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17 setembro 2025

"Animais Perigosos" - o mal está sobre as águas

Jai Courtney é um serial killer que aprecia tubarões e despreza seres humanos (Fotos: Diamond Films)


Maristela Bretas


Um terror tenso e cruel. Assim é "Animais Perigosos" ("Dangerous Animals"), filme dirigido por Sean Byrne que estreia nesta quinta-feira (18) nos cinemas. Difícil não sentir aflição com o desenrolar da trama, que mostra que o perigo real não está sob as águas, mas convivendo entre nós.

O longa apresenta Tucker (Jai Courtney), um serial killer que usa seu barco para levar turistas a regiões habitadas por tubarões. Essas pessoas acabam se tornando suas vítimas. Não satisfeito em assassiná-las, ele ainda registra os crimes em vídeo durante os ataques dos ferozes animais - um verdadeiro espetáculo de horrores. 

Para piorar, Tucker obriga seus reféns assistirem à morte de outras vítimas. É o caso da surfista Zephyr (Hassie Harrison), mantida algemada em um compartimento do barco, em alto-mar, quase sem chances de escapar, junto com Heather (Elia Newton), outra prisioneira.


Jai Courtney está excelente no papel e é o destaque do filme. Seu personagem, com um sorriso irônico, e ao mesmo tempo charmoso, chega a despertar ódio pela crueldade que inflige às vítimas. Frio e impiedoso com as pessoas demonstra, em contrapartida, respeito pelos tubarões. 

O roteirista Nick Lepard conta que pesquisou a fundo sobre tubarões para criar o personagem Tucker: “Ao mesmo tempo em que ele é obcecado por ataques de tubarões, também defende que os animais sejam protegidos”.

O filme critica a obsessão humana por assistir a ataques desses animais. O serial killer questiona a lógica das pessoas em transformar os tubarões em vilões, quando na verdade elas são os predadores, em busca de sangue e espetáculo.


Hassie Harrison também entrega uma boa atuação, mas sua personagem, a surfista nômade comete erros ingênuos ao tentar escapar de seu sequetrador - atitudes que tornam algumas cenas previsíveis. A ponto de provocar exclamações do tipo: "Não acredito que ela fez isso!". 

Ainda assim isso não compromete o andamento da trama, que conta também com Josh Heuston, no papel de Moses, namorado de Zephyr.

"Animais Perigosos" foge do padrão dos filmes de tubarão, que começaram com o clássico de 1975 dirigido por Steven Spielberg, que abriu caminho para inúmeras cópias, muitas delas nem sempre "assistíveis", e outras muito boas, como "Águas Rasas" (2016).


Dos mesmos produtores de “Longlegs - Vínculo Mortal” (2024), "Animais Perigosos" é um terror eletrizante sobre sobrevivência: uma disputa entre o serial killer e sua presa. 

O filme cumpre o que promete, com cenas perturbadoras, exceto uma delas no final, prejudicada por um efeito visual bastante tosco. 

Ainda assim, a condução do filme e a ótima trilha sonora, que inclui até uma conhecida canção infantil sobre tubarões cantada por Tucker, compensam qualquer deslize. O resultado é um filme que se mantém apavorante do início ao fim e que vale a pena conferir.


Ficha técnica:
Direção: Sean Byrne
Roteiro: Nick Lepard
Distribuição: Diamond Films
Produção: Brouhaha Entertainment, Mister Smith Entertainmetn, LD Entertainment
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h38
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: terror, suspense

21 agosto 2025

De férias com a família, Bob Odenkirk está mais violento e desequilibrado em "Anônimo 2"

Sequência do longa de 2021 é dirigida por Timo Tjahjanto e, como no primeiro, mantém semelhanças
com a franquia "John Wick" (Fotos: Universal Pictures)


Maristela Bretas


Para Hutch Mansell (Bob Odenkirk) tirar férias tranquilas com a família é algo praticamente impossível Ele continua um sujeito explosivo, que precisa de muito pouco para perder o controle, especialmente se sua família está em perigo. 

Não poderia ser diferente em "Anônimo 2" ("Nobody 2"), sequência que estreia nesta quinta-feira (21) nos cinemas, trazendo de volta o elenco principal de "Anônimo", lançado em 2021.

Mais violento e sangrento, recheado de lutas e bons efeitos visuais, sem perder o humor irônico que marcou o personagem, "Anônimo 2" entrega uma boa continuação e deve agradar aos fãs. 


Além dos nomes da primeira produção, o elenco ganha reforços de peso: Sharon Stone e Colin Hanks chegam para colocar fim ao sossego da família Mansell.

Há quatro anos, Hutch deixou de ser o homem tão comum que era quase um "ninguém" e retornou à ativa de agente secreto e assassino, agora com o conhecimento da família. Se antes era o marasmo que atrapalhava o casamento, agora é a rotina de "trabalho" para a agência é que o afasta das pessoas que ama. 

Para mudar isso, ele e a esposa Becca (a sempre bela Connie Nielsen) resolvem tirar férias com os filhos Brady (Gage Munroe) e Sammy (Paisley Cadorath). E claro, com a presença do vovô David, papel de Christopher Lloyd, que também retorna na sequência.


Hutch decide levar todos para um parque temático em Plummerville, cidade onde o pai o levava com o irmão na infância. Era para ser uma viagem de boas memórias, mas Hutch não consegue ficar longe de confusões e da violência. 

Uma vilã sádica

Dessa vez o confronto é contra Lendina, a cruel e desequilibrada chefe de uma quadrilha do crime organizado, interpretada pela excelente Sharon Stone. Esbanjando sensualidade, a atriz entrega uma vilã implacável. Ao seu lado está o capanga Abel, xerife corrupto e ganancioso vivido com competência por Colin Hanks. 


Assim como no primeiro filme, o roteiro foi assinado por Derek Kolstad, responsável também pela franquia "John Wick" e "Duro de Matar". Não faltam, portanto, ação, lutas memoráveis e doses generosas de sangue e violência.

Bob Odenkirk, aos 62 anos, dedicou dois anos de sua vida em treinamento físico intenso para atingir uma boa forma física que permitisse a ele encarar cenas de lutas e acrobacias com maior intensidade. O esforço compensou: as sequências de ação ficaram ótimas.

Connie Nielsen também ganha mais destaque. Becca deixa de ser apenas uma mãe e corretora de imóveis para mostrar novas "habilidades" e entrar na briga. Ela se mostra ainda mais apaixonada pelo marido. A química entre os dois atores funciona muito bem em cena.


O elenco conta ainda com John Ortiz, como Wyatt Martin, dono do resort em que a família Mansell se hospeda e RZA, que retorna como Harry Mansell, irmão de Hutch.

"Anônimo 2" esclarece alguns pontos deixados em aberto no primeiro filme e ainda planta dúvidas e segredos que indicam um terceiro longa. Resta esperar para ver. 

Dica: vale à pena assistir ao primeiro longa para compreender melhor a trajetória de Hutch e sua família. Ele está disponível para aluguel na Amazon Prime Video, Google Play Filmes e Apple TV.


Ficha técnica:
Direção: Timo Tjahjanto
Roteiro: Derek Kolstad
Produção: 87North, Eighty Two Films e OPE Partners
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h29
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: ação, comédia

08 agosto 2025

"A Prisioneira de Bordeaux" - O florescer de uma amizade de matizes inusitados

Hafsia Herzi e Isabelle Huppert protagonizam o instigante longa francês dirigido por Patrícia Mazuy
(Fotos: Autoral Filmes)
 
 

Patrícia Cassese

 
Logo nos primeiros momentos de "A Prisioneira de Bordeaux" ("La Prisionnière de Bordeaux"), filme da diretora e roteirista francesa Patrícia Mazuy em cartaz no Cine Una Belas Artes, os acontecimentos vistos em tela suscitam um ponto de interrogação na mente do espectador. 

Numa penitenciária, vemos o encontro fortuito de duas mulheres de classes sociais distintas, que, no entanto, estão ali pelo mesmo motivo: visitar os maridos. Mas se são eles, os cônjuges, a estarem ali, encarcerados, por que o título cita "a prisioneira" - ou seja, no feminino e no singular? 

A resposta só poderá ser obtida mais ao final da trama que, embora parecesse até dispensável pontuar, por estar evidente no nome da obra, se passa na cidade localizada a sudoeste da França.  


Unidas pelo crime alheio

As duas personagens são vividas por Isabelle Huppert e Hafsia Herzi. A primeira encarna Alma Lund, uma mulher rica que, desde a prisão do parceiro, Christopher Lund (Magne Brekke), vive sozinha em uma casa recheada de obras de arte e memórias. O marido, diga-se, foi condenado após uma tragédia no trânsito. 

Já a franco-tunisiana Hafsia Herzi dá vida a Mina Hirti, cujo companheiro Nasser (Lionel Dray), por seu turno, cumpre pena por um assalto sucedido por um confronto com a polícia que resultou na morte de seu comparsa. 

Com dois filhos pequenos, ela tenta se desdobrar para dar conta de sustentá-los, driblando também os preconceitos que recaem sobre pessoas de ascendência árabe na Europa. 


O encontro das duas se dá logo nas cenas iniciais, quando, ao se dar conta de que errou o dia da visita (estava, na verdade, agendada para o seguinte), Mina ensaia passar mal para tentar comover os funcionários da prisão de modo a deixá-la entrar. Assim, evitaria uma viagem em vão - mesmo porque, trata-se de um percurso longo, já que não mora nas cercanias.  

Porém, a encenação de um desmaio, pífia que só, só faz despertar o olhar condoído de Alma, que, na sequência, vê Mina dormindo no banco da parada de ônibus e para o carro. A reação de Alma soa inusitada quando pensamos no mundo atual, em que desconfiamos das nossas próprias sombras e fugimos do contato com estranhos. 


Amizade pouco crível

No entanto, inesperadamente ela convida Mina a passar a noite em sua casa (os filhos, pondera Alma, poderiam ficar sob os cuidados de alguma amiga), de modo a, no outro dia, ela não ter que enfrentar o desgastante deslocamento para, enfim, ver o marido. 

Após hesitar, Alma assente e, daí, nasce uma amizade que, na vida real, nas condições colocadas na história, parece pouco, pouquíssimo crível. Não tarda e Mina propõe a Alma que se mude de vez para sua casa, levando também os filhos.

Com a presença dos três em casa, o cotidiano de Alma adquire cores. Em vez do silêncio vigente, a algazarra dos meninos, a quem Alma também acompanha na escola e com quem brinca. Radiante, a milionária trata de garantir um emprego para Mina na empresa do marido. 


Tudo caminharia para uma convivência pacífica de uma nova configuração familiar não fosse a presença de Yacine (William Edimo), irmão do companheiro de Nasser morto no citado roubo.

Yacine empareda Mina e cobra dela uma posição quanto à localização de relógios que teriam sido obtidos por meio do assalto, mas que, com a prisão de Nasser, desapareceram, e com os quais ele poderia ganhar muito dinheiro. Acuada, Mina trama uma solução para se ver livre desse fantasma e poder seguir em frente.

O que se dá a partir daí fica reservado para quem for assistir ao filme. No entanto, cumpre analisar que, no material enviado pela assessoria de imprensa da distribuidora do filme, uma frase da diretora lembra que a amizade entre as duas personagens centrais foi desde o início pensado como o pilar da narrativa. "Mina defende Alma quando as mulheres na sala de visitas querem silenciá-la. Alma convida Mina para sua casa.


Relações construídas sob regras

Conduzido com delicadeza e, ao mesmo tempo, tensão, "A Prisioneira de Bordeaux" entra em cena no Brasil com um potencial enorme de atingir profundamente o público feminino. 

E isso, não apenas por abordar a amizade entre duas mulheres de classes sociais bem distintas, mas, principalmente, por questionar a validade de algumas relações construídas sob regras de uma sociedade hoje em desconstrução. 

Regras as quais muitos insistem em seguir por razões como o comodismo (mesmo inconsciente) e o receio justificável que atrela-se ao ensejo de grandes mudanças.

Não menos importante, a cena em que os amigos de Alma se dão conta da presença de Mina na casa, o que dá vez a uma série de comentários que demarcam bem o preconceito estrutural que paira sobre os imigrantes.

Vale reparar, ainda, na bela música que toca ao final, "Je Sens tu Mens", de Amine Bouhafa e Sarah McCoy, e que foi composta para o filme de Mazuy. 


Ficha técnica:
Direção: Patrícia Mazuy
Produção: Rectangle Productions, Picseyes, coprodução ARTE France Cinéma
Distribuição: Autoral Filmes
Exibição: Cine Una Belas Artes
Duração: 1h48
Classificação: 14 anos
País: França
Gêneros: drama, ficção