Jai Courtney é um serial killer que aprecia tubarões e despreza seres humanos (Fotos: Diamond Films)
Maristela
Bretas
Um terror tenso e cruel. Assim é "Animais Perigosos" ("Dangerous Animals"), filme dirigido por Sean Byrne que estreia nesta quinta-feira (18) nos cinemas. Difícil não sentir aflição com o desenrolar da trama, que mostra que o perigo real não está sob as águas, mas convivendo entre nós.
O longa apresenta Tucker (Jai Courtney), um serial killer que usa seu barco para levar turistas a regiões habitadas por tubarões. Essas pessoas acabam se tornando suas vítimas. Não satisfeito em assassiná-las, ele ainda registra os crimes em vídeo durante os ataques dos ferozes animais - um verdadeiro espetáculo de horrores.
Para piorar, Tucker obriga seus reféns assistirem à morte de outras vítimas. É o caso da surfista Zephyr (Hassie Harrison), mantida algemada em um compartimento do barco, em alto-mar, quase sem chances de escapar, junto com Heather (Elia Newton), outra prisioneira.
Jai Courtney está excelente no papel e é o destaque do filme. Seu personagem, com um sorriso irônico, e ao mesmo tempo charmoso, chega a despertar ódio pela crueldade que inflige às vítimas. Frio e impiedoso com as pessoas demonstra, em contrapartida, respeito pelos tubarões.
O roteirista Nick Lepard conta que pesquisou a fundo sobre tubarões para criar o personagem Tucker: “Ao mesmo tempo em que ele é obcecado por ataques de tubarões, também defende que os animais sejam protegidos”.
O filme critica a obsessão humana por assistir a ataques desses animais. O serial killer questiona a lógica das pessoas em transformar os tubarões em vilões, quando na verdade elas são os predadores, em busca de sangue e espetáculo.
Hassie Harrison também entrega uma boa atuação, mas sua personagem, a surfista nômade comete erros ingênuos ao tentar escapar de seu sequetrador - atitudes que tornam algumas cenas previsíveis. A ponto de provocar exclamações do tipo: "Não acredito que ela fez isso!".
Ainda assim isso não compromete o andamento da trama, que conta também com Josh Heuston, no papel de Moses, namorado de Zephyr.
"Animais Perigosos" foge do padrão dos filmes de tubarão, que começaram com o clássico de 1975 dirigido por Steven Spielberg, que abriu caminho para inúmeras cópias, muitas delas nem sempre "assistíveis", e outras muito boas, como "Águas Rasas" (2016).
Dos mesmos produtores de “Longlegs - Vínculo Mortal” (2024), "Animais Perigosos" é um terror eletrizante sobre sobrevivência: uma disputa entre o serial killer e sua presa.
O filme cumpre o que promete, com cenas perturbadoras, exceto uma delas no final, prejudicada por um efeito visual bastante tosco.
Ainda assim, a condução do filme e a ótima trilha sonora, que inclui até uma conhecida canção infantil sobre tubarões cantada por Tucker, compensam qualquer deslize. O resultado é um filme que se mantém apavorante do início ao fim e que vale a pena conferir.
Ficha técnica:
Direção: Sean Byrne Roteiro: Nick Lepard Distribuição: Diamond Films Produção: Brouhaha Entertainment, Mister Smith Entertainmetn, LD Entertainment Exibição: nos cinemas Duração: 1h38 Classificação: 18 anos País: EUA Gêneros: terror, suspense
Patrick Wilson e Vera Farmiga se despedem de seus papéis como Ed e Lorraine Warren na saga iniciada em 2013 (Fotos: Warner Bros. Pictures)
Maristela Bretas
Lançado nesta quinta-feira nos cinemas, "Invocação do Mal 4: O Último Ritual" ("The Conjuring: Last Rites") marca o encerramento da franquia iniciada em 2013 que originou outros nove filmes e criou o chamado "Invocaverso".
O longa foi escrito por David Leslie Johnson-McGoldrick e dirigido por Michael Chaves, o mesmo de "Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio" (2021), "A Freira 2" (2023) e do fraco "A Maldição da Chorona" (2019).
Neste quarto capítulo, acompanhamos o caso considerado o mais difícil enfrentado pelo casal de investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren na vida real. Patrick Wilson e Vera Farmiga retornam a seus personagens neste último filme da franquia (pelo menos até o momento).
"Invocação do Mal 4" revisita o passado e traz de volta figuras icônicas, como a boneca Annabelle, que marcaram a franquia e fez muitos fãs pularem na cadeira.
A trama é bem desenvolvida em sua maior parte, ao resgatar acontecimentos anteriores que ajudam a contextualizar os fatos investigados neste filme.
Isso também facilita a compreensão para quem não assistiu aos demais longas, apresentando o trabalho do casal e sua relação tanto familiar quanto espiritual com as entidades malignas.
O ritmo da narrativa, porém, cai nos 20 minutos finais ao exagerar no número de aparições demoníacas em pouco tempo, o que chega a confundir o público e provocar menos sustos que o esperado.
Essas cenas acabam enfraquecendo a proposta inicial do diretor de esclarecer a origem de tudo e concluir a franquia de forma consistente.
Oficialmente, este deve ser a última participação de Wilson e Farmiga no Invocaverso, mas, como sempre, a bilheteria é quem manda. Os milhares de casos documentados ao longo de décadas e o acervo de objetos amaldiçoados guardados no famoso museu do casal Warren ainda oferecem bastante material para bons enredos no cinema.
Desta vez, a história se passa em 1986. Ed e Lorraine estão aposentados e vivem de palestras. A única filha, Judy (Mia Tomlinson) está crescida e namora Tony Spera (Ben Hardy, de "X-Men: Apocalipse" - 2016).
Até que um dia o casal é chamado pelo padre Gordon (Steve Coulter, que também retorna à franquia) para ajudar a família Smurl, atormentada por ataques de uma entidade violenta em sua casa na Pensilvânia.
O que Ed e Lorraine não esperavam enfrentar era que esse espírito seria o mais perigoso de suas vidas, capaz de ameaçar sua própria família. O elenco ainda conta com Rebecca Calder, Elliot Cowan, Kíla Lord Cassidy, Beau Gadsdon, John Brotherton e Shannon Kook.
Cronologia dos fatos X lançamento dos filmes
"Invocação do Mal 4: O Último Ritual" adota uma narrativa bem didática ao explicar o trabalho dos Warren, o que ajuda novos espectadores a se situarem na franquia.
No entanto, quem não acompanhou todos os longas pode se perder diante das várias referências a acontecimentos anteriores — especialmente porque a ordem de lançamento dos filmes não segue a cronologia dos fatos.
Para ajudar a compreender melhor, veja abaixo a ordem cronológica dos acontecimentos:
1952 - "A Freira" (2018) - primeira aparição do demônio Valak, na Romênia.
Década de 1950 - "A Freira 2" (2023) - Valak retorna pouco tempo após sua primeira manifestação.
1967 - "Annabelle" (2014) - a boneca reaparece em outra casa.
1971 - "Invocação do Mal" (2013) - Ed e Lorraine Warren investigam uma casa com possessões demoníacas; primeiro filme da franquia dirigido por James Wan.
1973 - "A Maldição da Chorona" (2019) - baseado na lenda de La Llorona, sobre uma mulher que afogou os filhos e, arrependida, passa a capturar crianças.
1977 - "Invocação do Mal 2" (2016) - o casal Warren investiga uma família em Londres atormentada por uma entidade maligna; também dirigido por James Wan.
1986 - Invocação do Mal 4: O Último Ritual (2025), também dirigido por Michael Chaves.
Sustos e recursos técnicos
Exceto por "A Maldição da Chorona", considerado o mais fraco dos demais filmes e praticamente banido da franquia, os demais longas sustentam seus roteiros, alguns com ressalvas, mas provocam bons sustos.
O primeiro "Invocação do Mal" e "Annabelle 3" ainda são os melhores da franquia, mas em "Invocação do Mal 4: O Último Ritual" o diretor soube explorar bem os recursos visuais e técnicos, reforçados por uma fotografia sombria e ambientes fechados e claustrofóbicos que ajudam a intensificar o suspense e a tensão.
O maior trunfo da franquia, no entanto, continua sendo a química entre Patrick Wilson e Vera Farmiga, cuja parceria carismática tem conquistado o público há mais de uma década.
Nesta produção final, eles mantêm a qualidade, agora dividindo espaço com Mia Tomlinson, que contribui para dar um desfecho digno à saga — ainda que sem descartar futuras continuações.
P.S. - Não é filme de super-herói, mas tem uma cena pós-créditos que não justifica permanecer no cinema.
Ficha técnica:
Direção: Michael Chaves Roteiro: Ian Goldberg & Richard Naing e David Leslie Johnson-McGoldrick Produção: New Line Cinema, Safran Company, Atomic Monster Distribuição: Warner Bros. Pictures Exibição: nos cinemas Duração: 2h15 Classificação: 16 anos País: EUA Gêneros: terror, suspense
O desaparecimento de 17 crianças durante a madrugada dá início a esta trama, narrada em capítulos (Fotos: Warner Bros. Pictures)
Maristela Bretas
Com duração acima do necessário, "A Hora do Mal" ("Weapons") estreia nesta quinta-feira nos cinemas prometendo um terror recheado de cenas de violência extrema, que, no entanto, só começam a acontecer nos 30 minutos finais.
O longa é narrado por uma criança e apresentado a partir do ponto de vista de vítimas e de moradores da cidade, cujas histórias se entrelaçam até o último relato que vai explicar toda a trama.
"A Hora do Mal" tem um pouco de tudo para agradar aos fãs do gênero: bruxaria e rituais macabros, mortes sangrentas e brutais, e pessoas enlouquecidas correndo de braços abertos pelas ruas como zumbis de um condomínio onde, teoricamente, todos levavam uma vida perfeita e sem grandes acontecimentos.
Tudo muda quando 17 crianças de uma mesma sala de aula, com exceção de uma - Alex Lilly (Cary Christopher) - saem correndo de suas casas exatamente às 2h17, de forma desconexa e com os braços abertos como se estivessem voando.
Elas nunca mais são vistas. A aparente paz do local deixa de existir e dá lugar a uma atmosfera sombria, cheia de fatos estranhos e novos surtos de violência inexplicável de outros moradores.
Boas atuações sustentam o filme
A principal suspeita, segundo os pais, é a recém-chegada professora Justine Gandy (Julia Garner, que interpreta a Surfista Prateada em "Quarteto Fantástico"), responsável pela classe dos alunos desaparecidos.
Determinada a descobrir o que houve com as crianças, Justine começa a investigar o caso e tentar entender por que Alex foi o único sobrevivente.
Ela conta com a ajuda de Archer Graff (Josh Brolin, o vilão Thanos, de "Vingadores: Ultimato" - 2019), pai de uma das 17 crianças, e do policial Paul Morgan (Alden Ehrenreich, de "Han Solo" - 2018).
No elenco, temos ainda a presença essencial de Amy Madigan, como Gladys Lilly, tia de Alex, uma personagem mais sinistra que o palhaço Pennywise, de "It - A Coisa" (2017).
Destaque também para as boas atuações de Benedict Wong ("Homem-Aranha: Sem Volta Pra Casa" - 2021), no papel do diretor Andrew, e Austin Abrams (das séries "This is Us" e "Euphoria"), como James, um ladrão comum que estava no lugar errado e na hora errada.
Fotografia em destaque
A fotografia de Larkin Seipe é um dos pontos altos da produção. Ela consegue traduzir com precisão a transição do clima leve e colorido - marcado pelos gramados perfeitamente verdes e casas bem cuidadas - para a escuridão sombria das ruas e mata para onde as crianças fugiram.
Após o desaparecimento das crianças, a narrativa se desenvolve em capítulos, iniciando pela perspectiva de Justine e seguindo com outros cinco relatos de personagens que estavam envolvidos nos fatos, direta ou indiretamente.
O suspense cresce com a presença de elementos ocultos e aparições inexplicáveis que dão a tensão perturbadora, reforçado pela ótima trilha sonora composta por Zach Cregger ("Noites Brutais" - 2022), também dirige, roteiriza e produz o filme.
Pontos negativos
"A Hora do Mal", no entanto, peca em alguns pontos: a duração exagerada cansa, e o final que desagrada ao dar solução para uns e deixar outros de fora. Não vou contar mais para não dar spoiler.
O filme é bom, mas está mais para suspense que terror, mesmo com as cenas grotescas e perturbadoras. Há até momentos de humor involuntário, como a referência ao clássico "O Iluminado", de 1980. Ainda assim, não colocaria na minha lista de melhores do ano do gênero.
Ficha técnica: Direção e roteiro: Zach Cregger Produção: New Line Cinema, Subconscious, Vertigo Entertainment e Boulderlight Pictures Distribuição: Warner Bros. Pictures Exibição: nos cinemas Duração: 2h08 Classificação: 18 anos País: EUA Gêneros: terror, suspense
Caleb Landry Jones interpreta com perfeição o famoso Mestre dos Vampiros na nova versão romântica dirigida por Luc Besson (Fotos: Paris Filmes/Divulgação)
Maristela Bretas
A nova e impactante aposta do diretor Luc Besson no gênero terror, "Drácula - Uma História de Amor Eterno" ("Dracula: A Love Tale") estreia nesta quinta-feira (7) nos cinemas. Esta é mais uma adaptação do clássico literário de Bram Stoker a chegar às telas, mas se diferencia ao fugir do terror habitual de outras versões.
Focando na paixão arrebatadora do personagem, além de entregar muita ação, o longa é tão envolvente que o espectador pode até se pegar torcendo pelo "vilão".
A trama começa no século XV, quando o príncipe Vlad (Caleb Landry Jones) perde sua esposa Elisabeta (Zoe Bleu). Desesperado, culpa Deus por não tê-la protegido enquanto ele lutava em Seu nome.
Amaldiçoado com a vida eterna, Vlad se transforma no Conde Drácula e passa séculos em busca de sua amada, contando com a ajuda de um exército de vampiros criados por ele ao longo de sua jornada.
Até que no século XIX, em Londres, ele finalmente encontra Mina (também interpretada por Zoe Bleu), uma jovem que acredita ser a reencarnação da falecida. Contudo, terá de enfrentar um padre exorcista e caçador de vampiros, papel do brilhante Christoph Waltz, vai tentar pôr fim ao reinado de Drácula e impedir que ele faça mais uma vítima.
Apesar das guerras sangrentas e os inúmeros ataques, o filme tem seu principal foco na paixão de Vlad por Elisabeta. Ele não se conforma em tê-la perdido, retornando sempre a seu túmulo e tentando em vão se matar inúmeras vezes para quebrar a maldição.
Incapaz de morrer, ele cria um exército de vampiros pelo mundo que lhe garante o sangue necessário para a juventude e o auxilia a encontrar sua amada novamente.
Um contraponto interessante explorado por Besson: Drácula perde a fé em Deus, mas mantém uma esperança inabalável em reviver seu único e verdadeiro amor.
Para o Mestre dos Vampiros, nada mais importa. As pessoas transformadas por suas mordidas sejam adultos ou crianças, não passam de escravos descartáveis, usados apenas para que ele atinja seu objetivo.
Caleb Landry Jones está arrebatador no papel principal, em uma parceria notável com o ótimo Christoph Waltz. A cena do confronto final entre o bem e o mal é uma das mais marcantes do filme, tanto por sua estética quanto pela abordagem profunda sobre o amor e o que se é capaz de fazer em nome dele.
Todo o elenco cumpre muito bem seus papéis, especialmente as atuações de Zoe Bleu e Matilda de Angelis, como a vampira Maria.
Destaque também para os figurinos e os cenários, explorando os tons quentes do outono europeu. As locações na Hungria, Florença, Finlândia e Paris oferecem um visual deslumbrante.
Até mesmo as cenas internas, que se passam dentro de um convento, no castelo de Vlad ou no quarto onde o casal se amava loucamente foram muito bem conduzidas pelo diretor francês, que possui inúmeros sucessos em sua filmografia, como o frenético e alucinante "Lucy" (2014) e o eletrizante "Anna - O Perigo tem Nome" (2019).
Tudo isso somado à trilha sonora, composta por belos arranjos de Danny Elfman. O compositor e ex-vocalista e líder da banda Oingo Boingo, é conhecido por trabalhos em filmes como "Batman" (1989), "Batman, O Retorno" (1992), "O Estranho Mundo de Jack" (1993), a franquia Homem-Aranha (2002, 2004 e 2007), "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" (2022), "Os Fantasmas Ainda se Divertem" (2024), entre outras dezenas de sucessos.
"Drácula - Uma História de Amor Eterno" é um filme que merece muito ser assistido, tanto pela excelente direção, quanto pelo trabalho visual surpreendente e pelas atuações de alta qualidade do elenco.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Luc Besson Produção: Europa Corp, LBP Productions, Actarus e TF1 Distribuição: Paris Filmes Exibição: nos cinemas Duração: 2h09 Classificação: 16 anos País: França Gêneros: terror, romance
“O Iluminado”,“Carrie”, “It – A Coisa” e outros sucessos poderão ser conferidos no Cine Humberto Mauro, de 27 de julho a 13 de agosto
Da Redação
O Cine Humberto Mauro exibe, de hoje ao dia 13 de agosto, a mostra “Stephen King: Do Terror ao Drama”, com 19 filmes feitos por grandes cineastas ao longo de quatro décadas, tendo como base contos, novelas e romances do autor.
A mostra tem entrada gratuita, e a retirada de até 1 par de ingressos por CPF pode ser feita exclusivamente pela plataforma Eventim, a partir de 1 hora de cada sessão. A programação pode ser conferida no site
"Christine, o Carro Assassino" (Crédito: John Carpenter)
“Carrie, a Estranha” (1976), “O Iluminado” (1980), “Christine, o Carro Assassino” (1983), “Louca Obsessão” (1990) e “It – A Coisa” (2017) estão entre os sucessos no cinema baseados na obra do famoso escritor. Mas, para além das tramas de horror, essas histórias trazem fortes abordagens de dilemas humanos.
Além das adaptações cinematográficas que ajudaram a consolidar Stephen King como o “Mestre do Terror”, a programação traz ainda longas-metragens fora do gênero, mas que lidam com os horrores internos de personagens facilmente identificáveis: “Conta Comigo” (1986) e “Um Sonho de Liberdade” (1994) são exemplos representativos.
"O Nevoeiro" (Crédito: Frank Darabont)
A curadoria propõe, assim como a obra do autor, uma travessia guiada por temas atemporais como o medo, a infância, a morte e a redenção. Da ameaça primal em “Cujo” (1983) à sensibilidade inesperada em “Doutor Sono” (2019), da violência corporal em “O Nevoeiro” (2007) à dor emocional em “Cemitério Maldito” (1989), a obra de Stephen King é um longo corredor onde portas se abrem para lugares sombrios e, por vezes, para recantos estranhamente esperançosos.
A programação reúne filmes que, embora nascidos de um mesmo manancial literário, percorrem caminhos cinematográficos muito distintos sob direção de nomes incontornáveis da sétima arte. Como Brian De Palma, Stanley Kubrick e John Carpenter, além de pioneiras como Mary Lambert – uma das poucas mulheres a dirigir filmes de horror na década de 1980 – e cineastas contemporâneos em ascensão, caso de Mike Flanagan.
"Doutor Sono" (Crédito: Mike Flanagan)
Além das exibições, haverá sessões comentadas, nos dias 1º/8 (“It – A Coisa”, com Yasmine Evaristo) e 5/8 (“Conta Comigo”, com Antônio Pedro de Souza). No dia 2 de agosto, o projeto “Cinema e Piano” traz uma ação especial: uma roda de conversa com apresentação ao vivo de trilhas sonoras de filmes inspirados nas obras de Stephen King.
Imagens quebradas, mas sempre familiares
Em “Carrie, a Estranha”, primeiro livro publicado por Stephen King, o autor se vale do enredo sobrenatural para tematizar o bullying na adolescência e os impactos irreversíveis que essa prática pode gerar em toda uma comunidade. No filme homônimo, Brian De Palma mantém as discussões e as amplifica por meio de uma direção estilizada e de cores fortes, montagem ritmada e trilha sonora grandiosa.
"Carrie, a Estranha" (Crédito: Brian de Palma)
Já em “O Iluminado”, clássico do horror, Stanley Kubrick constrói uma atmosfera sufocante a partir da trama de uma família presa em um hotel abandonado durante uma rigorosa temporada de inverno. Stephen King criticou a adaptação, mas o filme se tornou um dos mais aclamados dentre as obras baseadas em suas histórias.
Em “Christine, o Carro Assassino”, por sua vez, o escritor volta a abordar os percalços da adolescência em meio à trama de um veículo com uma consciência maligna. John Carpenter, “Mestre do Terror” no cinema, torna crível a trama inusitada, em um filme no qual a trilha sonora é o destaque.
"Cemitério Maldito" (Crédito: Mary Lambert)
Obras como “Cujo” e “Cemitério Maldito” tencionam ainda mais elementos da vida cotidiana: o primeiro, com sua claustrofobia ensolarada, transforma um cão em máquina de destruição, e a culpa em combustível narrativo.
O segundo, talvez um dos mais perturbadores do universo criado pelo escritor, confronta o tabu definitivo — a morte de uma criança — e o desejo impossível de reversão, a partir do impulso que leva os personagens a profanar a natureza em nome dos laços afetivos.
“Louca Obsessão” intensifica o suspense ao trazer a história metalinguística de um escritor acidentado que é mantido em cárcere por sua “fã número 1”. A interpretação de Kathy Bates, que protagoniza o filme, foi premiada com o Oscar de Melhor Atriz, feito raro para adaptações de Stephen King no cinema.
"Louca Obsessão" (Crédito: Rob Reiner)
Entrando nos anos 2000, “O Nevoeiro”, dirigido por Frank Darabont,reintroduz o horror explícito, sendo uma adaptação célebre por seu final chocante e pessimista, e também por, como é comum no cinema baseado em Stephen King, usar do sobrenatural e do macabro para abordar as tensões em microcosmos sociais.
Já em “It – A Coisa”, o terror é evidente e ganha uma forma monstruosa, que se esconde nos subterrâneos da cidade, mas é alimentado por algo mais real: o medo que cresce com as crianças e permanece nelas, adultas, como uma sombra persistente. A obra foi adaptada para o cinema em 2017, e ganhou sequência em 2019, com "It: Capítulo Dois", ambos dirigidos por Andy Muschietti.
"It -A Coisa" (Crédito: Andy Muschiettl)
“Doutor Sono”, por sua vez, traz o retorno do cinema e da literatura ao clássico “O Iluminado”, e as obras resultantes acabam por ser uma crônica tanto da evolução dos personagens e seus traumas permanentes quanto à proposição de um olhar cinematográfico diferente e contemporâneo ao universo de Stephen King.
Para além do cinema de gênero, as criações do autor deram origem também a adaptações como “Conta Comigo”, no qual quatro garotos partem em busca de um cadáver e acabam encontrando o fim da infância, e “Um Sonho de Liberdade” (1994), em que a prisão torna-se espaço de resistência e imaginação.
"Um Sonho de Liberdade" (Crédito: Frank Darabont)
Vitor Miranda, Gerente de Cinema da Fundação Clóvis Salgado e curador da mostra, explica que Stephen King não escreve apenas sobre monstros literais, mas também sobre o Mal que está nas entrelinhas, rondando famílias frágeis, amigos inseparáveis e cidades apodrecidas. “Seus contos e romances são como espelhos rachados que devolvem imagens deformadas, mas sempre muito reconhecíveis. E são esses reflexos que o cinema — em seus melhores momentos — também consegue mostrar com igual ou maior intensidade".
Miranda afirma ainda que "essa mostra é um convite para que o público observe como o cinema se contamina ao tocar a literatura de King — não apenas nos temas, mas na atmosfera, na ambiguidade moral e na sugestão de que o extraordinário está sempre à espreita no cotidiano”.
A mostra “Stephen King: Do Terror ao Drama” é realizada pelo Ministério da Cultura, Governo de Minas Gerais, Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais e Fundação Clóvis Salgado.
SERVIÇO
Mostra “Stephen King: Do Terror ao Drama” Datas: De 27 de julho a 13 de agosto Horários: Variáveis Local: Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1537, Centro – Belo Horizonte) Classificações indicativas: Variáveis Entrada: gratuita, com retirada de até 1 par de ingressos por CPF, exclusivamente pela plataforma Eventim, a partir de 1 hora antes de cada sessão Programação:https://www.cinehumbertomauromais.com/
Boneca-robô assassina retorna após dois anos do último filme com upgrade para enfrentar uma rival criada com IA (Fotos: Universal Pictures)
Maristela Bretas
A icônica robô assassina que arrebatou mais de 2 milhões de espectadores nos cinemas nacionais em 2023, mantendo-se por cinco semanas entre as dez maiores bilheterias do país, está de volta.
"M3GAN 2.0" estreou nos cinemas pronta para confrontar uma adversária ainda mais violenta e sem controle, criada com Inteligência Artificial para ser uma máquina de guerra.
A história se passa dois anos após Gemma (Allison Williams) ter criado M3GAN para ser a companhia ideal de sua sobrinha Cady (Violet McGraw). A androide, no entanto, se tornou uma boneca assassina implacável e precisou ser desativada.
Gemma agora é uma autora de prestígio e defensora da supervisão governamental da IA, enquanto Cady, já adolescente, discorda da superproteção da tia.
Sem o conhecimento da criadora, a tecnologia de M3GAN é roubada e utilizada para desenvolver um novo protótipo cuja única missão é ser uma arma militar extremamente letal. Batizada de Amélia (Ivanna Sakhno), ela rapidamente cria consciência própria e se torna uma máquina sem controle, disposta a exterminar a raça humana.
A única chance de impedir que esta versão 2.0 destrua a humanidade é ressuscitar M3GAN (interpretada por Amie Donald e dublada por Jenna Davis), fazendo algumas atualizações para deixá-la mais rápida, mais forte e preparada para enfrentar Amélia. Apesar de ter se tornado uma assassina, M3GAN não perdeu seu principal objetivo - proteger Cady.
Assim como no filme original, "M3GAN 2.0" é violento, com sangue espirrando nas paredes e apresenta mais de um vilão, que inicialmente até parece bonzinho.
Os efeitos visuais são destaque, principalmente nas coreografias de luta, capazes de transformar até mesmo personagens comuns em verdadeiros lutares no estilo Bruce Lee. O ponto alto da produção é o confronto eletrizante entre M3GAN e Amélia.
Embora o filme apresente situações por vezes forçadas, elas estão dentro do esperado e contribuem para a agilidade da trama, mantendo a narrativa dinâmica e envolvente.
"M3GAN 2.0" explora mais a ação, o suspense violento e uma abordagem futurista que questiona o destino da humanidade caso os robôs assumirem o controle da tecnologia global. É quase uma Skynet de "O Exterminador do Futuro", mas com um corpo humanizado e atualizada com Inteligência Artificial.
No elenco, além das protagonistas temos o retorno de Brian Jordan Alvarez (Cole) e Jen Van Epps (Tess), parceiros de pesquisa de Gemma no primeiro filme. E novos participantes como Aristotle Athari (Christian, namorado de Gemma), Timm Sharp (Agente Sattler), Jermaine Clement (o empresário Alton Appleton) e Mayen Mehta (Naveen).
Com efeitos visuais de alta qualidade e uma boa produção, o filme apresenta a famosa robô mais madura e uma rival assassina tão bela quanto letal, prometendo mais uma vez conquistar o público.
Sucesso do anterior
A nova produção pretende repetir o sucesso de seu antecessor que permaneceu por cinco semanas entre as dez maiores bilheterias do Brasil. "M3GAN", que teve um orçamento de US$ 12 milhões, também quebrou recordes, arrecadando US$ 30,4 milhões em sua estreia nos EUA.
O filme tornou-se a maior abertura de final de semana de um filme de terror PG-13 desde “Um Lugar Silencioso - Parte II”. No total, ultrapassou US$ 180 milhões na bilheteria mundial. A expectativa é de que "M3GAN 2.0" alcance números de bilheteria tão impressionantes quantos os de seu antecessor.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Gerard Johnstone Produtores: James Wan, Jason Blum e Allison Williams Produção: Blumhouse Productions e Atomic Monsters Distribuição: Universal Pictures Exibição: nos cinemas Duração: 2 horas Classificação: 16 anos País: EUA Gêneros: terror, ficção, ação, suspense
Longa ambientado na cidade de Guarapari mescla o horror com o folclore (Fotos: Retrato Filmes)
Eduardo Jr.
Primeira história de Rodrigo Aragão a se passar em ambiente urbano, “Prédio Vazio”, distribuído pela Retrato Filmes que está em exibição no Centro Cultural Unimed-BH Minas, é uma tentativa de colocar uma obra como referência do gênero terror-ficção no cinema nacional.
O diretor capixaba é conhecido pelas produções “Mangue Negro”, “A Noite do Chupacabras” e “O Cemitério das Almas Perdidas", todas ambientadas longe das grandes cidades.
Aragão também é renomado por mesclar o horror com o folclore, criando narrativas que destacam a cultura e a identidade regional do Espírito Santo.
Neste longa de terror, uma jovem embarca de Belo Horizonte para Guarapari (ES) para procurar a mãe desaparecida no último dia de carnaval. Ao encontrar o prédio onde ela morava, a garota é envolvida pelo perigo, pois o sobrenatural habita o edifício que parecia vazio após o término do feriado.
O que o espectador pode perceber, no geral, é ousadia. Embora no início seja algo morno, que flerta com o trash em razão da luz estourada e das cenas apresentadas, o filme é, na verdade, uma identidade assumida - uma identidade composta de exagero.
Grandes quantidades de sangue não demoram a ocupar a tela, e a sensação de que o mal é, também, humano, fica clara na boa atuação de Gilda Nomacce, que dá vida a uma zeladora digna de toda a nossa desconfiança.
E ela se confirma como uma aliada dos espíritos malignos que promovem o terror no assustador edifício. E mais que isso, é executante de atos brutais. Mas não se trata de um banho de sangue sem motivo. O diretor traz uma explicação e um final interessante para a trama.
Para o espectador, vale destacar que não encontrar neste longa uma cópia da estética hollywoodiana é algo positivo. O sangue, os cenários, os efeitos criados artesanalmente e a violência executada por corpos reais, é sinal de coragem do cineasta - e pode acabar ganhando o público.
Um sinal do valor deste filme está no reconhecimento obtido até aqui, como o Prêmio Retrato Filmes, na 28ª Mostra de Tiradentes, que garantiu investimento e contrato de distribuição para o longa.
Ficha técnica:
Direção, roteiro e efeitos especiais: Rodrigo Aragão Produção: Fábula Filmes Distribuição: Retrato Filmes Exibição: Centro Cultural Unimed-BH Minas Duração: 1h20 Classificação: 16 anos País: Brasil Gêneros: terror, ficção
Produção marca história no Brasil como a maior estreia de um filme de terror com classificação 18+ (Fotos: Warner Bros. Pictures)
Maristela Bretas
Para quem é fã da ensanguentada franquia, o novo capítulo - "Premonição 6: Laços de Sangue" ("Final Destination: Bloodlines") é uma experiência imperdível. O filme já se consagra como um sucesso de bilheteria, tendo levado mais de 1 milhão de pessoas aos cinemas no Brasil.
Também acumula uma arrecadação de US$ 130 milhões desde o dia 15 quando foi lançado, marcando história como a maior estreia no país de um filme de terror com classificação 18+.
Passados 14 anos desde o último filme e novamente produzido pela New Line Cinema, a trama entrega efeitos visuais impecáveis, com sequências de mortes absurdamente violentas, capazes de gerar muita tensão e sustos na plateia. A criatividade por trás de cada fatalidade é, por vezes, inacreditável.
A maquiagem e a atmosfera sombria complementam a excelência técnica do filme, transportando o público de volta ao perturbador senso de justiça distorcido da Morte que consagrou a saga.
"Premonição 6: Laços de Sangue" estabelece uma conexão com os filmes anteriores da franquia, explicando a origem das mortes do passado e até mesmo repetindo algumas delas, como muitos fãs deverão relembrar e curtir.
O filme apresenta uma narrativa envolvente e repleta de reviravoltas, mantendo a essência aterrorizante que tornou a saga um fenômeno mundial.
Atormentada por um pesadelo violento e recorrente, a estudante universitária Stefani (Kaitlyn Santa Juana) volta para casa em busca de sua avó Íris (Gabrielle Rose/Brec Bassinger), que ela nunca conheceu e que é considerada insana pelos familiares.
Contudo, a reclusa idosa pode ser a única capaz de romper o ciclo fatal que paira sobre sua linhagem e salvar sua família do terrível destino que aguarda todos eles. Afinal, na macabra lógica da franquia, é sempre a Morte quem dita a ordem dos eventos. E, invariavelmente, eles acontecem, manifestando-se das formas mais brutais e inesperadas.
O elenco conta ainda com Teo Briones, Richard Harmon, Owen Patrick Joyner, Rya Kihlstedt e Anna Lore. Uma participação especialmente emocionante é o retorno de Tony Todd no icônico papel de William Bludworth, marcando sua despedida do público em seu último trabalho antes de falecer de um câncer no estômago.
"Premonição 6: Laços de Sangue" honra o legado sangrento da franquia com uma trama que inteligentemente revisita e expande a mitologia estabelecida. Para os apreciadores de um terror visceral e criativo, este novo capítulo é uma jornada aterradora que certamente deixará marcas – e talvez alguns hematomas nos braços de quem se agarra à poltrona.
Ficha técnica:
Direção: Zach Lipovsky e Adam Stein Produção: New Line Cinema, Dorman Entertainment, Practical Pictures, Freshman Year, Fireside Films Distribuição: Warner Bros. Pictures Exibição: nas redes de cinemas de BH, Contagem e Betim Duração: 1h50 Classificação: 18 anos País: EUA Gêneros: terror, suspense