30 setembro 2023

“Marinheiro das Montanhas” e “Nardjes. A” lançam olhar poético sobre a memória e o futuro da Argélia

Novos longas de Karim Aïnouz chegam simultaneamente às telas dos cinemas brasileiros (Fotos: Divulgação)


Carolina Cassese
Blog no Zint

Já há algum tempo que, em entrevistas concedidas à imprensa, Karim Aïnouz ("O Céu de Suely" - 2006, "Praia do Futuro" - 2014, "A Vida Invisível" - 2019) vez ou outra deixava escapar detalhes de um projeto: o de registrar uma jornada de descobertas a serem feitas in loco no país responsável por 50% de seu DNA: a Argélia. Colocado em prática, o trabalho chega agora às telas dos cinemas brasileiros com o título "Marinheiro das Montanhas". 

A novidade é que a produção (que, no Brasil estreou na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, tendo sido exibido anteriormente no Festival de Cannes, fora da competição oficial) entra em circuito junto com outro longa assinado por Aïnouz: "Nardjes A.". 

Os dois filmes podem ser conferidos na sala 3 do Una Cine Belas Artes, o primeiro com sessão às 20h40 e o segundo com sessão às 15h50.


Nascido em Fortaleza, Karim Aïnouz é fruto da relação de uma brasileira - de nome Iracema - com um argelino, Majid. Os dois se conheceram nos Estados Unidos, mais precisamente no estado do Colorado, no início dos anos 1960. No entanto, o casal acabou se separando e Karim só foi conhecer o pai no começo da vida adulta. 

Iracema faleceu em 2015 e o genitor do cineasta mora há tempos na França, tendo tido uma filha - Kamir - do casamento com uma francesa. Vale dizer que Kamir Aïnouz também é cineasta e esteve no Brasil em 2021 para lançar o filme "Charuto de Mel".


Sobre "Marinheiro das Montanhas", é importante destacar que, ao partir para a terra natal do pai, Karim decide ir sem a companhia dele. E em vez de optar pela comodidade de viajar em um avião, prefere fazer a travessia - partir de Marselha - rumo a Argel, por mar. A viagem foi realizada em 2019, quando Aïnouz estava com 54 anos.

O desembarque se dá na capital do país, mas o objetivo principal é chegar na Cabília, a cidade natal de seu pai. Durante todo o percurso, o espectador se depara com as lembranças da infância e da juventude de Karim, narradas por ele próprio, intercaladas com as descobertas do cotidiano de um país que, embora entranhado em sua existência, era ainda bastante desconhecido para ele. Aïnouz não hesita em registrar cenas e figuras com as quais se depara aleatoriamente, pelas ruas ou estabelecimentos comerciais.


Em Cabília, ele logo percebe que seu sobrenome é bastante comum por lá (o diretor chega a encontrar um homônimo na visita). Karim acaba sendo identificado como o filho de Majid, e, assim, entra em contato com parentes, que abrem as portas de suas casas para o visitante adentrar seus domínios. 

Nesta visita à própria história, a narração do diretor conduz o espectador tanto para o interno de sua mente quanto para o que está se descortinando diante de seus olhos.


Ainda sobre sua condução, é interessante o exercício que o cineasta faz ao imaginar como seria a vida do “Karim ao contrário”, ou seja, como teria sido passar a vida toda na Argélia e decidir conhecer Fortaleza aos 54 anos. 

Bastante explorado em narrativas sobre migrações, o tema do “sujeito dividido” ganha um tom poético e inventivo em “Marinheiro das Montanhas”.

Ao fim do longa, é difícil não se lembrar também de Maïwenn Le Besco, atriz francesa de origem igualmente argelina que, poucos anos atrás, lançou o filme "DNA", exibido no Brasil. Neste filme, ela interpreta Neige, personagem que também vai atrás de suas raízes na Argélia (nesse caso, trata-se de uma ficção).


Ficha técnica:
Direção: Karim Aïnouz
Produção: Videofilmes e coprodução Globo Filmes e Globo News
Distribuição: Gullane
Duração: 1h38
Exibição: sala 3 do UNA Cine Belas Artes, com sessão às 20h40
Classificação: 12 anos
Países: Brasil, Alemanha, França, Argélia e Qatar

"Nardjes A."

Já o longa "Nardjes A.", o outro lançamento do diretor, opta por um recorte referente à mesma Argélia: os protestos populares nas ruas de Argel, contrários ao então presidente Abdelaziz Bouteflika (1937-2021), que estava no poder há mais de 20 anos. 

No filme, de 2019, Karim acompanha um dia na vida da jovem argelina que batiza o filme em meio a todo o movimento que o surpreendeu na visita ao país.

A protagonista representa, pela câmara de Aïnouz, os milhares de jovens que, em vários países árabes, se encontraram (encontram) em praças e ruas para clamar por mudanças. Sob a pressão dos protestos, Bouteflika acabou renunciando.


"Nardjes A." foi exibido no Festival de Cinema de Berlim na edição 2020. Neste projeto, Karim, usando um smartphone, consegue obter imagens impressionantes. 

Ao mostrar a juventude, ele imagina um futuro que pode ser diferente daquele no qual foi gerado, quando a figura da mulher sofria opressões mais severas. Dessa maneira, junto a uma declaração de amor à mãe, ele saúda as novas mulheres, representadas por Nardjes.


No material relativo ao filme, enviado à imprensa, Karim declara: "Assim que conhecemos Nardjes, à época com 26 anos, de alguma forma reconhecemos o filme. A princípio o que me atraiu foi a possibilidade de, através de sua vida, capturar uma visão mais subjetiva do que estava acontecendo. Filmar essas 24 horas ao seu lado foi a maneira como conseguimos nos aproximar do significado do que estava acontecendo nas ruas".

O diretor falou ainda sobre a sua intenção de realizar um filme "ousado, alto, barulhento, rápido e voraz", que representasse o tom das manifestações: “As manifestações de Argel ressoam além da Argélia. Elas mostram uma geração que teve seu futuro roubado, mas ainda encontra na esperança um lugar fértil para imaginar o amanhã". 

As reflexões presentes nos dois filmes, portanto, não se limitam ao território argelino: há muito o que reconstruir nestas terras, do outro lado do oceano.


Ficha técnica:
Direção: Karim Aïnouz
Coprodução: Canal Brasil, Watchmen Productions (Alemanha), MPM Film (França), Show Guest Entertainment (Argélia) e Instituto de Cinema de Doha (Qatar)
Distribuição: Gullane
Duração: 1h20
Exibição: sala 3 do UNA Cine Belas Artes, com sessão às 15h50
Classificação: 10 anos

29 setembro 2023

"Notícias Populares" resgata o jornalismo sensacionalista dos anos 1990

Série nacional celebra os 25 anos do Canal Brasil com sete episódios a cada sexta-feira, a partir de hoje
(Fotos: Arthur Costa/Canal Brasil)


Eduardo Jr.


O jornal “Notícias Populares”, que fez fama em São Paulo pelas manchetes e pautas escandalosas, está de volta aos holofotes. Mas agora em formato audiovisual. A publicação, que circulou entre 1963 até 2001 virou série, batizada com o mesmo nome. A estreia acontece nesta sexta-feira (29) e a primeira temporada tem sete episódios gravados, com exibição a cada sexta-feira, sempre às 22h30.

A produção é parte das comemorações dos 25 anos do Canal Brasil e também será disponibilizada no Globoplay +. André Barcinski e Marcelo Caetano assinam a criação e o roteiro da obra, que traz de volta algumas das matérias que viralizaram (antes mesmo de o termo entrar na moda).


Para quem não conheceu o jornal, será a chance de se espantar e se divertir com casos como o do “bebê diabo”, a “revolta das prostitutas”, ou tentar desvendar alguns easter eggs, como o da atriz da novela das oito que mantinha um romance regado a drogas com outro ator durante as gravações.

Caminhando entre a comédia e o absurdo, a série traz sete capítulos, de aproximadamente 45 minutos cada. A história se passa em 1993, uma época em que assinatura de jornal não era tendência, sendo preciso fazer com que as notícias vendessem o máximo possível de jornais impressos. 

“Notícias Populares” é uma série de ficção, baseada no humor popular e nos excessos. Um exemplo disso vem logo nas primeiras cenas, que mostram um homem de cueca em pleno ambiente de trabalho, e na parede, muita mulher pelada. Está dado o recado de que aquele é um ambiente machista.


A trama começa a se movimentar com a chegada de uma correspondente internacional, que sai de Paris para modernizar o jornal (que é uma subdivisão de menor prestígio da Folha de São Paulo). 

O editor Matias, vivido por Rui Ricardo Diaz (“Lula, O Filho do Brasil”, 2009), apresenta essa nova colega como uma profissional que veio “direto do rio Sena para o rio Tietê”.

A reação de incredulidade que temos diante dessa frase é a mesma que se estampa no rosto da jornalista Paloma Fernandes, personagem da atriz Luciana Paes (“Divórcio”, 2017) ao se deparar com aquela redação bagunçada. 

E a redação é um caso à parte. O cenário poluído, com muitas cores, foi reconstruído no prédio da Folha de São Paulo, a partir de imagens da antiga sala onde o jornal funcionou.


Também foram resgatados alguns objetos originais da equipe do "NP". Chega a lembrar Almodóvar. Inclusive, uma das personagens do cineasta espanhol, Andrea Caracortada (papel de Victoria Abril, no filme “Kika”, 1993), serviu de inspiração para Bruna Linzmeyer (“O Filme da MinhaVida”, 2017) dar vida a Rata, uma repórter de TV que atravessa o caminho do periódico.

O jornal marcou seu nome na história não só por trazer assuntos que paralisavam trabalhadores em frente às bancas de revistas, mas também por falar a língua do povo, se distanciando das redações silenciosas e sem emoção, frequentemente retratadas em Hollywood.

Na coletiva on-line para lançamento da série, conversamos com os diretores e elenco, e descobrimos que o "NP" teve a primeira colunista social negra. O papel da personagem Greta ficou a cargo da atriz Ana Flávia Cavalcanti (“Corpo Elétrico”, 2017).


O elenco conta também com Ary França (“45 do Segundo Tempo”, 2022) e Rejane Faria (“Marte Um”, 2022). A atriz mineira vive a fotógrafa Marina, e por meio dela se percebe que o "Notícias Populares" atuava numa ética diferente. 

Em nome de uma boa foto, ela pede pra polícia alterar uma cena de crime, virando para a câmera o rosto de um bandido, morto por um justiceiro que era considerado herói na comunidade.

Com isso, a série nos convida a refletir que isto não é fator de condenação para o jornal. Segundo Rui Ricardo Diaz, o "NP" era um microcosmo do país. 

Se, assim como nos anos 1990, ainda hoje convivemos com pedidos de vingança contra a criminalidade, com manchetes que parecem ter sido inventadas de tão absurdas, o jornal está errado em refletir aquilo que somos enquanto sociedade?


A criação de conteúdo e os métodos de investigação do “Notícias Populares” foram traduzidos para as gerações atuais graças ao conhecimento do diretor. 

Barcinski foi repórter do “NP” e, além de ter vivido parte daquela história, pesquisou mais de mil exemplares para selecionar quais seriam as histórias representadas na série. O resultado promete divertir.

Nos episódios liberados para a equipe do Cinema no Escurinho, algumas subtramas ficam pelo caminho, mas é possível que sejam esmiuçadas no futuro, caso se concretize uma segunda temporada. 

A gerente de programação, aquisições e projetos do Canal Brasil, Marina Pompeu, disse que será preciso um teto financeiro mais favorável para executar uma continuação da série. Para um jornal que estampou na capa a espantosa manchete “Jacaré cocô levou meu filho”, material é que não falta!


Ficha técnica:
Direção: André Barcinski e Marcelo Caetano
Produção: Kuarup Produção e Canal Brasil
Exibição: todas as sextas-feiras, no Canal Brasil, com reprises nas segundas, às 2h15; terças, às 21h45; madrugadas de quarta para quinta, à meia-noite
Duração: 45 minutos
País: Brasil
Gênero: comédia

28 setembro 2023

"Jogos Mortais X" volta ao passado e se reinventa como franquia

Décimo capítulo se passa entre os eventos do primeiro e segundo filmes e resgata o assustador Jigsaw (Fotos: Paris Filmes/Divulgação)


Marcos Tadeu
Blog Narrativa Cinematográfica


O mais novo capítulo da franquia "Jogos Mortais X" ("Saw X") chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, com uma boa novidade: o retorno do ator Tobin Bell, interpretando John Kramer/Jigsaw. Também no elenco principal estão Steven Brand, Synnøve Macody Lund e Shawnee Smith. 

O diretor Kevin Greutert retorna em um filme icônico, cheio de simbolismo e de toda mitologia da franquia construída até aqui. E o público ainda poderá assistir este filme com ingressos a preços populares de R$ 12,00 na Semana do Cinema, que acontece de hoje a 4 de outubro em dezenas de salas do país.


Em "Jogos Mortais X", que se passa entre os eventos do primeiro e do segundo filmes, vemos Kramer, mais velho, doente e desesperado, que parte em uma viagem para o México em busca de um procedimento experimental e uma cura milagrosa para seu câncer. 

Ao descobrir que toda a operação é, na verdade, um golpe, Jigsaw entra em cena para vingar todos os que fizeram mal a ele e a todas as vítimas inocentes mortas. Em um jogo brutal, o protagonista cria armadilhas mais cruéis e dementes do que nunca. Este episódio é o primeiro que se passa no México.

O ritmo do filme é um pouco lento no início, dando a impressão de que as coisas não vão acontecer. Esse talvez seja um ponto negativo do roteiro, que se perde em relação à linha de ação que nosso protagonista irá focar. 


No entanto, a forma como John Kramer busca sua cura é muito bem apresentada, dando tempo para o público entender seu problema. Também temos participações especiais de personagens que marcaram a franquia, o que deverá agradar quem acompanha "Jogos Mortais" nesses quase 20 anos.

As armadilhas e os jogos mantêm sua essência e há um esforço notável para agradar aos fãs, incluindo a presença icônica do boneco em cima da bicicleta velha e as gravações com a voz de Jigsaw usando o jargão "Eu quero jogar um jogo com você". 

A trilha sonora clássica também está presente, embora com uma roupagem nova. A espinha dorsal do que torna "Jogos Mortais" único está bem representada e é um prato cheio para os fãs.


Talvez este seja o filme que mais nos faz questionar quem é o mocinho e quem é o vilão, devido à forma como o roteiro apresenta os personagens. Isso se aplica principalmente ao novo grupo de atores que injeta energia nesse jogo repleto de aflição. Destaque para a dra. Cecília Pederson (Synnøve Macody Lund), a enfermeira Valentina (Paulette Hernandez), Gabriela (Renata Vaca) e seu amante cirurgião Mateo (Octavio Hinojosa).

Arrisco dizer que este é o episódio de "Jogos Mortais" mais pessoal de toda a jornada de John Kramer até agora, explorando questões morais e éticas ao longo da franquia. Sem dúvida, o décimo capítulo traz muitas novidades, especialmente em seu ato final, com reviravoltas surpreendentes e um desfecho digno de continuação. 


A direção de Kevin Greutert é respeitosa com a franquia, especialmente porque ele já dirigiu alguns capítulos anteriores, como "Jogos Mortais 6" (2009) e "Jogos Mortais: O Final" (2010), demonstrando maestria e familiaridade ao retornar com o famoso personagem após quase 13 anos longe das telas. 

Este filme funciona bem por si só, sendo uma ótima oportunidade para novos fãs conhecerem a franquia, embora seja importante estar preparado. "Jogos Mortais" não é para os fracos de estômago, apresenta cenas de tortura de diversas formas, com muito sangue que causam repugnância. 

No entanto, o enredo é bem construído e repleto de reviravoltas, tornando cada jogo mais tenso e fazendo com que questionemos se as pessoas merecem ou não passar por esses desafios para sobreviver. Dito isso, fica o aviso.


"Jogos Mortais X" consegue se reinventar, mesmo que voltando ao passado para explicar suas motivações. O sucesso de crítica e de bilheteria é quase certo. É importante mencionar que o filme possui duas cenas pós-créditos curtas, mas que ajudam a conectar com outras produções da franquia. Estas cenas dão pistas sobre o que podemos esperar no futuro, incluindo personagens icônicos, principalmente do primeiro filme, dirigido por James Wan em 2004. 

Para um melhor aproveitamento do filme, as redes Cinemark e Cinépolis contarão com sessões D-BOX e 4DX respectivamente, em versões dubladas e legendadas. O filme também está em exibição em sessões 2D nas salas da rede Cineart.


Ficha técnica:
Direção: Kevin Greutert
Produção: Lionsgate e Twisted Pictures
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h58
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: terror, suspense

26 setembro 2023

Inteligência Artificial e efeitos visuais são os destaques de "Resistência"

Ficção dirigida e roteirizada por Gareth Edwards aborda o avanço da nova tecnologia e o temor de que as máquinas exterminem a raça humana (Fotos: 20th Century Studios)


Maristela Bretas


"Um filme que levanta questões sobre inteligência artificial e seu impacto na sociedade, como ética, controle, autonomia e, principalmente a diferença entre criação humana e artificial. A obra é provocativa e estimula o público a refletir sobre o papel da IA em nossas vidas e questionar até que ponto podemos confiar nas informações que encontramos diariamente".

Se você leu esta abertura até o final e não notou nada diferente, então comece a se questionar até onde as informações que chegam ao público por meio de textos e mídias foram produzidas por uma pessoa ou por Inteligência Artificial. Como o parágrafo acima, feito usando uma plataforma simples de IA. E é este o tema do filme "Resistência" ("The Creator"), que estreia nesta quinta-feira nos cinemas. E aí achou válido? 


"Resistência" é um filme que passa a impressão, em alguns momentos, de ter sido feito por meio desta tecnologia, com frases clichês. Já os efeitos visuais são excelentes. Gareth Edwards, que dirigiu "Rogue One - Uma História Star Wars" (2016) e "Godzilla" (2014), usou e abusou da criatividade e da experiência com produções de ficção científica para falar do assunto mais discutido da atualidade - a Inteligência Artificial e como ela está avançando em todos os setores.

O diretor também faz duras críticas à exploração dos povos asiáticos pelas grandes potências, em especial os Estados Unidos, que usa seu poderio bélico para dominar estes povos, que acabam se rebelando, usando seu avançado o conhecimento em tecnologia e IA. Tanto que são eles a aceitarem e conviverem em harmonia e protegerem com os chamados similares - robôs com consciência e aparência humana.


Não faltam cenas ação, explosões, grandes batalhas e caçadas aos robôs e seus aliados, considerados inimigos dos Estados Unidos. John David Washington ("Infiltrado na Klan" - 2018) convence como o ex-agente federal Joshua. Mas esse não é seu melhor papel do ator, falta emoção em seu personagem, apesar de protagonizar os momentos mais dramáticos do filme.

A verdadeira estrela do longa é a jovem Madeleine Yuna Voyles, que faz o papel de Alphie, a criança-robô. A atriz mirim, estreante no cinema, é pura emoção e carisma, o que falta em outros personagens. O elenco reúne ainda grandes nomes, como Gemma Chan ("Eternos" - 2021), Sturgill Simpson, Allison Janney e Ken Watanabe, que interpretam humanos e robôs similares.


A disputa entre seres humanos e máquinas, vai além do uso da tecnologia. Trata-se do controle da Inteligência Artificial, especialmente porque as máquinas passam a ter consciência e querem ser livres. E os humanos temem perder o poder e começam uma matança de inocentes e destruição. Ironicamente, a parte mais humana da história é Alphie, que tenta resolver a crueldade e a natureza bélica do ser humano e de seus similares com atos de amor ao próximo. 


"Resistência" se passa em um futuro distante, em meio a um planeta tomado por uma intensa guerra entre seres humanos e apoiadores da Inteligência Artificial depois que uma ogiva nuclear, disparada por erro, dizimou a população de Los Angeles. O ex-agente Joshua é recrutado para localizar e matar o Criador - um misterioso arquiteto responsável por desenvolver uma arma capaz de acabar com a máquina de destruição dos humanos e pôr fim ao confronto.

Inconformado com a morte da mulher Maya (Gemma Chan), Joshua e sua equipe, sob o comando da coronel Jean Howell (Allison Janney), partem para o território ocupado pela IA em busca desta arma, mas ele acaba descobrindo que uma criança está envolvida com os rebeldes.


O longa é dividido em capítulos, com enredo bem óbvio e alguns diálogos até previsíveis, como se tivessem sido inspirados em filmes anteriores do diretor, como "Rogue One". Mesmo assim são capazes de levar o expectador a pensar até onde os chamados seres humanos estão ficando mais insensíveis que as máquinas criadas por eles e qual o nosso futuro com o avanço da IA. 

A trilha sonora do excelente Hans Zimmer, como sempre é ótima e ajuda a envolver ainda mais o expectador na história. Para alguns críticos, "Resistência" está sendo considerado o filme de ficção científica do ano, comparado a "Blade Runner". Não sei se chega a tanto. 

A produção é bem interessante pelas abordagens apresentadas pelo roteiro e o bom uso de CGI, que empregou imagens feitas em países como Nepal, Tailândia, Japão, Indonésia, Camboja e Vietnã. Posteriormente elas foram usadas para criar os excelentes efeitos visuais. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Gareth Edwards
Produção: 20th Century e New Regency Pictures
Distribuição: 20th Century Studios
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h13
Classificação: 14 anos
Países: EUA e Reino Unido
Gêneros: ficção, drama

23 setembro 2023

Mostra 17ª CineBH começa dia 26 com programação gratuita e exibição de 93 filmes

Serão 56 sessões exibidas em oito espaços de BH, com produções voltadas para
 todas as idades e públicos (Fotos: Universo Produções)


Da Redação


A partir desta terça-feira (26/09) até o dia 1º de outubro, Belo Horizonte será palco da 17ª CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte, com programação intensa e gratuita - presencial e online - para todo o Brasil. 

Serão 93 filmes nacionais e internacionais de 13 países (Alemanha, Argentina, Brasil, Catar, Chile, Colômbia, Cuba, França, México, Paraguai, Peru, Romênia) e 12 estados brasileiros (Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Roraima, Santa Catarina, São Paulo). 

Os filmes serão exibidos em 56 sessões de oito espaços da cidade mineira: Casa da Mostra, Cine Theatro Brasil Vallourec, Fundação Clovis Salgado (Cine Humberto Mauro, Sala João Ceschiatti, Sala Juvenal Dias, Jardim Interno), Salas de Cinema Minas Tênis Clube, Cine Sesc Palladium, Cine Santa Tereza, Teatro Sesiminas, Praça da Liberdade. Conheça todos os filmes que serão exibidos nas mostras clicando aqui.

Rafael Conde e Yara de Novaes

Cada ambiente terá um perfil de atividade e de exibições, com encontros, bate-papos e negociações. A programação, voltada para todas as idades e públicos, traz sessões de pré-estreias, mostra-homenagem, sessões infantis e escolares e dois recortes dedicados à produção latino-americana, incluindo a inauguração da primeira edição de uma competição internacional, a Mostra Território. 

A abertura acontece no Cine Theatro Brasil Vallourec, com performance audiovisual e pré-estreia de “Zé”, mais novo longa-metragem do mineiro Rafael Conde. O diretor e também a atriz e diretora mineira Yara de Novaes são os homenageados dessa edição e receberão o Troféu Horizonte por suas trajetórias. Clique aqui para ver a programação.

Mostra Território
Conta com oito longas de sete países latinos: "Guapo'y" (Sofia Paoli Thorne, Paraguai/Catar); "Otro Sol" (Francisco Rodriguez Teare, Chile/França/Bélgica), "Moto" (Gastón Sahajdacny, Argentina); "Llamadas desde Moscu" (Luis Alejandro Yero, Cuba); "A La Sombra de la Luz" (Isabel Reyes e Ignacia Merino, Chile); "Diogenes" (Leonardo Barbuy, Peru); "Puentes en el Mar" (Patricia Ayala Ruiz, Colômbia); e "Toda Noite Estarei Lá" (Tati Franklin e Suellen Vasconcelos, Brasil).

"Otro Sol" - diretor Francisco Rodriguez Teare

Mostra Continente
Com curadoria de Cléber Eduardo, Ester Fér, Leonardo Amaral e Marcelo Miranda, a Mostra Continente reúne 14 longas com a temática "Territórios da Latinidade". São eles: "El Reino de Dios" (Claudia Sainte-Luce, México); "Las Preñadas" (Pedro Wallace, Argentina/Brasil); "Rejeito" (Pedro de Filippis, Brasil); "Vieja Viejo" (Ignacio Pavez, Chile); "El Grossor del Polvo" (Jonathan Hernández, México); "Utopia" (Laura Gómez Hinchapié, Colômbia); "Nada Sobre meu Pai" (Susanna Lira, Brasil); "Sean Eternxs" (Raúl Perrone, Argentina); "Amanhã" (Marcos Pimentel, Brasil); "Propriedade" (Daniel Bandeira, Brasil); "Tan Inmunda Y Tan Feliz" (Wince Oyarce, Chile); "Anhell69" (Theo Montoya, Colômbia); "O Estranho" (Flora Dias e Juruna Mallon, Brasil); e "A Longa Viagem do Ônibus Amarelo" (Julio Bressane e Rodrigo Lima, Brasil). Este último será exibido no segmento chamado "Cinema de Fôlego", por conta de suas 7h10 de duração.

"El Grossor del Polvo" - diretor Jonathan Hernández

Mostra Diálogos Históricos
Celebra este ano a memória e o talento do dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, que faleceu este ano. Os títulos, selecionados por Cléber Eduardo e Marcelo Miranda, são: "Prata Palomares" (André Faria, 1970); "O Rei da Vela" (1982); e "Fedro" (Marcelo Sebá, 2021).

Mostra CineMundi
Uma seleção que reúne filmes brasileiros que tiveram projetos apresentados no programa Brasil CineMundi em edições anteriores do evento. Neste ano serão mostrados "Mato Seco em Chamas", de Joana Pimenta e Adirley Queirós; "Paterno", de Marcelo Lordello; e "Tia Virgínia", de Fábio Meira, recentemente premiado com cinco troféus no Festival de Gramado, incluindo melhor atriz para Vera Holtz.

"Tia Virgínia" - diretor Fábio Meira

Mostra Praça
São documentários apresentando histórias reais e instigantes para o público presente no cinema instalado na Praça da Liberdade. Dois títulos tratam de figuras importantes no cenário cultural brasileiro: "Andança – Encontros e Memórias de Beth Carvalho", de Pedro Bronz, e "Lô Borges – Toda Essa Água", de Rodrigo de Oliveira. 

Outras três produções completam a mostra, os curtas-metragens "Senhores de Aruanda – Umbanda e Resistência", de Caio Barroso, e "Folia dos Anjos", de Kdu dos Anjos; além do documentário mineiro "Gerais da Pedra", de Diego Zanotti.

A Cidade em Movimento
Com curadoria de Paula Kimo, a mostra este ano tem o tema "Olhar o Horizonte". Ao todo são 16 filmes realizados em Belo Horizonte e região metropolitana, com pouco ou nenhum recurso financeiro, em cinco sessões na sala, sempre seguidas de rodas de conversa com convidados especiais sobre os assuntos dos filmes em questão.

"Gerais da Pedra" - diretor Diego Zanotti

A 17ª CineBH conta ainda com a Mostra de Curtas, com a seleção de curtas-metragens sob a curadoria de Tatiana Carvalho Costa e Marcelo Miranda. Já a Mostrinha de Cinema terá duas sessões para toda a família, com a exibição de longas-metragens de animação realizados em Minas Gerais: "Placa Mãe", de Igor Bastos, produzido em Divinópolis (primeiro trabalho do gênero feito no interior do estado) e "Chef Jack", de Guilherme Fiuza Zenha, produzido em BH.

Nas sessões Cine-Escola, crianças e adolescentes, de cinco a 14 anos, poderão assistir a produções nacionais voltadas para sua faixa etária e participar de um bate-papo sobre os filmes e os temas neles abordados. Ao todo, serão seis sessões de cinema com 13 filmes brasileiros.

"Bolha" - diretor Leandro Wenceslau

14º Brasil CineMundi

No mesmo período acontece o 14º Brasil CineMundi – International Coproduction Meeting, encontro de coprodução internacional. O evento terá a presença de 40 convidados internacionais e brasileiros de 18 países (Alemanha, Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Cuba, Espanha, EUA, França, Holanda, Itália, México, Peru, Portugal, Reino Unido, Suíça, Uruguai).

Eles vêm participar de meetings e consultorias com os 50 projetos selecionados para esta edição. São 40 projetos em desenvolvimento, sendo 10 na categoria Horizonte (representa o horizonte de temas, diversidade e criação do audiovisual brasileiro), seis na DocBrasil Meeting (focada em documentários), seis na Foco Minas (exclusiva para projetos mineiros) e 18 na categoria Paradiso Multiplica (parceria com o Projeto Paradiso, incubadora de talentos).

O CineMundi promove intercâmbio entre mercado e projetos de filmes brasileiros, potencializa conexões entre realizadores independentes, parceiros e troca de ações e informações e seleciona diversos projetos para compor rodadas de negócio com produtores para orientações que possam auxiliar na viabilidade das propostas.


Serviço
17ª CineBH - Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte
Data: 26 de setembro a 1º de outubro de 2023
Locais: Cine Theatro Brasil Vallourec, Fundação Clóvis Salgado (Cine Humberto Mauro, Sala João Ceschiatti, Sala Juvenal Dias, Jardim Interno), salas de cinema do Centro Cultural Minas Tênis Clube, Sesc Palladium, Cine Santa Tereza, Teatro Sesiminas e Praça da Liberdade
Informações pelo telefone: (31) 3282-2366
Site oficial do evento: www.cinebh.com.br

19 setembro 2023

"Som da Liberdade" - imagina entrar no quarto e ver a cama de um filho vazia

Longa com Jim Caviezel faz alerta revoltante para o tráfico sexual infantil que já supera o de armas (Fotos: Saje Distribution)


Maristela Bretas


Revolta, angústia, medo são os sentimentos que o espectador, com um mínimo de sensibilidade, vai ter já nos primeiros minutos de "Som da Liberdade" ("Sound of Freedom"), filme que estreia nesta quinta-feira (21) nos cinemas brasileiros. Um tapa na cara, que serve de alerta para as pessoas se conscientizarem sobre um problema grave que todos sabem que existe, mas preferem acreditar que só acontece em países distantes - o tráfico de crianças para exploração sexual.


O diretor Alejandro Monteverde utiliza imagens reais das operações de combate aos grupos de traficantes de crianças, preservando os rostos das vítimas verdadeiras. O mesmo acontece com as cenas de violência sexual contra as crianças protagonistas do filme, que não são mostradas. 

Ele emprega alternativas que emocionam por deixarem bem claro o que está acontecendo. Como as lágrimas do policial escorrendo pelo rosto quanto assiste fitas de vídeos apreendidas com pedófilos. Mesmo sem mostrar abertamente o abuso sexual, é repugnante saber que é uma realidade cruel.


Os números deste crime, que já ultrapassou o comércio de armas ilegais e logo vai superar o tráfico de drogas, são alarmantes e a produção apresenta isso. Como é falado no filme "um pacote de pó só dá para vender uma vez, mas uma criança é vendida 10 vezes por dia".

Adaptado de uma história real, "Som da Liberdade" foi sucesso nas bilheterias dos Estados Unidos. O drama é protagonizado por Jim Caviezel (“A Paixão de Cristo”), que interpreta o ex-agente da Segurança Nacional dos EUA, Tim Ballard, que trabalhava numa divisão especializada no combate à pedofilia.


Depois de resgatar o pequeno Miguel (Lucas Ávila), ele passa a procurar também a irmã do menino, Rocio (Cristal Aparício) que, junto com outras crianças foram levadas por traficantes para serem vendidas e exploradas sexualmente pelo mundo. No caso do filme, muitas delas eram de famílias de países da América Central e do Sul. 

Abalado com o crescente número de crianças desaparecidas, Tim passa a caçar os responsáveis para tentar salvar o máximo de vítimas e devolvê-las a seus lares. Sem apoio do governo norte-americano, o agente decide deixar seu emprego para salvar Rocio do cativeiro na selva colombiana.


Na vida real, Tim Ballard, depois que deixou de ser agente do governo dos EUA, fundou a Operation Underground Railroad (OUR), uma organização sem fins lucrativos que atua na luta antitráfico de pessoas. 

O drama conta ainda no elenco com Bill Camp (Vampiro), Mira Sorvino (esposa de Tim), José Juniga (pai de Miguel e Rocio), o também produtor Eduardo Verastegui (Pablo) e vários outros. 


Ao mesmo tempo em que polêmicas e teorias da conspiração rondam a produção e serviram para desviar o foco do verdadeiro problema - o tráfico de crianças -, elas também atraíram o público para os cinemas. 

Engavetado desde 2018, o filme, até o momento, arrecadou mundialmente US$ 210 milhões (cerca de R$ 1,2 milhão), um grande feito para uma produção que custou US$ 14,5 milhões (cerca de R$ 70 milhões). 


"Som da Liberdade" é uma ótima produção, bem feita, com boas interpretações e frases que não saem da cabeça da gente: "imagina entrar no quarto de nossa filha e ver a cama vazia?" Quem tem filho sabe o que é ter esse pavor. 

Este é o maior trunfo da produção: provocar incômodo (e revolta) nas pessoas ao mexer numa ferida que está mais perto de nós do que imaginamos, o sequestro de crianças para tráfico sexual. Um crime que só precisa de uma distração dos pais ou responsáveis e pode acontecer num parque, numa escola, na rua ou até dentro de casa. O longa vale a pena ser conferido por sua abordagem.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Alejandro Monteverde
Produção: Angel Studios
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h11
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: suspense, drama, biografia, suspense 

15 setembro 2023

Longa “Sem Ar” é uma experiência claustrofóbica e angustiante

Suspense alemão se passa no fundo do mar envolvendo duas irmãs que viajam para mergulhar num lugar remoto (Fotos: Paris Filmes) 


Eduardo Jr.


Seria possível que, observando a imensidão do mar, nos sentíssemos presos? A resposta é SIM quando se fala do lançamento de “Sem Ar” (“The Dive”). O longa do diretor Maximilian Erlenwein, com distribuição da Paris Filmes, que estreou nos cinemas brasileiros nessa quinta-feira promete deixar o público angustiado, prendendo a respiração.    

Trata-se de um remake do longa sueco “Além das Profundezas” ("Breaking Surface"), que foi dirigido por Joachim Hedén, no ano de 2020. Mas nesta nova versão as personagens mudam de nome. As irmãs Drew (Sophie Lowe) e May (Louisa Krause) viajam para realizar um mergulho em um lugar remoto.


Após nadarem por uma caverna submersa, um deslizamento deixa May presa, quase 30 metros abaixo da superfície. Com pouco oxigênio, Drew começa uma corrida contra o tempo para salvar a irmã. 

O filme não tem divisões na tela, mas parece ter sido construído em atos. No primeiro deles, além da apresentação das personagens, fica no ar uma tensão, como se as duas irmãs não estivessem na mesma sintonia, apesar da viagem descontraída. 


No fundo do mar, o silêncio quebrado em alguns momentos pelas bolhas de ar e as passagens estreitas, iluminadas apenas pelas lanternas das mergulhadoras, dão indícios do que está por vir. 

Conforme esperado, o segundo ato traz o suspense. Embora o mergulho seja uma atividade conhecida de ambas, May fica presa e Drew precisa deixar a irmã sozinha debaixo d’água, para buscar ajuda e mais cilindros de oxigênio. 

É aí que começa a se revelar que algo do passado possa ser o motivo que fez com que as irmãs perdessem a conexão que tinham na infância. 


Na última parte de "Sem Ar", desespero e desânimo marcam presença na personagem de Louisa Krause. 

A colega Sophie Lowe também ganha pontos, ao imprimir na tela uma mudança de sua personagem, até então sem sorte e meio desastrada para alguém que parece saber como agir naquela situação. 


No todo, o filme a trilha sonora composta por Volker Bertelmann, é muito boa, daquelas que mal se percebe de tão alinhadas ss cenas. A locação é realmente linda. Mas não se animem, pois a tensão não se desgruda do filme. Respire fundo e vá ao cinema conferir esse suspense!


Ficha técnica:
Direção: Maximilian Erlenwein
Produção: Falkun Films, Augenschein Filmproduktion
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nas salas do Cineart Cidade e Cinemark Pátio Savassi
Duração: 1h31
Classificação: 12 anos
País: Alemanha
Gênero: suspense