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30 outubro 2025

"A Memória do Cheiro das Coisas" tenta ser poético enquanto aborda velhice, perdão e (o próprio) racismo

Longa português dirigido por António Ferreira tem José Martins e Mina Andala entregando ótimas interpretações (Fotos: Bretz Filmes)
 
 

Eduardo Jr.

 
A velhice é sempre digna de nossa piedade? O passado, por ser passado, merece perdão? Essas são questões que podem surgir do contato com o longa português “A Memória do Cheiro das Coisas”, que estreia nesta quinta-feira, no Centro Cultural Unimed-BH Minas.

Dirigido por António Ferreira, coproduzido pela brasileira Muiraquitã Filmes e distribuído pela Bretz Flmes, o longa tenta aplicar uma aura poética ao abordar velhice, passado, preconceito e memória. 


O ator José Martins dá vida ao Sr. Arménio, um octogenário que é levado pelo filho para morar em um lar de idosos. A você, que me lê e pode sentir pena do protagonista deixado no asilo, já aviso: dificilmente você conseguirá gostar dele. 

Nos primeiros segundos Arménio já exibe seu lado rude. E daí em diante o espectador vai conhecendo o passado e a personalidade daquele homem, ex-combatente da Guerra Colonial Portuguesa, em Angola. Mas a guerra continua com ele, na memória e nos cheiros que remetem a experiências do passado. 


Ele também carrega consigo o preconceito racial, que fica evidente quando seu cuidador no asilo deixa o trabalho e no lugar dele chega Hermínia, mulher negra a quem ele assedia e ofende. A personagem, vivida por Mina Andala, tem a chance de desconectar Arménio das ideias racistas. A direção, no entanto, revela que não sabe reconhecer e representar igualdade. 

No filme, a cuidadora até se defende das violências. Chega a dar pistas de que será o elemento capaz de oferecer alguma dignidade a quem atacou a dignidade dos africanos. Mas seu discurso é o de que, embora negra, é cidadã portuguesa e que seu pai também lutou na guerra. Parece precisar convencer que é uma pessoa digna de ser aceita pelo homem branco.  


Já em outros aspectos, como a tentativa de expressar uma velhice que parece acorrentar Arménio à margem do mundo, a obra obtém resultados melhores. Se o tempo passou, dificultando alguns atos do cotidiano e exigindo dele paciência, também vai cobrar isso do espectador, em cenas lentas, em que a câmera mal se move. 

Nos corredores apertados e ora escuros do lar para idosos é possível experimentar uma claustrofobia. A sensação é acentuada pela ausência de janelas abertas. Para ver uma passeata ou o cachorro que gosta o velho ex-combatente de guerra não pode fazer mais do que lançar seu olhar através da vidraça que o separa da vida pulsante. 


Resta a Arménio enfrentar seus fantasmas do passado. E ao espectador, se incomodar com a postura da direção, que aplica em um relato do passado do idoso a tentativa de fazer dele uma vítima, mesmo ele já tendo confessado os horrores praticados em nome de seu país. 

Observando mais atentamente as camadas do roteiro, a velhice pintada com as tintas do abandono, do constrangimento e do trauma parece uma merecida vingança. 

Em resumo, esta pode ser considerada uma obra de naturalizar preconceitos que se apresenta vestida de véu poético. Como aquele já conhecido patriotismo, que acredita serem válidas as piores das vilanias.


Ficha técnica:
Direção:
António Ferreira
Produção: Persona Non Grata Pictures, coprodução da brasileira Muiraquitã Filmes
Distribuição: Bretz Flmes
Exibição: Centro Cultural Unimed-BH Minas - sala 2
Duração: 1h40
Classificação: 14 anos
País: Portugal, Brasil
Gênero: drama

27 outubro 2025

"Bom Menino": terror sobrenatural visto pelos olhos de um cachorro

Indy é a estrela do filme e sua atuação encanta o público mesmo nos momentos de suspense sobrenatural (Fotos: Divulgação)
 
 
Maristela Bretas

"Bom Menino" ("Good Boy"), que estreia nesta quinta-feira (30) nos cinemas, oferece uma perspectiva única ao narrar momentos de terror pela visão de um cachorro. A trama acompanha Indy, o fiel cão de Todd (Shane Jensen), um paciente gravemente doente que decide se isolar em uma fazenda para passar seus últimos dias. 

A intenção do diretor Ben Leonberg de explorar o instinto canino para perceber o sobrenatural é, inegavelmente, um ponto de partida diferente e interessante, mas pode gerar apreensão no espectador, especialmente para quem é tutor de um animal de estimação.


O filme não se apoia no medo tradicional, mas sim na tensão e no sofrimento do cão Indy, que acompanha do início ao fim o drama do dono. Indy é a estrela absoluta da produção. Todd e os demais personagens humanos são meros coadjuvantes, cujos rostos, inclusive, não são mostrados, reforçando o foco narrativo no ponto de vista do animal.

Desde filhote, Indy e Todd compartilham uma relação intensa. O cão percebe sutilmente que seu dono não está bem, mas o vínculo entre eles se mantém inabalável, com o jovem carinhosamente se referindo a ele como "Bom Menino". 


A câmera trabalha com precisão no olhar e nas atitudes do animal, capturando tanto os momentos de afeto com o dono quanto o crescente pavor nas cenas de terror, onde Indy tem visões do futuro e é atacado por entidades.

Na história, a dupla se muda para uma casa em uma área rural que pertenceu ao avô de Todd. O ambiente é sinistro, carregado de lembranças ruins, onde vários familiares morreram jovens. A última morte, a do avô do rapaz, é cercada de mistério, assim como o desaparecimento de seu próprio cachorro.


Indy é um cão fofo, esperto e dotado de uma forte percepção extrassensorial. Ele entende que algo muito errado está acontecendo e, embora seja colocado em situações assustadoras e perigosas, sua lealdade a Todd o impede de abandoná-lo. 

Essa representação do instinto aguçado dos cães, que se manifesta principalmente no olfato e na audição, é o ponto central da trama, permitindo que eles percebam a presença de entidades sobrenaturais e também sinais emocionais e físicos sutis das pessoas. 

Estudos científicos já comprovam a impressionante capacidade canina de detectar doenças como o câncer, AVC ou infarto.


A proposta de Ben Leonberg de mostrar o gênero terror sob o ponto de vista do cão, e não de um humano, é o que torna "Bom Menino" uma produção diferenciada. Nesse aspecto, o filme resgata a temática do instinto animal – embora com uma abordagem mais sombria – que foi levemente explorada no drama romântico "Juntos Para Sempre" (2019), com Dennis Quaid.

Infelizmente, a cópia fornecida para avaliação da imprensa estava muito escura, o que prejudicou a visualização de alguns detalhes de sombra e luz da produção.

Curiosidade

Indy pertence ao diretor e levou três anos para ser finalizado, seguindo o ritmo e a disposição do animal, que brilha e encanta. "Bom Menino" é quase uma homenagem de Ben Leonberg ao seu melhor amigo, feita com paciência, amor e criatividade. É pagar para ver. Comente depois o que achou.


Ficha técnica:
Direção: Ben Leonberg
Roteiro: Ben Leonberg e Alex Cannon
Produção: What´s Wrong With Your Dog
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h13
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: terror sobrenatural, suspense

22 outubro 2025

"Frankie e os Monstros": uma divertida aventura gótica de terror sobre amizade e diferenças

Os monstros criados pelo Doutor Maluco vivem em um assustador castelo, escondidos dos seres humanos (Fotos: Gringo Filmes e Senator Film Produktion)
 
 

Maristela Bretas

 
Chega aos cinemas nesta quinta-feira (23), a animação "Frankie e os Monstros" ("Stitch Head"), uma aventura gótica de terror divertida e cheia de easter eggs, do início ao fim. O filme mistura um pouco de tudo: um cientista maluco que lembra o Doutor Emmett Brown (interpretado por Christopher Lloyd em De Volta para o Futuro), monstros simpáticos e bem coloridos, além de um clima sombrio, mas nada assustador. 

A produção, dirigida por Steve Hudson e com direção de animação de David Nasser — conhecido por sucessos como "Meu Malvado Favorito", "Hotel Transilvânia" e "Rio 2" — ainda faz alusões a "Pinóquio", à personagem Tristeza de "Divertida Mente", aos "Minions", e até ao clássico "E.T. – O Extraterrestre". 


São referências que enriquecem a narrativa e tornam a história mais cativante. Cada cena que lembrava uma produção do passado é capaz de fazer o público vibrar e se emocionar. A produção é inspirada na série de livros infantis Stitch Head, de Guy Bass.

Tudo começa no Castelo Grotescal, onde o Professor Maluco (voz original de Rib Brydon) vive tentando criar o monstro perfeito em seu laboratório. Como um verdadeiro Doutor Frankenstein, ele dá vida a diferentes criaturas, mas logo se esquece de cada uma delas, passando para a próxima experiência.


Entre essas criações está Stitch Head/Frankie (dublado por Asa Butterfield), seu assistente e primeira criatura, um pequeno menino de aparência estranha remendada e cabeça careca. Stitch está sempre em busca da atenção e do carinho de seu criador, mas nunca recebe ou sequer é notado. 

Enquanto isso, ele se dedica a proteger e esconder os demais monstros criados no laboratório, mantendo o castelo seguro. Todos temem que os humanos que habitam a vila de Grubbers Nubbin, localizada ao pé da montanha, descubram que eles existem e queiram destruí-los.


Até que a chegada à cidade de um Circo de Horrores decadente em busca de novas atrações muda toda a rotina de Stitch. Ao descobrir a existência do jovem, o dono do espetáculo oferece a ele a ilusão de que se fizesse parte do grupo conquistaria tudo o que sempre desejou: amor, fortuna e fama. Mas esta escolha trará sérias complicações para os monstros e os moradores da vila.

O elenco de personagens é carismático e diverso. Destaque para a Criatura (dublado por Joel Fry), o mais recente experimento do Doutor Maluco, que considera Stitch seu melhor amigo; Arabella (voz de Tia Bannon), uma jovem moradora da cidade que não tem medo de monstros; a ranzinza Nan (Alison Steadman), tutora de Arabella que acredita que todos no castelo são perigosos e cruéis.


Além da história encantadora que traz boas lembranças de filmes que marcaram a infância de diferentes gerações, "Frankie e os Monstros" também tem uma trilha sonora, composta por Nick Urata, que é um show à parte. Com grandes sucessos do passado, contribui para o clima nostálgico e emocional do filme.

Apesar de sua atmosfera gótica e alguns momentos sombrios, "Frankie e os Monstros" é conduzido com leveza e sensibilidade, de uma forma divertida, mas que toca o coração do público ao tratar de temas como abandono, preconceito, ganância, medo do desconhecido, lealdade, e acima de tudo, amizade. Uma animação que promete emocionar diferentes gerações.


Ficha técnica:
Direção e roteiro:
Steve Hudson
Produção: Gringo Films GmbH, Fabrique d’Images, Senator Film Produktion, Traumhaus Studios, Mia Wallace Productions e Senator Film Köln
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h32
Classificação: Livre
Países: Alemanha, Luxemburgo, Reino Unido, França e República Tcheca
Gêneros: aventura, família, animação, comédia   
 

16 outubro 2025

“O Último Rodeio": drama, redenção e a luta final de um campeão

Neal McDonough interpreta um experiente peão que abandonou a arena no passado e agora precisa
retornar para salvar seu neto (Fotos: Angel Studios)
 
 

Silvana Monteiro


Em "O Último Rodeio" ("The Last Rodeo"), um experiente e premiado peão de rodeio é confrontado com as circunstâncias do destino. E para impactar, o enredo prova que o raio cai duas vezes, sim, desta vez, sobre a casa de Joe Wainwright (interpretado por Neal McDonough, que também participou do roteiro e é um os produtores). 

Primeiro, quando perde a esposa Rose (Ruve McDonough, esposa do ator e também produtora do filme), e se entrega, abandonando as arenas. Quinze anos mais tarde, quando o neto Cody (Graham Harvey), com quem tem uma relação de muita cumplicidade, é acometido por algo que ele, o avô, considera aterrorizante e traumático.  


Joe é o cowboy durão, aquele que mesmo quando o corpo se parte em cima de toneladas de músculos e ossos em movimento, não se dá ao direito de sentir e chorar. Seu domínio na arena é premiado e ele, apesar de já ter desistido de montar, pode querer uma última vez, pelo prêmio, mas muito mais pela vida de quem ele mais ama. 

Agora, o fogo que o prova é o da fé e do amor. Embora tenha um relacionamento desafiador com a filha Sally (Sarah Jones), os dois são conectados pelo amor do neto que transcende qualquer desentendimento entre pai e filha. 


E para tratar esse neto, Joe vai ser colocado à prova.  Entre laços de família, perdas e reconciliações, a narrativa mostra o peso, muitas vezes silencioso, das dores que não vêm do esporte, das fraturas e contusões à flor da pele, e sim do convívio familiar. 

O filme tem uma linda e sofisticada fotografia. A poeira, a luz do entardecer e o close nas mãos calejadas transformam a arena em território de redenção. 

Em alguns momentos, as atuações poderiam ser mais profundas e emocionantes, mas a obra, na maioria do tempo, mantém a rigor a ambientação do universo árido e simbólico dos rodeios americanos, o que é compreensível.


A direção aposta em planos longos e uma paleta terrosa que traduz a energia dos conflitos. A trilha sonora discreta, composta por Jeff Russo, reforça o tom, ora empolgante das arenas, ora contemplativo, deixando o silêncio falar tanto quanto as quedas e reerguimentos. 

Joe volta à arena não apenas por dinheiro, mas para confrontar o passado e buscar um tipo de reconciliação com a fé e consigo mesmo. No fundo, sem tantas reviravoltas, mas como uma mensagem importante, "O Último Rodeio" é menos sobre vitórias, mas sobre amor, resiliência e recomeços.


Ficha técnica:
Direção:
John Avnet
Produção: The McDonough Company
Distribuição: Paris Filmes e Abgel Studios
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h58
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gênero: drama

04 setembro 2025

"Invocação do Mal 4 - O Último Ritual" encerra a franquia com alguns sustos e uma overdose maligna

Patrick Wilson e Vera Farmiga se despedem de seus papéis como Ed e Lorraine Warren na saga iniciada em 2013 (Fotos: Warner Bros. Pictures)


Maristela Bretas


Lançado nesta quinta-feira nos cinemas, "Invocação do Mal 4: O Último Ritual" ("The Conjuring: Last Rites") marca o encerramento da franquia iniciada em 2013 que originou outros nove filmes e criou o chamado "Invocaverso".

O longa foi escrito por David Leslie Johnson-McGoldrick e dirigido por Michael Chaves, o mesmo de "Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio" (2021), "A Freira 2" (2023) e do fraco "A Maldição da Chorona" (2019). 

Neste quarto capítulo, acompanhamos o caso considerado o mais difícil enfrentado pelo casal de investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren na vida real. Patrick Wilson e Vera Farmiga retornam a seus personagens neste último filme da franquia (pelo menos até o momento). 


"Invocação do Mal 4" revisita o passado e traz de volta figuras icônicas, como a boneca Annabelle, que marcaram a franquia e fez muitos fãs pularem na cadeira. 

A trama é bem desenvolvida em sua maior parte, ao resgatar acontecimentos anteriores que ajudam a contextualizar os fatos investigados neste filme. 

Isso também facilita a compreensão para quem não assistiu aos demais longas, apresentando o trabalho do casal e sua relação tanto familiar quanto espiritual com as entidades malignas.


O ritmo da narrativa, porém, cai nos 20 minutos finais ao exagerar no número de aparições demoníacas em pouco tempo, o que chega a confundir o público e provocar menos sustos que o esperado. 

Essas cenas acabam enfraquecendo a proposta inicial do diretor de esclarecer a origem de tudo e concluir a franquia de forma consistente. 

Oficialmente, este deve ser a última participação de Wilson e Farmiga no Invocaverso, mas, como sempre, a bilheteria é quem manda. Os milhares de casos documentados ao longo de décadas e o acervo de objetos amaldiçoados guardados no famoso museu do casal Warren ainda oferecem bastante material para bons enredos no cinema.


Desta vez, a história se passa em 1986. Ed e Lorraine estão aposentados e vivem de palestras. A única filha, Judy (Mia Tomlinson) está crescida e namora Tony Spera (Ben Hardy, de "X-Men: Apocalipse" - 2016). 

Até que um dia o casal é chamado pelo padre Gordon (Steve Coulter, que também retorna à franquia) para ajudar a família Smurl, atormentada por ataques de uma entidade violenta em sua casa na Pensilvânia. 

O que Ed e Lorraine não esperavam enfrentar era que esse espírito seria o mais perigoso de suas vidas, capaz de ameaçar sua própria família. O elenco ainda conta com Rebecca Calder, Elliot Cowan, Kíla Lord Cassidy, Beau Gadsdon, John Brotherton e Shannon Kook.


Cronologia dos fatos X lançamento dos filmes

"Invocação do Mal 4: O Último Ritual" adota uma narrativa bem didática ao explicar o trabalho dos Warren, o que ajuda novos espectadores a se situarem na franquia.

No entanto, quem não acompanhou todos os longas pode se perder diante das várias referências a acontecimentos anteriores — especialmente porque a ordem de lançamento dos filmes não segue a cronologia dos fatos.

Para ajudar a compreender melhor, veja abaixo a ordem cronológica dos acontecimentos: 

1952 - "A Freira" (2018) - primeira aparição do demônio Valak, na Romênia.

1955 - "Annabelle 2: A criação do Mal" (2017) - a boneca Annabelle é possuída.

Década de 1950 - "A Freira 2(2023) - Valak retorna pouco tempo após sua primeira manifestação.


1967 - "Annabelle" (2014) - a boneca reaparece em outra casa.

1971 - "Invocação do Mal" (2013) - Ed e Lorraine Warren investigam uma casa com possessões demoníacas; primeiro filme da franquia dirigido por James Wan.

1972 - "Annabelle 3: De Volta Para Casa" (2019) - Judy, filha do casal Warren, se envolve com a boneca demoníaca.

1973 - "A Maldição da Chorona" (2019) - baseado na lenda de La Llorona, sobre uma mulher que afogou os filhos e, arrependida, passa a capturar crianças.

1977 - "Invocação do Mal 2" (2016) - o casal Warren investiga uma família em Londres atormentada por uma entidade maligna; também dirigido por James Wan.

Década de 1980 - "Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio" (2021) - caso de assassinato atribuído a possessão demoníaca.

1986 - Invocação do Mal 4: O Último Ritual (2025), também dirigido por Michael Chaves.


Sustos e recursos técnicos

Exceto por "A Maldição da Chorona", considerado o mais fraco dos demais filmes e praticamente banido da franquia, os demais longas sustentam seus roteiros, alguns com ressalvas, mas provocam bons sustos. 

O primeiro "Invocação do Mal" e "Annabelle 3" ainda são os melhores da franquia, mas em "Invocação do Mal 4: O Último Ritual" o diretor soube explorar bem os recursos visuais e técnicos, reforçados por uma fotografia sombria e ambientes fechados e claustrofóbicos que ajudam a intensificar o suspense e a tensão.


O maior trunfo da franquia, no entanto, continua sendo a química entre Patrick Wilson e Vera Farmiga, cuja parceria carismática tem conquistado o público há mais de uma década. 

Nesta produção final, eles mantêm a qualidade, agora dividindo espaço com Mia Tomlinson, que contribui para dar um desfecho digno à saga — ainda que sem descartar futuras continuações.

P.S. - Não é filme de super-herói, mas tem uma cena pós-créditos que não justifica permanecer no cinema.


Ficha técnica:
Direção: Michael Chaves
Roteiro: Ian Goldberg & Richard Naing e David Leslie Johnson-McGoldrick
Produção: New Line Cinema, Safran Company, Atomic Monster
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h15
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: terror, suspense

03 setembro 2025

“3 Obás de Xangô” é a consolidação da Bahia que conhecemos pelas mãos de três artistas

Esclarecedor e divertido, documentário do diretor Sérgio Machado aborda a amizade entre o escritor Jorge Amado, o compositor Dorival Caymmi e o artista plástico Carybé (Fotos: Primeiro Plano)


Eduardo Jr.


A imagem que se tem da Bahia como uma terra ligada à arte, religiosidade, simplicidade e resiliência passa pelos nomes que centralizam a narrativa do documentário “3 Obás de Xangô”, em cartaz nos cinemas.

A obra do diretor Sérgio Machado aborda a amizade entre o artista plástico Carybé (1911-1997), o cantor e compositor Dorival Caymmi (1914-2008) e o escritor Jorge Amado (1912-2001). Um elo que se fortifica pela representatividade deles para o candomblé e pela colaboração na construção de uma identidade baiana. 

Não é a primeira vez que Sérgio retrata a Bahia. A terra natal do diretor foi cenário do longa “Cidade Baixa” (2005), que apresenta uma amizade que vai se esfacelando e elementos que perpassam Salvador e as obras de Amado, Carybé e Caymmi, como a pobreza, a prostituição e o mar. 

Agora, o diretor se volta para a força do laço fraterno, a religiosidade, e coloca os temas citados como subtítulos da arte produzida pelos três.  


Tamanha identificação com a história da Bahia resultou no título de Obás de Xangô que os três receberam. Mãe Aninha, mandatária do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, criou o título nos anos 1930. O objetivo era que os Obás atuassem como mediadores entre o terreiro de candomblé e a sociedade. 

Chama atenção a frase na abertura do filme: “Liturgia significa o poder do povo enquanto consenso, política significa o poder do povo enquanto diferenças”. 

Em uma época em que a intolerância religiosa taxava como crime as manifestações de matriz africana, a escolha de Mãe Aninha por expoentes da cultura foi estratégica.


A expressividade de Amado, Carybé e Dorival pode ser entendida logo no início do documentário, em uma carta narrada por Lázaro Ramos, onde diz que os três “engravidaram do povo e pariram a Bahia na popa de um saveiro, numa barraca de folhas, num ritual no mercado, no peji de Iemanjá no Rio Vermelho. Foram a face, a voz, o pranto e o riso do povo da Bahia”. Parece não haver definição melhor.

A produção do documentário começou em 2018, baseada em cenas de arquivo e em material não aproveitado de um média-metragem dos anos 1990, filmado por Walter Carvalho. 

Há também entrevistas realizadas com o jornalista Muniz Sodré, o escritor Itamar Vieira Júnior, o cantor Gilberto Gil, e Zélia Gattai, esposa de Jorge Amado. 


Completam a obra cenas de filmes de Bruno Barreto, Nelson Pereira dos Santos e fotos de Pierre Verger, que mesmo estáticas, exalam vida. Não por acaso, "3 Obás de Xangô" conquistou o prêmio de 'Melhor Documentário do Ano' no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. 

Venceu também o Grande Otelo de 'Melhor Longa-Metragem', foi eleito 'Melhor Filme' pelo Júri Popular, na Mostra de Cinema de Tiradentes, além de ganhar o Redentor de 'Melhor Documentário' no Festival do Rio. Além do Prêmio do Público de 'Melhor Documentário Brasileiro' na Mostra de São Paulo. 


Força da mulher

Outro mérito do filme é que as presenças de Amado, Carybé e Dorival deixam de ser o único atrativo quando surgem na tela as raras imagens de Joãozinho da Goméia, Camafeu de Oxossi, Mãe Stella de Oxóssi e Mãe Menininha do Gantois. 

Inclusive, exaltar a força da mulher é uma das aspirações do longa. Para além do canto de Caymmi e do protagonismo feminino nas telas e páginas criadas por Carybé e Jorge Amado, o longa é firme ao expor que as mulheres é que comandavam terreiros e cuidavam de orixás, e não os homens. 

“Uma aceitação do poder feminino que talvez seja maior na Bahia do que em qualquer outro lugar”, é o que se ouve em uma das entrevistas. “3 Obás de Xangô” é uma aula que acaba nos lembrando uma canção de Caymmi, que assume ares de conselho de amigo: “você já foi à Bahia? Não? Então VÁ!” 


Ficha Técnica
Direção: Sérgio Machado
Roteiro: Sérgio Machado, Gabriel Meyohas, Josélia Aguiar, André Finotti
Produção: Coqueirão Pictures, com coprodução da Janela do Mundo, Globo Filmes e GloboNews
Distribuição: Gullane+
Duração: 1h15
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gênero: documentário

02 setembro 2025

Quando "Desenhos" falam mais que palavras

Monstros criados pela imaginação fértil e sofrida de uma menina ganham vida para falar de emoção e
traumas (Fotos: Paris Filmes)
 
 

Maristela Bretas

 
Uma família marcada por um trauma, em que cada membro tenta lidar com a perda da mãe à sua maneira. A filha, que parecia ser a mais problemática, é justamente quem consegue expressar seus sentimentos de forma peculiar: nos cadernos. Assim é "Desenhos" ("Sketch"), suspense fantástico escrito e dirigido por Seth Worley que estreia nesta quinta-feira nos cinemas.

Amber (Bianca Belle) é uma menina de 10 anos que sofre com a morte da mãe. Tímida e solitária, ela não tem amigos e é desenhando que extravasa sua tristeza e temores. Com o tempo, porém, seus desenhos se tornam cada vez mais sombrios, assustando professores, o pai e o irmão Jack (Kue Lawrence).


Um dia, seu caderno de desenhos cai em um lago misterioso e, de forma inexplicável, as criações da jovem ganham vida e se tornam perigosas. Agora, cabe a Amber e Jack, com a ajuda de um amigo improvável e medroso, rastrear as criaturas antes que causem danos permanentes. 

Apesar de algumas cenas assustadoras, "Desenhos" é uma aventura de fantasia que fala sobre perdas e como elas podem transformar uma família. Ao criar monstros bizarros com caneta, lápis ou giz, Amber canaliza sua raiva contra o mundo e, especialmente, àquele que faz da sua vida escolar um inferno - Bowman (Kalon Cox), o gordinho chato e covarde que lembra Chunk, de "Os Goonies" (1985), vivido por Jeff Cohen.


O filme também tem cenas que lembram a atuação de outro personagem, desta vez mais recente, Eleven, da série "Stranger Things" (2016), em algumas passagens protagonizadas por Amber. 

Produzido pelo estúdio Wonder Project, "Desenhos" é mais um longa voltado para a família abordando valores cristãos, sem soar como pregação. Cada criatura tem uma cor e um motivo para estar ali: da ameaçadora 'aranolho', que ataca Taylor (Tony Hale), pai de Amber e Jack, e Liz (D'Arcy Carden), irmã de Taylor, até o desengonçado Dave, o monstro azul de duas pernas que persegue Bowman, e a delicada borboleta amarela. Todos eles estimulam os personagens a usar a imaginação e criar coragem para enfrentar seus estranhos "inimigos" mágicos.



Apesar de ser um filme para crianças a partir de 10 anos, "Desenhos" tem cenas que podem impressionar os pais, como monstros queimados ou tentando estrangular uma criança com a língua. Mas nada comparado à violência explícita de muitos games disponíveis no mercado. 

O roteiro também apresenta um vocabulário de expressões comuns no dia a dia de muitas crianças, o que facilita a identificação do público. Nada disso, porém, tira o mérito da produção, que entrega uma história sensível, criativa e que merece ser conferida em família.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Seth Worley
Produção: Wonder Project com apoio da Angel Studios
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h32
Classificação: 10 anos
País: EUA
Gêneros: família, suspense, aventura, fantasia

21 setembro 2017

"Esta é a Sua Morte - O Show" é um filme que choca e faz pensar

Produção mostra a hipocrisia do ser humano com relação ao próximo e a exploração da tragédia em nome da audiência (Fotos: Cineart Filmes/Divulgação)

Maristela Bretas


Surreal, violento, provocativo e, principalmente, chocante. "Esta é a Sua Morte - O Show" ("The Show"), que estreia nesta quinta-feira, é tudo isso. Um filme capaz de fazer as pessoas ficarem incomodadas nas cadeiras de cinema, algumas até virarem o rosto para não assistirem cenas brutais. A produção é um tapa na cara, mostrando a que ponto o ser humano está chegando (e até pagando para ver) a desgraça do outro. E como isso tem sido explorado pela mídia, principalmente nos reality shows exibidos nas TVs.

Se a intenção do ótimo diretor (que também tem papel importante na história) Giancarlo Esposito era chocar, ele consegue já nos primeiros minutos de exibição. CLIQUE AQUI para ver a entrevista em que ele conta como surgiu a ideia de abordar este tema, que pode fazer pessoas amarem ou odiarem seu filme. 

A produção é muito boa, baseada na linha sensacionalista (e às vezes cruel) dos reality shows e, até mesmo de alguns programas de notícias. Mostra o lado sádico e desumano das pessoas, que estão cada vez mais ávidas por atrações que exploram o sofrimento e a degradação humana. Ao mesmo tempo em que elas se assustam com o suicídio no palco, se levantam e aplaudem, pedindo que o próximo episódio tenha mais sangue ou que a morte seja mais violenta.

Por outro lado estão as produtoras, que buscam o crescimento da audiência a qualquer custo. Se ainda não vemos na telinha cenas brutais como as deste filme, pelo andar da carruagem, este tipo de exibição não vai demorar a aparecer. E o que é pior, vai atrair público e grandes patrocinadores. "Esta é a Sua Morte - O Show" escancara a hipocrisia geral, tanto do público que assiste quanto da emissora que usa a exibição sem qualquer ética ou escrúpulo, visando apenas superar o lucro.

Ajudar as pessoas que desejam tirar a própria vida, garantindo o futuro de suas famílias. Este é o argumento inicial de Adam Rogers (Josh Duhamel), um apresentador de TV narcisista e implacável, que decide criar um programa após presenciar um crime. O reality show "This Is Your Death" mostra, ao vivo, o suicídio de pessoas que se inscrevem para morrer no palco, das mais variadas e assustadoras formas, o que desagrada alguns integrantes da equipe. Em troca, o público deve votar e doar dinheiro, que será entregue à família dos suicidas. A cada novo episódio, as mortes vão se tornando mais chocantes e Adam abandona seus princípios e as pessoas que ama, em busca do primeiro lugar no ranking das emissoras. 

No entanto, ele terá pela frente um duro crítico, Mason Washington (Esposito), um trabalhador norte-americano que se sujeita a mais de 20 horas de jornada e um salário miserável para sustentar a casa e a família e não concorda com a exploração do desespero das pessoas. Boas interpretações de Josh Duhamel ("Transformers - O Último Cavaleiro") e Giancarlo Esposito (conhecido pelo papel de "Gus" Fring, da série "Breaking Bad"). O elenco conta ainda com Famke Janssen ("X-Men"), Sarah Wayne Callies ("The Walking Dead") e Caitlin FitzGerald ("Gossip Girl"). James Franco faz uma ponta até dispensável.

Vale a pena assistir, lembrando que "Esta é a Sua Morte - O Show" é um filme com cenas fortes do início ao fim, que mostram a banalização da violência e o descaso com o ser humano. 




Ficha técnica:
Direção: Giancarlo Esposito
Produção: Great Point Media / Dobré Films / Quiet Hand Films / Octane Entertainment
Distribuição: Cineart Filmes
Duração: 1h44
Gênero: Drama
País: EUA
Classificação: 18 anos
Nota: 4 (0 a 5)

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