28 novembro 2024

"Moana 2" aposta em trazer frescor à franquia, mas derrapa em alguns aspectos

Três anos depois, a personagem e seu amigo Maui partem para uma nova viagem ao lado de uma 
tripulação de marinheiros improváveis (Fotos: Disney Pictures)


Eduardo Jr.


Em 2017 a música perguntava: "o horizonte me pede pra ir tão longe; será que eu vou?" E Moana foi. Agora, a jovem navegadora da famosa animação, fará uma nova viagem, em busca de outros povos. "Moana 2" desembarca nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 28 de novembro, com direção de David Derrick Jr. e distribuição da Disney Studios. 

Derrick substitui John Musker e Ron Clements, diretores do primeiro filme, "Moana: Um Mar de Aventuras" (2016), e mantém a proposta de busca de identidade para a protagonista. Desta vez, Moana (novamente com a voz de Auli'i Cravalho) assume a responsabilidade (e as dores e alegrias) de ser a navegadora do seu povo. 


Após encontrar um artefato que indica a existência de outros povos, ela recebe um chamado de seus ancestrais. Em dúvida sobre sua capacidade de partir em busca de outras tribos e sobre o melhor momento de realizar essa tarefa, os conselhos da mãe atuam como incentivo. 

Mas desta vez não está sozinha. Nesta viagem, Moana seguirá acompanhada de uma tripulação - e do velho amigo semideus, Maui (voz de Dwayne Johnson). 

A entrada de novos personagens na aventura da protagonista deixou a animação mais dinâmica, refrescando o texto e as mensagens. O objetivo da vez é encontrar uma ilha, escondida por um vilão - Nalo, deus das tempestades -, que queria impedir que os diversos povos se conectassem entre si por meio deste lugar especial. 


Por se tratar de uma animação, obviamente esperamos um final feliz. E ele vem, mas deixa questionamentos sobre as escolhas aplicadas ao roteiro de Jared Bush. Durante uma hora e meia de filme, o espectador encontrará referências ao longa anterior, cenas com desenhos super realistas, músicas mais modernas acompanhando os mais diversos ritmos, magia...tudo isso. Exceto o vilão!   

Também chama atenção na jornada de Moana o encontro com Matangi. A nova personagem tem um desenvolvimento um pouco falho, e o desfecho de seu arco não se concretiza como prometido - o que deve acontecer apenas em "Moana 3". 


Não é possível dizer que se trata de um longa memorável. Até no material de divulgação na porta do cinema há deslizes. No totem de papelão colocado na entrada, se tirarmos o "2" do nome do filme, parece que se trata do primeiro longa, pois só as imagens da protagonista e do coadjuvante Maui estão ali. 

Outro ponto a se observar é que, nesta continuação, Moana ganha uma companheira de viagem, Moni. O que nos leva a pensar em um aspecto feminista - duas mulheres solucionando os problemas do percurso. No entanto, nem uma foto da integrante recém-chegada mereceu destaque na divulgação. 


Sendo um pouco mais rigoroso na análise, a motivação de Moana permanece rasa. É um pouco questionável que, só depois de três anos a protagonista se pergunte se há outras pessoas fora da ilha habitada por seu povo. Se ela já se incomodava com o que havia depois dos recifes, não seria um pouco óbvio esperar encontrar outros povos?   

Tecnicamente, como era de se esperar, a Disney entrega mais uma animação musical interessante. "Moana 2" é um longa infantil que dialoga muito bem com o público adulto. Trilhas, cores e desenhos enchem os olhos. 

Os traços da personagem principal e de seu pai foram cuidadosamente amadurecidos para destacar a passagem do tempo, já que a história acontece três anos depois da primeira aventura. Mas é um cuidado que não salva o todo. 

A música tema do primeiro filme permanece na lembrança, enquanto a atual eu já nem lembrava direito após sair da exibição. É um filme que diverte, porém, esquecível. 


Ficha técnica:
Direção: David Derrick Jr., Dana Ledoux Miller e Jason Hand
Roteiro: Jared Bush e Dana Ledoux Miller
Produção: Walt Disney Pictures, Walt Disney Animation Studios
Distribuição: Disney Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h40
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: animação musical, aventura, família

26 novembro 2024

"Tesouro" é mais uma história das marcas deixadas pelo Holocausto

Stephen Fry e Lena Dunham são pai e filha numa viagem para reconstruir as raízes da família (Fotos: Divulgação)


Jean Piter Miranda


Voltar à terra dos antepassados e conhecer suas origens. Para muitos, isso é mera curiosidade. Para outros, é prioridade. Como é o caso da jornalista estadunidense Ruth (Lena Dunham). Ela viaja com o pai, Edek Rothwax (Stephen Fry), para a Polônia, a fim de reconstruir as raízes de sua família. 

Essa é a história contada em “Tesouro” ("Treasure"), filme alemão produzido em parceria com outros países europeus que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (28). 

O ano é 1990. Ruth e o pai saem de Nova York rumo à Varsóvia, na Polônia. Ela está empolgada para conhecer o lugar onde sua família viveu. Só que seu pai não. E tem um motivo. Edek é sobrevivente do Holocausto e as memórias que ele tem do lugar não são nada boas. Na verdade, ele nem quer relembrar. 


Esse conflito de expectativas cria situações engraçadas durante a estadia da dupla na Polônia. Ruth tem tudo planejado, roteiro de onde quer visitar e porque quer ir em cada lugar. Edek, por sua vez, tenta a todo custo sabotar os planos da filha para não ter que revisitar os lugares que lhe trazem lembranças ruins. 

"Tesouro" pode ser considerado um “Road movie”, um filme de estrada. Porque é isso que Ruth e Edek fazem. Eles vão de Varsóvia à Lódz, cidade natal de Edek, e visitam Auschwitz e outros lugares. 

A grande diferença é que, nos tradicionais filmes de viagem, as imagens são sempre amplas, abertas, para mostrar as cidades, os pontos turísticos. Em "Tesouro", as cenas são quase sempre feitas em ambientes internos. 


A escolha por filmagens em locais mais fechados é bem acertada, pois remete aos anos 1990. Isso somado a uma fotografia um tanto mais escura e com pouca cor, além dos cenários com móveis, roupas e carros da época. Dá o ar de que realmente estamos na Polônia de décadas atrás. 

O personagem de Edek é mais simpático, mais cativante. Ruth não tem o mesmo humor e isso fica compreensivo ao longo da história. Há o choque cultural de Ruth por não ter crescido na Polônia, principalmente com relação ao idioma. 

Ao contrário do que muitos imaginam, nem todo mundo na Europa fala o inglês. Isso é bem abordado no filme, assim como diferentes hábitos e costumes. 

Outro ponto interessante do longa é o não mostrar cenas de violência nos campos de concentração. Recurso que poderia ter sido utilizado nas lembranças Edek, mas que a direção optou por não empregar. 


A simples referência ao Holocausto já trás ao espectador essas imagens. Semelhante ao que foi feito em “Zona de Interesse” (2013), onde o tema é abordado, mas sem cenas explícitas do massacre dos judeus na Segunda Guerra Mundial. 

"Tesouro" tem momentos cômicos e dramáticos, com bons diálogos e pequenas surpresas. Provocam boas reflexões sobre família, filhos, casamento e outras coisas que dão sentido à vida. É um filme lento e, para muitos, pode até ser cansativo. Mas, no fim, cumpre seu propósito. Não promete muito e conta bem a história que propõe. 

O longa é uma adaptação do livro “Too Many Men”, da escritora australiana Lily Brett. Romance premiado de 1999, inspirado em fatos reais e que, infelizmente, até o momento, ainda não foi lançado no Brasil. Sendo assim, quem quiser conhecer essa história, ir ao cinemas ver "Tesouro" é uma boa pedida. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Julia von Heinz
Distribuição: California Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h51
Classificação: 14 anos
Países: França, Alemanha, EUA, Bélgica, Polônia, Hungria
Gêneros: drama, comédia

24 novembro 2024

“Amor Traiçoeiro” desafia convenções e prova que o amor pode florescer em qualquer idade

Monica Guerritore e Giacomo Gianniotti protagonizam a "caliente" minissérie italiana ambientada na Costa Amalfitana (Fotos: Netflix)


Marcos Tadeu
Do blog Jornalista de Cinema


A nova minissérie da Netflix, "Amor Traiçoeiro" ("Inganno" - 2023), dirigida por Pappi Corsicato, chegou à plataforma em 9 de outubro e mergulha em uma narrativa que explora o amor, o desejo e os preconceitos enfrentados por mulheres mais maduras.

A trama foi inspirada na minissérie da BBC de 2019, "Golpe do Amor", criada por Marnie Dickens, que tem no elenco Julia Ormond e Ben Barnes (em exibição no Prime Video).

Na nova versão, conhecemos Gabriella (Monica Guerritore), uma mulher rica e divorciada na casa dos 60 anos, dona de um luxuoso hotel na Costa Amalfitana. Ela se envolve com Elia (Giacomo Gianniotti), um homem 30 anos mais jovem. 

Enquanto vive intensamente essa paixão, Gabriella precisa lidar com o julgamento de seus filhos e questionamentos sobre as verdadeiras intenções de Elia.


A série é eficaz ao abordar temas como a redescoberta do desejo, a feminilidade na maturidade e os estigmas enfrentados por mulheres mais velhas que escolhem parceiros mais jovens. 

Em um contexto social onde relações com homens mais velhos e mulheres mais jovens são frequentemente normalizadas, "Amor Traiçoeiro" inverte a perspectiva, gerando reflexões relevantes.

Monica Guerritore entrega uma atuação segura e envolvente, personificando Gabriella como uma mulher que luta por sua liberdade de amar e viver suas escolhas. Sua performance destaca as complexidades emocionais da personagem, especialmente ao enfrentar as suspeitas e críticas. 


Já o personagem Elia interpretado por Giacomo Gianniotti é um misto de charme e mistério. Ele mantém o espectador intrigado, questionando suas motivações e segredos ao longo de cada episódio.

No aspecto técnico, a produção italiana não decepciona. Davide De Cubellis, responsável pelos storyboards, demonstra cuidado em cada enquadramento, criando uma atmosfera visualmente deslumbrante. 

A trilha sonora de Enrico Pellegrini complementa as emoções da série, transitando entre afeto, tensão e desejo. O departamento de maquiagem e figurino, liderado por Jujuba Acciarino, Ilaria Soricelli e Rosa Falcão, eleva a elegância dos personagens, especialmente a presença impecável de Elia.


A narrativa mantém um ritmo envolvente, com ganchos bem posicionados que dificultam assistir apenas um episódio. Contudo, a série poderia explorar mais a relação de Gabriella com seus filhos, especialmente no contexto de sua infância, o que traria maior profundidade à dinâmica familiar.

"Amor Traiçoeiro" prova que o amor pode transcender diferenças de idade, mas deixa claro que escolhas ousadas muitas vezes vêm acompanhadas de desafios. 

Apesar de algumas limitações, a minissérie entrega um desfecho satisfatório, embora as decisões finais dos protagonistas possam dividir opiniões.


Ficha técnica:
Direção: Pappi Corsicato
Exibição: Netflix
Duração: média de 45 minutos (1ª Temporada - 6 episódios)
Classificação: 16 anos
País: Itália
Gêneros: drama, romance, suspense

21 novembro 2024

"A Linha da Extinção" traz suspense, ação e fragilidade no protagonismo

Longa tem como protagonistas Anthony Mackie e Morena Baccarin e lembra outros filmes sobre ataques de monstros extraterrestres (Fotos: Divulgação)


Eduardo Jr.


O diretor norte-americano George Nolfi ("The Banker" - 2020) volta à cena. Desta vez, com o filme "A Linha da Extinção" ("Elevation"). A produção estrelada por Anthony Mackie (que trabalhou com Nolfi em"The Banker"e participou de "Capitão América 2: O Soldado Invernal" - 2014) e Morena Baccarin ("Deadpool" - 2016), chega às telonas nesta quinta-feira (21), distribuído pela Paris Filmes.    

Na trama, 95% da população mundial foi exterminada quando crateras se abriram em todo o mundo, e dela emergiram criaturas que matam os humanos. 

A única forma de se proteger foi buscar locais acima de 2.400 metros de altitude. Nas montanhas, Will (Mackie) cuida sozinho do filho Hunter, vivido pelo pequeno Danny Boyd Jr. (da série "Watchmen" - 2019). 


Os problemas respiratórios do garoto e o iminente término dos remédios dele obrigam Will a descer a montanha para tentar pegar medicamentos no que sobrou do hospital da cidade. 

A jornada de Will é compartilhada com Nina, vivida por Morena Baccarin, e Katie, interpretada por Maddie Hasson (da série "The Finder"- 2012). E aí começam os problemas. A personagem de Anthony Mackie tem um arco dramático fraco. 

Tão fraco que o espectador pode criar mais interesse e curiosidade pela personagem de Morena Baccarin, a cientista que procura uma forma de matar os monstros e que tem camadas e trajetória mais ricas. 


A proposta de um mundo destruído após o ataque de criaturas estranhas não é inédita. As notícias de ataques contra humanos são noticiadas em rádios e TVs. A origem das criaturas é desconhecida e a sobrevivência depende de um afastamento de determinadas áreas. 

Elementos que remetem à série "The Last of Us" (HBO - 2023). E como "A Linha da Extinção" conta com os mesmos produtores de "Um Lugar Silencioso" (2018), também é possível ver pontos de semelhança entre essas duas obras. 

O longa teve orçamento de US$ 18 milhões. Mesmo com cenas aéreas valorizando a paisagem das montanhas e ampliando a sensação de isolamento, ainda é possível tecer críticas sobre aspectos técnicos da obra de George Nolfi. 


Em certos momentos, a edição de som derrapa ao trazer ruídos que podem prenunciar um perigo (que demora um pouco a surgir) e que não representam a passagem por um ambiente hospitalar em ruínas, por exemplo. Há também momentos de ação onde a tela escurece e a movimentação da câmera confunde o espectador. 

Os diálogos também são rasos. O melhor do texto fica para a cientista Nina. Mas no meio disso tudo, o desenho das criaturas do mal é interessante. O suspense entretém na sua uma hora e meia de exibição. 

Fica a expectativa de uma continuação de "A Linha da Extinção" que explique por que os 2.400 metros de altura garantem a salvação e revele a origem e motivação dos monstros destruidores de humanos. De zero a dez, nota 6 para o filme. 


Ficha técnica:
Direção: George Nolfi
Produção: North.Five.Six
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h35
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: ação, suspense

20 novembro 2024

Musical "Wicked" se transporta da Broadway para as telonas em mega produção

Cynthia Erivo e Ariana Grande interpretam as bruxas Má do Oeste e Boa do Sul com as qualidades e defeitos de adolescentes em formação (Fotos: Universal Pictures)


Eduardo Jr.


Sucesso nos palcos, o musical "Wicked" se transforma em filme, e estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 21 de novembro. Trata-se de uma grande produção, dirigida por Jon M. Chu ("Podres de Ricos" - 2018). O longa chega ao Brasil com distribuição pela Universal Pictures. 

A grandiosidade da produção começa pelo orçamento. Foram investidos US$ 145 milhões. Além disso, os figurinos, as cores e as músicas enchem a tela. Assim como as pautas que permeiam a obra, que se situa em um momento anterior à história que conhecemos em "O Mágico de Oz", filme de 1939.  


A adaptação de 2024 se baseia no livro "Wicked", publicado por Gregory Maguire em 1995 e levado aos palcos da Broadway em 2003. Na telona, a cantora Cynthia Erivo (a Fada Azul de "Pinóquio" (2022) dá vida a Elphaba (a Bruxa Má do Oeste). 

Ela é uma garota de pele verde convidada a se matricular na Universidade de Shiz por conta de seus poderes. Lá ela conhece Glinda (a Bruxa Boa do Sul), interpretada pela também cantora Ariana Grande ("Não Olhe Para Cima" - 2021).  


O encontro de duas garotas tão diferentes vai desfiando na tela assuntos como amizade, manutenção de privilégios, preconceito de cor, princípios morais e ambição. 

É preciso destacar que Ariana Grande está ótima no papel de Glinda. O público terá a chance de se encantar ou sentir ranço (ou as duas coisas) pela personagem dela. 

Cynthia e Ariana criaram personagens que se apresentam com qualidades e defeitos, assim como adolescentes em formação que ainda buscam se posicionar na sociedade e se construírem para a vida adulta. 


Quando Elphaba é chamada à Cidade de Esmeralda para conhecer o Mágico, figura mais adorada do reino de Oz e representante do poder, as coisas começam a mudar. O contato das duas protagonistas com o célebre mágico coloca em cena revelações e questionamentos. 

Até chegar a este momento, as duas aprendizes de feiticeira dividem a tela com as boas atuações de Michelle Yeoh ("Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo" - 2022), como Madame Morrible; Jonathan Bailey (da série "Bridgerton" - 2020), no papel do príncipe Fiyero; e Jeff Goldblum ("Jurassic World: Domínio" - 2022), interpretando o Mágico de Oz. 


Jon M. Chu se mantém atento aos elementos do filme de 1939 como, por exemplo, a estrada de tijolos amarelos. E a história das duas bruxas, que não foi contada com maior clareza em "O Mágico de Oz", agora encontra espaço no longa de Chu. 

Tanto espaço que o diretor optou por dividir a trama em dois atos, assim como no musical da Broadway. O segundo será lançado em 26 de novembro do ano que vem. 


A trilha sonora de "Wicked" foi composta pelo indicado ao Grammy e ao Oscar, John Powell (responsável também por "Han Solo: Uma História Star Wars" - 2018 e a franquia "Como Treinar o Seu Dragão" - 2010 a 2019) e Stephen Schwartz. 

O público que for ao cinema e assistir à versão dublada, ficará mais próximo da montagem brasileira do musical. As atrizes Myra Ruiz e Fabi Bang, que protagonizaram 'Wicked" nos palcos, foram chamadas para fazerem a dublagem de Elphaba e Glinda. 

São 2h40 minutos de cenários bem elaborados, canções emocionantes e efeitos bem realizados. O risco é de até quem não gosta de musicais sair enfeitiçado pelo filme.    


Ficha técnica
Direção: Jon M. Chu
Produção: Universal Pictures, The Araca Group, Marc Platt Productions
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h40
Classificação: 10 anos
País: EUA
Gêneros: musical, fantasia

18 novembro 2024

"Todas as Estradas de Terra Têm Gosto de Sal" - imersão poético sensorial nas vivências de uma mulher negra

A personagem Mackenzie é interpretada por quatro atrizes diferentes que vão representá-la em cada fase da vida (Fotos: A24/Divulgação) 


Silvana Monteiro


A chegada de "Todas as Estradas de Terra Têm Gosto de Sal" ("All Dirt Roads Taste of Salt") aos cinemas de Belo Horizonte em 21 de novembro não poderia ser mais oportuna. No mês da Consciência Negra e um dia após o feriado nacional que celebra a luta, resistência e o valor ancestral do povo negro, o filme, dirigido por Raven Jackson, apresenta uma narrativa visual e poética que retrata com profunda sensibilidade a trajetória de uma mulher negra no Mississippi ao longo de décadas. 

Com momentos singelos e intensos, a obra se torna um tributo à força, memória e histórias que moldam a identidade da protagonista. Adotando uma estratégia narrativa de poucos diálogos e focando-se nos sons e nas imagens captadas em 35mm, o filme evoca uma conexão profunda com a natureza e o ambiente rural dos anos sessenta, conferindo um significado diferenciado a cada cena. 


O drama, produzido pela A24 e distribuído pela Pandora Filmes, estreou no Festival de Sundance em 2023 ´é uma homenagem à riqueza das emoções humanas e às experiências que moldam uma personalidade.  

Destaque para a abordagem poética e sensorial, oferecendo uma experiência cinematográfica que foge do convencional. Dirigido com uma sensibilidade rara, o filme convida a uma imersão nas camadas da memória e da identidade negra no sul dos Estados Unidos , através da vivência de sua protagonista.

O longa acompanha a vida de Mackenzie, uma mulher negra no Mississippi, desde a sua infância até a idade adulta, revelando suas alegrias, dores e o impacto do tempo, do espaço e das relações. 

A personagem é interpretada por quatro atrizes diferentes para representá-la em cada fase da vida. São elas Mylee Shannon, Kaylee Nicole Johnson, Charleen McClure e Zainab Jah. 


A narrativa é construída como um mosaico, uma coleção de memórias, que se entrelaçam para formar um retrato da vida da protagonista. Os diálogos, minimalistas e precisos, funcionam como complemento à atmosfera, mais do que como condutores da história.

Cada palavra é cuidadosamente escolhida, carregando uma profundidade que ressoa com a experiência vivida. Esse estilo narrativo privilegia o silêncio como uma linguagem própria da obra, onde os gestos, toques e olhares dizem mais que qualquer discurso.


A fotografia é um dos pontos mais fortes do filme. A câmera capta a textura da terra, da pele, dos cabelos; o timbre aveludado das vozes em conversas íntimas; o brilho do sol filtrado pelas árvores e os tons quentes que dominam a paleta visual, ecoando a estética negra que embeleza seus personagens. 

Cada cena é cuidadosamente composta, quase como uma pintura, refletindo a conexão visceral entre a protagonista e sua terra. A forma como a luz é utilizada para destacar os detalhes dos rostos e das paisagens cria uma intimidade visual que aproxima o espectador da experiência intimista dos acontecimentos.

O design de som é outro destaque especial. A trilha sonora, composta majoritariamente por sons ambientes e mínimas músicas instrumentais, cria uma atmosfera imersiva. O espectador é transportado para cada ação desenvolvida pelos personagens, desde o ato de pescar até o manuseio do solo.

Os sons da natureza - o vento passando pelas folhas, o murmúrio de um riacho distante, os grilos - são integrados para intensificar o senso de pertencimento e nostalgia.


A diretora, que também é poeta e fotógrafa, utiliza sua sensibilidade para construir uma ode à ancestralidade e aos momentos que nos moldam de maneira quase invisível. Nesse sentido, a obra se assemelha a "Dias Perfeitos" (2024), em que o simples se torna extraordinário, e o retrato do cotidiano se revela grandioso e vivaz.

"Todas as Estradas de Terra Têm Gosto de Sal" é uma obra de arte que desafia as convenções narrativas e visuais do cinema tradicional. É uma experiência que exige paciência e contemplação do espectador, recompensando-o com uma profundidade emocional rara. 

Ao capturar a essência negra com tanto respeito e autenticidade, o filme se estabelece como uma raridade. É, sem dúvida, uma obra que merece ser vista e sentida.


Ficha técnica
Direção e roteiro: Raven Jackson
Produção: A24
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: no Centro Cutural Unimed BH-Minas
Duração: 1h18
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: drama, ficção

14 novembro 2024

“Gladiador 2” é tão bom quanto o primeiro e conta com Denzel Washington brilhante

Paul Mescal e Pedro Pascal protagonizam a nova obra do diretor Ridley Scott (Fotos: Paramount Pictures)


Wallace Graciano


Continuações de grandes obras nasceram fadadas ao fracasso. Também pudera, meu caro amigo leitor. Elas são muitas vezes elevadas a uma expectativa que trama alguma conseguiria suprir. Por isso, antes de falar sobre “Gladiador 2” ("Gladiator II"), em cartaz nos cinemas de todo o Brasil, eu o convido para se despir de seus sentimentos em relação à obra icônica de Ridley Scott. Você não vai se decepcionar.

Se outrora Russell Crowe se consagrou no papel de “Maximus Decimus”, um poderoso general romano amado pelo povo e por Marcus Aurelius, agora o protagonista não tem nenhuma alta patente no Império. Seu nome é Hanno (ou Lucius…), interpretado por Paul Mescal, e ele se encontra na África, onde vê seu povo atacado por Roma e ser dominado.


Buscando vingança após ser capturado como prisioneiro de guerra pelo general Acacius (Pedro Pascal), que agia sob as ordens dos gêmeos imperadores Greta (Joseph Quinn) e Caracala (Fred Hechinger), ele cai nas mãos de Macarius (Denzel Washington). Macarius, que outrora era um mercenário, deseja transformar os prisioneiros em gladiadores e usá-los em busca de sua ascensão política. Ao conhecer Hanno, vê nele sua grande oportunidade de fazer um movimento certeiro. 

E é nesse momento que a trama começa a se mostrar forte. Aproveitando a sede de vingança do até ali Hanno, Macarius atiça a ira de seu prisioneiro ao seu favor enquanto começa a explorar o desejo de Greta e Caracalla por novos jogos no Coliseu. 


Paralelamente, Acacius e sua mulher, Lucilla (Connie Nielsen), que fora casada com Maximus, tramam uma operação para tentar derrubar a tirania dos gêmeos imperadores.

Fugindo dos clichês, mas explorando ao máximo a narrativa épica que o período pode trazer, "Gladiador 2" passa a te sugar neste momento. Apesar de ser repleto de batalhas espetaculares e paisagens grandiosas, a continuação se destaca por ter uma trama de fundo envolvente, com a profundidade que te faz prender o ar não somente nas cenas de ação. 


A direção de Ridley Scott é magistral, com cenas de batalha visceralmente realistas e uma fotografia impecável que transporta o espectador para a antiga Roma. Somado a isso, temos a atuação magistral de Denzel Washington, que é, sem dúvida, o melhor personagem de toda a trama. 

Porém, precisamos dizer que a história, embora complexa, peca por não desenvolver suficientemente os personagens secundários e por ter uma duração excessiva. A atuação de Paul Mescal é competente, mas não consegue alcançar a intensidade de Russell Crowe. O personagem mais carismático da obra, dessa forma, vem de Washington. 


Ainda assim, precisamos dizer que a comparação com o primeiro filme é inevitável, mas que Scott acertou ao explorar desta vez temas como poder, honra e vingança de forma mais ampla, englobando elementos políticos e sociais. 

É uma sequência muito boa, que seria uma obra de grande impacto na história, mas existe o primeiro, que, sim, está em um degrau superior. O que não é nenhum demérito. 

Curiosidades

- "Gladiador 2" surge 24 anos após o filme original, também dirigido por Ridley Scott, que arrecadou mais de US$ 460 milhões nas bilheterias e conquistou cinco Oscars.

- Pedro Pascal, das séries "The Last of Us" e "The Mandalorian", atuou ao lado de Denzel Washington, em "O Protetor 2" (2018), e de Connie Nielsen, em "Mulher Maravilha 1984" (2020).


Ficha técnica
Direção: Ridley Scott
Roteiro: David Scarpa
Produção: Paramount Pictures, Red Wagon Entertainment, Scott Free Productions
Distribuição: Paramount Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h30
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: ação, drama, épico

09 novembro 2024

"A Música de John Williams", uma viagem no tempo a lembranças memoráveis do cinema

Documentário conta a trajetória de um dos maiores compositores de trilhas sonoras inesquecíveis de Hollywood (Fotos: Divulgação/Reprodução)


Maristela Bretas


Poderia ser somente mais um documentário como outros produzidos pelos Estúdios Disney. Mas "A Música de John Williams" sacode as lembranças e toca fundo no coração de diversas gerações, especialmente daqueles que acompanharam grandes sucessos do cinema nas últimas cinco décadas. 

Quem não se lembra dos temas principais de "ET - O Extraterrestre" (1982), a abertura e a trilha sonora das sagas "Star Wars"? Bastam os primeiros acordes para que a memória volte forte, o arrepio tome conta de nossos braços e lágrimas desçam por nossas faces. 

Sim, é isso que o compositor e maestro John Williams sempre provocou ao entregar músicas memoráveis que marcaram sucessos do cinema. E muitos destes sucessos podem ser revistos no documentário dirigido por Laurent Bouzereau, sobre a vida e a carreira deste grande artista, hoje com 92 anos e em plena atividade. 


John Williams foi capaz de transformar duas notas musicais em tema de uma ficção científica, como acontece com "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" (1977). Ou de um simples som de suspense deixar uma plateia inteira de cabelos em pé à espera do ataque de um certo “Tubarão" (1975). 

Tem também as trilhas para as ousadas expedições de um certo historiador e caçador de relíquias que usava chapéu e chicote (1981 a 2023), e de aventureiros em busca de um "Parque de Dinossauros" (franquia de 1993 a 2022).  

Não sei dizer o que mais me emociona, mas com certeza, ouvir a música orquestrada que abre uma certa franquia que fala de "A long time ago in a galaxy far, far away..." me faz chorar até hoje. Para quem não é fã, esta é a abertura de "Star Wars".


Entre os depoimentos, estão os de amigos inseparáveis, como Steven Spielberg e George Lucas, que viram seus filmes e franquias ganharem prêmios e a paixão dos fãs. Vários outros diretores também falam sobre o trabalho incansável de John Williams, cuja mente e sensibilidade brilhantes tiram música do ar. 

Entre eles estão Ron Howard ("Inferno" - 2016 e "Uma Mente Brilhante" - 2001); J.J. Abrams ("Star Wars : O Despertar da Força" - 2015); Chris Columbus (dos filmes de 2001 e 2002 da saga "Harry Potter", e dos longas "Esqueceram de Mim 1 e 2" - 1990 e 1992); Frank Marshall ("Indiana Jones" - 1981 e 2023) e James Mangold ("Logan" - 2017 e "Ford vs Ferrari" 2019). 

Além de atores, como Ke Huy Quan e Kate Capshaw ("Indiana Jones: Os Caçadores da Arca Perdida" - 1981) e Seth Mac Farlane (dublador do ursinho "Ted 1 e 2" 2012 e 2015), e cantores, como Chris Martin, da banda Coldplay.


Além dos depoimentos e das grandes composições do John Williams, o documentário ainda oferece ao espectador a chance de conhecer um pouco da vida pessoal do maestro. Da convivência com os filhos, até seu tempo servindo como militar na Força Aérea dos EUA e como todas essas experiências influenciaram em sua música. 

São cenas cedidas por familiares e por Spielberg, feitas durante as gravações de seus filmes. Sem contar a coleção de prêmios e indicações ao Grammy, Oscar, Bafta, Emmy e Globo de Ouro. Imperdível, emocionante, inesquecível. Vale a pena conferir o documentário "A Música de John Williams", disponível apenas no Disney+ por assinatura.


Ficha técnica
Direção e produção:
Laurent Bouzereau
Distribuição: Disney Plus
Exibição: Disney Plus
Duração: 1h45
Classificação: livre
País: EUA
Gêneros: drama, musical

07 novembro 2024

"Operação Natal" se distancia do sentimentalismo e coloca agito na telona

Produção conta com elenco de peso para resgatar o Papai Noel, sequestrado pouco antes do período festivo (Fotos: Warner Bros. Pictures)


Eduardo Jr.


O sequestro do Papai Noel é o ponto de partida de “Operação Natal” (“Red One”). O filme, que acaba de chegar aos cinemas brasileiros, tem direção de Jake Kasdan, responsável por conduzir “Jumanji - Bem-vindo à Selva”, em 2018 e “Jumanji: Próxima Fase”, no ano de 2019. O longa tem distribuição da Warner Bros. Pictures.

O longa está mais para aventura do que comédia. J.K. Simmons ("Whiplash: Em Busca da Perfeição" - 2014) dá vida ao Papai Noel bombado. 

Quando o bom velhinho desaparece, o comandante da segurança do Polo Norte, Callum Drift, vivido por Dwayne “The Rock” Johnson (que trabalhou com Jake Kasdan nos dois filmes de "Jumanji" e também protagonizou "Adão Negro", 2022) vai atrás dos sequestradores.


Mesmo sendo Natal, uma data em que a figura principal é o vovô de roupa vermelha, o longa inicia exaltando a dedicação e competência do comandante Drift. E é claro que o público vai torcer por ele na operação para resgatar “Das Neves”, codinome do bom velhinho. 

Nesta versão modernizada, o Papai Noel também é carinhosamente chamado de Nick em alguns momentos (coerente para quem tem sua figura inspirada em São Nicolau).


A missão de resgate do comandante Drift não será solitária. A chefe do departamento de proteção de criaturas mitológicas Zoe (Lucy Liu, de "Shazam! Fúria dos Deuses" - 2023) obtém pistas de quem invadiu o sistema para localizar Papai Noel. 

O responsável foi o golpista Jack O'Malley, interpretado por Chris Evans (o Capitão América de toda a franquia "Vingadores", incluindo "Guerra Ciivil" - 2011 a 2019), um caçador de recompensas. Como só ele pode rastrear quem o contratou para hackear a localização, acaba se tornando parceiro de Drift.

Juntos eles descobrem que quem está por trás do sequestro é a vilã Gryla, vivida por Kiernan Shipka (Longlegs: Vínculo Mortal- 2024). Mas infelizmente, a atriz tem pouco tempo de tela (um dos deslizes deste filme). 


Até chegar ao paradeiro do Papai Noel, diversas cenas de luta e perseguição, com muitos efeitos visuais, preenchem a tela. Sem falar nas músicas, no estilo ''cenas de ação da Marvel". 

Em alguns momentos é nítido que a qualidade do CGI poderia ser melhor. Contudo, no geral, o filme diverte. Não deixa o espectador ansioso pelo fim nos seus 133 minutos de duração. 

Talvez o estranhamento para alguém mais crítico resida no fato de que os ajudantes do Papai Noel pareçam criaturas alienígenas. E que, embora este seja um filme natalino, a emoção, as mensagens sobre união e o sentimentalismo só marcam presença no final. Mais uma obra para figurar entre os títulos da Sessão da Tarde.


Ficha técnica
Direção: Jake Kasdan
Roteiro: Chris Morgan
Produção: Amazon MGM Studios e Seven Bucks Productions
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h13
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: ação, aventura, comédia, família

06 novembro 2024

"Ainda Estou Aqui" - um filme sobre resiliência, coragem e tempos sombrios

O aguardado longa de Walter Salles entra em cartaz nos cinemas de BH e promete cativar o público
(Fotos: Alile Dara Onawale/Divulgação)


Eduardo Jr.


Estreia nesta quinta-feira (7/11), o longa "Ainda Estou Aqui", novo trabalho do diretor Walter Salles, distribuído pela Sony Pictures. Coincidência ou não, no mesmo dia da morte de Evandro Teixeira, fotojornalista que clicou momentos icônicos do combate à ditadura no Brasil, a equipe do Cinema no Escurinho foi convidada para acompanhar a pré-estreia deste que se configura como mais um resgate memorável desse triste período da história. 

O buzz em torno do filme, após a exibição no Festival de Veneza, tem tudo para se justificar em terras brasileiras. Adaptado do livro homônimo do jornalista Marcelo Rubens Paiva, o longa conta a história de Eunice Paiva, mãe de Marcelo e mulher do ex-deputado Rubens Paiva, que é levado de casa por policiais, nos anos 1970, dando início ao drama.


Aliás, o termo "drama" se aplica mais ao segundo ato da obra, que inicia com a apresentação das personagens e com um suspense, canalizado na presença dos caminhões com militares, que passam pelas ruas e provocam um incômodo na protagonista, em contraste com o cotidiano festivo do casal e seus cinco filhos. 

Walter Salles é inteligente ao mostrar Rubens Paiva (Selton Mello) com uma rotina familiar e depois sua prisão sem motivos claros. Imprime a percepção de que, na ditadura, qualquer coisa era motivo para violar direitos. 

Deixa no espectador o vazio da falta daquele personagem (talvez uma espécie de simulacro da falta que um ente desaparecido deixa nos familiares). É aí que o cotidiano solar e colorido da família começa a se transformar.  

(Foto: Lais Catalano Aranha/Divulgação)

A entrada dos milicos é digna de "O Poderoso Chefão" (1972), com sujeitos mal-intencionados emergindo das sombras. A fotografia faz questão de escurecer a tela. A maldade do regime consegue causar impacto no espectador sem apelar para arroubos cinematográficos ou de emoção. E nem precisa. 

A câmera nos faz enxergar a Eunice criada por Fernanda Torres, uma escolha visual que se mostra acertadíssima! A protagonista começa uma mulher de classe média alta, muda para dona de casa sem privilégios, se reinventa como advogada, e comunica tudo com uma atuação e expressões impecáveis, entregando melancolia e força até nos gestos mais sutis. 

Além de Fernanda, todo o elenco parece ter entendido que menos é mais. O filme traz atuações precisas e bem sintonizadas entre atores que dão vida aos personagens na 1ª fase e os que assumem após a passagem de tempo. 


Ponto positivo também para a excelente trilha sonora, com músicas da época muito condizentes com a mensagem e com o momento (de ontem e o atual, embora o filme seja também sobre memória). 

Uma dessas pautas da atualidade já era parte da biografia de Eunice. Após a tragédia familiar, ela voltou a estudar, se formou em Direito e passou a atuar em prol das causas indígenas (que voltaram aos noticiários, recentemente) e violações dos Direitos Humanos. 

Se assim podemos dizer, uma das vitórias foi a dela própria, ao obter a certidão de óbito do marido. Eunice recebe o documento como sempre fez, sorrindo. Por ordem dela, não era permitido à família Paiva chorar ou sofrer frente às câmeras, pois essa seria uma vitória dos assassinos que destruíram tantas outras famílias brasileiras. 


Eunice morreu em dezembro de 2018, com 86 anos, em decorrência do Mal de Alzheimer. Está representada nessa fase final por Fernanda Montenegro. E com a mesma força expressiva que a filha deu à personagem no início e meio do longa. 

No final deste filme, de tamanho refinamento técnico que mal se percebe o passar das duas horas de exibição, o espectador observa algo que pode ser interpretado como o que essas famílias experimentam: a busca de uma completude que nunca mais existirá. O que fica, é memória. Filme imperdível! 

"Ainda Estou Aqui" é a produção brasileira escolhida para integrar a lista de possíveis indicados ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2025. A prévia dos finalistas sai no dia 17 de dezembro e a lista com os cinco escolhidos será divulgada no dia 17 de janeiro. 


Ficha técnica:
Direção: Walter Salles
Roteiro: Murilo Hauser e Heitor Lorega
Produção: Mact Productions, VideoFilmes, Arte France, RT Features
Distribuição: Sony Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h15
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gêneros: drama, suspense