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19 junho 2025

Dia 19 de junho, uma data para comemorar o Cinema Nacional

 
 

Equipe do Cinema no Escurinho

 
Neste 19 de junho celebramos o Dia do Cinema Nacional, uma data que reverencia a rica história e a vibrante produção audiovisual brasileira. É um momento para reconhecer a paixão e o talento de nossos cineastas, roteiristas, atores e equipes que, com criatividade e resiliência, contam nossas histórias, retratam nossa diversidade cultural e refletem as complexidades da sociedade. 

Desde os pioneiros até os talentos contemporâneos, o cinema brasileiro tem emocionado, provocado e divertido públicos dentro e fora do país, consolidando-se como uma poderosa ferramenta de expressão artística e de identidade nacional. 

Que esta data sirva de inspiração para que mais obras sejam produzidas, distribuídas e, acima de tudo, valorizadas por todos. Os colaboradores do Cinema no Escurinho também participam desta comemoração e indicam produções de suas preferências,  algumas disponíveis em canais de streaming.  

"Querô" (Gullane Filmes)

Eduardo Jr.

"Querô" (2007)
Na pegada do famoso (e adorado) "Pixote", de 1981, o longa de Carlos Cortez traz um jovem nascido e criado na criminalidade. Na Febem, coleciona mais desafetos e tem no primeiro contato com o amor a possibilidade de trilhar outro caminho. Mas será que um sentimento transforma a natureza de alguém? Ainda nao disponível no streaming.


"Homem com H" (2025)
O longa, dirigido por Esmir Filho, evidencia a vida, o legado e a coragem de um dos maiores cantores do Brasil, Ney Matogrosso, interpretado por Jesuíta Barbosa. Em tempos difíceis, como na Ditadura Militar, Ney virou arte e não cansou de lutar. Não era mais sobre ele, mas sobre liberdade. Em um dia tão especial, falar de histórias assim não só ressalta o poder do cinema nacional, mas também mostra a importância da cultura. Em um país laico, onde pretos, gays e mulheres ainda são marcados pelo preconceito, escancarar as mazelas da sociedade é um grande passo para a mudança dentro e fora do cinema. Disponível no Netflix.

"Homem com H" (Paris Filmes)

Jean Piter Miranda

"Como Esquecer" (2010)
Longa dirigido por Malu de Martino, conta a história de uma mulher, abandonada pela companheira após 10 anos de relacionamento, que passa por uma série de conflitos internos. Com a ajuda de dois amigos ela vai tentar superar o passado e encontrar a felicidade. Disponível no Amazon Prime Video.

"Entre Nós" (2013)
Com direção de Paulo Morelli e tendo um elenco global formado por Caio Blat, Carolina Dieckmann, Maria Ribeiro, Julio Andrade e Lee Taylor, o drama aborda a viagem de sete amigos que escrevem cartas para serem abertas 10 anos depois. Mas ao fim da viagem um deles morre e, mesmo assim, o grupo só vai se reencontrar em dez anos para ler o que haviam escrito. Disponível no Globoplay.

"Entre Nós" (O2 Filmes)


"Pasárgada" (2024)
Com direção de Dira Paes, o longa explora o tráfico de pássaros silvestres e como isso acontece. Em um filme belo visualmente que trata muito a questão das aves presas, a saúde mental de uma mulher, seus desejos e seus conflitos éticos. Disponível no Globoplay.

"Pasárgada" (Bretz Filmes)


Maristela Bretas

"Bacurau" (2019)
Filme dirigido por Kleber Mendonça e Juliano Dornelles, conta a história de moradores do povoado de Bacurau, no sertão brasileiro, que deixa de existir no mapa, mas passa a enfrentar a criminalidade trazida por estrangeiros que chegam ao local. Agora eles precisam se unir para defender seu pequeno vilarejo. O longa parte de uma situação inusitada para uma violência dos moradores que choca, mas considerada "justificável", uma vez que, sem identidade geográfica, não querem perder também seu espaço físico. Disponível no Globoplay.

"Bacurau" (Victor Jucá)

Mirtes Helena Scalioni

"O Corpo" (1991)
Meu filme brasileiro de hoje é “O Corpo”, uma comédia dramática surpreendente com Antônio Fagundes, Marieta Severo, Cláudia Jimenez e Carla Camurati. É assim: Xavier vive naturalmente - muito naturalmente - com suas duas mulheres. A complicação acontece quando ele começa a traí-las com uma terceira. Tipo do filme que já nasceu moderno, com um humor ácido, sutil e inteligente. Com direção de José Antônio Garcia, o filme ainda não está disponível no streaming.

"O Corpo" (Cineart Produções Cinematográficas)

Silvana Monteiro

"O Som ao Redor" (2012)
Kleber Mendonça Filho dirige com maestria este thriller dramático que se passa numa rua de classe média na zona sul de Recife. A tranquilidade do local é mudada com a chegada de uma empresa de segurança que divide as opiniões dos moradores. O filme conquistou diversas premiações e indicações, especialmente o de Melhor Roteiro Original no Prêmio Grande Otelo do Cinema Brasileiro. Disponível no Netflix, Amazon Prime Vídeo, Telecine e Apple TV.

"O Som ao Redor" (Survivance)

Homenagem do Canal Brasil

Também nesta quinta-feira, o Canal Brasil dedica sua programação para homenagear o cinema brasileiro com uma maratona especial que percorre a história, os bastidores e os grandes nomes da nossa cinematografia. 

Documentários sobre cineastas fundamentais, movimentos marcantes e curiosidades da produção audiovisual brasileira ganham espaço na tela, destacando o legado de figuras como Luiz Carlos Barreto, Eduardo Coutinho, Nelson Pereira dos Santos, Ruy Guerra, Ana Maria Magalhães e Hector Babenco. 

(Canal Brasil/Divulgação)

O Canal também já exibiu mais de seis mil filmes, entre longas e curtas-metragens, além de programas de diferentes épocas, fases e gêneros, da ficção ao documentário, junto aos diversos sotaques brasileiros. O Canal Brasil está disponível pelo Globoplay e TVs por assinatura.

23 agosto 2023

Comovente, filme “Retratos Fantasmas” reflete sobre a interseção entre cinema, espaço e sociedade

Novo documentário de Kleber Mendonça Filho ilustra as consequências do trator da modernidade 
(Fotos: João Carlos Lacerda/Primeiro Plano)


Carolina Cassese
Blog no Zint


Depois de três longas-metragens ficcionais que obtiveram recepção calorosa da crítica e o reconhecimento de premiações renomadas - "O Som ao Redor" (2012), "Aquarius" (2016) e "Bacurau" (2019) - Kleber Mendonça Filho tem seu nome mais uma vez inserido na lista das estréias de cinema com "Retratos Fantasmas".

O filme entra em cartaz, simultaneamente no Brasil e Portugal, nesta quinta-feira (24). A primeira exibição do longa no país aconteceu durante a noite de abertura do 51º Festival de Cinema de Gramado, em sessão única fora de competição. Em outubro, será lançado nas salas da Espanha e, em novembro, nos cinemas da França e Estados Unidos. 

Cine São Luiz 

No documentário, memórias familiares se misturam à história de Recife, cidade na qual o diretor, produtor, roteirista e crítico de cinema brasileiro nasceu há pouco mais de 58 anos. 

O resultado é um filme forte e carregado de uma emoção que não é de modo algum forçada, mas inevitável diante da sucessão de acontecimentos a que o espectador assiste. Inegavelmente, há um sentimento de impotência diante desse mundo que avança como um trator rumo ao novo.

Narrado pelo próprio diretor, o longa é dividido em três partes. A primeira, “O apartamento de Setúbal”, é centrada na casa em que o recifense cresceu. O mesmo lugar serviu como cenário de vários trabalhos assinados por Mendonça Filho, como o já mencionado "O Som ao Redor". 


Aqui percebemos como realidade e ficção se entrelaçam, já que acontecimentos daquele cotidiano inspiraram ideias presentes nas obras do diretor. Uma frase dessa primeira parte ecoará por toda a obra: “O tempo transforma os lugares”. E como transforma. 

No bloco subsequente, intitulado “Cinemas do Centro de Recife”, acompanhamos como esse local sofreu importantes modificações ao longo dos anos. É a história de muitos centros brasileiros: representantes do capital passam a se interessar por outras áreas da cidade, geralmente menos acessíveis e democráticas. 

As zonas centrais então abandonadas pelo poder público e também por boa parte da sociedade, como pontua o diretor - “conheço jovens que nunca foram ao centro”.

Cine Veneza 

É também nesse momento do longa que vemos imagens de antigos cinemas de rua, que costumavam ser pontos de efervescência cultural. Como de costume, Mendonça Filho tem excelentes sacadas, como a sugestão de que os letreiros dos cinemas comentavam a situação política do país e, ainda, enviavam mensagens enigmáticas. 

Há também pontuações que ilustram a histórica (e ainda muito atual) desvalorização do cinema nacional - em detrimento de grandes distribuidoras estadunidenses.

Diante da demanda por uma cidade mais “moderna” e “funcional”, que atendesse aos interesses de grandes empresários, a maioria dos estabelecimentos independentes precisou fechar as portas. 

Essa história também se repetiu em muitos outros centros brasileiros: o cinema sai da rua e migra para o shopping center, o espaço do consumismo - se não bastasse, a própria indústria cinematográfica se torna mais e mais comercial. 

Centro de Recife 

No filme, Mendonça Filho mostra imagens de um shopping que foi construído em volta de um cinema antigo: “Essa coisa se alojou dentro do (Cinema) Veneza, como um organismo alienígena. E o cinema virou o hospedeiro”. 

No dia a dia, as ruas do centro vão ficando cada vez mais abandonadas. Como pontua uma personagem do longa “A Árvore, O Prefeito e a Mediateca” (1993), de Éric Rohmer: “Às vezes, a modernidade pode ser muito limitada”.

Em “Igrejas e Espíritos Sagrados”, o último bloco do documentário, há uma alegoria sobre símbolos religiosos, fantasmas e as ilusões do cinema. A última cena surpreende e, ao mesmo tempo, dialoga com várias outras discussões presentes na obra. 

Bilheteira de cinema

Esse é um dos principais méritos do trabalho de Mendonça Filho: seu documentário é extremamente coeso, conduzido por elementos fantasmagóricos (luzes piscando, vultos, desaparecimentos) e reflexões sobre o abandono.

Ao vermos o filme, nos damos conta de que as ruínas também contam histórias. Afinal de contas, muito pode ser inferido acerca de uma sociedade que troca cinemas por shoppings centers ou redes de farmácias. 

Em tempos de tanta correria, “Retratos Fantasmas” nos convida para uma pausa. É hora de olharmos para os escombros e refletirmos sobre o que ainda pode ser resgatado.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Kleber Mendonça Filho
Produção: CinemaScópio / Vitrine Filmes
Distribuição: Vitrine Filmes
Exibição: no Cineart Ponteio, Minas Tênis Clube/Unimed, Uni Cine Belas Artes
Duração: 1h31
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gênero: documentário

22 setembro 2019

"Bacurau", um faroeste com a pureza do nordestino e a força do cangaço

Sônia Braga é um dos destaques do elenco que faz da produção nacional uma das melhores lançadas neste ano (Fotos: Vitrine Filmes)

Maristela Bretas


Uma grande produção, que merecia estar na disputa do Oscar como representante do Brasil. "Bacurau", dos diretores e roteiristas Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, até foi indicado mas não chegou lá. A escolha ficou por outro ótimo filme "A Vida Invisível", de Karin Aïnouz, Mesmo assim, o longa conquistou o publico nacional e internacional, atingindo uma bilheteria superior a R$ 2 milhões em sua primeira semana de exibição, além de levar o Grande Prêmio de Júri do Festival de Cannes e ser escolhido o Melhor Filme no 37º Festival de Munique.


Realizado no Sertão do Seridó, na divisa do Rio Grande do Norte com a Paraíba, "Bacurau" é uma mistura de passado e futuro, paz e violência, dor e raiva, poder e fé. O filme é o nome de um povoado, no meio do nada, cercado pela seca, comida escassa e a ganância de políticos, que só procuram o lugar no período das eleições. É o retrato fiel da nossa realidade, em especial do povo do Nordeste, que dribla a injustiça social com garra e solidariedade. 

O filme explora a capacidade do ser humano de se adaptar ao meio ambiente, fazendo dele o melhor lugar para viver ou se defender. Ao mesmo tempo, mostra que qualquer um pode abrir mão de uma natureza pacífica e lutar com unhas e dentes quando tudo o que possui e respeita está ameaçado. 

Diretores  Juliano Dornelles e Kleber Mendonça Filho

Os moradores de Bacurau levam uma vida pacata, sem se mostrarem para o mundo, mas conectado a ele pela internet. Mas assim como o pássaro que deu nome à cidade e é típico da região e que se manifesta somente á noite ou em perigo, a população local também é capaz de se transformar quando a paz está ameaçada. Logo nas primeiras cenas, os diretores mostram, por meio de caixões espalhados numa estrada, que o enredo vai explorar a morte sobre diferentes aspectos.

Tudo se passa num futuro incerto, onde no mundo fora de Bacurau, a violência é parte do cotidiano enquanto no pequeno vilarejo nordestino, as diferenças foram resolvidas e a paz reina. O ritmo do filme é contado passo a passo, como a calma interiorana, e vai ganhando tensão após o falecimento de Dona Carmelita, uma das ilustres moradoras do local. Vários fatos estranhos são registrados: a localização da cidade some dos mapas digitais, a aparição de um disco voador e a ocorrência de assassinatos inexplicáveis. Tudo isso altera a rotina de Bacurau, provocando reações surpreendentes e diversas nos nativos. O pacato cidadão então se torna uma fera ferida, muitas vezes mais violento que seus algozes.


Sônia Braga é um dos destaques, trabalhando novamente com Kleber Mendonça Filho (a primeira vez foi o ótimo "Aquarius"). Em "Bacurau", ela interpreta Domingas, uma médica local alcoólatra, de humor sarcástico e defensora ferrenha da cidade. Além dela, vários outros atores contribuem com brilho para formar um elenco redondo, com cada participação sendo essencial para o desenrolar da história, tanto os brasileiros quanto os estrangeiros. 


Como o ator alemão Udo Kier (de "Bastardos Inglórios" - 2009), que faz o americano Michael; Bárbara Colen, interpreta Teresa, a jovem que retorna a sua terra natal; Wilson Rabelo, como Plínio, viúvo de Dona Carmelita e um dos moradores mais atuantes e respeitados da vila; Thomas Aquino, como Pacote, ligado ao mundo do crime, mas protetor da cidade, juntamente com Lunga, interpretado por Silvero Pereira, que dá um show de atuação.


Elenco, fotografia, som, figurino, direção e roteiro entregam uma obra cinematográfica marcante. Aos expectadores mais incautos, alerto que o clímax do filme é de extrema violência, justificada pela forma como a trama foi sendo apresentada, explorando o lado psicológico (às vezes psicopata) de cada personagem. Um ponto importante que vale uma boa discussão na mesa de um bar após a sessão é a importância dada pelos moradores de Bacurau ao Museu da Cidade, sempre indicado aos visitantes que passam pela localidade. Com certeza, ele faz toda a diferença na história
.
"Bacurau" é o retrato de um Brasil de ontem e de hoje ao mostrar a ganância de políticos e governantes inescrupulosos, que distribuem caixões, comida vencida e remédios tarja preta sem receita médica, na tentativa de alienar a população em tempos de eleições. Um filme imperdível, que faz a gente pensar muito e sair do cinema com a sensação de ter sido atingido com um soco no estômago.


Ficha técnica:
Direção e roteiro:  Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
Produção: CinemaScópio, Arte France Cinéma, SBS, Símio, Telecine Productions, Globo Filmes
Distribuição: Vitrine Filmes
Duração: 2h10
Gêneros: Drama, Suspense, Faroeste
Países: Brasil e França
Classificação: 16 anos
Nota: 4 (0 a 5)

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