não parecem fazer sentido. É só um monte de frases de efeito soltas e algumas até meio bobas. Lembram programas de comédia, em que um ator levanta a bola para o outro cortar. Tem também várias citações de nomes de artistas e políticos da época que poucos vão entender e localizar. Do tipo, quem pegar pegou. 


Ao que parece, David Fincher fez “Mank” pra impressionar a Academia e ganhar indicações ao Oscar. Se for isso, deu certo. Hollywood adora essas homenagens. Obras sobre os bastidores e as grandes estrelas do cinema. É uma produção feita também para os cinéfilos mais extremistas. Aqueles que amam filmes alternativos, cults e não comerciais. Os que ficam procurando referências e curiosidades em cada uma das cenas, e que vão dizer que entenderam tudo quando quase ninguém compreendeu nada. 


O longa também foi feito para Gary Oldman. O ator já havia se destacado por interpretar Winston Churchill em “O Destino de Uma Nação” (2018), quando levou pra casa o Oscar de Melhor Ator, por uma caracterização impressionante em outra produção bem fraca. Em “Mank”, o protagonista está quase sempre com olhos bem arregalados, fazendo falas meio bêbadas e desviando olhar nas conversas. Como Herman Mankiewicz não é uma figura comum, bem conhecida, não dá pra saber se a interpretação é realista ou exagerada. 

Falando no elenco, Amanda Seyfried e Lily Collins estão desperdiçadas. São talentosas demais para papéis tão fracos como os que receberam em "Mank". Amanda aparece um pouco mais, quase que só pra enfeitar as cenas. Lily passa despercebida. 


“Mank” foi indicado ao Oscar de: Melhor Filme, Melhor Ator para Gary Oldman, Melhor Atriz Coadjuvante para Amanda Seyfried, Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Direção para David Fincher, Melhor Cabelo e Maquiagem, Melhor Trilha Sonora, Melhor Design de Produção e Melhor Som. E pra não dizer que tudo é ruim, as indicações técnicas são bem merecidas. 


A fotografia de “Mank” é maravilhosa. Um filme em preto e branco de altíssima qualidade, com luzes e sombras muito bem acertadas. É como voltar no tempo para ver cinema nos anos 1930. As roupas, os cenários, cabelos, maquiagem... Tudo remete bem à Era de Ouro do Cinema. Uma ambientação perfeita. Só faltou uma boa história. Mas, ao menos uma meia dúzia de pessoas com certeza irá gostar.


Ficha técnica:
Direção: David Fincher
Exibição: Netflix
Duração: 2h12
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: Drama / Biografia