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21 julho 2024

"Eu Sou: Celine Dion" um relato da fragilidade e dos dias sombrios da artista

Documentário mostra o amor da artista em se apresentar em público, o desejo de voltar aos palcos e a paixão por sapatos (Reproduções Prime Video)

 

Marcos Tadeu


"Eu Sou: Celine Dion" é um dos bons documentários que vale a pena ser assistido no Prime Video. A produção revela um lado desconhecido da cantora canadense, mostrando sua rotina diária entre os afazeres de uma estrela, a vida doméstica, os momentos de vulnerabilidade. Além da paixão por sapatos - mais de 10 mil pares de diversos tamanhos -, guardados num depósito em Las Vegas, cidade onde a artista mora.


Celine Dion alcançou fama mundial nos anos 1990 com sucessos como "My Heart Will Go On" (da trilha sonora de "Titanic”), "The Power of Love" e "Because You Loved Me". Ganhou cinco Grammys Awards, incluindo Álbum do Ano e Melhor Performance Vocal Pop Feminina. 

E foi na entrega do Grammy de 2024, no dia 4 de fevereiro, que ela fez uma aparição surpresa ao anunciar o prêmio de Melhor Álbum do Ano, conquistado por Taylor Swift.

Conhecida por sua poderosa voz e emocionantes baladas, Dion vendeu mais de 200 milhões de álbuns globalmente. Além de sua carreira musical, realizou uma bem-sucedida passagem por Hollywood, com participações no cinema, como em "Era uma Vez... Deadpool" (2018)


Dirigido por Irene Taylor, o documentário nos apresenta a artista em seus dias comuns e como ela se tornou o sucesso atual, sem seguir uma linha cronológica. Conhecemos o auge de sua carreira, a relação com a família, e descobrimos que Céline Marie Claudette Dion é a mais jovem de 14 irmãos, todos com um amor pela música.

René Angélil, seu marido, também tem um papel importante no documentário, mostrando como o casal lidou com o nascimento de seus filhos em meio à fama e aos holofotes.


O documentário apresenta um dos aspectos mais comoventes da vida da cantora e compositora: seu diagnóstico de Síndrome da Pessoa Rígida (SPR), uma doença neurológica rara e autoimune, que causa rigidez e espasmos musculares dolorosos. 

Celine fala abertamente sobre suas dificuldades e sentimentos, contrastando com suas palavras de gratidão por tudo o que conquistou. Ela brilha e comove o público, especialmente quando vemos como a doença afetou o instrumento mais potente de sua vida - a voz.


Apesar da força do documentário, senti falta de depoimentos de pessoas próximas a Celine. Ouvir a família e amigos que a acompanham poderia reforçar a mensagem de que, mesmo sendo uma grande estrela, ela é frágil em seus momentos e não precisa ser forte o tempo todo. 

"Eu Sou: Celine Dion" é um convite para conhecer os dias sombrios da artista de maneira crua, forte e bela, impactando profundamente seu público e oferecendo a oportunidade para novos fãs conhecerem mais de sua história. Emocionante!


Ficha técnica:
Direção e roteiro:
Irene Taylor
Produção: Amazon MGM, Sony Music Entertainment, Vermilion Films
Exibição: Prime Video
Duração: 1h42
Classificação: Livre
Países: Canadá e EUA
Gêneros: documentário, musical

05 julho 2024

“Orlando, Minha Biografia Política” adapta obra de Virgínia Woolf com mistura de gêneros

Livro da escritora inglesa ganha eco entre as novas gerações com longa de diretor trans (Fotos: Filmes do Estação)


Eduardo Jr.


Paul B. Preciado estreia na direção cinematográfica de mãos dadas com Virginia Woolf. O livro “Orlando”, da escritora inglesa, foi adaptado e chega às telonas sem se encaixar em um único gênero. “Orlando, Minha Biografia Política” é ficção e é documentário. 

Algo muito coerente, se considerarmos que o diretor, filósofo e ativista trans, que nasceu Beatriz e se tornou um dos principais pensadores contemporâneos das novas políticas do corpo, gênero e sexualidade, também desafia a binaridade. A distribuição é da Filmes do Estação.  Em Belo Horizonte, o longa pode ser conferido no Cine UNA Belas Artes.


No livro, lançado em 1928, o protagonista um dia acorda no corpo de uma mulher, dando início aos questionamentos acerca dos comportamentos e diferenças entre gêneros. O longa de Preciado também segue a premissa da transformação, mas parte de uma carta do diretor para a escritora (falecida em 1941), dizendo que Orlando saiu das páginas, está vivo, e se transformando diariamente

O elenco, composto de 25 pessoas trans e não binárias, desfila na tela, hora atuando, hora fazendo relatos pessoais. Ao vestir um acessório de época é como se estivessem personificando o protagonista das páginas da escritora inglesa. Soma-se à fala desses atores a narração de trechos do livro, o que expõe a fragilidade do diretor em construir um desenvolvimento imagético. Cenas monótonas de algo que já está sendo contado puxam pra baixo a energia do filme. 


A força fica por conta da mensagem. O texto vai imprimindo na compreensão do público que, se a cada dia nos modificamos em relação ao ontem, as pessoas trans também estão realizando uma transformação, no entanto, não encontram aprovação social. Ao contrário, na época do "Orlando" de Virginia Woolf, atravessar as fronteiras de gênero era um atestado de necessidade de tratamento psiquiátrico, uma doença a ser curada. Alguma semelhança com os dias atuais?  

O mérito da obra talvez resida na coragem de apresentar de tal maneira os escritos das páginas de Virginia. As dores, a libertação, os desafios e a beleza da vitória dessas 25 pessoas/atores/atrizes provando que são herdeiros de uma história apagada, reforçam a noção de que, assim como o Orlando de 1928, outras existências também vão atravessar gerações. 


O longa também pode garantir uma vida longa, se depender de reconhecimento. Vencedor do Teddy Award e do Prêmio Especial do Júri da mostra Encounters no Festival de Berlim de 2023, o filme chega às telonas do país como vencedor da categoria Melhor Documentário do Prêmio Félix, honraria do Festival do Rio que destaca narrativas LGBTQIAPN+ no audiovisual. 

Também foi escolhido como Melhor Longa-Metragem Internacional do Festival Mix Brasil, além de participar do Festival Varilux. Se não é só documentário e nem é só ficção, pode ser descrito como um filme interessante.   


Ficha técnica:
Diretor e roteiro: Paul B. Preciado
Produção: Les Films du Poisson, 24 Imagens e Canal Arte França
Distribuição: Filmes do Estação
Exibição: Cine UNA Belas Artes - sala 3, sessão às 20h30
Duração: 1h38
Classificação: 14 anos
País: França
Gêneros: drama, documentário

02 julho 2024

"A Flor do Buriti": ode ao povo Krahô e à resistência indígena

Fotografia alterna entre planos abertos e detalhes, revelando o cotidiano e os diálogos de uma vivência indígena (Fotos: Renée Messora)


Silvana Monteiro


Uma produção feita por três nações. Este é o longa "A Flor do Buriti", distribuído pela Embaúba Filmes, que entra em cartaz nesta quinta-feira (4), no Centro Cultural Unimed BH-Minas. O roteiro é assinado pelo português João Salaviza, pela brasileira Renée Nader Messora e pelos integrantes do povo Krahô - Ilda Patpro Krahô, Francisco Hyjnõ Krahô e Henrique Ihjãc Krahô.

Produzido por Julia Alves e Ricardo Alves Jr., da produtora mineira Entre Filmes, a história oferece uma visão documental e holística da vida dos Krahô. O documentário foi filmado durante 15 meses em quatro aldeias diferentes, dentro da terra indígena Kraholândia.


A fotografia alterna entre planos abertos, e planos detalhe, que revelam o cotidiano e os diálogos autênticos de uma vivência indígena. Essa abordagem cinematográfica consegue traduzir o sentimento de um povo cuja história esteve à beira da extinção.

O pajé e os demais parentes do povo Krahô realizam um ritual entoando um cântico à flor do buritizeiro. Curumins com flechas tentam proteger a mata e a aldeia. A menina Jotat é perturbada em seus sonhos por espíritos. 


Sempre vigilante, a curumim que habita o território Pedra Branca, na Kraholândia, norte de Tocantins, preocupa-se com a chegada dos cupé (invasores) à sua terra. Lapsos da memória ancestral marcada pela violência dos fazendeiros criadores de gado.

São cenas das crianças que se misturam à natureza, das mulheres trabalhando o artesanato nos capinzais, da arte marcada no rosto. Da busca pela proteção das aves, do velho índio em confronto para guardar seu povo e das conversas que revelam não só histórias mitológicas, mas também uma vida de luta pela sobrevivência. Todas enriquecem a obra e nos dão a sensação de estarmos ali, aldeados junto a eles.


As sombras do passado ainda assombram os Krahô. Enquanto uma mulher está prestes a dar à luz, seu marido vigia a porteira do território para impedir a expropriação dos bens naturais de seu povo. 

Simultaneamente, uma jovem envolvida em movimentos sociais se prepara para viajar a Brasília, onde participará da Mobilização Nacional dos Povos Indígenas ao lado da líder Sônia Guajajara, hoje Ministra dos Povos Indígenas.

"A Flor do Buriti" atravessa os últimos 80 anos dos Krahô, trazendo para a tela memorias e relatos de um massacre ocorrido em 1940, onde morreram dezenas de pessoas. Perpetrado por dois fazendeiros da região, as violências praticadas naquele momento continuam a despertare o espírito  guerreiro desse povo.


"A Flor do Buriti" é um retrato sincero da resiliência e da espiritualidade dos Krahô, celebrando a sua cultura e resistência diante das adversidades. É uma história que ressoa com força e urgência, convidando o espectador a uma profunda reflexão sobre a importância da preservação da cultura dos povos originários.

Premiações

Exibido em mais de 100 festivais ao redor do mundo, o filme recebeu o prêmio coletivo para melhor elenco na mostra Un Certain Regard, do Festival de Cannes. Também foi vencedor em 14 outros importantes festivais, como o de Munique (Cinevision Award), Lima (Prêmio Signis), Mar del Plata (Prêmio Apima Melhor filme Latino-Americano), Festival dei Popoli (Melhor Filme), Huelva (Prêmio Especial do Júri e Prêmio Melhor Filme Casa Iberoamérica), RIDM Montreal (Prêmio Especial do Júri), Biarritz, Viennale, e Forumdoc.BH.


Ficha técnica
Direção:
João Salaviza e Renée Nader Messora
Roteiro: João Salaviza, Renée Nader Messora, Ilda Patpro Krahô, Francisco Hyjnõ Krahô, Henrique Ihjãc Krahô
Produção: Entre Filmes
Distribuição: Embaúba Filmes
Exibição: Centro Cultural Unimed BH - Minas
Duração: 2h04
Classificação: 14 anos
Países: Brasil e Portugal
Gêneros: documentário, drama

02 março 2024

"A Noite que Mudou o Pop" e a vida de milhares de crianças

Documentário mostra os bastidores da gravação do clipe da música "We Are the World" em 1985
(Fotos: Netflix) 


Felipe Matheus
Comentando Sucessos


"Um encontro histórico, capaz de parar conflitos e fazer com que as pessoas tivessem fé e esperança de um mundo melhor. Este é o enredo de "A Noite que Mudou o Pop", documentário sobre os bastidores da gravação da música "We Are the World", composta por Michael Jackson e Lionel Richie e sucesso mundial, mesmo depois de tantos anos.

Foram 45 artistas norte-americanos e um sonho: levar ajuda humanitária para a África e proporcionar o melhor para milhares de crianças, vítimas da fome e de doenças, mas que precisavam também de amor. 

"We Are the World" foi o tema do projeto USA for Africa e arrecadou milhões de dólares que foram destinados àquele continente. A música ainda conquistou quatro Grammys no ano seguinte, incluindo o de Melhor Canção. Confira o clipe da música clicando aqui.


Essa história de sucesso começou em 28 de janeiro de 1985, logo após a premiação do American Music Awards. A gravação durou a madrugada inteira e acabou às 8 da manhã. O projeto, coordenado por Harry Belafonte e Lionel Richie, tendo como produtor e arranjador o grande Quincy Jones, reuniu um time de astros internacionais. 

Naquela madrugada estavam em um mesmo estúdio em Los Angeles, nomes como Michael Jackson, Cyndi Lauper, Bruce Springsteen, Stevie Wonder, Bob Dylan, Diana Ross, Tina Turner, Ray Charles, Dionne Warwick, Kenny Rogers, Paul Simon, entre outros artistas que fizeram sucesso nos anos 80.


Na entrada do estúdio, uma mensagem que transformaria quem ali chegasse: "Deixe seu ego na porta", enfatizando que o propósito não era sobre individualidade, mas sim ajudar e agir com uma perspectiva humanitária.

Lionel Richie declara no documentário que não foi fácil a criação com Michael: 'Nós éramos como duas crianças de 3 anos tentando sentar e focar em alguma coisa. Estávamos fazendo a maior bagunça. Relaxando na casa [de Michael] e vendo o cachorro brincar com um pássaro".

O documentário está disponível na Netflix, convidando você a reviver o encontro especial que mudou o pop, e entender sua importância como um clássico.


Ficha técnica:
Direção: Bao Nguyen
Produção: Netflix
Exibição: Netflix
Duração: 1h37
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: documentário, música


24 fevereiro 2024

“Amanhã” olha para o passado, o presente, o efeito do tempo e as questões sociais

Novo documentário de Mauro Pimentel tem como cenário a a Barragem Santa Lúcia, em Belo Horizonte
(Fotos: Gabriela Matos e Arquivo Pessoal)


Eduardo Jr.


Chega aos cinemas nesta quinta-feira (29) o novo documentário de Marcos Pimentel. Batizado “Amanhã”, o longa coloca, no mesmo plano, crianças de classes sociais distintas, capturando alguns de seus desejos para o futuro, e retorna 20 anos depois para acompanhar como essas personagens estão vivendo. A obra é produzida pela Tempero Filmes, com distribuição da Descoloniza Filmes.  

O início do filme não diz ao espectador o que esperar. O ano é 2002 e crianças brincam em um cenário conhecido dos belorizontinos: a Barragem Santa Lúcia. O lago e a praça de esportes parecem atuar como fronteira, separando um bairro de classe média de uma favela.


Quando se mudou para Belo Horizonte, no ano 2000, Pimentel se impressionou ao perceber que, embora vizinhos, moradores de um lado dificilmente atravessavam para o outro. Mas a convite do diretor, morro e asfalto se aproximaram. O pequeno Tomaz é o personagem que sai do apartamento pra brincar com Julia e Cristian, dois irmãos que vivem no morro.

O material, gravado em 2002, é apresentado às mães das crianças duas décadas depois. E aí o documentário começa a mostrar a que veio. As memórias e opiniões dessas mulheres e das crianças, agora crescidas, expõem como o abismo social, não percebido na infância, se escancara. E não só porque eles se tornaram adultos, mas porque o país mudou.


O próprio diretor, em uma de suas narrações, exemplifica isso ao expor a percepção de que a camisa da seleção brasileira, festejada na Copa de 2002, se tornou símbolo da discórdia duas décadas depois. Até a ausência de uma das personagens é posicionamento. 

E a maneira como esses elementos são dispostos no longa vão levando o público a refletir sobre diversas pautas do cotidiano, de consciência política à urbanização.

Um filme sensível sobre encontros, desencontros, mazelas sociais e o efeito do tempo. Talvez por isso, o documentário tenha sido exibido em competição no É Tudo Verdade, recebido Menção Honrosa no 5º Pirenópolis Doc e premiado no 27º FAM - Florianópolis Audiovisual Mercosul.  


Ficha Técnica:
Direção: Marcos Pimentel
Depoimentos/Imagens de Arquivo: Cristian de Miranda, Cristiana Santos, Júlia Maria
Produção: Tempero Filmes
Distribuição: Descoloniza Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h46
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gênero: documentário

13 novembro 2023

Mostra Ecofalante de Cinema traz obras socioambientais para BH

12ª edição do evento ocorre no Cine Santa Tereza, com entrada gratuita para todas as sessões (Foto: Ricardo Laf/PBH)


Jean Piter Miranda


Pelo segundo ano consecutivo, Belo Horizonte recebe a Mostra Ecofalante de Cinema. O evento é considerado o mais importante do audiovisual da América do Sul dedicado às temáticas socioambientais. As obras serão exibidas entres os dias 16 e 23 de novembro, no Cine Santa Tereza. A entrada é gratuita para todas as sessões. A programação conta com 15 filmes, entre curtas e longas-metragens, premiados em festivais nacionais e internacionais. 

Na abertura, será apresentado o filme "Amazônia, a Nova Minamata?", último longa de Jorge Bodanzky. A produção aborda a luta do povo Munduruku contra o garimpo ilegal em seu território. A sessão será comentada pelos instrutores e alunos do curso de Documentário do Núcleo de Produção Digital/Escola Livre de Artes - NPD/ELA.

“A Invenção do Outro”, de Bruno Jorge

Destaques da programação

Entre os destaques da mostra está a “A Invenção do Outro”, de Bruno Jorge. O documentário retrata a maior expedição das últimas décadas na Amazônia, realizada pela Funai e liderada pelo indigenista Bruno Pereira. A missão buscava estabelecer o primeiro contato com a etnia dos Korubos. 

Outra obra que fez sucesso é “Exu e o Universo”, de Thiago Zanato. O documentário desfaz preconceitos em torno da figura de Exu, divindade presente em religiões de matriz africana. Também aborda a liberdade de culto e ao racismo sistêmico no Brasil.


Em "Escute, a Terra Foi Rasgada", os diretores Cassandra Mello e Fred Rahal Mauro, retratam uma aliança histórica entre três povos indígenas pela defesa de seus territórios, frente à destruição causada pelo garimpo.

“Vento na Fronteira”, de Laura Faerman e Marina Weis, acompanha a luta do povo Guarani-Kaiowá pelas suas terras, na região do Mato Grosso do Sul. “Mulheres na Conservação” aborda o protagonismo das mulheres na ciência. A obra é assinada pela jornalista Paulina Chamorro e pelo fotógrafo João Marcos Rosa.


Outro documentário de destaque é “Diálogos com Ruth de Souza”, de Juliana Vicente (diretora de “Racionais MC's – Das Ruas de São Paulo pro Mundo”, 2022). A obra é sobre a trajetória de Ruth de Souza, pioneira entre as atrizes negras em palcos, televisão e cinema no Brasil. 

A programação conta com “I Heard it Through the Grapevine”, dirigido por Dick Fontaine. O documentário é estrelado por James Baldwin e acompanha uma viagem do escritor pelos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, faz um balanço das lutas pelos direitos civis das comunidades negras em seu país.


Em “O Sonho Americano e Outros Contos de Fadas”, o tema é a profunda crise de desigualdade nos EUA. O documentário é dirigido por Abigail Disney e Kathleen Hughes.  

Entre os curtas de destaque estão “A Febre da Mata”, de Takumã Kuikuro, uma denúncia contra as queimadas na Amazônia; “Mãrihi – A Árvore do Sonho”, de Morzaniel Ɨramari, no qual as palavras de um xamã conduzem uma experiência onírica envolvendo poéticas e ensinamentos dos povos da floresta. 


“Um Tempo para Mim”, trata da transformação de uma jovem mbya guarani, que acontece no mesmo dia em que ocorre um eclipse da Lua; “Levante pela Terra”, de Marcelo Cuhexê, registra o acampamento ocorrido em Brasília em 2021, na luta pela demarcação de terras indígenas. 

Para o público infanto-juvenil, a Mostra exibe “A Viagem do Príncipe”, animação dirigida por Jean-François Laguionie e Xavier Picard. O filme mostra as aventuras e os preconceitos enfrentados por um príncipe numa terra estrangeira de cultura e hábitos diferentes e que se construiu em oposição à natureza. 


Realização

A itinerância da Mostra Ecofalante de Cinema em Belo Horizonte é viabilizada por meio da Lei de Incentivo à Cultura. A produção é da Doc & Outras Coisas e a coprodução é da Química Cultural. A realização é da Ecofalante e do Ministério da Cultura.

O apoio institucional é da Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e da Fundação Municipal de Cultura, da Embaixada da França no Brasil, do Programa Ecofalante Universidades e do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. 

A programação completa da Mostra Ecofalante em Belo Horizonte pode ser acessada em ecofalante.org.br/programacao.


Confira os trailers dos outros filmes clicando aqui 

Serviço
Mostra Ecofalante de Cinema - Itinerância Belo Horizonte

Data: 16 a 23 de novembro
Local: Cine Santa Tereza - Rua Estrela do Sul, 89 - Santa Tereza - Belo Horizonte - MG - Telefone: (31) 3277-4699
Ingressos: Retirada de ingressos em sympla.com.br/cinesantatereza ou na bilheteria, 30 minutos antes da sessão
Informações: www.ecofalante.org.br

26 outubro 2023

Documentário "Pele" apresenta um pouco do Brasil por meio da arte urbana

Colagem de trabalhos artísticos traz sentido poético, mas também pode ser cansativa (Fotos: Tempero Filme)


Eduardo Jr.   


Uma sequência de desenhos, grafites e pichações, que combinados a uma trilha sonora vai expondo um pouco da história nacional e dando sentido à arte urbana, que muitas vezes fica no campo da incompreensão para vários de nós. 

Assim é o documentário “Pele”, do diretor Marcos Pimentel, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (26). Distribuído pela Embaúba Filmes, o longa apresenta 75 minutos de uma construção narrativa ousada, que também pode ser cansativa para alguns. 


Tal sensação pode ser explicada pelas escolhas da direção. O documentário, filmado no ano de 2019 em três das maiores capitais brasileiras (Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte), não possui narração. O som, elaborado por Vitor Coroa, foi todo inserido na pós-produção. 

Entre instrumentos e reivindicações, vai acompanhando a sequência de desenhos, frases e performances de ioga e dança. É ele quem abre possibilidades diversas de interpretação (ou não) do que se vê na tela, que é preenchida por uma protagonista chamada arte urbana.  


Os desenhos se tornam cenários pra nossas ações do cotidiano. Olhos pintados observam nossas ações, sorriem de forma enigmática, talvez até nos questionando. Aí está a concretização do que afirma o diretor, ao dizer que “mesmo sem nos darmos conta, a todo o momento nossos corpos estão dialogando com os conteúdos que ‘vestem’ os muros. 

Ali, nesta espécie de pele, os ‘habitantes dos muros’ interagem com os ‘habitantes das cidades’, produzindo leituras bastante interessantes que, infelizmente, nem sempre temos tempo de contemplar”.   

Em “Pele”, a protagonista arte urbana troca de roupa diversas vezes. Hora é colorida, hora preto e branco. É lúdica e também militante. De tinta ou de papel e cola. Se despe das molduras dos museus para mostrar que tudo é tela, seja o concreto ou uma lixeira. Sua mensagem é culta e também popular. 


Colagens e alusões a músicas produzem novas mensagens por sobre a poesia de Caetano Veloso. E ainda assim, pode ter interpretações diversas. 

Para um paulista pode ser apenas mais uma representação da natureza ao ver uma raposa querendo se alimentar no galinheiro, enquanto para um mineiro o desenho passa para o contexto esportivo da rivalidade entre Atlético e Cruzeiro. 


Assim como os desenhos e frases nas paredes, o documentário transita entre o divertido e o incômodo. No grafite, rostos pintados nos muros observam quem passa. 

Mas quem está de passagem, será que, de fato, ENXERGA os rostos nas calçadas, sem comida e sem teto? Opostos. Contradições. Se uns preferem uma cidade limpa, outros fazem da arte urbana cenários instagramáveis pra colorir suas vidas nas redes sociais. 


Na tela, o espectador em dado momento pode se cansar de ver mais do mesmo - ainda que as manifestações artísticas sejam diferentes e até proponham a brincadeira de identificar em que lugar da sua cidade está aquela obra. 

Premiações

Se a obra vale o ingresso, só assistindo pra tirar suas conclusões. A favor dos realizadores estão as conquistas de "Pele", que fez sua estreia mundial no IDFA/Envision Competition, no qual foi premiado com a Menção Especial do Júri. Aqui no Brasil foi exibido na Mostra Competitiva do É Tudo Verdade. 

Já foi exibido na Rússia, onde recebeu o Grande Prêmio da Crítica no Festival Message to Man, em São Petersburgo. Teve, ainda, exibições na França, Canadá, Itália, China, Nova Zelândia, Rússia, Indonésia, Áustria, Alemanha e Colômbia.  


Ficha técnica:
Direção: Marcos Pimentel
Roteiro: Marcos Pimentel e Ivan Morales Jr.
Produção: Tempero Filmes
Distribuição: Embaúba Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h15
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gênero: documentário

30 setembro 2023

“Marinheiro das Montanhas” e “Nardjes. A” lançam olhar poético sobre a memória e o futuro da Argélia

Novos longas de Karim Aïnouz chegam simultaneamente às telas dos cinemas brasileiros (Fotos: Divulgação)


Carolina Cassese
Blog no Zint

Já há algum tempo que, em entrevistas concedidas à imprensa, Karim Aïnouz ("O Céu de Suely" - 2006, "Praia do Futuro" - 2014, "A Vida Invisível" - 2019) vez ou outra deixava escapar detalhes de um projeto: o de registrar uma jornada de descobertas a serem feitas in loco no país responsável por 50% de seu DNA: a Argélia. Colocado em prática, o trabalho chega agora às telas dos cinemas brasileiros com o título "Marinheiro das Montanhas". 

A novidade é que a produção (que, no Brasil estreou na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, tendo sido exibido anteriormente no Festival de Cannes, fora da competição oficial) entra em circuito junto com outro longa assinado por Aïnouz: "Nardjes A.". 

Os dois filmes podem ser conferidos na sala 3 do Una Cine Belas Artes, o primeiro com sessão às 20h40 e o segundo com sessão às 15h50.


Nascido em Fortaleza, Karim Aïnouz é fruto da relação de uma brasileira - de nome Iracema - com um argelino, Majid. Os dois se conheceram nos Estados Unidos, mais precisamente no estado do Colorado, no início dos anos 1960. No entanto, o casal acabou se separando e Karim só foi conhecer o pai no começo da vida adulta. 

Iracema faleceu em 2015 e o genitor do cineasta mora há tempos na França, tendo tido uma filha - Kamir - do casamento com uma francesa. Vale dizer que Kamir Aïnouz também é cineasta e esteve no Brasil em 2021 para lançar o filme "Charuto de Mel".


Sobre "Marinheiro das Montanhas", é importante destacar que, ao partir para a terra natal do pai, Karim decide ir sem a companhia dele. E em vez de optar pela comodidade de viajar em um avião, prefere fazer a travessia - partir de Marselha - rumo a Argel, por mar. A viagem foi realizada em 2019, quando Aïnouz estava com 54 anos.

O desembarque se dá na capital do país, mas o objetivo principal é chegar na Cabília, a cidade natal de seu pai. Durante todo o percurso, o espectador se depara com as lembranças da infância e da juventude de Karim, narradas por ele próprio, intercaladas com as descobertas do cotidiano de um país que, embora entranhado em sua existência, era ainda bastante desconhecido para ele. Aïnouz não hesita em registrar cenas e figuras com as quais se depara aleatoriamente, pelas ruas ou estabelecimentos comerciais.


Em Cabília, ele logo percebe que seu sobrenome é bastante comum por lá (o diretor chega a encontrar um homônimo na visita). Karim acaba sendo identificado como o filho de Majid, e, assim, entra em contato com parentes, que abrem as portas de suas casas para o visitante adentrar seus domínios. 

Nesta visita à própria história, a narração do diretor conduz o espectador tanto para o interno de sua mente quanto para o que está se descortinando diante de seus olhos.


Ainda sobre sua condução, é interessante o exercício que o cineasta faz ao imaginar como seria a vida do “Karim ao contrário”, ou seja, como teria sido passar a vida toda na Argélia e decidir conhecer Fortaleza aos 54 anos. 

Bastante explorado em narrativas sobre migrações, o tema do “sujeito dividido” ganha um tom poético e inventivo em “Marinheiro das Montanhas”.

Ao fim do longa, é difícil não se lembrar também de Maïwenn Le Besco, atriz francesa de origem igualmente argelina que, poucos anos atrás, lançou o filme "DNA", exibido no Brasil. Neste filme, ela interpreta Neige, personagem que também vai atrás de suas raízes na Argélia (nesse caso, trata-se de uma ficção).


Ficha técnica:
Direção: Karim Aïnouz
Produção: Videofilmes e coprodução Globo Filmes e Globo News
Distribuição: Gullane
Duração: 1h38
Exibição: sala 3 do UNA Cine Belas Artes, com sessão às 20h40
Classificação: 12 anos
Países: Brasil, Alemanha, França, Argélia e Qatar

"Nardjes A."

Já o longa "Nardjes A.", o outro lançamento do diretor, opta por um recorte referente à mesma Argélia: os protestos populares nas ruas de Argel, contrários ao então presidente Abdelaziz Bouteflika (1937-2021), que estava no poder há mais de 20 anos. 

No filme, de 2019, Karim acompanha um dia na vida da jovem argelina que batiza o filme em meio a todo o movimento que o surpreendeu na visita ao país.

A protagonista representa, pela câmara de Aïnouz, os milhares de jovens que, em vários países árabes, se encontraram (encontram) em praças e ruas para clamar por mudanças. Sob a pressão dos protestos, Bouteflika acabou renunciando.


"Nardjes A." foi exibido no Festival de Cinema de Berlim na edição 2020. Neste projeto, Karim, usando um smartphone, consegue obter imagens impressionantes. 

Ao mostrar a juventude, ele imagina um futuro que pode ser diferente daquele no qual foi gerado, quando a figura da mulher sofria opressões mais severas. Dessa maneira, junto a uma declaração de amor à mãe, ele saúda as novas mulheres, representadas por Nardjes.


No material relativo ao filme, enviado à imprensa, Karim declara: "Assim que conhecemos Nardjes, à época com 26 anos, de alguma forma reconhecemos o filme. A princípio o que me atraiu foi a possibilidade de, através de sua vida, capturar uma visão mais subjetiva do que estava acontecendo. Filmar essas 24 horas ao seu lado foi a maneira como conseguimos nos aproximar do significado do que estava acontecendo nas ruas".

O diretor falou ainda sobre a sua intenção de realizar um filme "ousado, alto, barulhento, rápido e voraz", que representasse o tom das manifestações: “As manifestações de Argel ressoam além da Argélia. Elas mostram uma geração que teve seu futuro roubado, mas ainda encontra na esperança um lugar fértil para imaginar o amanhã". 

As reflexões presentes nos dois filmes, portanto, não se limitam ao território argelino: há muito o que reconstruir nestas terras, do outro lado do oceano.


Ficha técnica:
Direção: Karim Aïnouz
Coprodução: Canal Brasil, Watchmen Productions (Alemanha), MPM Film (França), Show Guest Entertainment (Argélia) e Instituto de Cinema de Doha (Qatar)
Distribuição: Gullane
Duração: 1h20
Exibição: sala 3 do UNA Cine Belas Artes, com sessão às 15h50
Classificação: 10 anos

27 agosto 2023

Documentário “Ithaka: A Luta de Assange” expõe o preço da verdade

Obra de Ben Lawrence revela detalhes da batalha do pai do jornalista para conseguir a libertação do filho
(Fotos: Divulgação)


Eduardo Jr. 


A tela se abre com uma mensagem dizendo que a tortura é uma ferramenta de alerta, que é mais efetiva se usada em público. Um resumo claro do que acontece, há anos, com Julian Assange, fundador do site WikiLeaks. 

Perseguido, preso e constantemente ameaçado, o jornalista e ativista australiano tem sua saga contada no documentário “Ithaka: A Luta de Assange”, que estreia nos cinemas brasileiros dia 31 de agosto, com distribuição da Pandora Filmes. 

Mas a obra do diretor Ben Lawrence não é um filme de ação, é mais drama. O protagonista não é Julian Assange, e sim seu pai, John. E como antagonista, os Estados Unidos da América, que realizam, aos olhos do mundo, uma tortura psicológica contra Assange e, consequentemente, contra a liberdade de imprensa, fazendo disso uma espécie de aviso (ou ameaça) a quem se aventurar na exposição de algumas verdades inconvenientes. 


O longa acompanha o pai de Assange, John Shipton, que viaja pela Europa em busca de contatos com a mídia e com apoiadores, para libertar o filho da prisão. No ano de 2010, o jornalista publicou arquivos e documentos que revelavam crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos durante o conflito no Iraque, quando um helicóptero norte-americano metralhou civis em Bagdá. 

Julian foi preso em Londres em 11 de abril de 2019, e desde então os americanos tentam sua extradição. Tal pedido não é nenhuma novidade na história moderna. O ineditismo reside no fato de que nunca antes um jornalista e editor foi acusado de espionagem.  

Julian Assange

Ao que parece, o caso de Assange pode abrir precedente para que o ofício do jornalismo seja ferido de morte - mesmo que a Primeira Emenda norte-americana proíba o congresso de limitar a liberdade de imprensa. 

O documentário apresenta esta questão, costurando depoimentos e imagens de arquivo. Mas explora de forma mais intensa o drama de um pai, idoso, que sai de Melbourne para ir a Berlim, Londres e quantos países forem precisos, para ajudar o filho. E também o quanto os desgastes de um processo longo, envolvendo um preso político, afeta uma família. 


Enquanto John caminha, uma câmera nervosa acompanha o pai. E captura até os momentos em que ele se recusa a responder algumas perguntas que soam sensacionalistas - afinal, o que importa é libertar Julian ou explorar o motivo que manteve pai e filho afastados durante anos?  

Junto das cenas familiares e das manifestações pela liberdade do jornalista, a direção opta por inserir legendas, de forma a situar o espectador e explicar alguns detalhes. 

No geral, o documentário é direcionado a apresentar, textual e visualmente, um Assange vítima de um governo sujo. Tanto que, o acusado de espionagem se torna alvo a ser espionado, até mesmo enquanto asilado dentro de uma embaixada. 


Além do drama, há também um certo suspense. Para quem não acompanha os noticiários e não sabe o atual status do preso político mais famoso dos últimos tempos, pode ficar a sensação de “o que vai acontecer agora?”. 

Isso ocorre porque, até aí, não se sabe como a alternância de poder nos EUA, de Donald Trump para Joe Biden, pode interferir no destino de Assange. 

O julgamento que definirá a extradição ou não do ativista é entrecortado pelo cotidiano dos familiares e outros detalhes estratégicos. E até que essas respostas sejam entregues, o espectador já está tomado pela aflição, curiosidade ou ambos. 

Acompanhar a saga da família causa tristeza em certos momentos. O acesso à intimidade dos parentes se deve ao meio-irmão de Assange, Gabriel. Partiu dele a ideia de estar junto com o pai nessa campanha pela liberdade do filho. 

Da esq. para direita - irmão, cunhado e o pai de Julian

Outro parente envolvido na produção é o irmão da esposa de Assange, Adrian Devant. Com as portas da casa abertas por eles, a câmera nos permite observar o neto chorando por não poder desfrutar da companhia do avô, que precisa libertar o filho. 

“Ithaka” é um bom documentário. Se propõe a trazer uma abordagem pessoal a um conteúdo que se resume a uma batalha jurídica. E por trás dela, um governo motivado em esconder seus feitos (acho que já vi isso em algum lugar…). Em tempos de analfabetismo político, pode ser também uma aula, um alerta sobre assuntos que nos afetam diretamente. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Ben Lawrence
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h46
Classificação: 12 anos
Países: Austrália e Reino Unido
Gêneros: documentário, drama