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13 janeiro 2025

Comovente, “A Semente do Fruto Sagrado” reflete sobre drama político e enclausuramento feminino

Em meio ao caos político do país, o patriarca impõe restrições severas à vida de sua família
(Fotos: Mares Filmes)


Carolina Cassese


Segundo o princípio dramático de Tchekhov, se um revólver aparece no começo de uma história, ele eventualmente será disparado. Em “A Semente do Fruto Sagrado” ("The Seed of the Sacred Fig"), do diretor iraniano Mohammad Rasoulof, o objeto – presente em uma das primeiras cenas – é central para o desenrolar da história. 

O filme está em cartaz no Cine Una Belas Artes e se encontra na shortlist para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro como representante da Alemanha.

Uma das discussões mais importantes da trama gira justamente em torno do revólver de Iman (Misagh Zare), personagem que trabalha como juiz de instrução para o governo. Como a arma de um funcionário tão importante pode ter desaparecido? 


O protagonista, então, passa a ficar bastante desconfiado da esposa Najmeh (Soheila Golestani), e das filhas, Rezvan (Mahsa Rostami) e Sana (Setareh Maleki), que questionam algumas medidas do regime iraniano. 

Em meio ao caos político do país, o patriarca impõe restrições severas à vida de sua família. Logo acompanhamos diversos embates entre os personagens, que se esforçam para defender os respectivos ideais. A gravidade da situação é significativa já que, caso a arma – pertencente ao governo – não seja encontrada, Iman corre o risco de ir para a cadeia. 

Não é irrelevante o fato de o próprio diretor do filme ter sido condenado a oito anos de prisão pelo regime iraniano, que considerou os trabalhos de Rasoulof “ameaçadores para a segurança do país”. O realizador, então, precisou deixar o Irã para não ser detido. 


A ameaça do encarceramento – familiar para Rasoulof há anos – é importante para a história de “A Semente do Fruto Sagrado”, inclusive para as personagens femininas, que frequentemente se veem como prisioneiras do espaço doméstico. 

Em determinada cena, Najmeh demonstra preocupação com as filhas, argumentando que “lá fora é perigoso”. Não demoramos a perceber, porém, que a ameaça também se encontra dentro da casa, um ambiente significativamente violento.

Aqui, podemos estabelecer um paralelo com as justificativas de Iman para a manutenção do autoritarismo; segundo ele, é necessário lutar contra inimigos externos, já que “o mundo inteiro está contra o Irã”. Por outro lado, a violência contra os próprios cidadãos não parece ser levada em conta pelo protagonista. 


Em diversos momentos, as personagens observam os principais acontecimentos do país a partir de casa. Najmeh chega a ter medo de ser vista na janela de seu apartamento, pois, como esposa de um funcionário do governo, acredita que não deveria sequer observar os protestos contra o regime. 

Ao longo do filme, assistimos a uma mescla de imagens ficcionais com vídeos reais do Irã contemporâneo, em especial de manifestações contra o regime. Esses registros nos fazem compreender a relevância do tema abordado na tela: em 2022, a jovem Mahsa Jina Amini foi presa pela polícia iraniana sob a acusação de usar o hijab de maneira inadequada, descumprindo o código de vestimenta imposto pelo governo.

Segundo relatos, Amini teria sido espancada pelas autoridades e, três dias depois, foi encontrada sem vida. O ocorrido revoltou parte da população iraniana, que tomou as ruas em protestos contra a violência. Muitas das imagens reais são chocantes e evidenciam o caos político do país. 


O ato de filmar, aliás, também é importante para o universo ficcional da produção; o gesto é realizado por jovens que se manifestam contra o regime, ao passo que também é reproduzido pelo personagem Iman, numa tentativa de intimidar sua família. 

A partir do longa, podemos refletir que as mesmas imagens podem ilustrar narrativas díspares. Enquanto (parte dos) registros de repressão policial são mostrados pela mídia oficial como uma reação justa às ações de “vândalos”, veículos independentes exibem os vídeos e chamam atenção para a violência à qual os manifestantes são submetidos. 

Por motivos óbvios, o diretor tem consciência de que a câmera é uma ferramenta de poder, que pode ser utilizada para finalidades diversas. Em entrevista ao NYU Program Board, Rasoulof comentou sobre a produção e, ainda, sobre a importância de continuar a filmar: “Eu acho que você pode ser cineasta na prisão [...] Você ainda pode ser cineasta, mas então se torna um cineasta sacrificado pela censura. E eu pensei: tenho tantas ideias na minha cabeça que realmente quero realizar, e é isso que devo fazer”. 


O desenrolar do filme evidencia que o diretor de fato tem talento para contar histórias, já que torcemos muito pelas personagens e nos angustiamos a cada adversidade que elas devem enfrentar. Como mencionamos, a ameaça da prisão logo se transforma em realidade para as mulheres da história, que passam a se sentir encarceradas em ambientes familiares.

Com um ritmo eletrizante, “A Semente do Fruto Sagrado” é eficiente em prender a atenção do espectador ao longo de quase três horas. Nos encontramos vidrados em diferentes momentos do filme, que também promove reflexões sobre as particularidades de governos (e sujeitos) repressores ao redor do mundo. 

O tema não deixa de ser atual: precisamos pensar exaustivamente sobre as muitas violências contemporâneas, externas e domésticas. Bastante perspicaz, o olhar de Rasoulof com certeza ocupa um espaço significativo nesse processo.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Mohammad Rasoulof
Distribuição: Mares Filmes
Exibição: Cine Una Belas Artes - sala 3, sessão às 15h20
Duração: 2h46
Classificação: 14 anos
Países: Alemanha, França, Irã
Gêneros: drama, suspense

24 novembro 2024

“Amor Traiçoeiro” desafia convenções e prova que o amor pode florescer em qualquer idade

Monica Guerritore e Giacomo Gianniotti protagonizam a "caliente" minissérie italiana ambientada na Costa Amalfitana (Fotos: Netflix)


Marcos Tadeu
Do blog Jornalista de Cinema


A nova minissérie da Netflix, "Amor Traiçoeiro" ("Inganno" - 2023), dirigida por Pappi Corsicato, chegou à plataforma em 9 de outubro e mergulha em uma narrativa que explora o amor, o desejo e os preconceitos enfrentados por mulheres mais maduras.

A trama foi inspirada na minissérie da BBC de 2019, "Golpe do Amor", criada por Marnie Dickens, que tem no elenco Julia Ormond e Ben Barnes (em exibição no Prime Video).

Na nova versão, conhecemos Gabriella (Monica Guerritore), uma mulher rica e divorciada na casa dos 60 anos, dona de um luxuoso hotel na Costa Amalfitana. Ela se envolve com Elia (Giacomo Gianniotti), um homem 30 anos mais jovem. 

Enquanto vive intensamente essa paixão, Gabriella precisa lidar com o julgamento de seus filhos e questionamentos sobre as verdadeiras intenções de Elia.


A série é eficaz ao abordar temas como a redescoberta do desejo, a feminilidade na maturidade e os estigmas enfrentados por mulheres mais velhas que escolhem parceiros mais jovens. 

Em um contexto social onde relações com homens mais velhos e mulheres mais jovens são frequentemente normalizadas, "Amor Traiçoeiro" inverte a perspectiva, gerando reflexões relevantes.

Monica Guerritore entrega uma atuação segura e envolvente, personificando Gabriella como uma mulher que luta por sua liberdade de amar e viver suas escolhas. Sua performance destaca as complexidades emocionais da personagem, especialmente ao enfrentar as suspeitas e críticas. 


Já o personagem Elia interpretado por Giacomo Gianniotti é um misto de charme e mistério. Ele mantém o espectador intrigado, questionando suas motivações e segredos ao longo de cada episódio.

No aspecto técnico, a produção italiana não decepciona. Davide De Cubellis, responsável pelos storyboards, demonstra cuidado em cada enquadramento, criando uma atmosfera visualmente deslumbrante. 

A trilha sonora de Enrico Pellegrini complementa as emoções da série, transitando entre afeto, tensão e desejo. O departamento de maquiagem e figurino, liderado por Jujuba Acciarino, Ilaria Soricelli e Rosa Falcão, eleva a elegância dos personagens, especialmente a presença impecável de Elia.


A narrativa mantém um ritmo envolvente, com ganchos bem posicionados que dificultam assistir apenas um episódio. Contudo, a série poderia explorar mais a relação de Gabriella com seus filhos, especialmente no contexto de sua infância, o que traria maior profundidade à dinâmica familiar.

"Amor Traiçoeiro" prova que o amor pode transcender diferenças de idade, mas deixa claro que escolhas ousadas muitas vezes vêm acompanhadas de desafios. 

Apesar de algumas limitações, a minissérie entrega um desfecho satisfatório, embora as decisões finais dos protagonistas possam dividir opiniões.


Ficha técnica:
Direção: Pappi Corsicato
Exibição: Netflix
Duração: média de 45 minutos (1ª Temporada - 6 episódios)
Classificação: 16 anos
País: Itália
Gêneros: drama, romance, suspense

21 novembro 2024

"A Linha da Extinção" traz suspense, ação e fragilidade no protagonismo

Longa tem como protagonistas Anthony Mackie e Morena Baccarin e lembra outros filmes sobre ataques de monstros extraterrestres (Fotos: Divulgação)


Eduardo Jr.


O diretor norte-americano George Nolfi ("The Banker" - 2020) volta à cena. Desta vez, com o filme "A Linha da Extinção" ("Elevation"). A produção estrelada por Anthony Mackie (que trabalhou com Nolfi em"The Banker"e participou de "Capitão América 2: O Soldado Invernal" - 2014) e Morena Baccarin ("Deadpool" - 2016), chega às telonas nesta quinta-feira (21), distribuído pela Paris Filmes.    

Na trama, 95% da população mundial foi exterminada quando crateras se abriram em todo o mundo, e dela emergiram criaturas que matam os humanos. 

A única forma de se proteger foi buscar locais acima de 2.400 metros de altitude. Nas montanhas, Will (Mackie) cuida sozinho do filho Hunter, vivido pelo pequeno Danny Boyd Jr. (da série "Watchmen" - 2019). 


Os problemas respiratórios do garoto e o iminente término dos remédios dele obrigam Will a descer a montanha para tentar pegar medicamentos no que sobrou do hospital da cidade. 

A jornada de Will é compartilhada com Nina, vivida por Morena Baccarin, e Katie, interpretada por Maddie Hasson (da série "The Finder"- 2012). E aí começam os problemas. A personagem de Anthony Mackie tem um arco dramático fraco. 

Tão fraco que o espectador pode criar mais interesse e curiosidade pela personagem de Morena Baccarin, a cientista que procura uma forma de matar os monstros e que tem camadas e trajetória mais ricas. 


A proposta de um mundo destruído após o ataque de criaturas estranhas não é inédita. As notícias de ataques contra humanos são noticiadas em rádios e TVs. A origem das criaturas é desconhecida e a sobrevivência depende de um afastamento de determinadas áreas. 

Elementos que remetem à série "The Last of Us" (HBO - 2023). E como "A Linha da Extinção" conta com os mesmos produtores de "Um Lugar Silencioso" (2018), também é possível ver pontos de semelhança entre essas duas obras. 

O longa teve orçamento de US$ 18 milhões. Mesmo com cenas aéreas valorizando a paisagem das montanhas e ampliando a sensação de isolamento, ainda é possível tecer críticas sobre aspectos técnicos da obra de George Nolfi. 


Em certos momentos, a edição de som derrapa ao trazer ruídos que podem prenunciar um perigo (que demora um pouco a surgir) e que não representam a passagem por um ambiente hospitalar em ruínas, por exemplo. Há também momentos de ação onde a tela escurece e a movimentação da câmera confunde o espectador. 

Os diálogos também são rasos. O melhor do texto fica para a cientista Nina. Mas no meio disso tudo, o desenho das criaturas do mal é interessante. O suspense entretém na sua uma hora e meia de exibição. 

Fica a expectativa de uma continuação de "A Linha da Extinção" que explique por que os 2.400 metros de altura garantem a salvação e revele a origem e motivação dos monstros destruidores de humanos. De zero a dez, nota 6 para o filme. 


Ficha técnica:
Direção: George Nolfi
Produção: North.Five.Six
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h35
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: ação, suspense

04 novembro 2024

Suspense "Não Solte!" propõe metáfora sobre a fé e traz o mal para a luz do dia

Halle Berry é a mãe que protege os filhos de uma entidade maligna que destruiu o mundo exterior e agora os persegue (Fotos: Lionsgate)


Eduardo Jr.


"A corda é sua linha da vida". Este é o mote do longa "Não Solte!" ("Never Let Go"), do diretor Alexandre Aja. O filme chega às telonas nesta quinta-feira (7), com distribuição da Paris Filmes. Na trama, uma mãe tenta proteger os filhos da entidade maligna que destruiu o mundo exterior e espreita a casa que os protege no meio da floresta. 

No elenco, a ganhadora do Oscar, Halle Berry ("John Wick 3: Parabellum" - 2019) é a protagonista June, mãe dos gêmeos Samuel e Nolan (vividos por Anthony B. Jenkins e Percy Daggs IV, respectivamente). Os três precisam se manter conectados à casa. Para sair, só com o uso de uma corda. Se soltarem a corda e forem tocados pelo mal, a tragédia é certa. 


A história vem dividida em três atos, e começa sendo narrada por um dos filhos. Só a mãe enxerga a ameaça sobrenatural, e reforça para os filhos que o mundo lá fora acabou, ao ser consumido pela maldade. A família, unida, obedece a um ritual religioso de proteção. Mas tudo começa a mudar quando um dos gêmeos questiona aquelas verdades. Quando esse elo familiar se enfraquece, começam os problemas. 

Aí está um dos méritos de Alexandre Aja. O diretor traz a representação do mal para a luz do dia. A tensão, que em muitos filmes se apoia em cenas escuras e sustos, aqui é representada nas aparições de criaturas sob formas humanas em ambientes abertos e claros. 


O diretor parece propor uma metáfora sobre a fé, onde duvidar é sinônimo de abrir a porta para que o mal se instale e domine o mundo. Por mais inovadora que seja a proposta, o desenvolvimento deixa questões em aberto. Talvez uma continuação traga as respostas. Em resumo, "Não Solte!" não é exatamente um filme de terror, mas um bom suspense, que aborda crença e dúvida, com um final interessante.


Ficha técnica
Direção: Alexandre Aja
Produção: Lionsgate e 21 Laps Entertainment
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h42
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: terror, suspense

27 setembro 2024

"Ainda Somos os Mesmos" dialoga com a nossa atualidade

Drama baseado em fatos reais da década de 1970 no Chile foi filmado na Cordilheira dos Andes, Santiago, Porto Alegre e Novo Hamburgo (Fotos: Edson Filho)


Eduardo Jr.


Baseado nos relatos de brasileiros que se abrigaram na Embaixada Argentina no Chile após o golpe de estado dos militares chilenos, o longa “Ainda Somos os Mesmos” já está em cartaz nos cinemas. O filme é dirigido por Paulo Nascimento (que já realizou “Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos”, de 2016) e distribuído pela Paris Filmes. 

Além da temática interessante e das imagens da época na abertura, outro atrativo reside em uma curiosidade sobre o longa: o filme é inspirado em outra obra do mesmo diretor (“Em Teu Nome”, de 2010). 

Um dos relatos que auxiliaram na construção do longa veio de João Carlos Bona Garcia, gaúcho e ex-guerrilheiro da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) que ficou 42 dias abrigado na embaixada da Argentina em 1973 e sobreviveu. 


A história do revolucionário fez parte de “Em Teu Nome”, e Bona também participou das leituras do roteiro de “Ainda Somos os Mesmos”. Mas faleceu aos 74 anos, em março de 2021, vítima de Covid, poucos dias antes de poder se vacinar. 

No longa "Em Teu Nome", um estudante de engenharia entra para a luta armada, e teme por sua namorada e por sua família. Em “Ainda Somos os Mesmos”, o estudante de medicina Gabriel (Lucas Zaffari) vai para o Chile para fugir da ditadura no Brasil, mas é surpreendido pelo golpe de estado de Augusto Pinochet e se perde da namorada. 

Ao se abrigar na embaixada da Argentina, ele conhece Clara (Carol Castro) e também reencontra outros brasileiros, o que movimenta a trama em determinados momentos. 


O filme dialoga com a nossa atualidade. Fernando (personagem de Edson Celulari) é o pai de Gabriel, e vive um empresário apoiador do militarismo. Mas se arrepende quando fica diante do risco de perder o filho ao ouvir que aquilo é necessário, que os atos são feitos em nome de Deus. 

Cabe a ele a missão de tentar resgatar Gabriel e os outros brasileiros no Chile, que na época era considerado um dos países mais perigosos do mundo por conta da ditadura de Pinochet. A presença de crianças e gestantes naquele contexto de violência escancara a falta de escrúpulos dos regimes militares. 


Embora filmado na Cordilheira dos Andes e também em Santiago, Porto Alegre e Novo Hamburgo, que propiciam uma boa fotografia, o longa ganha ares de novela com as músicas guiando cenas e emoções. Além de algumas atuações que se mostram em outra frequência em relação ao restante do elenco. 

Outro ponto a se observar é que, em alguns momentos, o texto parece usar expressões modernas demais para os anos 1970. Ainda assim, a tensão marca presença e mantém o interesse do espectador no filme. 


O longa também chamou a atenção de julgadores. Ganhou o prêmio de Melhor Filme Independente no Montreal Independent Film Festival 2023, se tornando mais um na lista de premiados da Paris Filmes. A distribuidora tem em seu catálogo, entre outros títulos, “O Lado Bom da Vida” (2012), que rendeu um Globo de Ouro e um Oscar de Melhor Atriz para Jennifer Lawrence. 

E “Meia Noite em Paris” (2011), que ostenta o título de maior bilheteria de um filme de Woody Allen no Brasil. Além das franquias “John Wick” (de 2014 a 2023) e "Jogos Vorazes" (2012 a 2023), e de sucessos como “Minha Irmã e Eu” (2024) e "La La Land - Cantando Estações" (2017).


Ficha Técnica:
Direção, roteiro e produção: Paulo Nascimento
Produção: Accorde Filmes
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas das redes Cineart Del Rey e Cinemark Diamond Mall e Pátio Savassi
Duração: 1h30
Classificação: 14 anos
Países: Brasil e Chile
Gêneros: drama, história, suspense

15 setembro 2024

"Não Fale o Mal" é um filme óbvio e desmerece a primeira versão

James McAvoy tenta salvar remake de terror, mas roteiro fraco não ajuda muito (Fotos: Universal Pictures)


Maristela Bretas


Não adiantou ter no elenco os ótimos James McAvoy e Mackenzie Davis. O roteiro e a direção de James Watkins não ajudaram a nova versão norte-americana de "Não Fale o Mal" ("Speak No Evil"), em cartaz nos cinemas. 

Com cenas óbvias, sem nenhuma surpresa para o público sobre o que acontecerá a seguir, o filme é uma sucessão de situações que subestimam a inteligência do espectador, com um terror que deixa a desejar. No máximo pode-se dizer que é um suspense (que não surpreende).


Ao invés de explorar as nuances e a tensão do original, o remake opta por um caminho mais previsível e violento, perdendo a atmosfera de desconforto e estranhamento que caracterizou a versão dinamarquesa dirigida por Christian Tafdrup e exibida em 2022. 

A série de sustos baratos e revelações óbvias tomam o lugar do tão esperado terror psicológico, deixando o espectador entediado e insatisfeito.

O roteiro de James Watkins falha em desenvolver os personagens de forma convincente. Apesar do talento de McAvoy e Davis, suas performances ficaram limitadas. A falta de coesão entre as diferentes partes do filme resulta em uma experiência fragmentada e pouco impactante. E de "Fragmentado", o ator entende bem, graças à sua excelente atuação como um assassino de múltiplas faces no filme de M.Night Shyamalan de 2017.


Neste remake, uma família dos Estados Unidos que mora em Londres, após se aproximar de uma família britânica durante suas férias na Itália, aceita um convite para passar um final de semana em sua casa de campo. Este início segue uma linha muito semelhante ao filme original. 

Inicialmente, o cenário parece perfeito, oferecendo uma pausa tranquila. No entanto, o que deveria ser um fim de semana relaxante logo se transforma em um pesadelo sombrio, com os anfitriões Paddy (McAvoy) e Ciara (Aisling Franciosi) agindo de forma estranha e violenta, especialmente com o filho Ant (Dan Hough). 


A partir daí começam as diferenças entre as duas produções na forma de condução dos roteiros. Na nova versão, os visitantes Ben (Scoot McNairy), Louise Dalton (Mackenzie Davis) e a filha Agnes (Alix West Lefler) precisam encontrar uma forma de escapar daquele lugar esquecido no meio do nada. A produção norte-americana tende para um final tenso, porém mais "bonzinho" que seu antecessor.

No cinema, diversas pessoas que assistiram o filme original, e até mesmo algumas que só viram esta versão saíram desapontadas e reclamando da forma como a trama foi tratada. Vale por James McAvoy, mas não é dos seus melhores trabalhos.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: James Watkins
Produção: Universal Pictures e Blumhouse Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h50
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: terror, suspense

18 julho 2024

Minissérie “Ripley”, da Netflix, nos dá o direito de torcer pelo vilão

Andrew Scott interpreta o protagonista que vive de aplicar golpes, mas também tem um passado sombrio
(Fotos Netflix)


Jean Piter Miranda


Para quem gosta de torcer pelo vilão, está disponível na Netflix a minissérie “Ripley”. A obra tem como protagonista Tom Ripley (Andrew Scott), um homem que vive de aplicar pequenos golpes na Nova York dos anos 1960. Ele é recrutado por um empresário muito rico para uma missão: viajar para a Itália e convencer o filho desse milionário a voltar para casa. 

Tom aceita. Além de ter todas as despesas pagas para passear pelo país europeu, a proposta inclui um bom pagamento em dinheiro. Nesse cenário, ele vê uma ótima oportunidade de ter ganhos ainda maiores. 


O filho do milionário é Dickie Greenleaf (Johnny Flynn), que vive na pequena e bela cidade de Atrani, no sul da Itália. Ele passa os dias com a namorada Marge Sherwood (Dakota Fanning), em uma rotina de muita tranquilidade. Entretanto, tudo muda com a chegada de Tom. 

Ao longo da trama, o golpista contratado usa mentiras e mais mentiras, se comportando como uma pessoa sensata, calma e centrada. Faz encenações e consegue disfarçar muito bem a pessoa fria, cruel, manipuladora e calculista que realmente é. Assim, aos poucos, se aproxima de Dickie e vai ganhando a confiança do jovem. Isso enquanto sua presença incomoda cada vez mais a bela Marge. 


A minissérie tem apenas oito capítulos e um poder enorme de prender a atenção do espectador. É um suspense psicológico. A dúvida é saber se Tom vai ser pego nessa vez ou na próxima. Ele parece ter sempre uma carta na manga e estar um passo à frente. Mesmo assim, a todo o momento fica a dúvida se deixou pistas, rastros, vestígios e como vai reagir se for pego de surpresa. 

Em um determinado momento, a obra vira uma trama policial. Investigação, corrida de gato e rato, sem deixar o suspense de lado.E no meio disso tudo, é supernormal torcer pelo vilão só pra ver onde tudo vai dar. 


Os oito capítulos são todos em preto e branco, o que deixa a ambientação ainda mais perfeita. As roupas, os carros, os cenários, tudo é feito com muito cuidado. Reproduzem com perfeição os anos 1960. Andrew Scott está impecável. Dakota Fanning também tem muita presença. Johnny Flynn destoa e entrega atuação bem sem graça. 

Coco Sumner, cantor e ator britânico, interpreta Freddie Miles de forma brilhante. Um personagem muito chato e bem arrogante que, quando está em tela, rouba as atenções. 

O elenco ainda é composto por vários atores italianos, falando o idioma local, o que traz um realismo ainda maior à minissérie. Não é como aqueles filmes em que todo mundo, convenientemente, fala inglês fluente onde quer que esteja. É um detalhe que faz muita diferença. 


Vale destacar que, mesmo com imagens monocromáticas, os cenários são lindos. Veneza, Nápoles, Roma e Sicília. Igrejas, esculturas, obras de artes, casarões, praias, paisagens, viagens de trem. Uma riqueza cultural sem tamanho. Dá muita vontade de viajar pela Itália. 

E para deixar a obra ainda mais rica, a trama amarra bem a história de Tom com a do grande pintor Caravaggio. É uma minissérie para maratonar e contemplar. 

Música

A trilha sonora está simplesmente perfeita. Não há outra forma de descrever o trabalho de Jeff Russo. Canções que podem ser ouvidas clicando nesta playlist


Adaptação

“Ripley” é baseado no livro “O Talentoso Ripley”, de Patricia Highsmith. A direção é do armênio-americano Steven Zaillian, que atuou como roteirista de grandes produções como “O Irlândês” (2019), “Millennium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres” (2011) e “Gangues de Nova York” (2002). 

A obra, de 1955, considerada um clássico da literatura policial,já foi adaptada para o cinema em “O Sol por Testemunha” (1960), com Alain Delon como protagonista. 

Em 1999, outra versão foi lançada, mantendo o título original: “O Talentoso Ripley”. O filme tem Matt Damon como Ripley, Jude Law e Gwyneth Paltrow formando o casal Dickie e Marge, com a ótima direção de Anthony Minghella.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Steven Zaillian
Produção: Netflix e Filmrights
Exibição: Netflix
Duração: 8 episódios
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: drama, suspense, policial
Nota: 4,5 (0 a 5)

30 junho 2024

"Um Lugar Silencioso: Dia Um" entrega uma boa produção para explicar como tudo começou

Atuações de Lupita Nyong'o e Joseph Quinn e ótimos efeitos visuais e sonoros ampliaram o suspense
(Fotos: Paramount Pictures)


Maristela Bretas


Uma boa indicação de filme em cartaz nos cinemas é "Um Lugar Silencioso: Dia Um" ("A Quiet Place: Day One"). O spin-off amplia a tensão dos filmes anteriores ao explicar os eventos que deram início à franquia a partir do primeiro dia da invasão alienígena à Terra e a destruição das cidades (no caso, Nova York). 

O elenco também muda, contando agora com as ótimas atuações de Lupita Nyong'o e Joseph Quinn, além de efeitos visuais e sonoros que reforçam o suspense e o terror da trama.


Do caos diário de uma das cidades mais barulhentas do mundo ao silêncio completo, a trama tem em Sam (Lupita Nyong'o, de "Nós" - 2019 e "Pantera Negra" - 2018) seu maior destaque. Ela é uma pessoa amarga e descrente, com doença em fase terminal, que passa a lutar por sua vida para sobreviver às criaturas. As cenas dramáticas e de tensão e, em especial as finais, com a atriz são dignas de uma vencedora do Oscar.

Em seu caminho, ela conhece o estudante de Direito Eric (Joseph Quinn, o Eddie, de "Stranger Things"), um jovem que terá de aprender como vencer seus medos, contando com a ajuda de Sam, e assumir o silêncio como uma arma para sua sobrevivência. Especialmente nos momentos em que a dupla se vê frente a frente com os invasores. 


A parceria com Lupita funciona bem, tanto nas cenas de tensão quanto nas que os dois se permitem falar, com o som abafado pelo barulho da chuva. Este é um dos pontos inclusive que remete a "Um Lugar Silencioso" (2018) - quando Lee Abbott (John Krasinski) solta fogos para abafar os gritos da esposa Evelyn (Emily Blunt) durante o parto de seu bebê.  

A tensão provocada pelo possível ataque dos invasores predomina por toda a trama. Um caco de vidro quebrado ou o simples rasgar de uma roupa desencadeia momentos de pânico e terror, seguidos de um completo massacre. O diretor e roteirista Michael Sarnoski soube empregar bem os efeitos visuais e sonoros nestas situações.


Sarnoski também surpreende o público com um novo personagem, o gato Frodo, que acompanha Sam por toda parte e a coloca em algumas enrascadas. O bichano fofinho (na verdade, são dois intérpretes felinos - Nico e Schnitzel) tem papel fundamental na história, inclusive ajudando a revelar o motivo da invasão.

Outro ator que tem a origem de seu personagem explicada na franquia é Djimon Hounsou, como Henri. Ele é um pai que está tentando salvar a família após a invasão. 

O personagem apareceu pela primeira vez em "Um Lugar Silencioso - Parte II" (2021) como o homem da ilha que abriga Evelyn, os filhos e Emmett (Cillian Murphy) na comunidade criada pelos sobreviventes. Ainda no elenco estão Alex Wolff e Deni O'Hare.


O terceiro filme pode não provocar o mesmo impacto dos anteriores, mas ajuda muito a esclarecer alguns pontos, como foi o dia da invasão alienígena, o massacre inicial, a adaptação inicial ao silêncio e a fuga de algumas pessoas das áreas ocupadas pelos alienígenas. 

A produção merece ser conferida no cinema para aproveitar melhor a parte técnica. Se não assistiu os dois primeiros filmes, não perca, eles estão disponíveis nas plataformas de streaming Prime Vídeo, Apple TV+ e Google Play.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Michael Sarnoski
Produção e distribuição: Paramount Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h40
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: drama, suspense, terror

16 junho 2024

“Os Estranhos: Capítulo 1” decepciona como terror slasher

A brutalidade e violência mencionadas ficam por conta dos mascarados assassinos, que aparecem poucas vezes (Fotos: Lionsgate)


Marcos Tadeu


Aqueles que aguardavam um remake nos moldes de “Os Estranhos”, do clássico de 2008, “Os Estranhos: Capítulo 1” (The Strangers: Chapter 1), podem não sair muito satisfeitos do cinema com o filme dirigido e roteirizado por Bryan Bertin.

Enquanto o primeiro longa conseguiu ser um bom terror slasher, apesar do ritmo lento, e entregar uma tensão que agrada, a nova versão, estrelada por Madelaine Petsch e Froy Gutierrez, é decepcionante. O filme está em exibição em apenas uma sala do Cinemark BH Shopping, com sessão às 21h10.

No início do filme, somos informados sobre o aumento de crimes brutais e como essa história é uma trama violenta. Na narrativa, acompanhamos o casal Maya e Ryan realizando uma viagem romântica, mas tudo é interrompido por estranhos assassinos que tentam matá-los.


A brutalidade e violência mencionadas no início do longa não se concretizam. Os mascarados assassinos aparecem poucas vezes, e as cenas de tensão são escassas - o grande erro da produção. Em nenhum momento há uma explicação sobre a relação dos estranhos com o casal e o motivo pelo qual se tornaram alvo.

Apesar da estética bonita, falta desenvolvimento dos antagonistas. Se a história inicial promete brutalidade, ao longo do filme, parece haver um certo vazio. 

Outro ponto negativo são as ações irracionais do casal protagonista, uma conveniência de roteiro que facilita o trabalho dos vilões, mas que acaba sendo superficial e sem emoção.


Apesar de seus mais de 100 minutos de duração, o ritmo é lento e arrastado. Muitas vezes, olhei no relógio esperando que o tempo passasse. Tudo indica que será uma trilogia, mas a questão é: se a bilheteria desta versão não for satisfatória, valeria à pena produzir outras duas sequências?

“Os Estranhos: Capítulo 1” tenta ser bom como o original, mas o resultado é um filme mal feito e sem emoção, que não consegue convencer o espectador a continuar assistindo.


Ficha técnica:
Direção: Renny Harlin
Distribuição: Paris Filmes
Produção: Lionsgate
Exibição: Cinemark BH Shopping, sessão 21h10
Duração: 1h45
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: suspense, terror

14 junho 2024

"Os Observadores" une terror e fantasia em trama repleta de reviravoltas

Filme de estreia de Ishana Shyamalan como diretora explora a necessidade das pessoas de serem "notadas" (Fotos: Warner Bros. Pictures)


Carolina Cassese

Nos dias atuais, são muitas as pessoas que imploram para serem observadas. Parece que estamos vivendo uma constante disputa de “olhe para mim”, em especial nas redes sociais, onde tantos sentem a necessidade de mostrar o que estão fazendo e, mais especificamente, o que estão conquistando. Afinal de contas, o tom instagramável é sempre muito positivo. 

Um filme de terror chamado "Os Observadores" ("The Watchers"), que apresenta elementos como câmeras e muito espelhos, parece inegavelmente dialogar com o momento atual. O longa, em cartaz nos cinemas, é dirigido por Ishana Night Shyamalan, filha do ilustre cineasta M. Night Shyamalan (que assina como produtor). 


A história, baseada em um romance de A.M. Shine, é centrada em Mina (Dakota Fanning), uma jovem que precisa ir ao oeste da Irlanda para realizar uma tarefa de trabalho. No entanto, seu carro estraga e ela se encontra perdida numa floresta assustadora. 

Desesperada, a personagem começa a correr e encontra um pequeno bunker com uma mulher na porta, Madeleine (Olwen Fouere), que a conduz para dentro.

Nesse lugar, composto por três paredes e uma grande janela, também estão os personagens Ciara (Georgina Campbell) e Daniel (Oliver Finnegan). Mia logo fica sabendo das regras: todas as noites, os prisioneiros devem se expor às criaturas da floresta,"os observadores". 


Eles devem formar filas como manequins de vitrines e, em seguida, se tornam atrações para aqueles que estão assistindo. Os elementos de fantasia aparecem principalmente quando entendemos melhor a história dos “observadores”, criaturas mágicas e primordialmente perigosas. 

O grupo de prisioneiros, por sua vez, só pode sair do bunker durante o dia, quando encontram comida e andam pela floresta - nas horas vagas, a única possibilidade de entretenimento é o DVD de um reality show de casais, outro aceno à tendência do ser humano em se expor das maneiras mais inacreditáveis.


Como já foi mencionado, elementos como câmeras e espelhos aparecem frequentemente no longa, que também trabalha muito com a ideia do "duplo". Para começar, Mia tem uma irmã gêmea, com quem não fala há anos por conta de um trauma familiar. 

Além disso, a personagem costuma "repetir" tudo o que dizem para ela, o que se torna perturbador em determinados momentos do longa.

Assim como pode ser visto no recente lançamento de terror "Fale Comigo" (2023), aqui o luto também aparece como um pano de fundo importante: Mia perdeu a mãe num acidente de carro e, por essa razão, parece estar ainda mais vulnerável a ser vítima de assombrações. 

Em determinado momento, ela até mesmo se compara às criaturas da floresta, pois acredita que às vezes “não consegue encontrar a própria humanidade”. 


Há sem dúvidas muitas temáticas psicológicas interessantes presentes na história, mas as mesmas infelizmente não são bem trabalhas no decorrer do longa, que apresenta problemas significativos de ritmo. 

A estreia de Ishana Shyamalan, vale dizer, foi mal recebida pela maior parte da crítica e dividiu a opinião do público: enquanto uma parte considerou que o filme é bom entretenimento (e apresenta ideias inovadoras), outros afirmaram que as revelações não são de fato surpreendentes.

Para os que se interessaram pela história, muitos críticos recomendam a leitura do elogiado livro homônimo, que inclusive deve ganhar uma continuação em outubro deste ano. 

Por sua vez, o filme está longe de ser o melhor lançamento de terror do ano, mas, para os fãs do gênero e de fantasia, vale conferir e tirar as próprias conclusões - afinal de contas, o sobrenome Shyamalan segue influenciando significativamente a cena cinematográfica.


Ficha técnica:
Direção:
Ishana Shyamalan
Produção: Warner Bros. Pictures, Blinding Edge Pictures, New Line Cinema
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h42
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: terror, suspense, fantasia