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08 dezembro 2025

"3 Atos de Moisés", um doc para inspirar sonhos e tocar o impossível

Documentário, dirigido por Eduardo Boccaletti, reflete as fases mais importantes da vida do pianista de
Juiz de Fora (Fotos: L. Barreto)
 
 

Silvana Monteiro

 
Há documentários que se limitam a registrar fatos, outros que tentam emocionar, e alguns poucos que conseguem transformar uma biografia em experiência única. 

O documentário sobre Moisés Mattos, um músico que sai da Zona da Mata mineira para ganhar os palcos do mundo como pianista, pertence a essa categoria rara. 

A produção constrói sua narrativa em três momentos que dialogam entre si como movimentos de uma mesma peça musical, sempre fiel à ideia de que a arte pode atravessar barreiras que a sociedade insiste em erguer. Para quem escreve esta crítica, a música é a verdadeira linguagem universal. 


Torna-se então, muito mais poderosa ao ser a ponte de transformação e a realização de um homem cujas interseccionalidades, como a cor da pele, a origem e a orientação sexual, lhe conferem uma perspectiva ainda mais profunda.

O percurso de Moisés é filmado com a sobriedade de quem entende que nem todo início precisa de brilho para ter grandeza. O jovem que praticava em teclas imaginárias é mostrado sem exageros, e o filme encontra força justamente na simplicidade dos gestos cotidianos que antecedem o talento. 

Há um cuidado em revelar o artista antes da fama, sem pressa de coroá-lo e sem necessidade de dramatizar o que, por si só, já é dramático.

Ao longo do documentário, a música toma esse lugar como linguagem. O espectador acompanha o amadurecimento de Moisés em salas de estudo, recitais, processos seletivos e oportunidades que surgem quase sempre acompanhadas de novos desafios. 


A produção sugere, sem sublinhar demais, como a carreira artística no Brasil é atravessada por desigualdades que pedem não só habilidade, mas persistência, disciplina e uma confiança quase irracional no próprio destino. 

É nessa camada silenciosa que o filme encontra sua potência. É um enredo que pode levar o espectador à percepção de que a vida de um artista não se escreve apenas nos palcos, mas nos bastidores invisíveis e nas marcas que o moldam.

Quando Moisés retorna ao país, o filme abandona qualquer traço de triunfalismo. O reencontro com sua comunidade e com o passado não é tratado como redenção, mas como reconhecimento. Nesse contexto ele vê uma chance de enxergar, com distância, o preço e o alcance da própria vida. 


O desfecho tem a delicadeza de um gesto que fecha um ciclo sem apagar as cicatrizes que o compõem. Nada é espetacularizado; a emoção nasce do que permanece dito nas entrelinhas.

O documentário se destaca pela honestidade estética e pela recusa em transformar Moisés em símbolo fácil. Ele é retratado como o que sempre foi: um artista que avançou não porque o mundo se abriu para ele, mas porque ele insistiu em atravessá-lo. 

A obra, ao reunir seus três momentos, desenha também um retrato de um país com barreiras, sim, mas também com beleza e talento. “3 Atos de Moisés” é, no fim, um lembrete de que os sonhos não começam nos aplausos, mas no caminho que se faz até recebê-los. É uma obra linda, capaz de emocionar crianças, jovens, adultos e idosos.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Eduardo Boccaletti
Produção: É Pra Ontem Filmes, com as produtoras associadas Catiripapo Filmes e Tarannà Films
Distribuição: Pipa Pictures
Exibição: Cine Una Belas Artes
Duração: 1h13
Classificação: 10 anos
País: Brasil
Gênero: documentário

03 dezembro 2025

"Futebol de Cegos: O Jogo Mais Difícil" humaniza o esporte e traz luz às batalhas cotidianas

Documentário acompanha os bastidores da Seleção Brasileira de futebol de cegos na preparação para
os Jogos Paralímpicos de 2024 (Fotos: Bushatsky Filmes)
 
 

Wallace Graciano


Se você é fã ou não do esporte bretão, sabe que qualquer narrativa feita sobre futebol deve fugir de mostrar o placar como cerne de sua construção. Afinal, mais do que a bola na rede, paramos nosso dia a dia para entender da gênese ao resultado. 

E é isso que se percebe em "Futebol de Cegos: O Jogo Mais Difícil", dirigido por André Bushatsky, em parceria com o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). O filme não apenas acompanha os bastidores da Seleção Brasileira de futebol de cegos na preparação para os Jogos Paralímpicos de 2024 em Paris, mas constrói uma narrativa de precisão cirúrgica, permitindo que a audiência, mesmo leiga na modalidade, seja imediatamente cativada por sua estrutura, seus desafios e, sobretudo, sua humanidade.


O documentário de André Bushatsky, que já está disponível no Globoplay e na SporTV, nos convida a imergir em uma sensibilidade rara ao equilibrar informação e emoção, independente de onde você está o acompanhando. 

O filme se recusa terminantemente a reduzir seus protagonistas a ídolos distantes ou símbolos isolados de "superação", uma das palavras que este autor acha mais insuportáveis, já que todos são atletas e humanos, merecendo ser tratados como tal. 


Em vez disso, ele mergulha nas dificuldades cotidianas, nos recomeços, nas lesões e nos treinos intensos nas quadras e em seus entornos, incluindo os especiais na praia em João Pessoa que pavimentaram o caminho do Brasil para se tornar uma referência mundial. 

Para além, o rigor metodológico do documentário é outro ponto que o eleva. O filme não assume o conhecimento prévio do espectador. Ele se dedica a explicar o jogo, seus fundamentos, as especificidades sonoras (como a presença dos guias, o uso das balizas humanas e a importância quase coreográfica da escuta). A produção sabe que a curiosidade do público é alta. 


"Futebol de Cegos: O Jogo Mais Difícil" é um filme que ensina sem ser didático demais, emociona sem ser apelativo e se torna envolvente porque entende que o coração do esporte reside nas pessoas que o tornam possível. É uma jornada que vale a pena ser assistida, como sugere o próprio diretor, porque "tem tudo, você vai se divertir."

É um documentário que, paradoxalmente, amplia a visão de quem assiste, mostrando que, quando se apaga a luz, o que permanece é aquilo que sempre deveria estar no centro do esporte: talento, esforço, emoção e uma profunda humanidade.


A seleção campeã

Para aqueles que não acompanham futebol, esta é seleção que já trouxe para casa cinco medalhas de ouro consecutivas (Atenas 2004, Pequim 2008, Londres 2012, Rio 2016 e Tóquio 2020):

Fábio Vasconcelos - Técnico
Ricardo Alves “Ricardinho” - Ala ofensivo
Raimundo Nonato - Ala ofensivo, pivô
Luan Lacerda - Goleiro
Jeferson Gonçalves “Jefinho” - atacante
Cássio Reis - Fixo, ala defensivo
Jardiel Vieira - Ala ofensivo
Jonatan Silva - Pivô
Maicon Júnior - Ala defensivo
Matheus Costa - Goleiro
Tiago “Paraná” da Silva - Ala defensivo


Ficha técnica:
Direção e roteiro: André Bushatsky
Produção: Bushatsky Filmes
Exibição: SportTV e Globoplay
Duração: 1h17
Classificação: livre
País: Brasil
Gêneros: documentário, esporte
Nota: 5 (0 a 5)

27 novembro 2025

Premiado documentário “Apolo” traz aos cinemas paternidade trans e violência institucional

Casal também faz do longa um registro para o filho que vai chegar, apresentando o mundo que o espera
(Fotos: Divulgação)
    
 

Eduardo Jr.

 
“O que eu era antes de eu ser?”. A provocação nos primeiros segundos de tela, que parece vinda de um bebê ainda no ventre, dá o tom do documentário brasileiro “Apolo”. 

O filme, produzido pela Capuri Filmes e distribuído pela Biônica Filmes, chega aos cinemas dia 27 de novembro e marca a estreia da atriz Tainá Müller na direção, realizada em parceria com a atriz e artista musical Ísis Broken, que também estreia como diretora e é protagonista da obra. 

O casal transgênero Ísis e Lourenzo apresentam o dia a dia da gestação de Apolo. A espera pelo bebê e a busca por cuidados arremessa na vida do casal uma série de episódios de preconceito e transfobia. Tudo porque a normatividade não está preparada para ver o pai, um homem trans, gerar uma criança.

Além de normalizar diferentes configurações familiares, alertar sobre práticas discriminatórias endossadas pelo Estado e valorizar o amor livre, o casal também faz do longa um registro para o filho que vai chegar, apresentando o mundo que o espera.    


E o mundo que Apolo vai encontrar é retratado de forma crua, sem filtros. Apesar de os parentes de Ísis e Lourenzo acolherem o casal, em outros ambientes as experiências vividas geram revolta no espectador (aquele com um mínimo de humanidade). 

São situações que vão do não reconhecimento do nome social no sistema de saúde à violência de chamar uma pessoa gestante de “coisa”.   

Só quando o casal deixa o interior e se muda para a capital São Paulo é que o atendimento especializado humanizado se apresenta. Uma demonstração de que o Estado precisa educar e preparar os profissionais para exercer a empatia, principalmente os que estão fora dos grandes centros urbanos. 

Outro desconforto da obra reside no campo da imagem. Os enquadramentos para os depoimentos soam infantis. Obviamente, são planejados, mas os personagens centralizados parecem ter posições demarcadas, demonstrando estarem pouco à vontade com a câmera observando as conversas. 


Apesar desses pontos, o documentário é sintonizado na esperança. A mesma esperança que muitas mulheres chefes de família (como a avó, a tia e a mãe de Ísis) cultivam a cada dia. 

A fotografia com luz mais quente, as referências à espiritualidade que sustenta o casal e a metáfora do amor no centro do universo são elementos que riscam da obra o clichê do relato de dor de quem é colocado à margem. 

O roteiro e a montagem também demonstram sabedoria. A exemplo da sequência da visita à família, carregada de euforia, seguida dos desafios da vida a dois, da primeira casa, de administrar um futuro em transformação.  

O diálogo está sempre presente no documentário. E é ele quem se veste de solução, até para dilemas pessoais, como a interrupção do uso de hormônios por Lourenzo durante a gestação. 

A situação mexe com o corpo dele, que vislumbra uma regressão no processo de transição e se vê desafiado sobre a amamentação. A conversa sincera com Ísis facilmente se configura como um dos momentos mais emocionantes da obra — eu disse ‘um dos’, pois a obra reserva cenas importantes até o final. 


Em suma, esta é uma obra que fixa imagens que a sociedade não está habituada a ver. Propõe reflexões sobre nossa postura diante do afeto LGBTQIAPN+. Nos apresenta alguns dos dramas de um casal transgênero e expõe violências institucionais que precisam ser tratadas para, então, viabilizar um futuro de respeito e igualdade. 

A estreia ainda vai acontecer, mas os prêmios já começaram a chegar. “Apolo” Foi premiado no Festival do Rio nas categorias Melhor Longa-Metragem Documentário e Melhor Trilha Sonora Original, realizada pelo músico Plínio Profeta. 

No 33º Festival Mix Brasil de Cultura e Diversidade, a produção conquistou o Coelho de Prata (Prêmio do Público) de Melhor Longa Nacional e uma Menção Honrosa do Júri na categoria de Melhor Longa-Metragem. 

“Apolo” e sua proposta de fazer refletir merece ser visto na telona. Cada um de nós precisa responder ao questionamento inicial do filme e outros, do tipo: um casal trans não pode amar? O bebê nascido de um casal trans também merece sofrer as mesmas violências que o pai e a mãe? Se somos uma sociedade que despreza e maltrata o que difere da gente, quem somos nós?    


Ficha Técnica:
Direção: Tainá Müller e Isis Broken
Roteiro: Tainá Müller, Tatiana Lohmann, Isis Broken, Lourenzo Duvale
Produção: Capuri, Biônica Filmes e Puro Corazón
Distribuição: Biônica Filmes
Duração: 1h22
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gênero: documentário

24 novembro 2025

"Caçador de Marajás" resgata com graça e leveza a ascensão e queda de um presidente super-homem

Minissérie sobre Fernando Collor de Mello expõe disputas familiares, sexo, traições, poder, ciúmes, drogas, mentiras e muito dinheiro (Fotos: Globoplay)
 
 

Mirtes Helena Scalioni

 
Em um certo momento da minissérie "Caçador de Marajás", em cartaz no Globoplay, o conhecido escritor Eduardo Bueno, o Peninha, dispara: "Dessa vez, o roteirista carregou a mão. São dois irmãos poderosos brigando publicamente, sendo um deles o presidente do Brasil, enquanto a mãe agoniza num hospital, vítima de um AVC". E Bueno tem razão. 

Ex-repórter do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, ele foi um dos jornalistas que acompanharam de perto a ascensão e queda de Fernando Collor de Mello e, como todos, concorda que a vida do ex-presidente tem tintas de ficção, com todos os ingredientes que não podem faltar numa produção assim: disputas familiares, inveja, sexo, traições, poder, ciúmes, drogas, mentiras, mulher bonita e dinheiro - muito dinheiro. 


Além de Eduardo Bueno, a nata da crônica política da época está presente no documentário dirigido por Charly Braun, que assina o roteiro com Bruno Passeri, Guilherme Schwartsman e Miguel Antunes Ramos. 

Estão lá os grandes medalhões do jornalismo daquele tempo como Mônica Waldvogel, Mário Sérgio Conti, Dora Kramer, Joyce Pascowitch, Ali Kamel, Bob Fernandes, Eduardo Oinegue, Boris Casoy e o folclórico Sebastião Nery, entre outros. 

Também comparecem os amigos do ex-presidente como Luiz Estevão e Leleco Barbosa, o filho do Chacrinha, e até um desconhecido Stephany, o cabeleireiro de dona Leda.  


A forma leve - quase divertida - como a trajetória de Fernando Collor é contada faz com que o espectador reaja como se estivesse assistindo a uma série como "Succession", "Dallas" ou qualquer outra sobre disputa de poder. 

Numa sacada genial, os depoimentos das personalidades envolvidas e dos entrevistados são intercalados com pequenas incursões do debochado "Casseta e Planeta", grande sucesso daquele tempo. 

Sem falar de uma oportuníssima trilha sonora e de falas proféticas de uma ialorixá alagoana chamada Mãe Mirian. Para incrementar, informações de bastidores insinuam que o homem, embora bonito, chique e poliglota, era chegado sim em sessões de bruxaria com direito a sacrifícios de animais na famosa Casa da Dinda. 


O distanciamento é um ingrediente que agrega valor ao longa "Caçador de Marajás", que conta com detalhes como um desconhecido playboy alagoano se transforma em um forte candidato à Presidência da República em 1989, na primeira eleição por voto direto no Brasil depois do fim da ditadura. 

Estão lá a relação conflituosa com o irmão Pedro desde sempre, a união com a ricaça socialite Lilibeth Monteiro de Carvalho, a separação, o casamento com a quase debutante Rosane, a chegada de P.C Farias no esquema como tesoureiro de campanha, a correria desenfreada por todo o país a bordo de jatinhos ou helicópteros, a disputa com Lula e o famoso debate que o fez vencer as eleições. 


Parênteses para contar que a Rede Globo reconhece, hoje, que fez sim uma edição marota do confronto dele com o metalúrgico na noite anterior. 

Depois vieram as reformas e festas nababescas na Casa da Dinda, as mensagens das camisetas, os passeios de jet-ski, as corridas dominicais e, claro, o inesquecível e desastroso Plano Collor, que apresentou ao Brasil uma confusa economista chamada Zélia Cardoso de Mello, que confiscou a grana de todo brasileiro que tivesse no banco mais de 50 "dinheiros". 

Tinha também Cláudia Raia e Alexandre Frota, o casal que vestiu a camisa do candidato do PRN defendendo a ideia de que "ele não rouba porque já é rico e bem-nascido e não precisa do dinheiro do povo". E o ministério de notáveis - quem se lembra?


Como é que o Brasil foi cair nessa? - é o que se pergunta o espectador da série quando a máscara do presidente super-homem começa a cair assim que o país acorda com a entrevista bomba de Pedro Collor à revista Veja, uma das publicações mais respeitadas e confiáveis de então. 

A imprensa, aliás, é quase onipresença no documentário, com jornalistas contando como chegavam aos fatos, como investigavam às vezes mais do que a polícia, a concorrência em busca de furos, as vaidades. Na ocasião, Veja e Isto é disputavam a preferência dos leitores ditos esclarecidos.


Mesmo sabendo o final dessa história, vale muito a pena assistir ao documentário, nem que seja para recordar - sem saudade - que o nosso presidente foi o primeiro da América Latina a sofrer impeachment e que, aparentemente, nem se abalou com isso. 

Ou lembrar - com saudade - que a juventude foi às ruas vestida de preto para derrubar o homem que pedia dramático: "Não me deixem só". 

Vale até pipoca para maratonar os sete episódios e conhecer a desenvoltura da bela Maria Tereza, mulher de Pedro e, portanto, cunhada de Fernando, que rasga o verbo sem cerimônia em seus depoimentos. E também para relembrar que, no frigir dos ovos, o presidente acabou caindo por causa da compra de um inocente carro chamado Fiat Elba. 


Ficha técnica:
Direção: Charly Braun
Roteiro: Charly Braun, Bruno Passeri, Guilherme Schwartsmann, Miguel Antunes Ramos
Produção: Boutique Filmes e Waking Up Films
Distribuição: Globoplay
Exibição: Globoplay
Duração: 1ª temporada - 7 episódios - média de 60 minutos por episódio
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gêneros: série, documentário, política, história, biografia

17 novembro 2025

Impactante e necessário, "A Queda do Céu" finalmente entra em circuito no Brasil

Documentário aborda o alerta dos Yanomamis sobre os riscos climáticos que poderão afetar todo o planeta (Fotos: Gullane+)
 
 

Patrícia Cassese
Correspondente em Cannes

 
Em um período longínquo da história da Terra, o céu "caiu". A questão é que o evento pode se repetir - na verdade, para os Yanomamis, não há dúvida quanto a isso. Na primeira vez, os espíritos Xapiri conseguiram sustentar o firmamento. A grande dúvida é se, com a ameaça inclemente aos povos indígenas, e ao planeta como um todo, será possível repetir o feito.

Não por outro motivo, os xamãs Yanomamis alertam: nem aqueles que amealharam fortunas serão capazes de silenciar o vento da tempestade. O cataclisma será um tempo de lamentos. 

Essa profecia ocupa os primeiros minutos de "A Queda do Céu" (108'), documentário que teve première mundial na Quinzena dos Realizadores da edição 2024 do Festival de Cannes - que, aliás, o Cinema no Escurinho teve a oportunidade de acompanhar - e que agora entra em circuito nacional, com distribuição da Gullane+. Na Itália, o lançamento comercial também ocorre este mês.


A trajetória da produção

O longa é baseado no livro homônimo (Companhia das Letras, 768 páginas), escrito pelo xamã Yanomami Davi Kopenawa e pelo antropólogo francês Bruce Albert, lançado no Brasil em 2015 (na França, em 2010). Na transposição para a telona, a direção é assinada por Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha. 

Desde Cannes, a produção participou de 80 festivais no Brasil e no mundo, tendo arrebanhado mais de 20 prêmios nacionais e internacionais neste percurso. 

Entre as láureas, estão o Grande Prêmio do Júri da Competição Kaleidoscope do festival DOC NYC (maior festival de documentários dos EUA); o Prêmio Especial do Júri da Competição Internacional no DMZ Docs 2024 (Coreia do Sul); melhor Longa Documentário Internacional no 27º Festival de Guanajuato GIFF 2024  (México); Prêmio Fundação INATEL no DocLisboa 2024 (Portugal) e o Prêmio Principal Fethi Kayaalp no Festival de Documentários Ecológicos de Bozcaada 2025 (Turquia).

Exibição do filme no Festival de Cannes
(Foto: Patrícia Cassese)

No Brasil, levou para casa o prêmio de Som e Direção de Documentário no Festival do Rio e o Prêmio ABC 2025 nas categorias Direção de Fotografia, Montagem e Som, para citar exemplos. No dia 13 de novembro, a “A Queda do Céu” teve uma exibição especial na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, com a presença de Kopenawa e de Eryk Rocha. 

A COP 30, você sabe, é tida como o principal fórum global visando a negociação de medidas de combate ao aquecimento do planeta, e reúne representantes de dezenas de países. A sessão teve lugar no Instituto Ciência de Arte, edifício histórico na Praça da República, por meio da 10ª Mostra de Cinema da Amazônia, em parceria com o Observatório do Clima. 


O ritual Reahu

Apresentações feitas, voltemos ao longa, que acompanha a comunidade de Watorikɨ, uma das aldeias Yanomami no Amazonas. Precisamente, às vésperas da realização do Reahu, ritual que marca a despedida final da alma de um falecido, bem como o encerramento do período de luto da comunidade.
 
No caso específico, a despedida concerne ao sogro de Kopenawa. A narrativa descreve práticas adotadas pelos Yanomami, como o apagamento de vestígios do falecido, o que se dá, por exemplo, com a queima de objetos pessoais (rede, adornos, flecha), bem como com as plantações por ele feitas. 

No desenrolar dos preparativos para o Reahu, como o preparo do mingau de banana, Kopenawa, bem como outros expoentes de Watoriki, compartilham reflexões e as ameaças que recaem sobre os yanomamis, principalmente no que tange ao avanço do garimpo ("que contaminam rios e os deixam turvos") e do interesse predador de madeireiros. 


Em dado momento, por meio do rádio transmissor, Kopenawa é avisado pela comunidade Koroas quanto à aproximação de uma leva de garimpeiros, e aconselha o interlocutar a tentar manter a calma possível, mediante a manifestação da vontade, por parte desse, de flechá-los. Os "estrangeiros", ou "inimigos", são chamados pelos Yanomami de "napës".

Invasão dos garimpeiros

Um parêntesis é feito no filme para falar sobre o início da invasão dos garimpeiros, que se deu com a construção da Perimetral Norte, nos primeiros anos de 1970. Neste período, a floresta e os povos indígenas assistiram, estupefatos, à chegada de tratores, motoserras, explosões com dinamite etc. "Cortaram florestas como se corta carne", aponta uma fala do filme. 

Além do maquinário, os napës trouxeram doenças. "Morreram velhos, adultos, moças, crianças...", enumera o filme. A busca pelo ouro, prata e outros metais, como a cassiterita, contam, culmina com a destruição de rios e do verde. Não bastasse, há, por parte das mulheres, o temor (justificado) do estupro. 


No entanto, no filme, os Yanomamis lembram que piores de que os próprios garimpeiros são aqueles que estão por trás dos "operários" aos quais a ação de destruição propriamente dita é delegada. 

Sonhos e espíritos

A questão dos sonhos é também abordada no documentário. "No sonho, tudo se esclarece", afiançam os Yanomamis. Principalmente quando o sonho se dá pelo poder do pó de yãkoana (ou yakoana), substância alucinógena de origem vegetal extraída da árvore de mesmo nome. Como pontua o longa, quando inalam o yãkoana, "os olhos morrem para enxergar os espíritos xapiri". 

Os espíritos xapiri são os donos da floresta, resistentes como as rochas. No Brasil, estima-se que existam, hoje, cerca de 31 mil Yanomamis. Com os que estão em território venezuelano, 35 mil. São, pois, a última morada dos xapiris.  

Raciocínio lógico dedutivo: como os xapiris são aqueles capazes de segurar o céu, se os Yanomamis desaparecerem, o cataclisma será inevitável. Virão inundações, epidemias... Um estado de caos, que, no filme, é reforçado por imagens em P&B de destruição (*). O homem branco, preveem os yanomamis, vai, então, chorar "como criança".


O alerta Yanomami, transmitido por meio de Davi Kopenawa, se alinha a gritos afins emitidos por outros povos originários, como os Krenak. São avisos que também se coadunam aos de ambientalistas, bem como de cidadãos comuns, preocupados com as mudanças climáticas em curso no planeta. Habitantes originários daquela que é a maior floresta tropical do mundo, os Yanomami têm atávico lugar de fala - e, assim, precisam ser ouvidos.

No entanto, mais que ecoar a advertência sobre a destruição das florestas - e, consequentemente, a ameaça que paira sobre os povos indígenas -, "A Queda do Céu" se destaca por mostrar pormenores de crenças, rituais e pensamentos Yanomamis, principalmente a partir do ritual fúnebre citado, mas não só. Pinturas, adereços, práticas, a culinária... 

Tudo isso faz de "A Queda do Céu" uma experiência riquíssima e impactante. Ao espectador menos enfronhado nas questões do povo Yanomami, aconselha-se apenas uma contextualização prévia quanto aos problemas enfrentados pelo grupo, até para melhor compreensão do que se desenovela na tela grande.


Complete a experiência

O Cinema no Escurinho sugere a leitura do livro homônimo de Kopenawa e Bruce Albert, bem como a de "O Desejo dos Outros: Uma etnografia dos sonhos yanomami", da antropóloga Hanna Limulja. 

Do mesmo modo, assistir ao documentário Amazônia, a Nova Minamata?" (2022), de Jorge Bodanzky, disponível para compra ou aluguel no YouTube. Há, ainda, outras três iniciativas audiovisuais com Kopenawa:  "A Última Floresta", "Kopenawa: Sonhar a Terra-Floresta" e "Watoriki - Conversa com Davi Kopenawa". 

*Em tempo: "A Queda do Céu" insere trechos de "Os Bandeirantes" (1940), de Humberto Mauro, e de "La Nature" (2020), do documentarista e teórico armeno Artavazd Pelechian. 


Ficha técnica:
Direção e Roteiro: Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha
Produção: Aruac Filmes, coprodução Hutukara Associação Yanomami, Stemal Entertainment com Rai Cinema e produção associada francesa de Les Films d'ici
Distribuição: Gullane+
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h48
Classificação: Livre
Países: Brasil, Itália e França
Gênero: documentário

10 novembro 2025

Documentário "Lar" lança olhar sensível sobre o conceito de “família”

Filme mineiro observa o cotidiano de famílias LGBTQIAPN+ em Belo Horizonte e escuta falas sobre convivência, adoção e criação de laços (Fotos Embaúba Filmes)
 
 

Eduardo Jr.

 
“Filmes são gestos simples e complexos, que podem revelar muito de quem somos”. A frase apresentada em certo momento do documentário “Lar”, que estreia dia 13 de novembro nos cinemas, dá uma ideia do que é o longa dirigido por Leandro Wenceslau e distribuído pela Embaúba Filmes.  

A produção observa o cotidiano de famílias LGBTQIAPN+ em Belo Horizonte e escuta falas sobre convivência, adoção e criação de laços. Ao mesmo tempo, o diretor/narrador traz suas próprias vivências e embala em sentimentos sua obra. 


O diretor queria ter um filho com o marido, mas não sabia como. Até que um casal de professoras universitárias compartilhou com ele as experiências sobre a construção da família, que fizeram Wenceslau entender que, das mais diferentes formas, se edifica um núcleo familiar. Ele decidiu conhecer outras famílias LGBTQIAPN+, e teve a ideia de fazer o filme. 

Em "Lar", o cotidiano simples acaba revelando momentos e sentimentos marcantes. Pais e mães se abrem sobre os desafios de viver em família. Jovens adotados falam sobre pais viciados, abandono e sobre o misto de raiva e culpa que sentem por terem ido para um abrigo. 

Mesmo acolhidos por novas famílias e recebendo afeto, as memórias e percepções do passado os acompanham, provando que o convívio não se faz só de alegrias. 


Na tela, a direção se mostra inteligente. As imagens do Parque Municipal, em Belo Horizonte, casadas com um dos relatos de Wenceslau, deixam claro que, desde cedo, já havia uma busca por se conhecer, se entender como pessoa, como filho e sobre o exercício do papel de pai. 

Sutilmente, a busca por acolhimento se concretiza para o público por meio da construção imagética proposta no filme. Mais precisamente na cena da criança que relaxa, contemplando o céu e o telhado sobre sua cabeça. 

Os passeios e refeições em grupo também estão ali, democráticos, disponíveis aos mais diversos tipos de família. Seja com uma mãe trans, com os avós cisgênero, com dois pais… lar está muito além do laço sanguíneo. 


A sociedade precisa se despir da crença de que há um padrão de família a ser considerado. A conversa sobre a atuação das escolas diante de determinadas composições familiares é um dos pontos altos do documentário "Lar". 

Em síntese, a fala de uma das personagens traduz o que se vê na tela. Família é estar próximo. Apesar dos desencontros, dos traumas e das feridas que o tempo não apaga, a conexão com o mundo pode renascer. 

O documentário deixa claro: lar não é somente abrigo, é reconstrução. É onde se aprende a cair e levantar, a dividir o peso e a força, a controlar e a deixar ir. É no movimento entre rupturas e recomeços que se revela o verdadeiro sentido de pertencimento.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Leandro Wenceslau
Produção: Estalo Criativo
Distribuição: Embaúba Filmes
Exibição: Cine Una Belas Artes
Duração: 1h16
Classificação: livre
País: Brasil
Gênero: documentário

12 setembro 2025

"Seu Cavalcanti" e a devoção que transcende o tempo

Diretor Leonardo Lacca coletou imagens em movimento do avô por mais de duas décadas, que foram transformadas num documentário/ficção (Fotos: Divulgação)


Patrícia Cassese


No início dos anos 2000, à época no vigor dos seus 20 e poucos anos, o recifense Leonardo Lacca teve um impulso: coletar imagens em movimento do avô, Seu Cavalcanti. 

Ali, naquele momento específico, o hoje diretor, roteirista, editor, preparador de elenco e produtor cinematográfico não tinha uma ideia precisa do que iria fazer com o material. 

Fato é que, no curso dos anos seguintes, Lacca continuou imbuído da missão, que, mais recentemente, acabou desaguando na ideia de usar parte do material para estruturar um filme. 


Junto ao insight, uma série de indagações emergiram, principalmente quanto ao formato ideal para levar à telona fragmentos da vida desse personagem até então conhecido apenas por um círculo limitado de pessoas, composto por colegas, amigos, familiares ou vizinhos. 

Certo, também por uns tantos que eventualmente topavam com aquele carismático senhor, ao qual muitos se referiam como "uma figura". Caso, por exemplo, dos mesários da seção na qual o pernambucano votava, alinhado a seus princípios democráticos.


Pitadas ficcionais

"Seu Cavalcanti", o resultado, leva à telona uma mescla de documentário - narrado pelo próprio Leonardo - com pitadas ficcionais, que incluem, por exemplo, a presença da atriz Maeve Jinkins. O filme, vale dizer, foi exibido na Mostra de Cinema de Tiradentes em 2024, quando a iniciativa participou da sessão competitiva Olhos Livres. 

A "docuficção" está em cartaz em várias cidades do Brasil e aqui em Bh, no Cine Una Belas Artes, ostentando credenciais como o fato de ter acoplado, no meio do caminho, na produção, os nomes de Emilie Lesclaux e Kleber Mendonça Filho, da Cinemascópio Produções, e Mannu Costa, da Plano 9.


O início do longa flagra Seu Cavalcanti já com 95 anos, morando na mesma casa que o neto, Leonardo, bem como as duas filhas - sendo uma delas, Tereza, a mãe do cineasta. 

No curso da narrativa, o espectador fica sabendo que Seu Cavalcanti é meio que um pai para Leonardo Lacca, que, como salientado, só passou a se relacionar com o seu genitor biológico na adolescência.

Aliás, ao nascer, Seu Cavalcanti quis inclusive registrar o neto como filho, para que, assim, o garoto tivesse a figura paterna constando em seus documentos. A mãe acabou não aceitando, mas, para a Igreja Católica, Seu Cavalcanti ficou sendo oficialmente o pai de Lacca.


Imagens orgânicas

No filme, Seu Cavalcanti tem imagens de seu cotidiano captadas de forma muito orgânica, sem rebuscamentos, com muito naturalismo. 

Assim, vemos o policial civil aposentado - mas com a carteira em dia, como se orgulha - em atividades prosaicas, seja tomando banho, fazendo a barba, tendo os pelos do nariz aparados, dormindo com o ventilador ligado ou afagando a cadela Nina. 

Aspectos engraçados da sua vida também polvilham a história, como o fato de "dirigir muito mal" (nas palavras do neto/diretor) ou de, singelo e puro que era, aceitar todas as propostas de empréstimos apresentadas pelos funcionários da instituição bancária na qual mantinha conta.

O apego ao carro velho - que, em dado momento, é inclusive roubado - também surge na telona, assim como um namoro furtivo - no caso, encenado com a já citada Maeve Jinkings. 


A formatura da neta é outro momento explorado pela câmera afetiva de Lacca, que, cumpre assinalar, prossegue ativa mesmo após a partida de Seu Cavalcanti, em 2016. 

O que conta é o afeto

A ausência física é, pois, substituída pela presença da memória daquele homem de orelhas grandes e apreço confesso ao whisky, e que se orgulhava de, nas eleições presidenciais de 2014, ter votado na candidata da esquerda. 

Nos momentos finais, uma surpresa relativa a seu passado vem à tona, em cenas que também abrem espaço para um divertido perrengue.


Mas é o elemento afeto que alinhava a iniciativa, tornando esse recorte que irrompe de um núcleo familiar específico passível de enternecer aqueles espectadores que, em suas respectivas trajetórias, porventura tenham vivenciado experiências similares. 

Ou seja, de uma convivência enriquecedora, sob um mesmo telhado, de representantes de gerações distintas que, não obstante as diferenças particulares inerentes a todos os componentes de cada família, partilharam ensinamentos, carinho, respeito, cuidado e, principalmente, amor. 

E são esses elementos que certamente farão com que um filme sobre a vida de um homem comum, lá do Recife, tenha o potencial para aquecer o coração de quem for assistir "Seu Cavalcanti" nos cinemas.


Ficha técnica:
Direção e Roteiro:
Leonardo Lacca
Produção: Cinemascópio Produções, Trincheira Filmes, Plano 9
Distribuição: Cajuína Audiovisual
Exibição: Cine Una Belas Artes
Duração: 1h18
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gêneros: documentário, ficção

03 setembro 2025

“3 Obás de Xangô” é a consolidação da Bahia que conhecemos pelas mãos de três artistas

Esclarecedor e divertido, documentário do diretor Sérgio Machado aborda a amizade entre o escritor Jorge Amado, o compositor Dorival Caymmi e o artista plástico Carybé (Fotos: Primeiro Plano)


Eduardo Jr.


A imagem que se tem da Bahia como uma terra ligada à arte, religiosidade, simplicidade e resiliência passa pelos nomes que centralizam a narrativa do documentário “3 Obás de Xangô”, em cartaz nos cinemas.

A obra do diretor Sérgio Machado aborda a amizade entre o artista plástico Carybé (1911-1997), o cantor e compositor Dorival Caymmi (1914-2008) e o escritor Jorge Amado (1912-2001). Um elo que se fortifica pela representatividade deles para o candomblé e pela colaboração na construção de uma identidade baiana. 

Não é a primeira vez que Sérgio retrata a Bahia. A terra natal do diretor foi cenário do longa “Cidade Baixa” (2005), que apresenta uma amizade que vai se esfacelando e elementos que perpassam Salvador e as obras de Amado, Carybé e Caymmi, como a pobreza, a prostituição e o mar. 

Agora, o diretor se volta para a força do laço fraterno, a religiosidade, e coloca os temas citados como subtítulos da arte produzida pelos três.  


Tamanha identificação com a história da Bahia resultou no título de Obás de Xangô que os três receberam. Mãe Aninha, mandatária do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, criou o título nos anos 1930. O objetivo era que os Obás atuassem como mediadores entre o terreiro de candomblé e a sociedade. 

Chama atenção a frase na abertura do filme: “Liturgia significa o poder do povo enquanto consenso, política significa o poder do povo enquanto diferenças”. 

Em uma época em que a intolerância religiosa taxava como crime as manifestações de matriz africana, a escolha de Mãe Aninha por expoentes da cultura foi estratégica.


A expressividade de Amado, Carybé e Dorival pode ser entendida logo no início do documentário, em uma carta narrada por Lázaro Ramos, onde diz que os três “engravidaram do povo e pariram a Bahia na popa de um saveiro, numa barraca de folhas, num ritual no mercado, no peji de Iemanjá no Rio Vermelho. Foram a face, a voz, o pranto e o riso do povo da Bahia”. Parece não haver definição melhor.

A produção do documentário começou em 2018, baseada em cenas de arquivo e em material não aproveitado de um média-metragem dos anos 1990, filmado por Walter Carvalho. 

Há também entrevistas realizadas com o jornalista Muniz Sodré, o escritor Itamar Vieira Júnior, o cantor Gilberto Gil, e Zélia Gattai, esposa de Jorge Amado. 


Completam a obra cenas de filmes de Bruno Barreto, Nelson Pereira dos Santos e fotos de Pierre Verger, que mesmo estáticas, exalam vida. Não por acaso, "3 Obás de Xangô" conquistou o prêmio de 'Melhor Documentário do Ano' no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. 

Venceu também o Grande Otelo de 'Melhor Longa-Metragem', foi eleito 'Melhor Filme' pelo Júri Popular, na Mostra de Cinema de Tiradentes, além de ganhar o Redentor de 'Melhor Documentário' no Festival do Rio. Além do Prêmio do Público de 'Melhor Documentário Brasileiro' na Mostra de São Paulo. 


Força da mulher

Outro mérito do filme é que as presenças de Amado, Carybé e Dorival deixam de ser o único atrativo quando surgem na tela as raras imagens de Joãozinho da Goméia, Camafeu de Oxossi, Mãe Stella de Oxóssi e Mãe Menininha do Gantois. 

Inclusive, exaltar a força da mulher é uma das aspirações do longa. Para além do canto de Caymmi e do protagonismo feminino nas telas e páginas criadas por Carybé e Jorge Amado, o longa é firme ao expor que as mulheres é que comandavam terreiros e cuidavam de orixás, e não os homens. 

“Uma aceitação do poder feminino que talvez seja maior na Bahia do que em qualquer outro lugar”, é o que se ouve em uma das entrevistas. “3 Obás de Xangô” é uma aula que acaba nos lembrando uma canção de Caymmi, que assume ares de conselho de amigo: “você já foi à Bahia? Não? Então VÁ!” 


Ficha Técnica
Direção: Sérgio Machado
Roteiro: Sérgio Machado, Gabriel Meyohas, Josélia Aguiar, André Finotti
Produção: Coqueirão Pictures, com coprodução da Janela do Mundo, Globo Filmes e GloboNews
Distribuição: Gullane+
Duração: 1h15
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gênero: documentário