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27 março 2024

“A Matriarca” aborda conexão entre personagens feridas pela vida

Charlotte Rampling é a protagonista desta produção neozelandesa que soma drama com pitadas de comédia sobre relações familiares (Fotos: Pandora Filmes)


Eduardo Jr.


Chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (28) o longa “A Matriarca”, distribuído pela Pandora Filmes. O filme dirigido por Matthew J. Saville traz a ótima Charlotte Rampling ("Duna: Parte 2") como protagonista de uma história que soma drama com pitadas de comédia. 

Por mais que o nome do filme deixe claro que haverá uma presença feminina no centro da história, o espectador já embarca na história em um carro, acompanhando uma conversa entre pai e filho sobre uma pessoa, e se perguntando “quem será ela?”. 


Eis que ‘ela’ surge na tela, e com olhar penetrante. Charlotte Rampling interpreta Ruth, mãe de Robert (vivido por Marton Csokas, de “O Protetor” - 2014) e avó de Sam (George Ferrier, que atuou na 2ª temporada de “Sweet Tooth”- 2023). Uma mulher cujo temperamento parece ser sua marca registrada. 

E o que apenas ‘parece’ se confirma quando ela abre a boca. A acidez desta avó, que não tem ligações com o neto, dá o tom da relação que ela vai, então, estabelecer com Sam, recém-expulso de um colégio interno. 


Ruth é uma fotógrafa aposentada, correspondente de guerra, que viveu muita coisa e que bebe mais ainda, enquanto encara um problema de saúde, sob a supervisão da enfermeira Sarah (Edith Poor). Quem cuidará dela é o neto rebelde. 

A conexão entre eles, que tem tudo para dar errado, vai caminhando entre espinhos e prendendo a atenção do espectador, que tem a chance de descobrir porque os dois chegaram naquele lugar, os motivos das feridas que carregam, e algumas das questões com as quais precisamos lidar na vida.    


É um drama, mas a comédia também marca presença. Não só no humor de Ruth, mas também na construção do encontro dos personagens, na postura deles diante do desenrolar da nossa existência. Prova de que a arte imita a vida é que essa história partiu de uma experiência pessoal do diretor. 

Colocar essa memória na telona parece ter sido um acerto. O filme foi ganhador do Prêmio de Melhor Atriz no Bifest - Bari International Film Festival. E promete ganhar elogios de quem for ao cinema assistir. É um bom filme.


Ficha técnica
Direção e roteiro:
Matthew J. Saville
Produção: New Zealand Film Commission, Celsius Film
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h34
Classificação: 16 anos
País: Nova Zelândia
Gêneros: drama, comédia

19 março 2024

“O Primeiro Dia da Minha Vida” é drama filosófico sobre assunto tabu

Quatro pessoas, unidas pelo mesmo objetivo, são orientadas por um estranho para que possam rever suas escolhas (Fotos: Maria Marin PH)


Eduardo Jr.


Chega aos cinemas brasileiros no dia 21 de março um longa de temática “ousada” - afinal, suicídio é assunto delicado. O autor da proeza é o diretor Paolo Genovese que, baseado em um romance de sua própria autoria, traz no longa “O Primeiro Dia da Minha Vida” ("Il Primo Giorno Della Mia Vita") quatro pessoas que recebem a chance de rever suas escolhas (não necessariamente em vida). A distribuição é da Pandora Filmes. 

Na trama, os quatro indivíduos são abordados pelo protagonista, vivido por Toni Servillo. Para definir esse protagonista, “misterioso” seria a palavra ideal, pois nem nome ele tem. Mas sua chegada tem um propósito: fazer essas pessoas que optaram pelo autoextermínio avaliarem se irão, de fato, prosseguir com isso, ou se darão uma chance a uma nova vida, sem o peso dessa escolha drástica. 


A partir da relação entre os quatro suicidas, se abrem pautas polêmicas (principalmente para a nossa cultura), como, por exemplo, o que acontece após a morte, qual destino nos espera depois do fim, e as motivações e consequências ligadas à escolha de encerrar antes da hora sua passagem nessa terra.

Essas questões partem das dores que levaram cada uma das personagens àquele lugar. No grupo estão uma ginasta paraplégica, presa a uma cadeira de rodas, um youtuber mirim que não queria a fama, uma mãe que perdeu a filha e um coach motivacional que não vivia aquilo que pregava. 


E quem os orienta é o protagonista, uma espécie de anjo ou agente da morte. Tudo se passa em uma Itália que se afasta dos famosos cartões postais - talvez uma alusão do diretor a uma cidade não identificada, tal qual o além para nós, que aqui estamos. 

Se o tema parece denso, a direção consegue inserir leveza, reflexões e uma pitada de humor. Não só por conta do roteiro, mas pelas personagens construídas e por algumas interpretações. Destaque para o carismático garoto Gabriele Cristini. Não é uma obra que leva a um clímax exuberante, mas também não provoca sono. 


Embora a música marque presença sem muita originalidade (talvez até meio clichê), a acidez do texto em certos momentos e algumas escolhas de filmagem, como a câmera que passeia acima do cemitério, exibindo uma “cidade dos mortos” tiram o espectador do marasmo. 

Pode ocorrer também um incômodo diante dos diálogos e provocações acerca das motivações, das convenções sociais e morais. E aí “O Primeiro Dia da Minha vida” cumpre seu papel. Faz com que o público saia diferente do cinema com essa experiência, ou leve consigo algo dessa obra. 

Concordando ou não com a resposta apresentada em certo diálogo do filme sobre a vida e o autoextermínio, o longa traz questões filosóficas a partir do carisma do elenco e de uma proposta interessante.      


Ficha técnica:
Direção: Paolo Genovese
Produção: Lotus Production
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h01
Classificação: 16 anos
País: Itália
Gênero: Drama

29 fevereiro 2024

Filme “Eu, Capitão” expõe drama de refugiados de maneira condescendente

Seydou Sarr e Moustapha Fall dão vida a Seydou e Moussa, dois primos senegaleses que são os protagonistas desta história (Fotos: Pandora Filmes)


Eduardo Jr.


Com a bagagem de 11 prêmios conquistados no Festival de Veneza, chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (29), o filme “Eu, Capitão”. Com distribuição da Pandora Filmes, o longa do diretor italiano Matteo Garrone ("Gomorra", 2008) conta a história de dois adolescentes que sonham em sair da África e viver na Europa. 

Embora seja um assunto já saturado pelos telejornais, o longa conseguiu um feito: está entre os indicados ao Oscar 2024 de Melhor Filme Internacional. 

Parte dessa conquista se deve aos protagonistas. Seydou Sarr e Moustapha Fall dão vida a Seydou e Moussa, primos senegaleses que nos convidam - com muita expressividade - a embarcar nessa viagem. 


Os jovens trabalham escondido para juntar dinheiro e custear a viagem clandestina rumo à Europa. Como todo adolescente, eles ignoram a mensagem do velho curandeiro (que mais parece um alerta) para olharem para seus antepassados. 

A história mostra de forma clara (ou seria na pele clara?) que o velho continente não quer abrir espaço para eles ou seus sonhos. Mas eles partem assim mesmo. 

Ao abordar a crise dos refugiados e exibir um passo a passo da travessia clandestina, fica claro que a violência, o desespero e a volta por cima marcarão presença no filme. O problema é que a obra não se detém no "por que" ou no "quem ganha com isso" ao expor as peças de uma engrenagem de exclusão, ou a exploração que alguns negros praticam contra outros negros. 


As camisas de grandes times de futebol europeu estão lá no figurino, mas o que esses clubes têm com isso ou o que fazem para aplacar a dor daqueles migrantes? Essa pergunta parece não interessar ao diretor, que se apoia em uma dura e triste realidade para contar uma história, mas a vende como ficção ao ignorar questões importantes. 

O diretor revelou, em uma entrevista de divulgação, que ouviu a história de um garoto de 15 anos que pilotou sozinho um barco de refugiados a caminho da costa italiana, salvando todos os passageiros.  


O longa consegue transmitir a ideia de uma saga. Os adolescentes viajam de ônibus, caminhão-baú, embarcam numa caminhonete, e atravessam o deserto a pé. Só isso já seria suficiente para mostrar que a travessia é longa e sofrida, mas as cenas no deserto, por mais bonitas que possam ser, não livram o espectador de um certo cansaço. 

A compensação vem de algumas construções, que flertam com o onírico, com a poética mitologia local, e da mensagem de que tudo o que essas pessoas têm, são uns aos outros, simbolizada na rede de apoio criada para que possam se ajudar quando longe da terra mãe. Destaque para a cena do anjo na prisão. 


Como o título sugere, o capitão vai pilotar o barco de refugiados. E é de se esperar sucesso na missão. Claro, a viagem não será um mar de rosas. Mas o longa cumpre seu papel de entregar uma saga (mesmo vendendo a ideia de que chegar a um país estrangeiro sem nada é uma vitória). 

Além do desafio da travessia, o longa também terá outro caminho difícil: desbancar os correntes ao Oscar na mesma categoria. “Eu, Capitão” concorre com “A Sociedade da Neve”, “Dias Perfeitos”, “A Sala dos Professores” e “Zona de Interesse”. A cerimônia de entrega da estatueta dourada acontecerá em Los Angeles, no dia 10 de março. 


Ficha Técnica:
Direção:
Matteo Garrone
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: no Cineart Ponteio e no Centro Cultural Unimed-Minas
Duração: 2h01
Classificação: 14 anos
Países: Itália, Bélgica, França
Gêneros: drama, suspense, guerra

06 fevereiro 2024

“Moneyboys” aborda prostituição masculina e drama particular

Filme dialoga com temas universais enquanto tenta emocionar público (Fotos: Pandora Filmes/Divulgação)


Eduardo Jr.


Chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (8) o longa “Moneyboys”. Distribuído pela Pandora Filmes, o trabalho do diretor e roteirista chinês C.B Yi é de 2021. Já foi exibido em Cannes e só agora desembarca por aqui. E nele, um jovem que vive da prostituição carrega o preconceito da família, marcas de uma situação do passado e um desejo de recomeço. 

O filme se abre como um curta. O jovem Fei (Kai Ko) é recebido em um apartamento por Xiaolai (J.C. Lin), de roupas extravagantes, que já esperava por ele. O espectador até imagina que os dois vão se relacionar, mas, na verdade, os jovens estão ali para um programa a três com um cliente. Está dada a tônica do filme: há mais do que se imagina ou se vê.       


Vindo de um vilarejo, o inocente Fei se envolve com o já experiente ex-namorado. No entanto, a falta de maldade e de maturidade coloca o jovem em uma situação de risco. Apaixonado, Xiaolai toma uma atitude pra defender o namorado, que será crucial para o filme. 

A partir dali uma câmera nervosa, enquadramentos muito planejadinhos (em cenários falsos em demasia) e tons de lilás e vermelho acompanham a angústia de uma vida sem afeto e marcada pelo preconceito. E só então se tem o nome do filme na tela, como se um curta-metragem marcasse o ponto de partida da história. 


Mesmo sendo uma produção oriental, algumas abordagens são muito familiares a nossa cultura. Por exemplo, a violência associada à prostituição, a hipocrisia da família do protagonista, que aceita o dinheiro de Fei, mas não sua orientação sexual nem seu estilo de vida, o falso moralismo e a necessidade de manter as aparências perante a sociedade. 

Tais impressões podem sugerir um drama emotivo, ou talvez mais quente, mas este é um longa sem arroubos. E parece até haver dois filmes dentro de um só, quando um conhecido de Fei, Long (Bai Yu Fan) decide também sair do vilarejo e ir atrás dele na cidade. O foco da obra vai se direcionando mais para a entrada do novato no mundo da prostituição do que para a busca por soluções pelo protagonista. 


Mas o resgate da trama acontece, quando o passado vai ressurgindo e Fei precisa fechar algumas feridas, enxergar que vive de dar um afeto comprado aos clientes sem conseguir desfrutar de amor próprio ou envolvimentos sentimentais. 

O sentimento, inclusive, foi um dos propulsores do diretor para realizar o filme. De nacionalidade chinesa, C. B. Yi passou a adolescência na Áustria. Fez questão de ambientar sua história na China rural, falando da migração para a cidade, porque não conseguiria colocar as situações da trama em cidades europeias sem o mesmo contexto de violência. 


Direção 

Se o diretor se apoia nas lembranças e na ligação de décadas atrás com o país de nascença, é justamente a conexão com o passado que falta ao roteiro e ao protagonista. Não se sabe quando ou por que Fei saiu do seu vilarejo, ou quem é o cafetão responsável por agenciar os garotos de programa. 

Sem um passado, sem a família, amigos nem amores, o protagonista tem lembranças de alegrias recentes (mas a tentativa de evocar um flashback falha na execução técnica, com uma viagem ao passado que não tem cara de lembrança). Filme que pode ocupar o tempo, mas não deixa saudade. 


Ficha Técnica:
Direção e roteiro:
C. B. Yi
Produção: Panache Productions, Arte France Cinéma, Zorba Production, KGP Kranzelbinder Gabriele Production
Exibição: nos cinemas
Duração: 2 horas
Classificação: 14 anos
Países: Taiwan, Áustria, França, Bélgica
Gênero: drama

03 janeiro 2024

"O Melhor Está Por Vir" une homenagem ao cinema e relato pessoal do diretor

Nanni Moretti interpreta um diretor de cinema com dificuldades para concluir seu filme sobre o partido comunista italiano (Fotos: Pandora Filmes/Divulgação)


Eduardo Jr.


Se a realidade é dura, no cinema é possível encontrar a satisfação. Essa pode ser uma das conclusões do filme "O Melhor Está Por Vir" ("Il Sol dell’Avvenire"). Nanni Moretti dirige, colabora no roteiro e é o protagonista do longa, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (4), distribuído pela Pandora Filmes. 

Moretti encarna o diretor de cinema Giovanni, que deseja fazer um filme ambientado na Roma dos anos 1950 sobre a posição do partido comunista da Itália durante a invasão da Hungria pela União Soviética. No entanto, a obra tem dificuldades para ser finalizada porque o diretor controla o set, mas não algumas situações da vida real. 


Para concluir seu longa-metragem, Giovanni precisa lidar com questões financeiras, com um mundo que não se importa com o passado histórico retratado na obra, uma atriz que tem outra visão sobre o filme, as transformações do mercado de audiovisual e o fim do seu casamento. 

Se na vida particular ele é controlador e não se atenta aos sentimentos nem às relações, no filme dentro do filme o romance também é sufocado. O protagonista (que leva o mesmo nome do diretor) é focado em seu trabalho no jornal, ignorando o interesse da mulher recém-chegada que se torna integrante da equipe. 


As histórias vão se alternando na tela. Embora estejam bem separadas, parecem conter elementos uma da outra, como a arte imitando a vida. Soa até biográfico em alguns momentos (até porque o nome de Nanni Moretti também é Giovanni). É uma homenagem à sétima arte e também um relato confessional. 

As críticas contidas no longa parecem pessoais. Como, por exemplo, as colocações do protagonista sobre a violência no cinema moderno. A autocrítica também se apresenta, por meio da arrogância no ambiente majoritariamente masculino do set, pela ousadia de querer dar palpite, interferir nas escolhas profissionais de outras pessoas.  


Ainda assim, o longa é uma comédia com tom sentimental. Não oferta muitas expectativas ou reviravoltas, mas apresenta momentos divertidos. A cena do protagonista cantando no carro e dos demais atores fazendo um coro alegra a obra. 

Também explicam um pouco do que a trama apresenta. Se o longa realmente merece os elogios recebidos desde sua estreia em Cannes, só indo ao cinema pra tirar suas conclusões. 


Ficha técnica:
Direção: Nanni Moretti
Produção: Rai Cinema, France 3 Cinema, Fandango, Sacher Film, Le Pacte
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nas salas do UNA Cine Belas Artes e Centro Cultural Unimed-BH Minas
Duração: 1h35
Classificação: 12 anos
Países: Itália e França
Gêneros: comédia, drama

13 dezembro 2023

"Uma Carta para Papai Noel" - um filme para ser assistido com o olhar de uma criança

No longa, o bom velhinho atende a um pedido e vem ao Brasil para desvendar o mistério do desaparecimento dos presentes de
crianças órfãs (Fotos: Okna Produções)


Maristela Bretas


Fazer um filme para a criança pode parecer muito fácil, mas não é bem assim. Mesmo a criança não se preocupando em analisar se a interpretação foi boa, se tem erro de continuidade, se tem defeitos visuais. A pureza no olhar de uma criança, especialmente para um filme sobre Natal e Papai Noel, é diferente do olhar de um adulto. "Uma Carta para Papai Noel", que estreia nesta quinta-feira nos cinemas, é exatamente isso: uma produção que tem magia, emoção, encanto, o bom velhinho e seus divertidos ajudantes, voltado para crianças de até sete anos e para a família. 


No longa, Papai Noel (papel de José Rubens Chachá) recebe uma carta de Jonas (Caetano Rostro Gomes), de 8 anos que vive em uma casa de acolhimento. Ele quer saber como o bom velhinho está passando, o que faz na vida quando não é Natal e aproveita para perguntar por que ele e seus amigos nunca receberam presentes. O bom velhinho fica emocionado e resolve vir ao Brasil investigar esse mistério. Além da parte de estúdio, foram escolhidas para as locações das filmagens as cidades gaúchas de Porto Alegre, Viamão e Santa Tereza. 


Dirigido por Gustavo Spolidoro, o filme tem algumas falhas e até situações fora de propósito, com algumas cenas que lembram uma viagem psicodélica, que somente um adulto vai perceber. Mas na sessão que eu fui no @Cineart havia uma criança com a mãe e o olhar dela foi diferente, de encantamento. Ela se emocionou, bateu palmas, curtiu muito. Se o objetivo do diretor e dos produtores era atingir o coração deste público infantil, eles conseguiram, até mesmo de alguns marmanjos.


Além de Caetano Rostro, os demais personagens infantis são interpretados por Mariana Lopes (Alana), Lívia Borges Meinhardt (Beca), Cecília Guedes (Pri) e Theo Goulart Up (Cabeleira), que receberam a preparação de Adriano Basegio (que também faz uma ponta como o Sr. Peabody). 

Também no elenco adulto estão as atrizes Totia Meirelles (Mamãe Noel), Polly Marinho (que interpreta Tatá, a engraçada e sem noção ajudante do Papai Noel), e Elisa Volpatto (Leia, administradora da casa de acolhimento). 

Destaque para a trilha sonora, assinada por Arthur de Faria e parceria com Fernanda Takai, que gravou a música-tema,  e a participação da banda mineira Pato Fu com uma versão inédita do sucesso "Sobre o Tempo" (John Ulhoa, 1995), feita para o projeto infantil Música de Brinquedo, criado pelo grupo. 


Outro diferencial do filme "Uma Carta para Papai Noel" é que ele conversa com o público, especialmente no final. O elenco tem uma surpresa bem legal para a meninada e a família. Fica a dica: deixe o celular à mão, você vai precisar dele. 

E lembre que é um filme para toda a família para ser curtido no cinema, especialmente por ser uma produção brasileira, que precisa ser valorizada. Não se importe se há falhas, assista como criança, porque para ela o que vale é a magia e o encanto do Natal.


Ficha técnica:
Direção: Gustavo Spolidoro
Produção: Okna Produções
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h40
Classificação: Livre
País: Brasil
Gêneros: fantasia, família, infantil

05 outubro 2023

Filme "Nostalgia" aborda tentativa de resgatar o passado

Produção italiana é baseada em romance homônimo de Ermanno Rea e tem Pierfrancesco Favino como protagonista (Fotos: Pandora Filmes/Divulgação)


Eduardo Jr.


Voltar pra casa para resgatar uma amizade parece algo bonito. Mas não é exatamente o que se vê no novo filme de Mario Martone, “Nostalgia”, distribuído pela Pandora Filmes, que estreia nesta quinta-feira (5).

Baseado no livro homônimo do escritor italiano Ermanno Rea, publicado em 2016, o longa traz o drama de um homem que retorna à sua cidade natal 40 anos depois.


O protagonista Felice, vivido por Pierfrancesco Favino (“Anjos e Demônios”, 2009), vive no Cairo, tem uma vida estável, se converteu à religião muçulmana e decide viajar para a cidade onde nasceu e passou a juventude. 

A princípio, o objetivo é cuidar da mãe idosa (Aurora Quattrocchi, que tensiona brilhantemente a trama). Mas a real intenção se mostra quando ele pergunta sobre um amigo de infância. 


Assim como Felice está voltando pra casa, o diretor Italiano Mario Martone também está voltando seus olhos para sua cidade natal. Nascido em Nápoles, Martone aborda de forma recorrente algumas páginas e personagens da história napolitana e da Itália. 

Entre essas obras estão “O Rei do Riso” (2022), “O Prefeito de Rione Sanità” (2019), “Capri-Revolution” (2018), “Leopardi: Um Jovem Fabuloso” (2014), “Nós Acreditávamos” (2011), “Caravaggio - The Last Act” (2005), “O Odor do Sangue” (2004) e “Morte de um Matemático Napolitano” (1992). 


Em “Nostalgia” a câmera acompanha Felice, e a profundidade de campo apresenta ao espectador a arquitetura napolitana e sua beleza decadente. Um reforço da informação que o texto oferece, de que Nápoles está entregue à criminalidade. 

A pauta da violência abre mais um assunto abordado no longa. Oreste (Tommaso Ragno), o melhor amigo do protagonista, se tornou uma das lideranças do crime. Já o padre Luigi Rega (Francesco Di Leva) de quem Felice se aproxima, é quem tenta evitar que jovens da cidade sejam cooptados pelos criminosos.    


Os flashbacks apresentados em uma mini tela mostram como aquela amizade (ou amor) do passado foi sinônimo de alegria - e como tinha tudo para trazer problemas. 

Aqui, desponta algo que pode ser lido, talvez, como inocência do protagonista: querer voltar para resgatar um passado que se rompeu abruptamente, mesmo que sua presença não pareça ser desejada. 


O muçulmano Felice volta a frequentar a igreja católica e até bebe vinho. Neste ponto se revela a opção do diretor de não explicar muito as situações e as questões sentimentais. Fica no ar se a mudança do protagonista é por uma obsessão com o passado, se o padre Luigi está apresentando o protagonista para toda a cidade e dando vinho a ele para ajudá-lo a se enturmar, ou se é por outra razão.    

'Nostalgia” é um filme de memórias. De silêncios e perguntas sem respostas que falam muito. Obra marcada por uma interpretação precisa de Pierfrancesco Favino. 

Apesar do desfecho se apresentar como previsível na segunda metade do filme, a obra pode agradar, seja pela fotografia, pela dramaticidade ou pela reflexão acerca do que a nostalgia pode fazer.  


Ficha técnica:
Direção: Mario Martone
Roteiro: Mario Martone e Ippolita di Majo
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h57
Classificação: 14 anos
País: Itália
Gênero: drama

31 julho 2023

“Disco Boy - Choque Entre Mundos” chega ao Brasil ostentando prêmio em Berlim e proposta confusa

Diretor italiano Giacomo Abbruzzese faz sua estreia em longas com obra complexa (Fotos: Divulgação)


Eduardo Jr.


Lá se vai o mês de julho, em que os cinemas exibem filmes de fácil leitura para atrair principalmente jovens em férias. A nova fase das salas de exibição começa no dia 3 de agosto, com um filme difícil. A estreia do primeiro longa-metragem do cineasta italiano Giacomo Abbruzzese, “Disco Boy - Choque Entre Mundos”. A distribuição é da Pandora Filmes. 

A obra chega carregando o Urso de Prata de Melhor Contribuição Artística no Festival de Berlim deste ano. Mas não se engane. O ‘choque entre mundos’ proposto no título poderia ser substituído por ‘universos que apenas se resvalam’. 


Na trama, duas histórias correm paralelamente - com pitadas de mistério, drama e aventura. De um lado está Aleksei (Franz Rogowski), que sai da Bielorrússia com um plano para se alistar na Legião Estrangeira, e assim obter a cidadania francesa. Do outro está Jomo (Morr N’Diaye), um guerrilheiro do Níger, que luta contra a exploração européia que vem tornando escassos os recursos necessários à sobrevivência de sua aldeia. 

As duas histórias, obviamente, se encontram. Mas não como esperado. O longa se inicia com uma cena de soldados negros dormindo na mata. Cria-se ali a expectativa de que a trama dos africanos tenha destaque, mas o cineasta sequer se esforça em apresentar os componentes daquele núcleo ou o passado deles. 


Apenas num raro momento de abertura dessas personagens é que Jomo, líder da guerrilha africana, é questionado sobre o que ele teria sido caso tivesse nascido do outro lado do rio. Ele responde que seria “um disco boy”, que subiria no palco e se deixaria levar pela música, ignorando dilemas externos. 

O mesmo desejo de libertação tem Aleksei, que mesmo sendo branco, vivendo outra realidade, também busca na música e na dança se esquecer de suas batalhas particulares e da guerra que enfrenta junto da Legião Estrangeira. 


Branco e negro têm desejos semelhantes, que parecem simples. Suas existências se entrelaçam. Mas um deles tem seu universo mais esmiuçado, ocupa a tela por grande parte do filme. 

Enquanto o mundo do outro parece mero recurso para se fechar uma história; não como ponto de embate, mas como escada para os dilemas do protagonista. Resvala com a realidade do homem branco e adeus.   

Os dois são colocados frente a frente no campo de batalha, quase espelhados. O efeito de visão noturna escolhido pelo cineasta para o embate entre protagonista e antagonista fica bonito na tela, prende a atenção do espectador. 


Mas dura pouco para que, na sequência, sejam apresentados os estragos feitos pelo colonialismo europeu. Essa crítica fica perdida, pois não se sabe se é da personagem Aleksei ou do próprio cineasta. 

As tentativas do diretor de mostrar que as escolhas da vida não são simples e podem trazer consequências exigem do público concentração e capacidade de análise. Não só porque parecem habitar apenas na cabeça do cineasta, sem estarem expressas com clareza na tela, mas porque também são costuradas com cenas dúbias, delirantes. 


A irmã de Jomo, Udoka (Laetitia Ky), também gosta de dançar e se torna desejo inalcançável de Aleksei. Jomo, que foi morto por Aleksei, reaparece (se de forma onírica ou não, você decide). E nessa mistura confusa, o bielorrusso parece sofrer para escolher entre a cidadania francesa e a herança louca da guerra. 

Ao espectador, resta o esforço de interpretar metaforicamente a dança que embala o final do longa. Prepare-se para um filme difícil. Uma viagem sem por que ou pra quê. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Giacomo Abbruzzese
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h32
Classificação: 12 anos
Países: Bélgica, França, Itália, Polônia
Gênero: drama

12 julho 2023

"A Noite do Dia 12" denuncia a violência presente em diversas esferas da sociedade

Destaque para as ótimas atuações de Bastien Bouillon e Bouli Lanners como os investigadores (Fotos: Fanny de Gouville/Haut et Court)


Carolina Cassese
Blog no Zint


Com estreia exatamente nesta quarta-feira (12) e direção de Dominik Moll, o longa "A Noite do Dia 12" é inspirado numa história real que virou livro pelas mãos da escritora francesa Pauline Guéna. 

Na noite de 12 de outubro de 2016, em Saint-Jean-de-Maurienne (Savoie), uma jovem de 21 anos, Clara Royer (Lula Cotton-Frapier), foi assassinada por um homem encapuzado, quando voltava de uma noite com amigos. 


Sabemos que, infelizmente, esse caso de feminicídio não representa um incidente isolado - no nosso país, por exemplo, há inúmeros registros de mulheres que são assassinadas, especialmente por namorados ou ex-companheiros. 

Diante desse quadro preocupante é primordial que o cinema contemporâneo trate dessa questão e nos faça refletir acerca das muitas dimensões do problema. Desde o começo do filme, que está em cartaz nos cinemas, o espectador está ciente de que o assassinato não será solucionado. 


Tal aviso é bem-vindo, já que, por esse motivo, compreendemos de antemão que o longa não seguirá a cartilha dos clássicos filmes de detetive. O que nos faz ficar com os olhos grudados na tela mesmo sem a iminência de descobrir quem é o assassino? 

A resposta possivelmente diz respeito ao eficiente ritmo do filme e, ainda, às ótimas atuações de Bastien Bouillon (Yohan) e Bouli Lanners (Marceau), que fazem o papel dos investigadores. No César de 2023, principal premiação do cinema francês, o longa foi o grande vencedor da noite, levando inclusive as estatuetas de Melhor Filme e Melhor Direção. 


Outro mérito do trabalho de Moll é mostrar que, por mais que a autoria daquele episódio seja individual, existe uma responsabilidade coletiva acerca de crimes cometidos contra a mulher. Em determinado momento, o investigador Yohan chega a dizer que todos os homens mataram Clara, inclusive porque ela foi vítima de diferentes tipos de violência. 

Mesmo após o assassinato, um cantor se sente no direito de fazer brincadeiras sobre sua trágica morte. Além disso, sabe-se que, em casos de crimes contra as mulheres, muitos representantes da (suposta) justiça acabam culpabilizando a vítima pelo ocorrido. Nesse sentido, fica evidente que o feminicídio é um problema sistêmico e bastante complexo.


Parte da inventividade de "O Crime É Meu", longa francês em cartaz no Cineart Ponteio e UNA Cine Belas Artes, está justamente na subversão desse cenário, já que, no filme de François Ozon, são as mulheres que matam os pares masculinos por motivos banais, numa espécie de vingança contra abusos naturalizados cotidianamente. 

Na vida real, evidentemente, ninguém deveria ser morto por razão alguma. Mas ao inverter a situação ficcionalmente, Ozon evidencia o absurdo da realidade em que estamos inseridos. 


"A Sindicalista", em cartaz também no UNA Cine Belas Artes, é outro filme que mostra como as engrenagens do sistema muitas vezes são programadas para operarem contra a mulher, transformando a vítima em culpada.

Angustiante e visceral, "A Noite do Dia 12" não é um filme fácil de assistir. No entanto, o novo trabalho de Dominik Moll é muito eficiente em prender a atenção do espectador e em denunciar como a sociedade patriarcal pode ser conivente com crimes cometidos contra a mulher. 


Se, por um lado, às vezes necessitamos apenas de um filme feel good para descansar a cabeça, em outros momentos precisamos encarar nossa realidade e nos movimentar a partir da indignação. Um soco no estômago, portanto, é bem-vindo para nos tirar da inércia.


Ficha técnica:
Direção: Dominik Moll
Roteiro: Gilles Marchand e Dominik Moll
Produção: Haut et Court
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h55
Classificação: 16 anos
Países: Bélgica, França
Gêneros: drama, suspense, policial

16 junho 2023

Curioso e diferente, "A História de Minha Mulher" vale pelo estranhamento e sensualidade

Romance com Léa Seydoux e Gijs Naber concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes
(Fotos: Pandora Filmes)


Mirtes Helena Scalioni


Estranho. Muito estranho. Talvez seja essa a melhor definição para "A História de Minha Mulher", produção francesa baseada no livro homônimo do escritor húngaro Milán Füst que está em cartaz no UNA Cine Belas Artes. A começar pela direção, da pouco conhecida cineasta húngara – pelo menos no Brasil - Ildikó Enyedi, que também cuidou do roteiro. 

O filme é repleto de situações improváveis e, às vezes, inverossímeis. E causa tanto estranhamento que pode estar aí, na curiosidade que acaba provocando no espectador, seu mérito maior.


Jacob Störr (Gijs Naber) é um capitão do mar de nacionalidade até certo ponto indefinida que, até onde se sabe, é competente e corajoso, mas tem problemas estomacais, embora o chef de cozinha da embarcação lhe sirva as mais apetitosas e caprichadas refeições. “Para os males do estômago, o melhor é o casamento”, orienta o cozinheiro. A partir daí, começa a estranha trama.

Como o espectador não sabe nada sobre a história de vida de Jacob Störr, o estranhamento continua quando ele decide pedir em casamento a primeira mulher que lhe aparece pela frente: a francesa Lizzy, interpretada por Léa Seydoux (“007 - Contra Spectre" - 2015; “007 - Sem Tempo para Morrer” – 2021 e “A Bela e a Fera” – 2014 ), que esbanja sensualidade, mas de quem também não se sabe nada.


A sedução, aliás, está o tempo todo no filme, cheio de jogos, olhares, sorrisos, poses. Gijs Naber, o ator holandês que interpreta o capitão, é belo, viril, charmoso e enigmático. O casal, enfim, é mesmo irresistível, embora as cenas de sexo sejam às vezes lentas e excessivamente coreografadas. Chama a atenção uma dança do casal em uma festa, verdadeiro show de sensualidade e beleza.

Para completar o estranhamento, o longa é dividido em capítulos. São sete, cada um com um nome específico. Outro detalhe: em nenhum momento o espectador é informado sobre a época em que se passa a trama. Presume-se, pelo figurino impecável e lindo, os carros e o excesso de cigarros, que tudo se passa nos anos de 1920. 


Além de Gijs Naber e Léa Seydoux, estão no filme, em papeis que apenas servem de escada para o casal, Luna Weder como Grete, e Louis Garret como Dedin, entre outros.

Como nada é óbvio e há sempre interrogações sobre a fidelidade de Lizzy quando o marido está no mar, "A História de Minha Mulher" vale pela dúvida, pelas belas imagens (foi filmado em Budapeste) e por uma ou outra reflexão sobre a vida, a obsessão, o mar, o casamento. O filme, enfim, vale por ser curiosamente estranho.


Ficha técnica
Direção e roteiro:
Ildikó Enyedi
Distribuição: Pandora Filmes
Duração: 2h49
Classificação: 14 anos
Países: Alemanha, França, Hungria e Itália
Gênero: drama romântico