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26 abril 2024

"Plano 75" expõe o envelhecimento e a finitude da vida

No drama japonês, governo oferece incentivo financeiro e logístico para os cidadãos com mais de 75 anos que desejarem se submeter à eutanásia (Fotos: Sato Company)


Silvana Monteiro


Dirigido por Chie Hayakawa, chega aos cinemas brasileiros o filme japonês "Plano 75". O longa aborda as crises etária e de saúde enfrentadas pelo Japão, devido ao envelhecimento da população e à baixa taxa de natalidade. 

Em tempos de discussão sobre “Tio Paulo” um senhor supostamente já sem vida, conduzido pela sobrinha até uma agência bancária para fazer um empréstimo, situação esclarecida posteriormente, o tema é bem atual. Na reportagem, o dinheiro do empréstimo seria usado na reforma da casa do idoso para torná-la mais acessível e aconchegante, já que devido ao uso de cadeiras de rodas, ele passou a morar na garagem do imóvel.


Num futuro próximo, o governo japonês introduz o programa Plan 75, oferecendo incentivo financeiro e logístico para os cidadãos com mais de 75 anos que desejam se submeter à eutanásia. 

Os idosos que optarem pelo procedimento voluntário devem receber uma quantia considerável em troca. Esse dinheiro pode ser utilizado pela pessoa antes de sua morte em qualquer projeto ou deixado como herança para seus familiares. 

A questão é que, para aceitar as condições do plano, a pessoa não precisa do aval de nenhum parente ou responsável, tudo é facilitado para que ela consiga assinar o contrato de adesão. 

Maria's Friend (Sheryl Ichikawa) é uma cuidadora imigrante das Filipinas que trabalha no Japão e aparenta ter cerca de 40 anos; Hiromu (Hayato Isomura) trabalha como atendente em uma repartição do governo e aparenta ter 30 e poucos anos; e Michi (Chieko Baisho) ainda faz faxina aos 78 anos.


Explorando acontecimentos na vida desses três personagens e de suas conexões pessoais e sociais, o filme mostra as angústias em torno da vida do trabalhador que busca uma estabilidade econômica, assim como os idosos que tentam equilibrar o social e o emocional.  

A interpretação no filme é marcante, especialmente a atuação da veterana Chieko Baisho, que entrega uma performance crua e comovente, transmitindo a solidão e a fragilidade da personagem. Os demais atores também desempenham bem seus papéis, destacando-se Hayato com sua leveza e empatia ao receber os idosos em suas angústias e dificuldades. 

A fotografia do filme, assinada por Hideho Urata, é notável. Ela cria uma atmosfera melancólica, refletindo a temática perturbadora do envelhecimento da população e da eutanásia. As imagens capturam os contrastes entre a beleza serena da paisagem e a angústia dos personagens, contribuindo para a narrativa visual da obra.


A direção de Chie Hayakawa se volta à contemplação e à delicadeza dos temas abordados. O filme apresenta uma série de histórias interconectadas, mostrando diferentes perspectivas em relação ao Plano 75. Hayakawa consegue transmitir a urgência e a complexidade do assunto, bem como abordar questões éticas e morais relacionadas à eutanásia.

O filme desafia o espectador a refletir sobre o envelhecimento da população e as escolhas difíceis que podem surgir em um futuro próximo. A obra cria uma distopia perturbadora que levanta questões sobre a dignidade humana, a responsabilidade do governo e o valor da vida. Embora seja um filme delicado e contemplativo, também carrega uma raiva palpável em relação à crueldade disfarçada de compaixão.


São bem interessantes e reflexivas as cenas em que, além da solidão e fragilidade transmitidas pela personagem de Michi, ela se encontra com suas amigas idosas. Os diálogos demonstram sonhos e questionamentos marcados pela temporalidade da vida e dos acontecimentos. 

Mesmo em um cenário que aborda a dureza da luta pela vida, no papel da arrumadeira Maria, e da própria busca de Michi por “um final” menos preocupante, o filme pode oferecer espaço para discutir o papel do cuidado e da empatia na sociedade. Isso é destacado em pequenos gestos de compaixão que podem fazer a diferença na vida das pessoas, especialmente daquelas que se encontram em situações vulneráveis. 

Mesmo sem grandes arroubos e plot twists, "Plano 75" é uma produção impactante, que oferece uma crítica social contundente e convida o público a refletir sobre dilemas éticos e morais, como envelhecimento, longevidade, etarismo, saúde da pessoa idosa e finitude da vida.


Ficha técnica
Direção:
Chie Hayakawa
Produção e Distribuição: Sato Company
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h53
Classificação: 14 anos
Países: Japão, França, Filipinas
Gêneros: drama, suspense

25 abril 2024

"Rivais" coloca Zendaya num sensual e frenético triângulo amoroso

Trama ainda conta com as ótimas atuações de Josh O'Connor e Mike Faist dividindo a cama e as quadras com a atriz (Fotos: Metro-Goldwyn-Mayer Pictures)


Maristela Bretas


Domínio, arrogância, paixão, ambição, fraqueza. Tudo isso reunido em um triângulo amoroso que começa na adolescência e vai se repetir 13 anos depois. 

O pano de fundo são as quadras de tênis e entre um saque e outro, a trama vai mostrando cada vez mais o perfil de seus protagonistas. Este é "Rivais" ("Challengers"), filme dirigido por Luca Gadagnino que tem em Zendaya como seu maior trunfo e estreia nesta quinta-feira (25).

Ela é a vitoriosa tenista Tashi Duncan que, no auge do sucesso nas quadras, é obrigada a deixar de competir após uma lesão e se torna treinadora. 


Mas nem mesmo o acidente é capaz de amenizar a ambição da jovem, que tem como suas principais vítimas os jovens amigos e promissores tenistas Patrick (Josh O'Connor, da série "The Crown" - 2020) e Art (Mike Faist, de "Amor, Sublime Amor" - 2021), dupla conhecida como Fogo e Gelo. 

A jovem faz gato e sapato dos dois, usando o desejo de ambos por ela para instigar uma disputa constante, que alimenta seu ego. Anos depois, casada com Art, que não vive uma boa fase nas competições, Tashi inscreve o marido numa competição mais fraca para tentar fazer com que recupere a confiança e volte a ser um campeão. 


Mas na mesma disputa estará presente seu maior rival, o ex-amigo Patrick, agora um atleta derrotado e falido que vive de favores. Os três vão ficar frente a frente novamente e, como no passado, Tashi voltará a ser o maior prêmio.

Esse joguinho de sedução e controle da tenista sobre os rapazes predomina por todo o filme. E é na interpretação de Zendaya que está o grande destaque. Ela dá show, mostrando grande maturidade para papéis dramáticos. 

Muito bonita e exibindo uma forma física invejável, a estrela de "Duna - Parte 2" (2024) oferece cenas bem sensuais com seus dois "meninos de estimação" e domina, não só a dupla, mas as cenas que protagoniza.


Josh O'Connor e Mike Faist também estão ótimos em seus papéis, com diálogos que foram mudando ao longo dos anos, mas que ainda mostram um vínculo forte entre eles que nem Tashi consegue quebrar por completo. 

Os dois personagens também amadurecem e buscam outros propósitos e ambições na vida, mas a todo o momento são forçados pela ambiciosa tenista a voltarem para o mundo que ela planejou de vitórias e glórias, mas que não é mais da dupla. A química entre os três funciona muito bem.


A fotografia é outro destaque de "Rivais", com efeitos bem trabalhados, especialmente durante as partidas. O espectador tem visão de vários ângulos, do alto e do fundo da quadra, do olhar do atleta e até mesmo da bola ao ser sacada ou percorrendo de um competidor a outro.

Entre os pontos que me incomodaram em "Rivais" estão algumas cenas bem lentas de diálogos entre os personagens principais e a repetição de uma música frenética que deveria remeter para uma situação agitada ou de mudança, mas que acaba em nada.


Apenas um detalhe que não desmerece a ótima trilha sonora, que tem a música "Pecado" (do álbum Fina Estampa, de 1994) lindamente interpretada por ninguém menos que Caetano Veloso. Além de composições de Trent Reznor e Atticus Ross, responsáveis por sucessos como o da animação "Soul" (2020), da Pixar.

"Rivais" é um longa que vale a pena conferir pela tensão constante provocada pelo triângulo amoroso, a sensualidade, a manipulação e os momentos de fúria e êxtase de uma derrota ou de uma vitória. Mas, especialmente pelo final surpreendente. Um dos ótimos lançamentos do ano.


Ficha técnica
Direção: Luca Gadagnino
Roteiro: Justin Kuritzkes
Produção: Pascal Pictures, Metro-Goldwyn-Mayer Pictures, Frenesy Film
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h11
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: esporte, romance, drama

22 abril 2024

“Clube Zero” provoca com questões alimentares e alienação

Filme da diretora austríaca Jessica Hausner apresenta uma fotografia geometricamente trabalhada enquanto a trama desenrola temas pesados (Fotos Pandora Filmes)


Eduardo Jr.


Uma sátira sobre modinhas alimentares e os perigos do enfraquecimento dos laços entre pais e filhos no mundo moderno. Esta pode ser uma das definições de “Clube Zero”. A produção austríaca, indicada à Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2023, chega os cinemas brasileiros no dia 25 de abril, distribuído pela Pandora Filmes. 

Dirigido por Jessica Hausner, o longa apresenta uma fotografia geometricamente trabalhada, com cores vibrantes, enquanto a trama desenrola temas pesados. É a perfeição diante dos olhos escondendo verdades dolorosas. Uma proposta de um jogo provocativo para o espectador. 


Na trama, Miss Novak, protagonizada por Mia Wasikowska ("A Ilha de Bergman" - 2022 e "A Despedida" - 2021) é uma professora de nutrição recém-chegada a uma escola de alta classe. A admiração dos alunos por ela é percebida logo nas primeiras cenas. Mas o método baseado em comer cada vez menos se torna uma ameaça à tranquilidade da instituição de ensino e dos pais.  

O espectador acompanha algumas cenas como se observasse câmeras de vigilância, posicionadas nas quinas, no alto. E, aos poucos, elas se aproximam, enquanto exibem o método de conquista dos adolescentes e o desenvolvimento daquele conceito estranho de nutrição. 


Mesmo sem aprofundar em alguns pontos, o longa pode fazer o público concordar com a proposta em alguns momentos, por serem utilizados argumentos baseados em defesa ambiental e na conquista de uma imagem socialmente aceitável.

Rapidamente se nota que ali pode estar nascendo uma seita. O grupo vive o conceito de “alimentação consciente” como o elemento que os torna parte integrante de alguma coisa (algo que, como sabemos, todo adolescente deseja). 

A expressão doce da professora Novak contrasta com os temas que a obra tenta pincelar (bulimia, distanciamento dos pais e falta de capacidade dos jovens para contestar verdades consolidadas). 


E a adesão dos jovens é tanta que, eles mesmos, se tornam multiplicadores daquelas regras, pressionando e excluindo quem não segue a cartilha. A repulsa que o público vai experimentando ao longo do filme vai sendo dissolvida no núcleo familiar do aluno bolsista, que inicialmente não adere àquela proposta e come livremente. 

O personagem Ben (vivido por Samuel DeClan Anderson) escolheu participar daquela disciplina para obter a pontuação necessária para uma bolsa integral na escola. Filho de mãe solteira, é pelo alívio financeiro da mãe (papel comovente de Amanda Lawrence), que ele se permite seguir a manada. A mãe de Ben é o ponto de sensatez na obra. E ela invade, com cores e verdade, o ambiente alienado e asséptico dos pais ricos. 


E aí a acidez da diretora Jessica Hausner ganha mais volume. A posição da educadora, a falta de capacidade cognitiva dos pais e a forma escolhida para tentar resgatar os filhos daquela lavagem cerebral expõem uma realidade social que parece ter escala mundial. E é preciso ter estômago pra encarar essa mensagem (e algumas cenas finais também). 

Na construção da história dessa seita, na qual o ato de fé consiste em abrir mão daquilo que nos mantém de pé, vivos, a diretora volta seus olhos para a religião, para provocar o espectador com uma das obras mais conhecidas de toda a história. Resta saber se o público vai engolir essa brincadeira. 


Ficha técnica:
Direção:
Jessica Hausner
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h50
Classificação: 18 anos
Países: Alemanha, Áustria, Catar, Dinamarca, França, Reino Unido
Gêneros: drama, suspense

17 abril 2024

"Guerra Civil" é uma homenagem ao fotojornalismo com fortes referências ao perigo do extremismo

Wagner Moura interpreta um jornalista que percorre os EUA com outros jornalistas mostrando o conflito que divide o país
(Fotos: A24/Divulgação)


Maristela Bretas


Uma superprodução que merece entrar numa disputa ao Oscar 2025 por roteiro, direção, interpretação e, em especial, fotografia, mesmo mostrando, sem filtro, as atrocidades de uma batalha fictícia. Este é "Guerra Civil", longa que estreia nesta quinta-feira (18) nos cinemas e já é sucesso de bilheteria nas salas dos EUA.

O filme faz referências bem claras ao ataque ocorrido no país, em 2021, com a invasão ao Capitólio. Ao mesmo tempo em que mostra como a desinformação e o extremismo de direita podem levar um país ao caos quando disputam ou tentam retornar ao poder. Lembra a situação semelhante ocorrida no Brasil em janeiro de 2023.


No elenco temos como protagonistas o brasileiro Wagner Moura (Joel), Kirsten Dunst (Lee) e Cailee Spaeny (Jessie), jornalistas que percorrem os Estados Unidos durante o intenso conflito que envolve toda a nação. O país se vê dividido entre o governo oficial, com sede em Washington, e grupos separatistas de importantes estados, como Califórnia, Texas e Flórida.

A violência toma conta das ruas, a população é massacrada e a imprensa perseguida. O presidente fascista, interpretado por Nick Offerman, se tranca na Casa Branca, protegido por soldados, e ilude seus seguidores com informações de que ele tem o controle da situação e a vitória é certa, "em nome da pátria, de Deus e dos americanos de bem".


Este é o cenário que o trio, acompanhado pelo experiente correspondente de guerra, Sammy (Stephen McKinley Henderson), vai enfrentar ao atravessar as zonas de conflito de uma ponta a outra dos EUA. 

Ao mesmo tempo, vai se deparar também com comunidades totalmente alienadas ao que está ocorrendo. O elenco bem afinado conta ainda com boas interpretações de Jesse Plemons (marido na vida real de Dunst), Nelson Lee (Tony), Sonoya Mizuno (Anya), entre outros.


O diretor e roteirista Alex Garland mostra Américas completamente opostas, mas violentas e cruéis em ambos os lados do conflito. A violência marca o longa do início ao fim, como esperado de uma produção do gênero, com muitas mortes e torturas. 

Mas ele soube explorar com excelência essas imagens por meio do fotojornalismo. "Guerra Civil" dá um show neste quesito, especialmente nas fotos em preto e branco, que expõem de maneira mais real a dor, a crueldade, o espanto, a morte, a perda e o desalento.

Cabe às fotojornalistas Lee e Jessie capturarem a essência do conflito e suas intérpretes, Kirsten Dunst e Cailee Spaeny, entregam um ótimo trabalho. Wagner Moura não fica para trás, no papel do jornalista que tenta manter o foco da cobertura dos fatos, mas se abalando quando ele e seu grupo de tornam alvo e sofrem as consequências do conflito. Os efeitos visuais também são muito bons, em especial os dos ataques dos envolvidos da disputa.


O roteiro de "Guerra Civil" é uma homenagem ao jornalismo e aos jornalistas que fazem coberturas de conflitos, correndo os mesmos riscos dos combatentes. O próprio Alex Garland defendeu em entrevista ao jornal "The Guardian" que "jornalistas não são um luxo, são uma necessidade. É importante que a imprensa seja livre, respeitada e confiável".

O filme, apesar de ser uma ficção de guerra, se aproxima muito da vida real. E qualquer país, onde o extremismo e a desinformação predominem, está sujeito a passar por esta situação. "Guerra Civil" é um longa que vale a pena conferir, de preferência em uma sala Imax, para aproveitar melhor a experiência cinematográfica da produção.


Ficha técnica
Direção e roteiro: Alex Garland
Produção: A24
Distribuição: Diamond Films
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h50
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: guerra, drama, ficção

11 abril 2024

"Ghostbusters - Apocalipse de Gelo" é uma boa e nostálgica sequência do longa de 2021

Elencos dos dois primeiros filmes e da produção de 2021 estão juntos novamente, lutando contra um perigoso vilão que quer congelar o planeta (Fotos: CTMG)


Maristela Bretas


Atenção fãs da franquia, estreia nesta quinta-feira nos cinemas o longa "Ghostbusters - Apocalipse de Gelo" ("Ghostbusters: Frozen Empire"), uma sequência de "Ghostbusters: Mais Além" (2021) que pode agradar. 

Ele explora novamente a nostalgia, trazendo referências em cenas e diálogos ao início da franquia, além da união dos novos caça-fantasmas com os originais, como aconteceu há três anos. 

Gil Kenan, roteirista do filme anterior, assume a direção no lugar de Jason Reitman – que continua no roteiro ao lado de Kenan. A dupla faz uma homenagem ao pai de Jason, Ivan Reitman, que dirigiu os dois primeiros filmes - "Os Caça-Fantasmas" (1984) e "Os Caça-Fantasmas 2" (1989). 


O roteiro dessas duas produções foi escrito por Dan Aykroyd e o ator/diretor/roteirista Harold Ramis (falecido em 2014), que também interpretou o professor Egon Spengler e foi homenageado em 2021. 

Em "Ghostbusters - Apocalipse de Gelo", Callie (Carrie Coon), e seus filhos Trevor (Finn Wolfhard) e Phoebe (Mckenna Grace) agora vivem com o professor Gary Grooberson (Paul Rudd) e se tornaram Caça-Fantasmas. 

Eles assumem a responsabilidade que um dia foi do pai de Callie, o professor Spengler, e seus amigos. A família retorna para o antigo quartel de bombeiros em Nova York, onde funcionava a sede do grupo original. 


A descoberta de um artefato antigo liberta uma entidade maligna que ameaça congelar todo o planeta. Para enfrentar o novo vilão, "Ghostbusters - Apocalipse do Gelo" traz novamente os caça-fantasmas que iniciaram a franquia.

Peter Venkman (Bill Murray), Ray Stantz (Dan Aykroyd) e o agora empresário e financiador dos Caça-Fantasmas, Winston Zeddemore (Ernie Hudson), se juntam aos novos caçadores. 

Eles ainda vão poder contar com a participação da antiga secretária do grupo, Janine Melnitz (Annie Potts) e do prefeito Walter Peck (papel de William Atherton). 


A produção tem várias referências aos filmes originais, a começar pela participação de Geleia, o fantasma verde gosmento. Mas a repaginada de CGI que deram nele não ficou tão simpática e engraçada quanto o primeiro. 

Também estão de volta as perversas e divertidas miniaturas do Homem de Marshmallow Stay Puft, que aproveitam para mostrar que ainda podem aprontar bastante.

Os diálogos da "velha turma" são pura nostalgia. Quem assistiu aos filmes de 1984 e 1989 vai entender as menções que eles fazem às situações engraçadas e de perigo que viveram no passado. A impressão que dá é de que, mais um pouco, entravam em cena Sigourney Weaver e Rick Moranis.


De "Ghostbusters: Mais Além" estão de volta também Logan Kim, como Podcast, e Celeste O´Connor, como Lucky Domingo. O elenco ganha o ótimo reforço de Kumail Nanjiani, que faz o papel do comerciante picareta de objetos antigos, Nadeem Razmaadi, e será peça importante na trama.

Ao contrário do filme anterior, "Ghostbusters - Apocalipse de Gelo" é mais descontraído e retoma o estilo de comédia, graças especialmente à turma antiga, que ganha uma participação maior. 

O destaque da vez fica para a personagem Phoebe, que precisa resolver sua relação com o padrasto e ainda provar que é capaz, com seus 15 anos, de ser uma caça-fantasmas e vencer as forças do mal.


Um ponto negativo é a cena da batalha, que poderia ter sido melhor explorada, especialmente por reunir os dois grupos e colocá-los frente a frente com Garraka e seu exército de fantasmas. 

Durou pouco tempo, poderia ser uma batalha grandiosa, mas pecou em efeitos especiais, atrapalhando a participação do vilão do gelo, que tinha tudo para ser o novo Gozer da franquia.

Mesmo assim, "Ghostbusters - Apocalipse de Gelo" vale a pena assistir nos cinemas e curtir, mais uma vez essa turma junta enfrentando os piores e também os mais divertidos fantasmas. E o diretor já deixou a brecha para um terceiro filme. Alerta: tem cena curta pós-crédito. 


Ficha técnica:
Direção: Gil Kenan
Roteiro: Gil Kenan e Jason Reitman
Produção e distribuição: Sony Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h56
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: ação, aventura, fantasia, comédia

09 abril 2024

"Evidências do Amor" é um filme para fãs de Sandy e Fábio Porchat

Dupla tem boa química, mas comédia longa e morna não traz nada de novo e fica bem cansativa da metade
em diante (Fotos: Warner Bros. Pictures)


Maristela Bretas


Curtiu Sandy e Júnior na adolescência? Acompanha Fábio Porchat no Porta dos Fundos ou em seus programas? Não consegue ficar livre de uma música chiclete, mesmo sendo uma de suas preferidas? Então, "Evidências do Amor", que estreia nesta quinta-feira (11 de abril) é um filme que poderá lhe agradar. 

Dirigido por Pedro Antônio Paes, a comédia traz o casal pouco provável como artistas num romance que começa num piscar de olhos e acaba sem explicações. 


Para delírio dos fãs, o roteiro coloca Sandy e Porchat se beijando de uma maneira bem convincente do início ao fim do filme, ao som de "Evidências", que apesar de ser uma música linda, gruda na cabeça a ponto de irritar, de tanto que toca e nos mais variados formatos.

O filme é inspirado na música, composta por José Augusto e Paulo Sérgio Valle e lançada pela dupla Chitãozinho & Xororó. A história acompanha o casal, Marco Antônio (Fábio Porchat) e Laura (Sandy), que se apaixonam após cantarem "Evidências" juntos em um karaokê. 


Em meio a muitos altos e baixos, eles acabam terminando o namoro, mas todas as vezes que escuta a música, Marco sofre um apagão e retorna a momentos em que discutia com sua ex. Agora ele só quer colocar um fim neste tormento.

A dupla mostra uma boa química, mas não apresenta nada além do que os artistas já fazem em suas carreiras. Sandy é a cantora com uma voz linda e o mesmo rosto bonito de quando era adolescente, que volta a atuar depois de 10 anos e deverá arrastar uma infinidade de seguidores para os cinemas.


Já o humorista exagera nas caras e bocas em cenas cômicas e até mesmo nas dramáticas. Exceto quando o personagem lembra do pai - este é um momento emocionante e ele segurou bem. Mas Porchat passa o filme sendo Porchat. 

Os personagens são superficiais, assim como o roteiro cheio de clichês, com piadas sem graça. A cena de nudez do humorista durante uma festa careta de família até arranca algumas risadas do público. 

Ponto positivo para Evelyn Castro (a amiga Júlia) que, com seu jeito espalhafatoso, consegue segurar os momentos engraçados e poderia ter sido mais bem aproveitada.


A trilha sonora, além da música-tema também é recheada de sucessos sertanejos conhecidos do público, especialmente os cantados pela dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó, que também faz uma pequena participação no longa, claro.

Não espere muito de "Evidências do Amor". É uma comédia de sessão da tarde longa e morna, com efeitos especiais que, de tão repetitivos e forçados, chegam a ficar chatos. Mas o que mais marca o filme é a maldição de sair do cinema sem conseguir tirar a música-tema da cabeça. Uma produção para fãs, com certeza.


Ficha técnica:
Direção: Pedro Antônio Paes
Produção: Framboesa Filmes e Warner Bros. Pictures
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h46
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gêneros: comédia, romance

06 abril 2024

"A Saudade que Fica" é amor transcendental e o poder transformador da arte e do cinema

Drama japonês dirigido por Michihito Fujii emociona e nos faz questionar os limites entre a vida e a morte (Fotos: Netflix)


Silvana Monteiro


Procura um filme que, com certeza, vai te fazer chorar? Então vale a pena conferir "A Saudade que Fica" ("The Parades"). Dirigido por Michihito Fujii e exibido na Netflix, o longa japonês aborda temas como amor transcendental, separação terrena, luto, perdão e cura dos traumas materiais e espirituais, com sensibilidade e profundidade.

A narrativa nos faz questionar os limites entre a vida e o que ocorre após morrermos. Como seria se pudéssemos continuar algumas atividades após a morte? E se fosse possível proteger os entes queridos, pedir perdão ou perceber aspectos que não foram vistos em nossa personalidade?


Após uma calamidade devastadora, Minako (Masami Nagasawa) procura pelo filho desaparecido, até descobrir que está morta. Ela embarca em uma jornada emocional em busca de seu filho, Ryo. Sua inquietação é marcada por sua incapacidade de interagir com os vivos, o que intensifica sua dor.

Minako é resgatada e levada a um bucólico "parque de diversões” de um vilarejo remoto, onde encontra outros espíritos “vivenciando” situações que os mantêm ligados a esta dimensão. A conexão entre eles resulta em uma colaboração mútua e ajuda emocional. Será que Minako vai encontrar Ryo? Ele está vivo? Onde ele está? Como vai ser esse encontro?


Aos poucos, de uma forma surpreendente, o enredo vai revelando acontecimentos paralelos à peregrinação noturna dessas almas. É interessante como não se formam vilões e nem heróis. O drama humaniza as ações e reações, o que o torna especial. 

As tramas intricadas e os planos mirabolantes do cineasta Michael (interpretado por Lily Franky), as observações e escritos do jovem Akira (Kentaro Sakaguchi), a contemplação familiar de Kaori (Shinobu Terajima), o passado conturbado de Shori (Ryūsei Yokohama) e as angústias da jovem Nana (Nana Mori) são apresentados com uma sensibilidade tão envolvente que até os eventos mais intensos são suavizados para o espectador.


O ponto alto reside nas narrativas entrelaçadas, que se desdobram como histórias dentro da história. Através de uma sessão de cinema e da produção de um filme, as narrativas desses espíritos são revividas, reinterpretadas e libertas. Um plot twist arrebatador diferencia o filme das abordagens convencionais sobre temas espíritas.

A fotografia é espetacular com destaque para as cenas que mostram o mar e o ambiente confortavelmente iluminado e bucólico onde se encontram os espíritos.


Apesar das mais de duas horas de filme, as referências entre nossas vidas e a construção e finalização de uma obra cinematográfica deixam tudo mais leve e saboroso. 

"A Saudade que Fica" é um testemunho do poder do cinema em explorar temas profundos e complexos, oferecendo uma perspectiva única sobre a vida, a morte e o que pode existir além. Sente-se confortavelmente e prepare os lenços.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Michihito Fujii
Produção: Babel Label
Exibição: Netflix
Duração: 2h12
Classificação: 14 anos
País: Japão
Gêneros: drama, família

03 abril 2024

"Licença para Enlouquecer": nem uma pandemia atrapalha essa amizade

Trio descobre que é possível viver intensamente, adaptando a vida às novas regras (Fotos: Bruno Carvalho)


Filipe Matheus
Comentando Sucessos


Um filme interessante e perspicaz na abordagem de temas como a importância das mulheres, relacionamentos e a pandemia que parou o mundo a partir de março de 2020. Este é "Licença para Enlouquecer", longa que chega aos cinemas nesta quinta-feira (4), trazendo uma narrativa que soa com intensidade no espectador. 

O diretor Hsu Chien é conhecido por seus trabalhos em filmes como "Um Dia Cinco Estrelas" (2023), "Desapega!" (2023) e "Quem Vai Ficar com Mário" (2021).


Na trama, Sara (Mônica Carvalho), Lia (Danielle Winits) e Leia (Michelle Muniz) precisam se adaptar a um novo estilo de vida com a chegada da Covid-19, com reuniões por Zoom, encontros virtuais e distanciamento social da quarentena. 

Além das exigências do condomínio, o síndico Carlos (Nelson Freitas) tem uma relação conturbada com as meninas. Com o tempo, ele acaba se envolvendo nas loucuras do trio, embarcando para uma grande aventura na praia de Maragogi, em Alagoas.


Destaque para a interpretação de Michelle Muniz, cuja personagem evidencia a força da mulher e aborda a importância do amor próprio nos dias atuais, demonstrando que os rótulos impostos pela sociedade e os relacionamentos tóxicos não determinam o valor e a relevância da mulher em nossa sociedade.

Além das três protagonistas e Nelson Freitas, o elenco é formado por atores conhecidos de novelas e do cinema, como Luiza Tomé, André Mattos, Henri Castelli, Jennifer Setti, Thaíssa Carvalho, Brendha Haddad e Bruno Moreira.


Um ponto negativo é a viagem das amigas em tempos de pandemia, algo que não seria possível na realidade. Isso confunde o enredo do filme, que, apesar de destacar a história das amigas, carece de uma narrativa mais desenvolvida. Esta comédia brasileira poderia ganhar mais força e autenticidade ao abordar esses importantes temas de forma aprofundada.

No longa, a cultura local também é explorada, com destaque para a música, danças e a deslumbrante paisagem do litoral de Alagoas que desperta o desejo de conhecer e vivenciar essa experiência.


A dinâmica entre os personagens também funciona bem. Cada um possui sua própria história para contar, refletindo a realidade de muitas pessoas que buscam autoaceitação, realização profissional, relacionamentos sólidos com familiares e amigos. E, acima de tudo, entendem a importância de viver a vida com intensidade, pois ela é única.

Para quem quer uma produção divertida, "Licença para Enlouquecer" é imperdível ao mostrar a importância da amizade e como é possível adaptar a vida às novas regras e hábitos quando necessário.


Ficha técnica
Direção: Hsu Chien
Roteiro: Mônica Carvalho, Michele Muniz e Marcelo Corrêa
Produção: Yva Filmes
Distribuição: Pipa Pictures e codistribuição da Imagem Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h40
País: Brasil
Gêneros: comédia nacional

02 abril 2024

"Dias Perfeitos": uma celebração longa, lenta e bela dos pequenos prazeres

Com belíssima interpretação, Kōji Yakusho faz o papel de um homem de hábitos simples, que encontra beleza nas pequenas coisas (Fotos: O2 Filmes)


Silvana Monteiro


"Dias Perfeitos" é mais do que um filme, é uma experiência de imersão na ritualística e meticulosa rotina de Hirayama interpretado por Kōji Yakusho, um zelador de banheiros públicos em Tóquio. E é esta obra que o espectador pode conferir no Una Cine Belas Artes, no Centro Cultural Unimed-BH Minas e, a partir do dia 12 de abril, no canal de streaming Mubi. 

Dirigido por Wim Wenders, o filme se destaca por sua abordagem poética e contemplativa, combinando elementos visuais e narrativos de forma única.  

O longa, com mais de duas horas, fez sua estreia em maio de 2023 no Festival de Cinema de Cannes, onde conquistou o prêmio de Melhor Ator e foi agraciado com o prêmio do Júri Ecumênico, reconhecendo suas "qualidades artísticas e humanas". 

Em novembro do mesmo ano, o filme também recebeu o prêmio Asia Pacific Screen de Melhor Filme e concorreu também ao Oscar de Melhor Filme Internacional pelo Japão.


Embora seja uma obra ficcional, "Dias Perfeitos" se assemelha a um documentário em sua abordagem narrativa e fotográfica. Hirayama é um homem de hábitos simples, que encontra beleza nas pequenas coisas, como a música que ecoa nas fitas cassetes de seu carro, os livros que lê, as mudas de plantas enclausuradas em seu pequenino lar e as árvores que fotografa com sua câmera analógica. 

A obra fascina ao destacar a evolução tecnológica dos banheiros, contrastando com a estagnação pessoal do protagonista, que permanece imerso no período analógico, enquanto se entrega ao consumo de junk food. 


A trama torna-se perfil e diário ao acompanhar Hirayama, magistralmente, em sua rotina aparentemente ordinária. No entanto, sua tranquilidade é abalada por uma série de encontros surpreendentes que revelam gradualmente seu misterioso passado. 

A escolha de Yakusho para o papel principal foi acertada, sua atuação que transmite com maestria a complexidade interior do personagem, tornando-o cativante e intrigante. O elenco de apoio também merece destaque, especialmente Tokio Emoto como Takashi, que desempenha um papel crucial na transformação do protagonista.


A produção do filme é digna de nota, especialmente por sua origem inusitada. Wenders foi convidado a Tóquio para observar o Tokyo Toilet Project, um projeto de redesign de banheiros públicos. 

Essa experiência inspirou o conceito do filme, que se baseia na ideia da singularidade e da beleza escondida nas coisas simples da vida, colocados em prática, em boa parte da obra, com poucos diálogos. 

A trilha sonora de "Dias Perfeitos" apresenta uma seleção musical marcante, feita a partir da experiência do protagonista, normalmente em seu trajeto entre a casa e o trabalho. Nas faixas estão artistas renomados como The Kinks, The Rolling Stones, Van Morrison, Patti Smith e Lou Reed.


A fotografia de "Dias Perfeitos" é um dos pontos altos da obra, capturando a atmosfera única de Tóquio e destacando a beleza da cidade de uma forma pouco convencional. Em meio a jardins e arranha-céus, entre choros de bebês e a loucura dos adultos, entre o mínimo e o máximo, cada cena é meticulosamente composta, refletindo a precisão e a atenção aos detalhes que caracterizam a vida de Hirayama. 

Nesse contexto, o filme cativa o espectador ao retratar uma rotina que poderia ser totalmente surtada, mas que por meio de eventos sutis e cheios de vida, desperta reflexões profundas. No entanto, o ritmo do filme pode ser um desafio para algumas pessoas. 

Wenders opta por uma abordagem contemplativa, deixando espaço para que as cenas e os diálogos se desenvolvam lentamente. Para aqueles que apreciam um ritmo mais acelerado, isso pode parecer cansativo. 


Mas para quem se permite mergulhar na atmosfera do filme, é uma experiência gratificante. Talvez, seja exatamente a falta de mudanças que faz o público se manter atento, na ânsia de ver algo que fuja da rotina. 

Em suma, "Dias Perfeitos" é um filme que não foi feito para entreter tão facilmente, mas que recompensa a paciência e a atenção do espectador em busca de reflexões. 

É uma obra que celebra a beleza dos pequenos prazeres, sobretudo para quem não tem como fugir da Carteira de Trabalho. Nos lembra que, por trás da rotina aparentemente monótona, sempre há surpresas e histórias fascinantes esperando para serem descobertas.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Wim Wenders
Produção: O2 Filmes
Distribuição: O2 Play e Mubi
Exibição: Una Cine Belas Artes - salas 1 (14 horas) e 2 (17 horas); Centro Cultural Unimed-BH Minas - salas 1 (16 horas) e 2 (10h40). A partir do dia 12 de abril no canal de streaming Mubi
Duração: 2h03
Classificação: 12 anos
País: Japão
Gênero: drama