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09 dezembro 2025

Delicado e poético, "Livros Restantes" é uma sincera homenagem à literatura

Denise Fraga em excelente desempenho entrega uma protagonista quase onipresente (Fotos: H2O Films)
 
 

Mirtes Helena Scalioni

 
Embora apresente algumas surpresas no decorrer da trama, não se pode dizer que "Livros Restantes" seja um filme carregado de reviravoltas e plot twists, assim como não se pode considerá-lo suspense pelo fato de, em algum momento, a ação levar o espectador a se perguntar: houve mesmo um crime? 

Mas, talvez por isso, o longa dirigido por Márcia Paraíso e que estreia nos cinemas brasileiros dia 11 de dezembro mereça ser visto. É, no mínimo, uma história peculiar e curiosa, com cenas filmadas no Brasil e em Portugal. 

Tendo Denise Fraga em excelente performance como protagonista quase onipresente, o filme começa de um jeito lento e morno, como costumam ser os dias e noites praianos. 


Afinal, estamos em Florianópolis, mais precisamente num recanto chamado Barra da Lagoa, onde a professora Ana Catarina está se despedindo da família e de amigos, pois está de partida para Portugal onde - presume-se - ela vai continuar seus estudos e, como faz questão de dizer, contar apenas consigo mesma.

Aos poucos, o público se familiariza com o jeito sensível de Aninha - como é conhecida por todos na ilha - e, embora cause algum estranhamento, não é assim tão grave, esquisito ou indelicado o que ela se propõe a fazer logo no início. 


Depois de esvaziar a casa, tirar móveis, objetos e animais domésticos, ela descobre que sobraram cinco livros na sua estante de madeira. Como estão autografados e com dedicatórias, a professora decide devolver cada um deles às pessoas que, em algum momento da vida, lhe deram os tais livros de presente.

Numa espécie de miolo do filme, enquanto o espectador vai sendo lentamente apresentado à família de Ana, alguns assuntos sempre considerados espinhosos chegam à tona. 


E o que emerge das conversas à mesa, entre camarões, moquecas e brindes, pode não agradar, ferir e machucar. São os chamados segredos de família, passíveis de ocorrer em todos os agrupamentos familiares, independente da nacionalidade deles.

Além de Denise Fraga e Augusto Madeira - que faz o ex-marido dela, Carlos Henrique -, os demais atores e atrizes são desconhecidos do grande público e tudo indica que a diretora foi buscá-los na região. 

Para citar os mais frequentes, estão lá Renato Turnes, Vanderleia Will, Manuela Campagna, Marcinho Gonzaga, Andrea Buzato, Paulo Vasilescu, Severo Cruz, Joana dos Santos, Adriano de Brito e Leandro Batz, variando entre familiares e amigos da protagonista. 


Outro ponto alto de "Livros Restantes" é a trilha sonora. Em sua maioria, são canções conhecidas que pontuam aqui e ali, embalando ora cenas de ternura e amizade, ora de crises e brigas. 

Mas o que chama a atenção é uma música cuja autoria é atribuída a Zininho e que aparece no filme em duas versões: às vezes como um samba, deliciosamente tocado e cantado nos momentos festivos; outras vezes em ritmo de fado, criando toda aquela atmosfera de tristeza e saudade. Genial. 

Por falar em Portugal, é preciso registrar que o livreiro que atende a protagonista numa livraria em Portugal é o maestro Antônio Vitorino de Almeida. 


A beleza do filme está exatamente nos reencontros que Ana Catarina programa e promove para devolver os livros que restaram em sua estante. 

Até porque, em alguns casos, o tempo acabou por distanciá-la de algumas dessas pessoas e algumas não fazem mais parte do seu círculo de amigos. Houve até quem se modificasse tanto a ponto de não ser mais a mesma pessoa de antes. 

Nesses encontros, nem sempre bem sucedidos, é que parece estar o grande motivo do longa de Márcia Paraíso: fazer uma ode ao livro, uma verdadeira louvação à literatura, E isso é feito de uma forma tão delicada e bonita que é como se o público estivesse diante de um poema.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Márcia Paraíso
Produção: Plural Filmes e coprodução Filmógrafo
Distribuição: H2O Films
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h44
Classificação: 14 anos
Países: Brasil e Portugal
Gênero: drama

06 dezembro 2025

"A Natureza das Coisas Invisíveis": a complexidade da existência humana pelo olhar de duas crianças

Longa aborda a importância de permitir que crianças participem das conversas sobre a finitude da vida
(Fotos: Vitrine Filmes)
 
 

Patrícia Cassese

 
Para usar uma expressão em voga no momento, há tantas camadas no longa-metragem "A Natureza das Coisas Invisíveis", em cartaz no Cine Una Belas Artes, que certamente o processo de decupagem na recepção do conteúdo vai acompanhar o público por um bom tempo após o fim da sessão. 

De pronto, é preciso dizer que trata-se de um filme que aborda um tema muito, muito intrincado: a finitude da vida. Não bastasse, o faz principalmente pelo olhar de duas crianças, ambas com dez anos de idade. São elas: Glória (Laura Brandão) e Sofia (Serena), ambas excelentes, espontâneas e visivelmente comprometidas e entregues. 

Mas, que fique claro, o primeiro longa-metragem de Rafaela Camelo trata a questão com toda a delicadeza possível nesse árido caminho, de modo que se algumas lágrimas teimarem em escorrer pelo rosto, provavelmente serão mais por outro tipo de emoção que a relacionada à tristeza.


A cena inicial desse que é descrito como um coming of age* nos leva a um banheiro de uma escola, com seus tradicionais rabiscos na parede. Discretamente, pela fresta de uma porta, uma garota - Glória - aguarda as demais saírem para, só então, sair da cabine. 

Já no frame seguinte, um indicativo de que o filme também transitará por outra esfera que não apenas a da realidade, do crível - mas é melhor não estragar a surpresa. Se frequentar a escola não faz o cotidiano de Glória ser diferente de boa parte das crianças do país, o outro turno do dia, sim. 

Isso pelo fato de sua mãe, a enfermeira Antônia (Larissa Mauro), não tendo com quem deixar a menina, acaba costumeiramente arrastando-a para o seu trabalho, em um hospital.

Uma das cenas mostra que a presença de Glória já é familiar aos pacientes, bastante idosos, que a recebem como um raio de sol que adentra a penumbra do cotidiano hospitalar. A menina também transita com naturalidade por outros ambientes da instituição, como um quarto de pertences "esquecidos" por lá. 


No entanto, a rotina daquele dia específico é quebrada com a chegada de outra criança, Sofia, que adentra o local praticamente sem fôlego, trazendo consigo a bisavó, Francisca (Aline Marta Maia), que sofreu uma queda em casa.

O acidente, na verdade, é uma intercorrência em meio a uma série de problemas que a idosa vem enfrentando nos últimos tempos, mediante o avanço da demência que a assola. Neste episódio, um ponto que chama atenção é o fato de, no momento da queda, Bisa estar em casa apenas com uma criança, sendo que seu estado demandaria, claro, a presença de um adulto. 

Eis que a mãe da menina, Simone (Camila Márdila, sempre excelente), entra em cena e ficamos sabendo que, assim como Antônia, ela também é uma mãe solo. A necessidade imperiosa de trabalhar a obriga a deixar a filha sozinha com sua avó - não por outro motivo, de cara demonstra receio de perder a guarda da criança por conta do acidente.

Além da coincidência da idade e da configuração familiar, as duas meninas também vêm de experiências marcantes. Glória é uma garota transplantada (recebeu um coração). 


Já Sofia, uma criança trans - e palmas para a diretora por tratar esse tema com extrema sensibilidade e naturalidade, sem transformá-lo em um ponto crucial da trama, que, na verdade, enverga, como já dito, pelos mistérios que rondam a nossa finitude. 

De todo modo, para interpretar Sofia, Rafaela Camelo fez questão de escolher uma atriz que tivesse lugar de fala, ou seja, uma criança trans - o que já é um avanço e tanto. 

Em meio a tantos pontos comuns, uma característica que diferencia as duas é justamente a visão da morte. Acostumada ao ambiente hospitalar, Sofia vê a partida dos pacientes com uma espécie de "tristeza conformada". 


Assim, mexer nos tais pertences esquecidos por lá, vestir roupas de quem partiu, é um ato que vê com extrema naturalidade, ao contrário de Sofia. Como a garota chegou ao hospital com a blusa manchada de sangue, Glória toma a iniciativa de mostrar a ela uma blusa de criança por lá disponível.  

O que para ela é uma solução óbvia, assusta a outra menina, que acredita em energias emanadas por aqueles que já partiram. Fato é que não só as duas estabelecem amizade, como as respectivas mães também. E, quando Bisa tem alta, Antônia se oferece para acompanhar sua recuperação no sítio para o qual a idosa será levada.

Não, não é meramente um gesto de altruísmo, posto que Simone nem teria como pagá-la. É que a enfermeira entende ser essa uma boa saída para a filha não passar o período fora da escola num ambiente no qual a luta pela vida é muitas vezes atravessada pela derrota. 

E é nesse ponto que o "A Natureza das Coisas Invisíveis" ganha uma espécie de ponto de virada, aliás, pontuada pela voz de Milton Nascimento, entoando "Fazenda". 


Assim, do ambiente hospitalar "frio" e asséptico, marcado por sondas, acessos e medidores, a exuberância da vida no campo irrompe. E o vento que balança as folhas é um indicativo emblemático. O verde ocupa a tela, bem como a fauna costumeira da vida campestre, como patinhos e outros animais. 

No material de divulgação do filme, a diretora diz que a divisão do longa em duas partes seria "uma metáfora estrutural". "Como se, naquele ponto, o filme da forma que vinha sendo apresentado tivesse que morrer para outro se formar”. 

Na casa propriamente dita, uma edificação singela como tantas dispersas interior afora, a fé marca forte presença por meio dos santos reunidos num altar, ao lado de figuras como a do Preto Velho, estampando o sincretismo religioso que pauta o país.


A presença das mulheres da redondeza exalta a importância da sororidade, bem como a cumplicidade orgânica que se estabelece entre elas, também típica do interior do Brasil - no caso, em Goiás. Na vivência do sítio, o aspecto sobrenatural se acentua, seja por meio das diversas práticas advindas de crenças populares quanto pelos ditames religiosos. 

Em uma das cenas, a expressão no rosto de Antônia deixa evidente seu ceticismo quando a alguns expedientes que por ali são culturalmente introjetados. No entanto, ela se deixa levar, seja por respeito ou pelo espírito de "pagar para ver". Ou por ambos. Afinal, que se arvoraria a, em situações difíceis, não tentar recorrer ao que se apresenta?

Ao fim e ao cabo, nos 90 minutos de percurso da empreitada, Rafaela Camelo mostra que sua estreia no formato longa se deu com o pé direito, para usar uma expressão também popular no país. 


Na beleza do intangível, no âmbito do imponderado, nas dúvidas que assolam o percurso do ser humano na Terra, e mesmo com uma pitada do fantástico, "A Natureza das Coisas Invisíveis" enreda o espectador com tal força que o acender das luzes da sala de cinema, após a cena final, ao som de Fernando Mendes, vai flagrar muita gente com os olhos marejados. Como dito no inicinho desse texto.

*Coming of age é o nome que se dá a filmes que acompanham a transição da infância para a adolescência, por vezes também para a vida adulta.

Curiosidade

- Estudos recentes indicam que no Brasil cerca de 1,3 milhão de crianças já enfrentaram a perda de pelo menos um dos pais ou de um morador do domicílio, o que reforça a magnitude desse impacto.

- Essas circunstâncias aumentam os riscos de ansiedade, depressão, dificuldades escolares e outros desfechos negativos de longo prazo. 


Ficha técnica:
Direção e Roteiro:
Rafaela Camelo
Produção: Moveo Films
Distribuição: Vitrine Filmes
Exibição: Cine Una Belas Artes
Duração: 1h30
Classificação: 12 anos
Países: Brasil e Chile
Gênero: drama

05 dezembro 2025

“Cyclone” é obra crescente sobre talentosa dramaturga esquecida na história do Brasil

Longa resgata a história de Daisy Castro, interpretada por Luiza Mariani, que enfrentou vários obstáculos machistas para estudar teatro em 1919 (Fotos: Muiraquitã Filmes)
 
 

Eduardo Jr.

 
“O senhor já foi em alguma peça escrita por uma mulher?” A pergunta lançada no meio do filme e o silêncio constrangido dado como resposta poderiam ser apresentados logo no início do filme “Cyclone”, como dica do que está por vir. O longa está em cartaz no Cine Una Belas Artes.

O longa, dirigido por Flávia Castro, produzido pela Muiraquitã Filmes, pela Mar Filmes e distribuído pela Bretz Filmes, resgata a história real da dramaturga Maria de Lourdes Castro Pontes, que enfrentou o obstáculo de ser mulher na busca por uma viagem a Paris para estudar teatro. 


O início, sem cor, parece identificar o mundo masculino. A dramaturga Daisy Castro, que se intitula Cyclone (Luiza Mariani), tenta apresentar seu trabalho para alguns senhores. Mas essa é uma daquelas conversas onde o que a mulher tem a dizer não interessa aos homens. 

O local onde ela tem (tem?) reconhecimento é na encenação de uma trupe teatral, dirigida por Heitor Gamba (Eduardo Moscovis), com quem ela dorme. Além de ter o corpo de Cyclone, ele detém o poder de incluir ou não o nome dela nos créditos da peça, que só existe graças ao trabalho dela. 

A direção ganha um ponto extra por conta de fina provocação: a peça a ser encenada no filme é “Os Bruzundangas”, de Lima Barreto. Texto que satiriza questões como preconceito e hipocrisia em um país fictício. 


Na coxia, a câmera espreita tudo, como um dos participantes alcoolizados naquele ambiente, ora com foco, ora desfocada ao capturar detalhes. Sem planos abertos, parece querer simbolizar um mundo fechado. 

Para entender algumas falas, o espectador precisa estar bem atento. O som, que começa inicia em volume mais elevado, perde potência ao acompanhar o cotidiano, os deslocamentos, o trabalho de Daisy como tipógrafa. 

Ali, ela e a prima Lia (Luciana Paes) conversam sobre o universo feminino, a relação com o mundo dos homens. E isso alimenta a escrita de Cyclone. Enquanto ela cria, a música guia o emocional do público, tentando dar esperança à luta daquela mulher. 


Até então meio morno, o longa começa a respirar mais forte quando a jovem recebe a confirmação de que conquistou uma bolsa para estudar teatro em Paris, onde poderá deixar de ser Daisy durante o dia e ser somente Cyclone em tempo integral. 

Mas ela é mulher. E isso, na São Paulo de 1919, significa precisar ter seu nome gravado no programa de uma peça como dramaturga, ter uma autorização para viajar assinada pelo pai (já falecido) ou marido (com quem ela não se relaciona mais) e ainda enfrentar outros absurdos.    

Luiza Mariani constrói uma Cyclone profunda, que até se fragiliza, mas engole seco e luta. O que ela tem é sua força e a ajuda de duas mulheres: a amiga Marie (Karine Teles) e de uma apoiadora de última hora, Ada (vivida por Magali Biff). 


Vale destacar a sororidade fora da tela também. A obra se sustenta na colaboração entre mulheres: roteiro de Rita Piffer, produção executiva de Diana Almeida, direção de fotografia de Heloísa Passos, direção de arte de Ana Paula Cardoso, figurino de Gabriella Marra e edição de Joana Collier. 

O longa, livremente inspirado nas obras “Neve na Manhã de São Paulo”, de José Roberto Walter, e em “O Perfeito Cozinheiro das Almas Deste Mundo”, de Oswald de Andrade. Tem, ainda, pesquisa de Suzane Jardim. 

Para derrubar tantos entraves, a raiva é energia para ela — e promete energizar o público também. Energia que faltou a Maria de Lourdes, apelidada “Miss Cyclone”, que morreu por complicações decorrentes de um aborto e retirada do útero — procedimento fruto da insistência do amante, Oswald de Andrade. Vale a pena conferir o filme. 


Ficha Técnica:
Direção: Flávia Castro
Roteiro: Rita Piffer
Produção: Mar Filmes e Muiraquitã Filmes, coprodução Video Filmes e Claro
Distribuição: Bretz Filmes
Exibição: Cine Una Belas Artes
Duração: 1h40
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gênero: drama

30 novembro 2025

"O Natal dos Silva" se equilibra entre dores, ajustes de contas e afetos

Série da produtora mineira Filmes de Plástico traz uma família com nuances às quais diversos espectadores
vão se identificar (Fotos: Denise dos Santos)
  
 

Patrícia Cassese

  
Para o bem ou para o mal, a tradição de juntar família e agregados em torno de uma mesa farta é o momento mais simbólico da comemoração do Natal no Brasil. 

Impreterivelmente, o ritual é acompanhado de uma oração - afinal, trata-se de uma data de cunho religioso -, feita preferencialmente com anfitriões e convidados de mãos dadas. 

O encontro também prevê a entrega de presentes (cujo destinatário foi definido em sorteio prévio, o célebre "amigo oculto"), precedida por uma breve descrição do sujeito, de modo a mobilizar os entes a tentar adivinhar quem vai abrir o pacote. A foto para eternizar a celebração entra em cena como o arremate perfeito. 


No hemisfério adulto, porém, é notório que nem todos os que comparecem a tais eventos estão, de fato, se sentindo à vontade para estar no mesmo ambiente com um ou outro parente. 

Sim, atire a primeira pedra aqueles que não têm, no seio de suas famílias, conflitos (velados ou explicitados) que fazem com que os sorrisos e abraços dados na noite que marca o nascimento de Jesus na tradição cristão não sejam por vezes contaminados por um mal-estar.

Em "O Natal dos Silva" não é diferente. É a primeira série da festejada (e com toda razão) produtora Filmes de Plástico (sim, você sabe, de Contagem, responsável por "Marte Um" - 2022), cujo primeiro capítulo já está disponível no Canal Brasil (Globoplay, plano Premium). 

A produção traz uma família com nuances às quais diversos espectadores vão se identificar, independentemente da realidade ao entorno de cada um. 


A direção dos episódios - cinco, ao todo - é assinada por Gabriel Martins, Maurilio Martins e André Novais Oliveira, que também assina o roteiro ao lado de Gabriel. A ação se desenovela em um Natal atípico na família Silva. 

Isso porque é a primeira comemoração da data sem a presença da matriarca Zelina, esteio principal daquele agrupamento de pessoas reunido na casa onde ela morava com a filha, Bel, interpretada magistralmente (zero surpresa) por Rejane Faria. 

Integrante do QuatrolosCinco, Rejane esteve em filmes como "Marte Um", em séries como "Segunda Chamada" e em novelas como "Vale Tudo", além de compor o elenco de "Três Graças". Vale dizer que, de pronto, a personagem Bel impacta pelo palavreado cru, sem filtros e sem freios. 

No decorrer da trama, o espectador entende tratar-se de uma armadura que ela ergueu em torno de si para se proteger das agruras da vida, que, a essa altura, já lhe deixaram marcas profundas.


Mas é mesmo em tom hostil que, logo no inicinho, Bel recebe o filho, Luciano (Robert Frank, simplesmente perfeito, em tom mais que acertado) que chega para o festejo com a nova namorada, Lin (Aisha Brunno, do necessário "Tudo O Que Você Podia Ser"), uma mulher trans - atenção: essa especificação se faz necessária neste texto apenas por ser motivo de impacto para alguns dos membros da família Silva. 

Pouco a pouco, outros membros também batem a campainha e, com a chegada deles, a temperatura começa a subir de modo irrefreável. Não tarda para que mágoas e rusgas perfurem a epiderme da cordialidade num fluxo crescente e violento, envolvendo notadamente os filhos de Dona Zelina - tanto os de sangue quanto Jezinho (Ítalo Laureano), que foi para os Estados Unidos atrás do sonho de ser ator. 


Da mesma forma, dois dos netos - justamente os filhos de Bel, ou seja, o já citado Luciano e Banda Larga (Leonardo de Jesus), além de Lucimara (Raquel Pedras, ótima), viúva de Pedro, filho de Zelina morto em um acidente cujo responsável é um dos irmãos. 

No curso dos capítulos, percebe-se que as feridas do passado estão longe de ter cicatrizado, e as discussões se sucedem, provocadas desde por motivos de pouca monta - como o fato de Bel estar, naquela noite, trajando um vestido que era da mãe, o que irrita sobremaneira a irmã, Lúcia (Carlandréia Ribeiro, magnífica, também sem nenhuma surpresa), até aquele que é grande ponto nevrálgico da série, o tal X da questão: a eventual venda da casa. 


A alternativa, pontue-se, é pleiteada pela maioria dos presentes, que vê, nesse expediente, a grande (e talvez única) oportunidade de passar a régua nos problemas financeiros do momento e, a partir daquele ponto, respirar aliviada e seguir em frente. 

Ocorre que a mera possibilidade de se desfazer da casa em que morava com a mãe faz com que Bel ative todos os seus ferrões, posto que enxerga a hipótese como um ato de extrema traição à memória da família.
Assim como passa a aventar o destino de tudo o que ali, naquele endereço, marcou a narrativa do clã, caso do pé de manga no quintal, que, no curso dos anos, serviu inclusive de árvore de Natal dos Silva.


Evidentemente (pelo preconceito vigente no país), a espiral da raiva suga, para seu epicentro, a figura de Lin, que, com espantoso equilíbrio, encara o veneno destilado em piadas ou mesmo de modo explícito, ferino - ainda que, claro, seu emocional não passe ileso.

Com todas essas iscas, impossível não ficar preso ao enredo. E que bom. Porque, neste percurso, os espectadores são brindados com tanto, mas tanto, que fica até difícil salientar um aspecto em particular. 

Obviamente, não dá para não falar do elenco ma-ra-vi-lho-so. Além dos elogios já distribuídos no curso desse texto (a Rejane Farias, Robert Frank, Carlandreia Ribeiro, Raquel Pedras e Aisha Brunno, que sem dúvida deram seu suor e capricharam na construção dos respectivos personagens, todos cheios de camadas, portanto, de composição perceptivelmente árdua).


Extensivos aos outros também citados (Leonardo de Jesus e Ítalo Laureano) há que se falar do talento absurdo e da presença magnética de Carlos Francisco. O ator atualmente também pode ser visto em "O Agente Secreto", de Kleber Mendonça Filho, como o sogro do personagem vivido por Wagner Moura. 

E tem ainda Renato Novaes e Roberto Novais Oliveira, presenças que enriquecem as produções da Filmes de Plástico. Não daria também para não citar o encantamento provocado pela presença da atriz mirim Azula Santana, que mostra a que veio em uma fala fofa da sua personagem, Lara. 

Ponto também para a abertura, em tom retrô, pontuada de itens icônicos do período natalino (luzinhas, cartões, presentes etc), bem como para a presença, nos episódios, de nomes queridos da cena belo-horizontina, como Adilson Marcelino. 

Ah, sim! Claro, a narrativa traz alguns "alívios cômicos", mas muito bem equilibrados na trama que, vamos frisar, se afilia de modo precípuo ao gênero drama.


Ficha técnica:
Criador: Gabriel Martins
Direção: Gabriel Martins, Maurilio Martins e André Novais Oliveira
Produção: Filmes de Plástico e Canal Brasil
Distribuição: Canal Brasil
Duração: média de 40 minutos
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gêneros: drama, família, série
Exibição: Canal Brasil - episódios novos as quintas, às 21h30, no Canal Brasil
Reprises: sextas, 22h30; sábados, 23h; domingos, 19h; e quartas, 20h30
Maratona especial no dia 25 de dezembro, a partir das 19h (com os quatro primeiros episódios e a estreia do quinto)
Dia 27/12 - às 20h30
Dia 28/12 - às 16h30
Dia 02/01/2026 - às 23h
Exibição de um episódio por semana no Globoplay  Plano Premium


25 novembro 2025

Os dilemas da maternidade pautam o sensível "Amada"

Filme italiano aborda os temores e anseios sob o ponto de vista de duas mulheres de idades e realidades
bem distintas (Fotos: Divulgação)
 
 

Patrícia Cassese

 
Em curso até o dia 29 de novembro e com acesso gratuito pelo site https://festivalcinemaitaliano.com, o Festival de Cinema Italiano traz, como de praxe, produções recentes que valem muito ser vistas, até pelo fato de que nem todas efetivamente entrarão em cartaz nos cinemas do Brasil. 

Entre as opções, um título aborda os temores e anseios que a perspectiva da maternidade provoca sob o ponto de vista de duas mulheres de idades e realidades bem distintas. Estamos falando de "Amada" ("Amata"), que, vale assinalar, é uma adaptação do livro homônimo de Ilaria Bernardini, com direção de Elisa Amoruso.


Nunzia (Tecla Insolia) é uma jovem de 19 anos, solteira, enquanto Maddalena (Miriam Leone), uma bem sucedida engenheira na faixa dos 40 anos, casada. Ambas sem filhos. No curso da narrativa, o momento vivido pelas duas é contado paralelamente, sem um ponto concreto de tangência. 

Morando em Milão, vinda da Sicília, Nunzia se divide entre os estudos, o convívio com as amigas com as quais partilha um apartamento e, coerentemente à idade, com os momentos de prazer desfrutados na pista de casas noturnas ou nos mais íntimos, com eventuais ficantes. 

Já Maddalena vivencia a frustração de não conseguir realizar o sonho de ser mãe. Não que não consiga engravidar, mas, sim, por conta dos sucessivos abortos espontâneos que sofre. 


Casada com Luca (Stefano Accorsi), um virtuose do piano, ela passa a se questionar quanto ao real desejo de ter um filho, aventando se as várias (e desgastantes) tentativas de gerar um ser em seu ventre não estariam vinculadas à expectativa de realizar o sonho do parceiro - e, por que não dizer, de se alinhar às regras tácitas da sociedade.

A um dado momento, Nunzia descobre estar grávida, acontecimento que se recusa a aceitar e até mesmo a compartilhar com o pai da criança, com quem, na verdade, não pretende estabelecer um compromisso. 

Sua primeira decisão é, pois, abortar, mas, ao chegar à clínica para realizar o procedimento, é informada que, de acordo com a legislação vigente no país, não poderá concluí-lo por vias legais, já que está na 13ª semana de gravidez (a Lei italiana 194 eventualmente permite o requerimento do procedimento até a 12ª). 


No entanto, Nunzia é informada quanto à existência de uma alternativa. Uma opção que, vale pontuar, se configura como uma nova versão da antiga "roda dos expostos". 

Trata-se do projeto La Culla Pela Vita ("O Berço Pelo Vida"), iniciativa real na qual a mãe pode entregar seu bebê anonimamente para a adoção, em certos hospitais ou paróquias da Itália. 

A dinâmica é simples: ela deposita a criança em um compartimento, que, na verdade, é rotatório. Naturalmente, o compartimento é totalmente preparado para este fim, constituindo-se internamente como uma espécie de "berço". 

Ao fechar a portinhola, um sensor avisa à instituição do ocorrido, fazendo com que o acolhimento ocorra em pouquíssimo tempo. A criança é, pois, de pronto encaminhada a uma unidade neonatal para exames e cuidados iniciais. Posteriormente, encaminhada à adoção.


Enquanto a hora do parto não chega, Nunzia vai burilando a ideia de se separar ou não da criança, enquanto Maddalena se debruça sobre as vantagens e riscos de recorrer à adoção, já que seu corpo, como um médico avisa, não aguentaria mais uma nova gestação. 

Neste percurso de angústia e indecisões, as duas se deparam com uma série de situações bastante familiares às mulheres, independentemente do argumento central do filme, a maternidade. 

Assim, se em alguns momentos encontram acolhida no interlóquio com outras companheiras de sexo, em outros, esbarram na incompreensão, na cobrança e na culpabilização. 

Grande parte do êxito do filme sem dúvida reside no fato de a direção ser de uma mulher, dada a necessidade precípua de uma compreensão acerca da miríade de sentimentos que invadem Nunzia e Maddalena no curso de suas respectivas jornadas. 



Com seu inequívoco lugar de fala, Amoruso oferece, ao espectador, um filme sensível e tocante, que vai fazê-lo torcer, pensar, refletir. O que, convenhamos, em se tratando do tema, não é pouco.

Vale dizer que, em entrevista à publicação Cinecittà News, voltada ao cinema, a diretora contou que foi precisamente a mensagem de grande solidariedade e irmandade entre duas mulheres que nunca se encontraram que a levou a escolher o livro como base do filme. 

"É precisamente para dizer às mulheres que devemos ajudar-nos umas às outras, que ainda vivemos tempos difíceis por uma série de razões; ainda não atingimos um nível de emancipação completa", declarou. Contradizê-la, quem há de?


Ficha técnica:
Direção: Elisa Amoruso
Roteiro: Ilaria Bernardini
Produção: Memo Films Indiana Production e Rai Cinema
Distribuição: Rai Cinema International Distribution
Exibição: gratuita pelo site https://festivalcinemaitaliano.com
Duração: 1h40
Classificação: 14 anos
País: Itália
Gênero: drama

23 novembro 2025

"Frankenstein", de Guillermo del Toro, discute solidão e busca por pertencimento

Longa dá um novo significado à criatura, longe da brutalidade que outras versões insistiram em perpetuar (Fotos: Netflix)
 
 

Silvana Monteiro

 
A mais recente adaptação de "Frankenstein", lançada pela Netflix, desloca o olhar tradicional para algo mais íntimo do que a mera oposição entre criador e criatura. Em vez de repetir o clichê do “monstro que aterroriza”, o filme investe naquilo que sempre foi seu núcleo mais humano: a busca pelo sentido da existência.

O grande mérito da obra está na forma como ressignifica a criatura. Longe da brutalidade que tantas versões insistiram em perpetuar, o ser renascido em laboratório pode estar vivo e pode estar morto, mas qual é o sentido de viver ou morrer, de fato? 


Sem se apoiar em explicações excessivas, o diretor Guillermo del Toro constrói um ritmo que abraça a contemplação. O que poderia ser apenas uma história sobre criação científica torna-se um ensaio visual sobre pertencimento. 

As escolhas de fotografia, sempre entre a penumbra e a luz filtrada, ajudam a materializar o sentimento de estar “entre mundos”: vivo, mas não nascido; consciente, mas sem raízes.

Em busca de respostas

Quando o médico Victor Frankenstein (Oscar Isaac) decide extrapolar seus conhecimentos e buscar uma sabedoria além da vida e da morte, ele não imaginava que as coisas poderiam sair do controle. Pelo contrário, embora testando, ele achava que dominava as práticas. 


Uma das maiores surpresas é a relação que se estabelece — ainda que fragmentada — entre a criatura (interpretada por Jacob Elordi), Victor Frankenstein e os demais personagens da história. Com dois deles em especial, há ainda desdobramentos muito mais incríveis que vão mexer com os sentimentos do telespectador. 

Em relação a Victor e o monstro, a obra tenta mostrar que, a sua maneira, cada um representa dois seres igualmente perdidos, ambos tentando lidar com a própria incapacidade de preencher o vazio que carregam. 

O filme sugere, com extrema sutileza, que há ainda um gesto final, uma forma de romper a cadeia que prende as almas e os corações, dos vivos e dos mortos. 


Nuances dos personagens

O interessante é que o roteiro se equilibra para não empurrar o espectador nem para a pena, nem para o medo. Em vez disso, é convidado a enxergar nuances: a criatura que observa o mundo com cuidado; o criador que tenta decifrar os danos que causou; a vida que escapa a qualquer forma de controle. 

A força da crítica social — presente em toda história de "Frankenstein" — aparece não como discurso, mas como camada: o que fazemos com quem não se encaixa? O que acontece com aqueles que não foram desejados, mas existem?


É nesse ponto que a obra conquista sua singularidade. O filme transforma a narrativa em uma reflexão sobre autonomia e humanidade. Sem recorrer a grandes revelações ou reviravoltas explícitas, a adaptação da Netflix entrega um filme que respira poesia nos intervalos das monstruosidades, seja dos humanos, seja das invenções criadas por mãos insanas.

Curiosidade

Acompanhando o lançamento do filme, o clássico absoluto da literatura gótica e do horror escrito pela jovem Mary Shelley em 1816 ganha nova edição ilustrada. O livro chega pelo selo Planeta Minotauro, com ilustrações de Amanda Miranda e apresentação de Cláudia Fusco. Reconstituído, como a própria criatura, esta edição especial quer atrair uma nova geração de leitores.


Ficha técnica:
Direção e roteiro:
Guillermo del Toro
Produção: Columbia Pictures e Netflix
Distribuição: O2 Filmes e Netflix
Exibição: Netflix
Duração: 2h30
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: drama, ficção, terror

02 novembro 2025

“O Agente Secreto”: o olhar afiado de Kleber Mendonça Filho sobre o Brasil esquecido dos anos 1970

Filme estrelado por Wagner Moura é o indicado do Brasil na disputa pelo Oscar 2026 (Fotos: Vitrine
Filmes e CinemaScopio Produções)
 
 

Maristela Bretas

 
Após ser premiado e aclamado em festivais nacionais e internacionais, “O Agente Secreto” chega oficialmente aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (6). 

Dirigido por Kleber Mendonça Filho e estrelado por Wagner Moura, o filme será finalmente avaliado pelo público em geral — um passo decisivo para confirmar (ou não) sua indicação como representante do Brasil no Oscar 2026.

Em setembro, o colaborador Marcos Tadeu, do blog Jornalista de Cinema, assistiu ao longa no Festival de Cinema de Brasília e escreveu uma análise para o Cinema no Escurinho. Leia a crítica completa em https://tinyurl.com/mryttfza


Reconhecimento e identidade

Premiado em Cannes 2025 com os troféus de Melhor Direção e Melhor Ator (Wagner Moura), “O Agente Secreto” se destaca pela forma como valoriza a regionalidade nordestina e retrata o Brasil dos anos 1970 — um período sombrio, mas mostrado com sensibilidade e profundidade cultural.

O filme é um verdadeiro mosaico de memórias: as frases nas traseiras dos caminhões, o saudoso Fusca amarelo, as novelas e programas como "Os Trapalhões, as brincadeiras de rua, o orelhão e o telefone de fio, o carnaval recifense e, especialmente os cinemas de rua, como o lendário Cine São Luiz, já citado em outro filme de Mendonça, “Retratos Fantasmas” (2023).

Até mesmo o tubarão, figura recorrente até hoje nas praias pernambucanas, ganha presença simbólica na trama, ao ser mostrado ou mencionado em vários momentos do filme.


Enredo e personagens

A história acompanha Marcelo/Armando, interpretado por Wagner Moura — um professor que deixa São Paulo e retorna a Recife, sua terra natal, tentando escapar de um passado violento e misterioso e ficar perto do filho. 

Mas já na chegada, em meio ao animado carnaval da cidade, ele percebe que o passado continua à espreita e, mesmo usando uma nova identidade, ainda corre risco e representa um perigo para todos ao seu redor.

Wagner Moura, como Marcelo/Armando, merece todos os prêmios que vem recebendo como protagonista, mas contou com um time de atores e atrizes de apoio que fizeram a diferença na produção, especialmente com a atuação impecável de Tânia Maria ("Seu Cavalcanti" - 2025).  


Aos 78 anos, com seu forte sotaque potiguar, ela brilha no papel de Dona Sebastiana, uma mulher forte e combativa, que mesmo com os sofrimentos da vida, não perdeu a doçura ao abraçar como filhos os hóspedes de sua pensão. Sua atuação é carregada de emoção e autenticidade.

Outro destaque é o ator mineiro Carlos Francisco, que trabalhou com Mendonça em "Bacurau" (2019) e recentemente em "Suçuarana". Ele vive Seu Alexandre, o projecionista do cinema local. Ele e Dona Sebastiana protagonizam alguns dos momentos mais comoventes do longa, reforçando o tom humano e afetivo da narrativa.

Direção, ritmo e contexto histórico

Se a ambientação e as atuações são pontos altos, o ritmo do filme pode causar estranhamento. A trama se desenvolve de forma lenta em boa parte, ganhando fôlego e ação apenas na terceira parte — que, ainda assim, merecia mais tempo de tela.


Kleber Mendonça Filho retrata o Brasil de 1977 a partir do olhar de uma região muitas vezes marginalizada pelo eixo Sul-Sudeste, criando um espelho entre o passado e o presente. 

A ditadura militar é tratada não como um capítulo distante, mas como uma ferida ainda aberta, refletida na violência e nas omissões das “autoridades” da época que são reproduzidas ainda hoje.

O filme termina sem respostas fáceis: atentados e atrocidades cometidas pelos “agentes da lei e da ordem” são reduzidos a manchetes de jornal, sem investigação nem punição — um eco doloroso da realidade brasileira.

Essa abordagem pode confundir parte do público, especialmente diante das lacunas históricas que ainda cercam a ditadura militar. Nesse sentido, o longa poderia explorar o tema com mais clareza, como fez “Ainda Estou Aqui” (2024).

Kleber Mendonça Filho e Wagner Moura
(Foto: Reprodução)
Conclusão

Mesmo com essas ressalvas, “O Agente Secreto” é uma grande produção, digna de representar o Brasil no Oscar 2026. Além das premiações em Direção e Ator, o longa tem potencial para brilhar em outras categorias — Ator e Atriz Coadjuvantes, Trilha Sonora (de Mateus Alves e Tomaz Alves Souza), Fotografia, Figurino, Som, Direção de Arte e Maquiagem.

Um filme que reafirma Kleber Mendonça Filho como um dos grandes nomes do cinema brasileiro contemporâneo — e que nos faz lembrar, com beleza e dor, que certas histórias continuam vivas na memória do país.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Kleber Mendonça Filho
Produção: CinemaScópio Produções, com coprodução da MK2 Productions, Lemming, One Two Films
Distribuição: Vitrine Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h40
Classificação: 16 anos
Países: Brasil, França, Holanda e Alemanha
Gêneros: drama, thriller político