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06 novembro 2025

"Grand Prix - A Toda Velocidade": uma corrida de amizade, família e confiança

Um time animal de corrida que vai mostrar que nas pistas existe mais do que uma disputa (Fotos: Mack Magic)
 
 

Maristela Bretas

 
"Grand Prix - A Toda Velocidade" ("Grand Prix Of Europe"), com estreia nos cinemas nesta quinta-feira, é uma animação que acelera em torno dos temas de família, velocidade, sonhos e amizades. Embora se assemelhe visualmente a produções como "Zootopia" (2016), talvez não atinja o mesmo nível de emoção de outras animações protagonizadas por animais.

Trata-se de uma produção notavelmente familiar, visto que vários membros da produtora Mack Magic, responsável pelo longa, pertencem à mesma família. O filme demonstra claramente a paixão por carros e velocidade, algo que ironicamente ressoa até no nome do diretor, Waldemar Fast. 


O enredo revela também uma preocupação com aqueles que rodeiam os protagonistas e são essenciais para que as coisas aconteçam.

"Grand Prix - A Toda Velocidade" conta a história da jovem ratinha Edda (voz de Gemma Arterton) que sonha em se tornar piloto de corrida e idolatra o campeão Ed (Thomas Brodie-Sangster), também um rato, que é notoriamente egocêntrico. 

Apesar de seu grande desejo, Edda sabe que não pode abandonar seu pai, Erwin (Lenny Henry), dono de um parque de diversões no subúrbio de Paris, construído por ele e sua falecida esposa e mãe de Edda.


Para complicar a situação, o parque enfrenta uma séria crise financeira e o pai de Edda é ameaçado por uma dupla que deseja se apossar do local, que abriga diversos "funcionários" de variadas espécies animais. 

Para ajudar o pai e realizar seu sonho, Edda se inscreve no Grande Prêmio da Europa de corrida, fingindo ser Ed após um contratempo. É aí que seus problemas começam.

A animação é vibrante, muito colorida, repleta de ação, com mocinhos e vilões que podem surpreender. Há um papagaio locutor que narra as corridas, acompanhado de um camelo que está sempre mudo e emburrado. 


Curiosamente, os protagonistas ratinhos não transmitem a simpatia esperada, ao contrário dos animais do parque de diversões, como Rosa, a atrapalhada vidente, e Enzo, o responsável pelo sorvete e o melhor amigo de Edda.

"Grand Prix - A Toda Velocidade" transmite boas mensagens, enfatizando, entre elas, a importância de não julgar as pessoas pelas aparências e o valor de cultivar e preservar uma amizade sincera.


Ficha técnica:
Direção:
Waldemar Fast
Produção: Mack Magic e Warner Bros. Entertainment
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h38
Classificação: livre
País: EUA
Gêneros: animação, aventura, família

05 novembro 2025

"Dollhouse" é uma obra que relembra a elegância fria do j-horror clássico

Incursão do diretor Shinobu Yaguchi no gênero terror tem semelhanças com "Annabelle", da franquia "Invocação do Mal" (Fotos: Sato Company)
 
 

Wallace Graciano


Obra resgata o medo silencioso da mitologia japonesa. Uma carta de amor ao gênero que se arrasta, mas não decepciona. Preciso jogar limpo, caro leitor. Nunca havia visto um filme sequer do diretor Shinobu Yaguchi. Porém, ao procurar sobre sua carreira, ficou claro que ele sempre foi sinônimo de leveza e superação jovial. 

Talvez por isso, sua incursão no terror, gênero que exige peso e introspecção, me despertou uma extrema curiosidade ao receber o convite para assistir "Dollhouse". E posso falar que ele não precisava assinar sob pseudônimo, como o fez. Afinal, o filme não apenas abraça o J-Horror clássico, mas o faz com uma convicção surpreendente.


Distribuído no Brasil pela Sato Company e com estreia nesta quinta-feira, 6 de novembro, "Dollhouse" é uma obra que se apoia na estrutura previsível para, justamente, construir sua força. 

Aqui, o clichê é uma homenagem, e a repetição do ciclo de maldição evoca a tradição de "Ringu" e "Ju-On", obras tão aclamadas pelo público. Abaixo, explico o porquê.

O clichê do trauma e da tragédia

De cara, podemos falar que "Dollhouse" não economiza em tragédia inicial. No filme, conhecemos Yoshie (Masami Nagasawa), uma mãe traumatizada após a perda da filha, Mei em um brutal acidente doméstico com uma máquina de lavar. 

O luto da matriarca é a verdadeira semente do horror. Incapaz de seguir, ela preenche o vazio com uma boneca ningyō ikiningyō, um artefato realista do período Showa.


Cinco anos depois, a paz do casal Yoshie e Tadahiko (Koji Seto) é desfeita quando a segunda filha, Mai, encontra a boneca esquecida. O que começa como um drama familiar de negação se torna um pesadelo psicológico: a boneca, agora chamada Aya, manifesta um ciúme possessivo, deixando hematomas em Mai e reivindicando, de alguma forma, seu "lugar de volta".

A narrativa atinge sua elegância fria ao transformar o luto em uma entidade viva e ameaçadora. O terror se constrói no som do vento, no ranger do assoalho da antiga casa e na frieza assustadora da boneca. 

Yaguchi demonstra um entendimento profundo de que o horror japonês funciona melhor no silêncio e na sugestão, ancorando a narrativa na superstição e na cultura japonesa de rituais com bonecas.


Falta um pouco de ritmo

Visualmente, "Dollhouse" é impecável. A fotografia em tons azulados e a direção de arte minimalista transformam o cotidiano da casa em uma fonte de angústia. 

Somado a isso, podemos dizer que as atuações seguem a mesma tônica, com Masami Nagasawa transmitindo, sem explorar o pieguismo do drama, a dor e a fragilidade de Yoshie, bastando apenas dar um olhar vazio que comunica melhor do que qualquer diálogo. 

Porém, o filme tropeça em sua ambição. Embora o terror se aprofunde com a aparição do sacerdote Kanda (Tetsushi Tanaka) e a exploração da mitologia da boneca, o roteiro chega a trazer um pouco de bocejos. 


A longa jornada do casal para tentar incinerar o objeto amaldiçoado, incluindo contratempos e até momentos de humor macabro, torna o clímax excessivamente prolongado. 

No fim, "Dollhouse" é uma obra dolorosa, elegantemente dirigida e profundamente humana. É um filme sobre o que acontece quando o amor se recusa a aceitar a morte, transformando o luto no verdadeiro fantasma. 

Yaguchi, se era tido como um mestre da comédia por quem o viu (não este que vos escreve, mas que confia demais no julgamento), se revela um promissor artesão do terror.

O que achamos de "Dollhouse"?

"Dollhouse" é um retorno bem-vindo e sofisticado ao terror japonês de raiz, ancorado em grandes atuações e uma mitologia assustadora. Apesar de um ritmo desigual e um clímax alongado, a força da sua construção atmosférica e o peso emocional o elevam acima da média do gênero.


Ficha técnica:
Direção: Shinobu Yaguchi
Distribuição: Sato Company
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h50
Classificação: 16 anos
País: Japão
Gênero: terror
Nota: 4 (0 a 5)

04 novembro 2025

“Quando o Céu se Engana”: um caos celestial divertido sobre erros e acertos

Keanu Reeves interpreta um anjo insatisfeito com seu trabalho que quer mudar a vida de seus protegidos (Fotos: Lionsgate)
 
 

Maristela Bretas

 
Para quem curte uma comédia leve sobre caos celestial, crise existencial, duas pessoas vivendo situações sociais opostas e um anjo cheio de boa vontade, mas atrapalhado, vale conferir “Quando o Céu se Engana” ("Good Fortune"), que estreia nesta quinta-feira (6) nos cinemas.

No filme, Keanu Reeves troca as armas e os ternos de John Wick por asas, ainda que pequenas e um tanto amassadas. Ele interpreta Gabriel, um anjo da guarda "basiquinho", encarregado de proteger motoristas distraídos que insistem em checar o celular enquanto dirigem por Los Angeles. É uma função burocrática, repetitiva e desinteressante para alguém que sonha com promoções celestiais.


Cansado de salvar motoristas distraídos e de preencher relatórios espirituais sobre “intervenções mínimas”, Gabriel decide provar que pode fazer mais. O problema é que, ao tentar “melhorar” a vida dos humanos que protege, ele bagunça completamente o sistema celestial — e a vida de dois homens na Terra.

O primeiro é Arj, vivido por Aziz Ansari, que também assina o roteiro, a direção e a produção do longa. Ele é um cara honesto, espirituoso, mas completamente sem sorte — dorme no carro, vive de bicos e tenta manter a dignidade em meio à precariedade moderna. Com tantos pontos contra, Arj não vê sentido para sua vida e Gabriel acompanha tudo isso com preocupação.


O segundo protegido é Jeff, interpretado por Seth Rogen, um milionário superficial que tem tudo, mas vive entediado e não se preocupa com o mundo normal, apenas como seus carros importados e banhos especiais.

Em um momento de “excesso de zelo celestial”, Gabriel decide trocar as vidas dos dois para que saibam as dificuldades e os prazeres que suportam. Arj acorda na mansão de Jeff, e este, em pânico, se vê vivendo em um carro velho, cheiro de batata frita fria e tendo de procurar empregos de baixa remuneração para sobreviver.

“Quando o Céu se Engana” é uma comédia de erros divina em que as boas intenções de Gabriel podem levá-lo a uma reavaliação profissional por parte de sua chefe, Martha, interpretada por Sandra Oh. A ponto de ele precisar viver as dificuldades de ser humano.


Humor afiado com toque filosófico

Aziz Ansari acerta ao equilibrar comédia absurda com reflexão existencial. A troca de corpos, um clichê clássico do cinema, aqui ganha novas camadas:
- O rico descobre o valor das pequenas coisas;
- O pobre percebe que o dinheiro pode ser uma prisão disfarçada;
- E o anjo percebe que talvez os humanos não precisem de salvação, mas de empatia.

O humor é rápido, inteligente e muitas vezes autodepreciativo. A cena em que Gabriel tenta “corrigir” a confusão usando um aplicativo de mensagens para anjos é puro caos tecnológico celestial — com Keanu Reeves entregando uma das atuações mais cômicas (e estranhamente doces) de sua carreira.


Crítica social com boas risadas

O longa também fala sobre classes sociais, culpa, ego espiritual e a eterna busca humana (e divina) por propósito. Ansari faz humor com a desigualdade sem parecer cínico, e Reeves traz um anjo confuso, frustrado e adorável — quase um funcionário público do além.

Seth Rogen, por sua vez, interpreta o milionário Jeff com aquele equilíbrio perfeito entre arrogância e ingenuidade, tornando sua “queda terrena” uma das partes mais divertidas do filme.

Keanu Reeves prova que pode ser engraçado sem perder a alma, Aziz Ansari reafirma seu talento como contador de histórias. “Quando o Céu se Engana” é uma comédia leve, espirituosa e cheia de coração, que lembra o público de que errar — mesmo no céu — faz parte do aprendizado. Entrega exatamente o que promete: uma bagunça divina com coração humano.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Aziz Ansari
Produção: Lionsgate
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h39
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gênero: comédia

17 setembro 2025

"Animais Perigosos" - o mal está sobre as águas

Jai Courtney é um serial killer que aprecia tubarões e despreza seres humanos (Fotos: Diamond Films)


Maristela Bretas


Um terror tenso e cruel. Assim é "Animais Perigosos" ("Dangerous Animals"), filme dirigido por Sean Byrne que estreia nesta quinta-feira (18) nos cinemas. Difícil não sentir aflição com o desenrolar da trama, que mostra que o perigo real não está sob as águas, mas convivendo entre nós.

O longa apresenta Tucker (Jai Courtney), um serial killer que usa seu barco para levar turistas a regiões habitadas por tubarões. Essas pessoas acabam se tornando suas vítimas. Não satisfeito em assassiná-las, ele ainda registra os crimes em vídeo durante os ataques dos ferozes animais - um verdadeiro espetáculo de horrores. 

Para piorar, Tucker obriga seus reféns assistirem à morte de outras vítimas. É o caso da surfista Zephyr (Hassie Harrison), mantida algemada em um compartimento do barco, em alto-mar, quase sem chances de escapar, junto com Heather (Elia Newton), outra prisioneira.


Jai Courtney está excelente no papel e é o destaque do filme. Seu personagem, com um sorriso irônico, e ao mesmo tempo charmoso, chega a despertar ódio pela crueldade que inflige às vítimas. Frio e impiedoso com as pessoas demonstra, em contrapartida, respeito pelos tubarões. 

O roteirista Nick Lepard conta que pesquisou a fundo sobre tubarões para criar o personagem Tucker: “Ao mesmo tempo em que ele é obcecado por ataques de tubarões, também defende que os animais sejam protegidos”.

O filme critica a obsessão humana por assistir a ataques desses animais. O serial killer questiona a lógica das pessoas em transformar os tubarões em vilões, quando na verdade elas são os predadores, em busca de sangue e espetáculo.


Hassie Harrison também entrega uma boa atuação, mas sua personagem, a surfista nômade comete erros ingênuos ao tentar escapar de seu sequetrador - atitudes que tornam algumas cenas previsíveis. A ponto de provocar exclamações do tipo: "Não acredito que ela fez isso!". 

Ainda assim isso não compromete o andamento da trama, que conta também com Josh Heuston, no papel de Moses, namorado de Zephyr.

"Animais Perigosos" foge do padrão dos filmes de tubarão, que começaram com o clássico de 1975 dirigido por Steven Spielberg, que abriu caminho para inúmeras cópias, muitas delas nem sempre "assistíveis", e outras muito boas, como "Águas Rasas" (2016).


Dos mesmos produtores de “Longlegs - Vínculo Mortal” (2024), "Animais Perigosos" é um terror eletrizante sobre sobrevivência: uma disputa entre o serial killer e sua presa. 

O filme cumpre o que promete, com cenas perturbadoras, exceto uma delas no final, prejudicada por um efeito visual bastante tosco. 

Ainda assim, a condução do filme e a ótima trilha sonora, que inclui até uma conhecida canção infantil sobre tubarões cantada por Tucker, compensam qualquer deslize. O resultado é um filme que se mantém apavorante do início ao fim e que vale a pena conferir.


Ficha técnica:
Direção: Sean Byrne
Roteiro: Nick Lepard
Distribuição: Diamond Films
Produção: Brouhaha Entertainment, Mister Smith Entertainmetn, LD Entertainment
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h38
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: terror, suspense

21 agosto 2025

De férias com a família, Bob Odenkirk está mais violento e desequilibrado em "Anônimo 2"

Sequência do longa de 2021 é dirigida por Timo Tjahjanto e, como no primeiro, mantém semelhanças
com a franquia "John Wick" (Fotos: Universal Pictures)


Maristela Bretas


Para Hutch Mansell (Bob Odenkirk) tirar férias tranquilas com a família é algo praticamente impossível Ele continua um sujeito explosivo, que precisa de muito pouco para perder o controle, especialmente se sua família está em perigo. 

Não poderia ser diferente em "Anônimo 2" ("Nobody 2"), sequência que estreia nesta quinta-feira (21) nos cinemas, trazendo de volta o elenco principal de "Anônimo", lançado em 2021.

Mais violento e sangrento, recheado de lutas e bons efeitos visuais, sem perder o humor irônico que marcou o personagem, "Anônimo 2" entrega uma boa continuação e deve agradar aos fãs. 


Além dos nomes da primeira produção, o elenco ganha reforços de peso: Sharon Stone e Colin Hanks chegam para colocar fim ao sossego da família Mansell.

Há quatro anos, Hutch deixou de ser o homem tão comum que era quase um "ninguém" e retornou à ativa de agente secreto e assassino, agora com o conhecimento da família. Se antes era o marasmo que atrapalhava o casamento, agora é a rotina de "trabalho" para a agência é que o afasta das pessoas que ama. 

Para mudar isso, ele e a esposa Becca (a sempre bela Connie Nielsen) resolvem tirar férias com os filhos Brady (Gage Munroe) e Sammy (Paisley Cadorath). E claro, com a presença do vovô David, papel de Christopher Lloyd, que também retorna na sequência.


Hutch decide levar todos para um parque temático em Plummerville, cidade onde o pai o levava com o irmão na infância. Era para ser uma viagem de boas memórias, mas Hutch não consegue ficar longe de confusões e da violência. 

Uma vilã sádica

Dessa vez o confronto é contra Lendina, a cruel e desequilibrada chefe de uma quadrilha do crime organizado, interpretada pela excelente Sharon Stone. Esbanjando sensualidade, a atriz entrega uma vilã implacável. Ao seu lado está o capanga Abel, xerife corrupto e ganancioso vivido com competência por Colin Hanks. 


Assim como no primeiro filme, o roteiro foi assinado por Derek Kolstad, responsável também pela franquia "John Wick" e "Duro de Matar". Não faltam, portanto, ação, lutas memoráveis e doses generosas de sangue e violência.

Bob Odenkirk, aos 62 anos, dedicou dois anos de sua vida em treinamento físico intenso para atingir uma boa forma física que permitisse a ele encarar cenas de lutas e acrobacias com maior intensidade. O esforço compensou: as sequências de ação ficaram ótimas.

Connie Nielsen também ganha mais destaque. Becca deixa de ser apenas uma mãe e corretora de imóveis para mostrar novas "habilidades" e entrar na briga. Ela se mostra ainda mais apaixonada pelo marido. A química entre os dois atores funciona muito bem em cena.


O elenco conta ainda com John Ortiz, como Wyatt Martin, dono do resort em que a família Mansell se hospeda e RZA, que retorna como Harry Mansell, irmão de Hutch.

"Anônimo 2" esclarece alguns pontos deixados em aberto no primeiro filme e ainda planta dúvidas e segredos que indicam um terceiro longa. Resta esperar para ver. 

Dica: vale à pena assistir ao primeiro longa para compreender melhor a trajetória de Hutch e sua família. Ele está disponível para aluguel na Amazon Prime Video, Google Play Filmes e Apple TV.


Ficha técnica:
Direção: Timo Tjahjanto
Roteiro: Derek Kolstad
Produção: 87North, Eighty Two Films e OPE Partners
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h29
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: ação, comédia

08 agosto 2025

"A Prisioneira de Bordeaux" - O florescer de uma amizade de matizes inusitados

Hafsia Herzi e Isabelle Huppert protagonizam o instigante longa francês dirigido por Patrícia Mazuy
(Fotos: Autoral Filmes)
 
 

Patrícia Cassese

 
Logo nos primeiros momentos de "A Prisioneira de Bordeaux" ("La Prisionnière de Bordeaux"), filme da diretora e roteirista francesa Patrícia Mazuy em cartaz no Cine Una Belas Artes, os acontecimentos vistos em tela suscitam um ponto de interrogação na mente do espectador. 

Numa penitenciária, vemos o encontro fortuito de duas mulheres de classes sociais distintas, que, no entanto, estão ali pelo mesmo motivo: visitar os maridos. Mas se são eles, os cônjuges, a estarem ali, encarcerados, por que o título cita "a prisioneira" - ou seja, no feminino e no singular? 

A resposta só poderá ser obtida mais ao final da trama que, embora parecesse até dispensável pontuar, por estar evidente no nome da obra, se passa na cidade localizada a sudoeste da França.  


Unidas pelo crime alheio

As duas personagens são vividas por Isabelle Huppert e Hafsia Herzi. A primeira encarna Alma Lund, uma mulher rica que, desde a prisão do parceiro, Christopher Lund (Magne Brekke), vive sozinha em uma casa recheada de obras de arte e memórias. O marido, diga-se, foi condenado após uma tragédia no trânsito. 

Já a franco-tunisiana Hafsia Herzi dá vida a Mina Hirti, cujo companheiro Nasser (Lionel Dray), por seu turno, cumpre pena por um assalto sucedido por um confronto com a polícia que resultou na morte de seu comparsa. 

Com dois filhos pequenos, ela tenta se desdobrar para dar conta de sustentá-los, driblando também os preconceitos que recaem sobre pessoas de ascendência árabe na Europa. 


O encontro das duas se dá logo nas cenas iniciais, quando, ao se dar conta de que errou o dia da visita (estava, na verdade, agendada para o seguinte), Mina ensaia passar mal para tentar comover os funcionários da prisão de modo a deixá-la entrar. Assim, evitaria uma viagem em vão - mesmo porque, trata-se de um percurso longo, já que não mora nas cercanias.  

Porém, a encenação de um desmaio, pífia que só, só faz despertar o olhar condoído de Alma, que, na sequência, vê Mina dormindo no banco da parada de ônibus e para o carro. A reação de Alma soa inusitada quando pensamos no mundo atual, em que desconfiamos das nossas próprias sombras e fugimos do contato com estranhos. 


Amizade pouco crível

No entanto, inesperadamente ela convida Mina a passar a noite em sua casa (os filhos, pondera Alma, poderiam ficar sob os cuidados de alguma amiga), de modo a, no outro dia, ela não ter que enfrentar o desgastante deslocamento para, enfim, ver o marido. 

Após hesitar, Alma assente e, daí, nasce uma amizade que, na vida real, nas condições colocadas na história, parece pouco, pouquíssimo crível. Não tarda e Mina propõe a Alma que se mude de vez para sua casa, levando também os filhos.

Com a presença dos três em casa, o cotidiano de Alma adquire cores. Em vez do silêncio vigente, a algazarra dos meninos, a quem Alma também acompanha na escola e com quem brinca. Radiante, a milionária trata de garantir um emprego para Mina na empresa do marido. 


Tudo caminharia para uma convivência pacífica de uma nova configuração familiar não fosse a presença de Yacine (William Edimo), irmão do companheiro de Nasser morto no citado roubo.

Yacine empareda Mina e cobra dela uma posição quanto à localização de relógios que teriam sido obtidos por meio do assalto, mas que, com a prisão de Nasser, desapareceram, e com os quais ele poderia ganhar muito dinheiro. Acuada, Mina trama uma solução para se ver livre desse fantasma e poder seguir em frente.

O que se dá a partir daí fica reservado para quem for assistir ao filme. No entanto, cumpre analisar que, no material enviado pela assessoria de imprensa da distribuidora do filme, uma frase da diretora lembra que a amizade entre as duas personagens centrais foi desde o início pensado como o pilar da narrativa. "Mina defende Alma quando as mulheres na sala de visitas querem silenciá-la. Alma convida Mina para sua casa.


Relações construídas sob regras

Conduzido com delicadeza e, ao mesmo tempo, tensão, "A Prisioneira de Bordeaux" entra em cena no Brasil com um potencial enorme de atingir profundamente o público feminino. 

E isso, não apenas por abordar a amizade entre duas mulheres de classes sociais bem distintas, mas, principalmente, por questionar a validade de algumas relações construídas sob regras de uma sociedade hoje em desconstrução. 

Regras as quais muitos insistem em seguir por razões como o comodismo (mesmo inconsciente) e o receio justificável que atrela-se ao ensejo de grandes mudanças.

Não menos importante, a cena em que os amigos de Alma se dão conta da presença de Mina na casa, o que dá vez a uma série de comentários que demarcam bem o preconceito estrutural que paira sobre os imigrantes.

Vale reparar, ainda, na bela música que toca ao final, "Je Sens tu Mens", de Amine Bouhafa e Sarah McCoy, e que foi composta para o filme de Mazuy. 


Ficha técnica:
Direção: Patrícia Mazuy
Produção: Rectangle Productions, Picseyes, coprodução ARTE France Cinéma
Distribuição: Autoral Filmes
Exibição: Cine Una Belas Artes
Duração: 1h48
Classificação: 14 anos
País: França
Gêneros: drama, ficção