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18 julho 2024

Minissérie “Ripley”, da Netflix, nos dá o direito de torcer pelo vilão

Andrew Scott interpreta o protagonista que vive de aplicar golpes, mas também tem um passado sombrio
(Fotos Netflix)


Jean Piter Miranda


Para quem gosta de torcer pelo vilão, está disponível na Netflix a minissérie “Ripley”. A obra tem como protagonista Tom Ripley (Andrew Scott), um homem que vive de aplicar pequenos golpes na Nova York dos anos 1960. Ele é recrutado por um empresário muito rico para uma missão: viajar para a Itália e convencer o filho desse milionário a voltar para casa. 

Tom aceita. Além de ter todas as despesas pagas para passear pelo país europeu, a proposta inclui um bom pagamento em dinheiro. Nesse cenário, ele vê uma ótima oportunidade de ter ganhos ainda maiores. 


O filho do milionário é Dickie Greenleaf (Johnny Flynn), que vive na pequena e bela cidade de Atrani, no sul da Itália. Ele passa os dias com a namorada Marge Sherwood (Dakota Fanning), em uma rotina de muita tranquilidade. Entretanto, tudo muda com a chegada de Tom. 

Ao longo da trama, o golpista contratado usa mentiras e mais mentiras, se comportando como uma pessoa sensata, calma e centrada. Faz encenações e consegue disfarçar muito bem a pessoa fria, cruel, manipuladora e calculista que realmente é. Assim, aos poucos, se aproxima de Dickie e vai ganhando a confiança do jovem. Isso enquanto sua presença incomoda cada vez mais a bela Marge. 


A minissérie tem apenas oito capítulos e um poder enorme de prender a atenção do espectador. É um suspense psicológico. A dúvida é saber se Tom vai ser pego nessa vez ou na próxima. Ele parece ter sempre uma carta na manga e estar um passo à frente. Mesmo assim, a todo o momento fica a dúvida se deixou pistas, rastros, vestígios e como vai reagir se for pego de surpresa. 

Em um determinado momento, a obra vira uma trama policial. Investigação, corrida de gato e rato, sem deixar o suspense de lado.E no meio disso tudo, é supernormal torcer pelo vilão só pra ver onde tudo vai dar. 


Os oito capítulos são todos em preto e branco, o que deixa a ambientação ainda mais perfeita. As roupas, os carros, os cenários, tudo é feito com muito cuidado. Reproduzem com perfeição os anos 1960. Andrew Scott está impecável. Dakota Fanning também tem muita presença. Johnny Flynn destoa e entrega atuação bem sem graça. 

Coco Sumner, cantor e ator britânico, interpreta Freddie Miles de forma brilhante. Um personagem muito chato e bem arrogante que, quando está em tela, rouba as atenções. 

O elenco ainda é composto por vários atores italianos, falando o idioma local, o que traz um realismo ainda maior à minissérie. Não é como aqueles filmes em que todo mundo, convenientemente, fala inglês fluente onde quer que esteja. É um detalhe que faz muita diferença. 


Vale destacar que, mesmo com imagens monocromáticas, os cenários são lindos. Veneza, Nápoles, Roma e Sicília. Igrejas, esculturas, obras de artes, casarões, praias, paisagens, viagens de trem. Uma riqueza cultural sem tamanho. Dá muita vontade de viajar pela Itália. 

E para deixar a obra ainda mais rica, a trama amarra bem a história de Tom com a do grande pintor Caravaggio. É uma minissérie para maratonar e contemplar. 

Música

A trilha sonora está simplesmente perfeita. Não há outra forma de descrever o trabalho de Jeff Russo. Canções que podem ser ouvidas clicando nesta playlist


Adaptação

“Ripley” é baseado no livro “O Talentoso Ripley”, de Patricia Highsmith. A direção é do armênio-americano Steven Zaillian, que atuou como roteirista de grandes produções como “O Irlândês” (2019), “Millennium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres” (2011) e “Gangues de Nova York” (2002). 

A obra, de 1955, considerada um clássico da literatura policial,já foi adaptada para o cinema em “O Sol por Testemunha” (1960), com Alain Delon como protagonista. 

Em 1999, outra versão foi lançada, mantendo o título original: “O Talentoso Ripley”. O filme tem Matt Damon como Ripley, Jude Law e Gwyneth Paltrow formando o casal Dickie e Marge, com a ótima direção de Anthony Minghella.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Steven Zaillian
Produção: Netflix e Filmrights
Exibição: Netflix
Duração: 8 episódios
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: drama, suspense, policial
Nota: 4,5 (0 a 5)

30 junho 2024

"Um Lugar Silencioso: Dia Um" entrega uma boa produção para explicar como tudo começou

Atuações de Lupita Nyong'o e Joseph Quinn e ótimos efeitos visuais e sonoros ampliaram o suspense
(Fotos: Paramount Pictures)


Maristela Bretas


Uma boa indicação de filme em cartaz nos cinemas é "Um Lugar Silencioso: Dia Um" ("A Quiet Place: Day One"). O spin-off amplia a tensão dos filmes anteriores ao explicar os eventos que deram início à franquia a partir do primeiro dia da invasão alienígena à Terra e a destruição das cidades (no caso, Nova York). 

O elenco também muda, contando agora com as ótimas atuações de Lupita Nyong'o e Joseph Quinn, além de efeitos visuais e sonoros que reforçam o suspense e o terror da trama.


Do caos diário de uma das cidades mais barulhentas do mundo ao silêncio completo, a trama tem em Sam (Lupita Nyong'o, de "Nós" - 2019 e "Pantera Negra" - 2018) seu maior destaque. Ela é uma pessoa amarga e descrente, com doença em fase terminal, que passa a lutar por sua vida para sobreviver às criaturas. As cenas dramáticas e de tensão e, em especial as finais, com a atriz são dignas de uma vencedora do Oscar.

Em seu caminho, ela conhece o estudante de Direito Eric (Joseph Quinn, o Eddie, de "Stranger Things"), um jovem que terá de aprender como vencer seus medos, contando com a ajuda de Sam, e assumir o silêncio como uma arma para sua sobrevivência. Especialmente nos momentos em que a dupla se vê frente a frente com os invasores. 


A parceria com Lupita funciona bem, tanto nas cenas de tensão quanto nas que os dois se permitem falar, com o som abafado pelo barulho da chuva. Este é um dos pontos inclusive que remete a "Um Lugar Silencioso" (2018) - quando Lee Abbott (John Krasinski) solta fogos para abafar os gritos da esposa Evelyn (Emily Blunt) durante o parto de seu bebê.  

A tensão provocada pelo possível ataque dos invasores predomina por toda a trama. Um caco de vidro quebrado ou o simples rasgar de uma roupa desencadeia momentos de pânico e terror, seguidos de um completo massacre. O diretor e roteirista Michael Sarnoski soube empregar bem os efeitos visuais e sonoros nestas situações.


Sarnoski também surpreende o público com um novo personagem, o gato Frodo, que acompanha Sam por toda parte e a coloca em algumas enrascadas. O bichano fofinho (na verdade, são dois intérpretes felinos - Nico e Schnitzel) tem papel fundamental na história, inclusive ajudando a revelar o motivo da invasão.

Outro ator que tem a origem de seu personagem explicada na franquia é Djimon Hounsou, como Henri. Ele é um pai que está tentando salvar a família após a invasão. 

O personagem apareceu pela primeira vez em "Um Lugar Silencioso - Parte II" (2021) como o homem da ilha que abriga Evelyn, os filhos e Emmett (Cillian Murphy) na comunidade criada pelos sobreviventes. Ainda no elenco estão Alex Wolff e Deni O'Hare.


O terceiro filme pode não provocar o mesmo impacto dos anteriores, mas ajuda muito a esclarecer alguns pontos, como foi o dia da invasão alienígena, o massacre inicial, a adaptação inicial ao silêncio e a fuga de algumas pessoas das áreas ocupadas pelos alienígenas. 

A produção merece ser conferida no cinema para aproveitar melhor a parte técnica. Se não assistiu os dois primeiros filmes, não perca, eles estão disponíveis nas plataformas de streaming Prime Vídeo, Apple TV+ e Google Play.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Michael Sarnoski
Produção e distribuição: Paramount Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h40
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: drama, suspense, terror

16 junho 2024

“Os Estranhos: Capítulo 1” decepciona como terror slasher

A brutalidade e violência mencionadas ficam por conta dos mascarados assassinos, que aparecem poucas vezes (Fotos: Lionsgate)


Marcos Tadeu


Aqueles que aguardavam um remake nos moldes de “Os Estranhos”, do clássico de 2008, “Os Estranhos: Capítulo 1” (The Strangers: Chapter 1), podem não sair muito satisfeitos do cinema com o filme dirigido e roteirizado por Bryan Bertin.

Enquanto o primeiro longa conseguiu ser um bom terror slasher, apesar do ritmo lento, e entregar uma tensão que agrada, a nova versão, estrelada por Madelaine Petsch e Froy Gutierrez, é decepcionante. O filme está em exibição em apenas uma sala do Cinemark BH Shopping, com sessão às 21h10.

No início do filme, somos informados sobre o aumento de crimes brutais e como essa história é uma trama violenta. Na narrativa, acompanhamos o casal Maya e Ryan realizando uma viagem romântica, mas tudo é interrompido por estranhos assassinos que tentam matá-los.


A brutalidade e violência mencionadas no início do longa não se concretizam. Os mascarados assassinos aparecem poucas vezes, e as cenas de tensão são escassas - o grande erro da produção. Em nenhum momento há uma explicação sobre a relação dos estranhos com o casal e o motivo pelo qual se tornaram alvo.

Apesar da estética bonita, falta desenvolvimento dos antagonistas. Se a história inicial promete brutalidade, ao longo do filme, parece haver um certo vazio. 

Outro ponto negativo são as ações irracionais do casal protagonista, uma conveniência de roteiro que facilita o trabalho dos vilões, mas que acaba sendo superficial e sem emoção.


Apesar de seus mais de 100 minutos de duração, o ritmo é lento e arrastado. Muitas vezes, olhei no relógio esperando que o tempo passasse. Tudo indica que será uma trilogia, mas a questão é: se a bilheteria desta versão não for satisfatória, valeria à pena produzir outras duas sequências?

“Os Estranhos: Capítulo 1” tenta ser bom como o original, mas o resultado é um filme mal feito e sem emoção, que não consegue convencer o espectador a continuar assistindo.


Ficha técnica:
Direção: Renny Harlin
Distribuição: Paris Filmes
Produção: Lionsgate
Exibição: Cinemark BH Shopping, sessão 21h10
Duração: 1h45
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: suspense, terror

14 junho 2024

"Os Observadores" une terror e fantasia em trama repleta de reviravoltas

Filme de estreia de Ishana Shyamalan como diretora explora a necessidade das pessoas de serem "notadas" (Fotos: Warner Bros. Pictures)


Carolina Cassese

Nos dias atuais, são muitas as pessoas que imploram para serem observadas. Parece que estamos vivendo uma constante disputa de “olhe para mim”, em especial nas redes sociais, onde tantos sentem a necessidade de mostrar o que estão fazendo e, mais especificamente, o que estão conquistando. Afinal de contas, o tom instagramável é sempre muito positivo. 

Um filme de terror chamado "Os Observadores" ("The Watchers"), que apresenta elementos como câmeras e muito espelhos, parece inegavelmente dialogar com o momento atual. O longa, em cartaz nos cinemas, é dirigido por Ishana Night Shyamalan, filha do ilustre cineasta M. Night Shyamalan (que assina como produtor). 


A história, baseada em um romance de A.M. Shine, é centrada em Mina (Dakota Fanning), uma jovem que precisa ir ao oeste da Irlanda para realizar uma tarefa de trabalho. No entanto, seu carro estraga e ela se encontra perdida numa floresta assustadora. 

Desesperada, a personagem começa a correr e encontra um pequeno bunker com uma mulher na porta, Madeleine (Olwen Fouere), que a conduz para dentro.

Nesse lugar, composto por três paredes e uma grande janela, também estão os personagens Ciara (Georgina Campbell) e Daniel (Oliver Finnegan). Mia logo fica sabendo das regras: todas as noites, os prisioneiros devem se expor às criaturas da floresta,"os observadores". 


Eles devem formar filas como manequins de vitrines e, em seguida, se tornam atrações para aqueles que estão assistindo. Os elementos de fantasia aparecem principalmente quando entendemos melhor a história dos “observadores”, criaturas mágicas e primordialmente perigosas. 

O grupo de prisioneiros, por sua vez, só pode sair do bunker durante o dia, quando encontram comida e andam pela floresta - nas horas vagas, a única possibilidade de entretenimento é o DVD de um reality show de casais, outro aceno à tendência do ser humano em se expor das maneiras mais inacreditáveis.


Como já foi mencionado, elementos como câmeras e espelhos aparecem frequentemente no longa, que também trabalha muito com a ideia do "duplo". Para começar, Mia tem uma irmã gêmea, com quem não fala há anos por conta de um trauma familiar. 

Além disso, a personagem costuma "repetir" tudo o que dizem para ela, o que se torna perturbador em determinados momentos do longa.

Assim como pode ser visto no recente lançamento de terror "Fale Comigo" (2023), aqui o luto também aparece como um pano de fundo importante: Mia perdeu a mãe num acidente de carro e, por essa razão, parece estar ainda mais vulnerável a ser vítima de assombrações. 

Em determinado momento, ela até mesmo se compara às criaturas da floresta, pois acredita que às vezes “não consegue encontrar a própria humanidade”. 


Há sem dúvidas muitas temáticas psicológicas interessantes presentes na história, mas as mesmas infelizmente não são bem trabalhas no decorrer do longa, que apresenta problemas significativos de ritmo. 

A estreia de Ishana Shyamalan, vale dizer, foi mal recebida pela maior parte da crítica e dividiu a opinião do público: enquanto uma parte considerou que o filme é bom entretenimento (e apresenta ideias inovadoras), outros afirmaram que as revelações não são de fato surpreendentes.

Para os que se interessaram pela história, muitos críticos recomendam a leitura do elogiado livro homônimo, que inclusive deve ganhar uma continuação em outubro deste ano. 

Por sua vez, o filme está longe de ser o melhor lançamento de terror do ano, mas, para os fãs do gênero e de fantasia, vale conferir e tirar as próprias conclusões - afinal de contas, o sobrenome Shyamalan segue influenciando significativamente a cena cinematográfica.


Ficha técnica:
Direção:
Ishana Shyamalan
Produção: Warner Bros. Pictures, Blinding Edge Pictures, New Line Cinema
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h42
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: terror, suspense, fantasia

26 abril 2024

"Plano 75" expõe o envelhecimento e a finitude da vida

No drama japonês, governo oferece incentivo financeiro e logístico para os cidadãos com mais de 75 anos que desejarem se submeter à eutanásia (Fotos: Sato Company)


Silvana Monteiro


Dirigido por Chie Hayakawa, chega aos cinemas brasileiros o filme japonês "Plano 75". O longa aborda as crises etária e de saúde enfrentadas pelo Japão, devido ao envelhecimento da população e à baixa taxa de natalidade. 

Em tempos de discussão sobre “Tio Paulo” um senhor supostamente já sem vida, conduzido pela sobrinha até uma agência bancária para fazer um empréstimo, situação esclarecida posteriormente, o tema é bem atual. Na reportagem, o dinheiro do empréstimo seria usado na reforma da casa do idoso para torná-la mais acessível e aconchegante, já que devido ao uso de cadeiras de rodas, ele passou a morar na garagem do imóvel.


Num futuro próximo, o governo japonês introduz o programa Plan 75, oferecendo incentivo financeiro e logístico para os cidadãos com mais de 75 anos que desejam se submeter à eutanásia. 

Os idosos que optarem pelo procedimento voluntário devem receber uma quantia considerável em troca. Esse dinheiro pode ser utilizado pela pessoa antes de sua morte em qualquer projeto ou deixado como herança para seus familiares. 

A questão é que, para aceitar as condições do plano, a pessoa não precisa do aval de nenhum parente ou responsável, tudo é facilitado para que ela consiga assinar o contrato de adesão. 

Maria's Friend (Sheryl Ichikawa) é uma cuidadora imigrante das Filipinas que trabalha no Japão e aparenta ter cerca de 40 anos; Hiromu (Hayato Isomura) trabalha como atendente em uma repartição do governo e aparenta ter 30 e poucos anos; e Michi (Chieko Baisho) ainda faz faxina aos 78 anos.


Explorando acontecimentos na vida desses três personagens e de suas conexões pessoais e sociais, o filme mostra as angústias em torno da vida do trabalhador que busca uma estabilidade econômica, assim como os idosos que tentam equilibrar o social e o emocional.  

A interpretação no filme é marcante, especialmente a atuação da veterana Chieko Baisho, que entrega uma performance crua e comovente, transmitindo a solidão e a fragilidade da personagem. Os demais atores também desempenham bem seus papéis, destacando-se Hayato com sua leveza e empatia ao receber os idosos em suas angústias e dificuldades. 

A fotografia do filme, assinada por Hideho Urata, é notável. Ela cria uma atmosfera melancólica, refletindo a temática perturbadora do envelhecimento da população e da eutanásia. As imagens capturam os contrastes entre a beleza serena da paisagem e a angústia dos personagens, contribuindo para a narrativa visual da obra.


A direção de Chie Hayakawa se volta à contemplação e à delicadeza dos temas abordados. O filme apresenta uma série de histórias interconectadas, mostrando diferentes perspectivas em relação ao Plano 75. Hayakawa consegue transmitir a urgência e a complexidade do assunto, bem como abordar questões éticas e morais relacionadas à eutanásia.

O filme desafia o espectador a refletir sobre o envelhecimento da população e as escolhas difíceis que podem surgir em um futuro próximo. A obra cria uma distopia perturbadora que levanta questões sobre a dignidade humana, a responsabilidade do governo e o valor da vida. Embora seja um filme delicado e contemplativo, também carrega uma raiva palpável em relação à crueldade disfarçada de compaixão.


São bem interessantes e reflexivas as cenas em que, além da solidão e fragilidade transmitidas pela personagem de Michi, ela se encontra com suas amigas idosas. Os diálogos demonstram sonhos e questionamentos marcados pela temporalidade da vida e dos acontecimentos. 

Mesmo em um cenário que aborda a dureza da luta pela vida, no papel da arrumadeira Maria, e da própria busca de Michi por “um final” menos preocupante, o filme pode oferecer espaço para discutir o papel do cuidado e da empatia na sociedade. Isso é destacado em pequenos gestos de compaixão que podem fazer a diferença na vida das pessoas, especialmente daquelas que se encontram em situações vulneráveis. 

Mesmo sem grandes arroubos e plot twists, "Plano 75" é uma produção impactante, que oferece uma crítica social contundente e convida o público a refletir sobre dilemas éticos e morais, como envelhecimento, longevidade, etarismo, saúde da pessoa idosa e finitude da vida.


Ficha técnica
Direção:
Chie Hayakawa
Produção e Distribuição: Sato Company
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h53
Classificação: 14 anos
Países: Japão, França, Filipinas
Gêneros: drama, suspense

22 abril 2024

“Clube Zero” provoca com questões alimentares e alienação

Filme da diretora austríaca Jessica Hausner apresenta uma fotografia geometricamente trabalhada enquanto a trama desenrola temas pesados (Fotos Pandora Filmes)


Eduardo Jr.


Uma sátira sobre modinhas alimentares e os perigos do enfraquecimento dos laços entre pais e filhos no mundo moderno. Esta pode ser uma das definições de “Clube Zero”. A produção austríaca, indicada à Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2023, chega os cinemas brasileiros no dia 25 de abril, distribuído pela Pandora Filmes. 

Dirigido por Jessica Hausner, o longa apresenta uma fotografia geometricamente trabalhada, com cores vibrantes, enquanto a trama desenrola temas pesados. É a perfeição diante dos olhos escondendo verdades dolorosas. Uma proposta de um jogo provocativo para o espectador. 


Na trama, Miss Novak, protagonizada por Mia Wasikowska ("A Ilha de Bergman" - 2022 e "A Despedida" - 2021) é uma professora de nutrição recém-chegada a uma escola de alta classe. A admiração dos alunos por ela é percebida logo nas primeiras cenas. Mas o método baseado em comer cada vez menos se torna uma ameaça à tranquilidade da instituição de ensino e dos pais.  

O espectador acompanha algumas cenas como se observasse câmeras de vigilância, posicionadas nas quinas, no alto. E, aos poucos, elas se aproximam, enquanto exibem o método de conquista dos adolescentes e o desenvolvimento daquele conceito estranho de nutrição. 


Mesmo sem aprofundar em alguns pontos, o longa pode fazer o público concordar com a proposta em alguns momentos, por serem utilizados argumentos baseados em defesa ambiental e na conquista de uma imagem socialmente aceitável.

Rapidamente se nota que ali pode estar nascendo uma seita. O grupo vive o conceito de “alimentação consciente” como o elemento que os torna parte integrante de alguma coisa (algo que, como sabemos, todo adolescente deseja). 

A expressão doce da professora Novak contrasta com os temas que a obra tenta pincelar (bulimia, distanciamento dos pais e falta de capacidade dos jovens para contestar verdades consolidadas). 


E a adesão dos jovens é tanta que, eles mesmos, se tornam multiplicadores daquelas regras, pressionando e excluindo quem não segue a cartilha. A repulsa que o público vai experimentando ao longo do filme vai sendo dissolvida no núcleo familiar do aluno bolsista, que inicialmente não adere àquela proposta e come livremente. 

O personagem Ben (vivido por Samuel DeClan Anderson) escolheu participar daquela disciplina para obter a pontuação necessária para uma bolsa integral na escola. Filho de mãe solteira, é pelo alívio financeiro da mãe (papel comovente de Amanda Lawrence), que ele se permite seguir a manada. A mãe de Ben é o ponto de sensatez na obra. E ela invade, com cores e verdade, o ambiente alienado e asséptico dos pais ricos. 


E aí a acidez da diretora Jessica Hausner ganha mais volume. A posição da educadora, a falta de capacidade cognitiva dos pais e a forma escolhida para tentar resgatar os filhos daquela lavagem cerebral expõem uma realidade social que parece ter escala mundial. E é preciso ter estômago pra encarar essa mensagem (e algumas cenas finais também). 

Na construção da história dessa seita, na qual o ato de fé consiste em abrir mão daquilo que nos mantém de pé, vivos, a diretora volta seus olhos para a religião, para provocar o espectador com uma das obras mais conhecidas de toda a história. Resta saber se o público vai engolir essa brincadeira. 


Ficha técnica:
Direção:
Jessica Hausner
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h50
Classificação: 18 anos
Países: Alemanha, Áustria, Catar, Dinamarca, França, Reino Unido
Gêneros: drama, suspense

04 abril 2024

"Uma Família Feliz" - Não se deixe enganar pelas aparências

Grazi Massafera e Reynaldo Gianecchini protagonizam este thriller nacional muito bem produzido
 (Fotos: Globo Filmes)


Marcos Tadeu
Narrativa Cinematográfica


Grazi Massafera e Reynaldo Gianecchini são as estrelas do ótimo longa "Uma Família Feliz", que estreia nesta quinta-feira (4) nos cinemas brasileiros, sob a direção de José Eduardo Belmonte. Ele conta com o escritor e roteirista Raphael Montes (da série "Bom Dia, Verônica") como diretor-assistente. O filme, com produção da Barry Company, tem coprodução com a Globo Filmes e Telecine e distribuição da Pandora Filmes.

Na trama, conhecemos Eva (Massafera), uma artista que cria bebês realistas como forma de arte, enquanto Vicente (Gianecchini) é um corretor bem-sucedido no mercado de ações. O casal tem duas filhas fofas, Ângela e Sara, e Eva está à espera de Lucas. A artista se depara com a angústia da depressão pós-parto em meio a uma vida burguesa supostamente perfeita.


Desde o início, a fotografia e o design de produção destacam como essa família aparenta viver bem e feliz, com um ambiente limpo, jantares fartos, coisas grandes e um carro espaçoso - um modelo de vida perfeita que toda família deseja ter. 

No entanto, as coisas começam a desmoronar quando ferimentos são encontrados no pequeno Lucas e em uma das filhas, levando Eva a questionar sua conduta como mãe e suas relações com os filhos. 

O bebê começa a preferir o pai e rejeita até o leite de Eva. A matriarca, apresentada com uma potência corporal marcante na história, decide tomar medidas para descobrir quem está prejudicando sua família, transitando entre a loucura e a vida perfeita mostrada para a sociedade. 


Grazi Massafera entrega uma de suas melhores atuações após o sucesso na série de TV "Verdades Secretas", com sua personagem Larissa. Reynaldo Gianecchini como Vicente é o típico "paizão", porém passivo-agressivo com sua esposa. A combinação dos dois funciona muito bem e eleva ainda mais a qualidade da obra. 

O filme possui todos os elementos de suspense e mistério de um thriller americano, com o final no começo, um mistério a ser resolvido e as entrelinhas das relações entre os personagens transmitindo muito com poucas palavras. 


Além disso, a questão de uma família burguesa e idealizada com pompa, mas disfuncional devido aos seus mistérios e entrelinhas é outro charme da história. 

No fim das contas, trata-se de questionar que nem tudo é o que parece e que as aparências realmente enganam. Belmonte conduz esses elementos com maestria em uma sinfonia de pompa e caos ao mesmo tempo.

"Uma Família Feliz" sem dúvida entra para a lista dos bons thrillers nacionais e, arrisco dizer, em listas de melhores do ano para aqueles que apreciam o cinema brasileiro. Um filme que questiona os ricos e seus modelos familiares, que vale o ingresso, a pipoca e a discussão pós-filme.


Ficha técnica:
Direção: José Eduardo Belmonte
Roteiro e história original: Raphael Montes
Produção: Barry Company, coprodução da Globo Filmes e Telecine
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h57
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gêneros: suspense, drama

14 março 2024

“Imaginário: Brinquedo Diabólico” comprova que o cinema não precisava de outro brinquedo assassino

Na trama, um ursinho de pelúcia atormenta a família de sua antiga dona que o abandonou na infância quando se mudou da casa (Fotos: Lionsgate/Divulgação)


Larissa Figueiredo

Estreando nesta quinta-feira nos cinemas, o terror "Imaginário: Brinquedo Diabólico" ("Imaginary") traz a aposta de um novo brinquedo assassino repleto de lugares comuns do gênero do terror misturado a um humor que permeia o “trash”. A nova produção da Blumhouse, em parceria com a Lionsgate, é dirigida por Jeff Wadlow. 

A trama narra o dilema de Jessica (DeWanda Wise, que também é produtora executiva do filme), uma ilustradora recém-casada que decide retornar à sua antiga casa da infância com o marido Max (Tom Payne) e as duas filhas dele. 

Quando chegam ao local, a mais jovem, Alice (Pyper Braun), fica apegada a Chauncey, um ursinho de pelúcia que ela encontra no porão. Apesar de a interação parecer divertida no início, não demora muito para as coisas ficarem sinistras. 


O brinquedo desafia a menina em um jogo de caça tesouros macabro que é a chave para um mundo de imaginação, literalmente. Segredos sobre a infância de Jessica começam a vir à tona quando ela percebe que o amigo imaginário de sua enteada é o mesmo que a acompanhou em sua infância e que se tornou muito infeliz por ter sido abandonado.

A produção, apesar de fazer parte do leque de apostas da Blumhouse, passou longe do sucesso de “M3gan” (2022), "Telefone Preto" (2022), "O Homem Invisível" (2019), o clássico “Corra!” (2017) e o recente “Five Nights At Freddy’s” (2023). Os efeitos visuais, além de não impactarem e não cumprirem sua função enquanto parte do gênero terror, perdem o “timing” em cena. Eles permanecem em tela para além da finalidade do susto propriamente dito, fazendo com que o espectador se acostume com o que deveria ser extraordinário. 


O filme deixa a desejar também nas cenas de ação. Não há luta pela sobrevivência nem grandes doses de violência. Tudo se resolve na força do roteiro e no superpoder da amizade entre as protagonistas, que evadem de situações complexas sem muitas explicações. Aliás, o roteiro deixa a desejar no quesito originalidade, não há nada de inovador em "Imaginário: Brinquedo Diabólico". 

Fora o clímax do longa, todo o resto caminha em um ritmo lento, repleto de informações dispensáveis que não são explicadas no desenrolar da obra, como o paradeiro da mãe das enteadas de Jesus. O que aconteceu com ela antes que as meninas se mudassem? Será que havia relação com o brinquedo? O filme não esclarece, apenas deixa indícios de que ela teria enlouquecido. 

Dois plot twists interessantes definitivamente salvaram o longa da monotonia total e trazem certa emoção e curiosidade à obra.


Ficha técnica
Direção: Jeff Wadlow
Produção: Blumhouse, Lionsgate
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas das redes Cineart e Cinemark e no Cinépolis Estação BH
Duração: 1h45
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: terror, suspense

07 fevereiro 2024

"Baghead: A Bruxa dos Mortos" decepciona em todos os quesitos

Terror de quase 90 minutos não assusta e deixa o estrago para  entidade maligna tentar consertar
(Fotos: Imagem Films)


Maristela Bretas


Apesar de a produtora Vertigo Entertainment ser a mesma de ótimos filmes de terror como "It: A Coisa" (2017) e "Noites Brutais" (2022), "Baghead: A Bruxa dos Mortos" deixa muito a desejar. O susto é quase zero e a duração de quase 90 minutos é sofrida e não se justifica para um roteiro com diálogos fracos e mal desenvolvidos que atrapalham até mesmo a atuação do elenco. 

Tudo se passa quando a jovem Íris Lark (Freya Allan, da série "The Witcher") herda um antigo bar que pertenceu a seu pai, Owen Lark (Peter Mullan), que teve uma morte violenta dentro do casarão onde ele morava e funcionava o bar. Mal ela assina a escritura e se torna dona do local, descobre que o porão abriga uma entidade capaz de incorporar os mortos.


Íris conta com sua melhor amiga Katie (Ruby Barker) para tentar explorar os poderes da criatura ajudando pessoas desesperadas em troca de dinheiro - dois mil dólares por dois minutos com a criatura. 

O primeiro a aparecer é o misterioso Neil (Jeremy Irvine). Mas elas vão descobrir que Baghead não pode ser controlada e precisa ser destruída antes que mate todos e escape do porão.

A estratégia do diretor Alberto Corredor de usar flashbacks em histórias passadas para explicar o surgimento da entidade maligna confunde e leva o público a perder o fio da meada. O final é previsível, sem reviravoltas e o elenco não tem nomes de destaque. 


Cabe a Baghead (Anne Müller) segurar a trama, se é que isso é possível. Um ponto positivo é a máscara da entidade, realmente assustadora. Na verdade, o único susto do filme é quando ela aparece sem o capuz. 

O filme é repleto de clichês já desgastados. Incomoda ver diretores de filmes de terror insistirem em situações mais que batidas para causarem pânico ou medo.  Como os ambientes escuros e sombrios onde as entidades do mal habitam. 


Há também das cenas das pessoas entrando e até dormindo nesses lugares, mesmo após serem atacadas ou sabendo que ele é amaldiçoado. Não faltam as repetitivas luzes apagando e acendendo, quadros que caem das paredes, ruídos atrás das portas ao som de uma música para criar um clima, que, de tão mal utilizadas não criam mais suspense. 


Em "Baghead" não é diferente. São poucas as cenas a céu aberto, apenas o tempo de sair do casarão e entrar em outro prédio, também escuro. O espectador fica sem saber o que está acontecendo no ambiente, cria apenas confusão. Os cortes são bruscos e não geram o suspense esperado em muitas cenas. 

Uma pena que "Baghead: A Bruxa dos Mortos" tenha ficado muito aquém do esperado. Infelizmente não foi uma boa estreia de Alberto Corredor como diretor. Boa sorte para quem for conferir no cinema.


Ficha técnica:
Direção: Alberto Corredor
Produção: StudioCanal, Vertigo Entertainment
Distribuição: Imagem Films
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h35
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: terror, suspense

11 janeiro 2024

Jason Statham deixa rastro de sangue em "Beekeeper - Rede de Vingança"

Ator interpreta um apicultor que faz justiça com as próprias mãos e passa o filme inteiro ferindo e matando quem atravessa seu caminho (Fotos: Leonine)


Maristela Bretas


Pancadaria, explosões, tiros e muita violência marcam o mais novo filme de ação e suspense de Jason Statham, "Beekeeper - Rede de Vingança" ("The Beekeeper"), que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira. O ator é um dos produtores (o que virou rotina em seus longas), juntamente com o roteirista Kurt Wimmer e o diretor David Ayer.

Beekeeper em português significa apicultor. Como bom cuidador de abelhas que lhe garantem o sustento com a extração do mel, nosso astro vai muito além e dá um novo significado na proteção de sua colmeia. Mesmo que para isso seja preciso matar a rainha.


Jason Statham, conhecido principalmente por seus papeis em "Infiltrado" (2021) e nas franquias "Mercenários" (de 2010 a 2023) e "Velozes e Furiosos", incluindo "Hobbs & Shaw" (2013 a 2023) é Adam Clay, um ex-integrante da Beekeepers, uma organização especial poderosa e clandestina de "resolvedores de pendências impossíveis". Ele vive no anonimato e leva uma vida pacata, cuidando de um apiário numa área remota no interior dos EUA.

Após perder uma pessoa muito próxima e querida, Clay parte em busca dos responsáveis e sai deixando um rastro de sangue e destruição pelo país, capaz de movimentar outras organizações, agências nacionais e até o governo. 

O protagonista passa o filme inteiro ferindo, matando ou deixando desacordado quem tenta impedi-lo de chegar ao cabeça dos crimes cibernéticos que estão lesando milhares de pessoas, especialmente os idosos.


Nesta caçada, ele terá de enfrentar a persistente agente do FBI, Verona Parker (Emmy Raver-Lampman), e o parceiro dela, Matt Wiley (Bobby Naderi) que estão em seu encalço. Tem também o rico e mimado empresário da tecnologia, Derek Danforth (Josh Hutcherson, de "Five Night At Freedy´s - O Pesadelo Sem Fim" - 2023). O ator está bem, apesar de o seu personagem ser bem caricato. 

Já o assessor dele e ex-diretor da CIA, Wallace Westwyld, é vivido pelo ótimo Jeremy Irons ("Operação Red Sparrow" - 2018), que merecia maior destaque, como o papel de vilão, por exemplo.


O público não poderá reclamar da efeitos visuais, especialmente nas cenas de violência. Adam Clay é uma máquina de moer adversários nas artes marciais, mas sem dispensar facas, pistolas, metralhadoras e explosivos quando necessário. 

"Beekeeper - Rede de Vingança" é bem previsível desde o início: o mocinho bombado foda, charmoso com cara de mal, que luta muito, bate e apanha muito também para defender os mais fracos (suas abelhas e a colmeia). Trata-se de um filme sobre a jornada sangrenta de um homem só, que explora ao máximo a capacidade de luta do ator e de seus dublês.


E é seguindo essa cartilha que está dando certo que Statham fatura milhões e entrega o esperado por seu público, mesmo com furos no roteiro e violência exagerada. Não espere momentos amenos nem romance. Essa não é a linha de atuação do ator, que vem desempenhando papéis muito semelhantes nos últimos anos em seus filmes de ação e suspense.

Confesso que gosto de seus longas, até mesmo dos ruins, o que não é o caso de "Beekeeper". O enredo, já usado em vários filmes do gênero, especialmente nos de Statham, está amarrado direitinho e agrada. Nada excepcional, não deixa de ser o novo do mesmo, com mais tecnologia, tiro, porrada, bomba e classificação para 18 anos - o sangue espirra na tela. Indico para quem gosta do ator e destes gêneros.


Ficha técnica
Direção: David Ayer
Produção: Miramax Films
Distribuição: Diamond Films
Duração: 1h45
Exibição: nos cinemas
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: ação, suspense
Nota: 3,5 (0 a 5)