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15 setembro 2025

"O Agente Secreto" é o retrato crítico de uma sociedade sem memória

Filme estrelado por Wagner Moura, com direção e roteiro de Kleber Mendonça Filho, estreia em 6 de novembro nos cinemas brasileiros (Fotos: Vitrine Filmes e CinemaScópio Produções)
 
 

Marcos Tadeu
Parceiro do blog Jornalista de Cinema

 
"O Agente Secreto", novo filme de Kleber Mendonça Filho, foi selecionado para representar o Brasil no Oscar 2026 na categoria de Melhor Filme Internacional. O longa vem chamando atenção nos festivais internacionais e já coleciona prêmios como  Melhor Ator para Wagner Moura e Melhor Direção para Kleber em Cannes, além de Melhor Filme em Lima. 

Depois da vitória de "Ainda Estou Aqui" (2024) como Melhor Filme Internacional, cresce a expectativa de novas conquistas. Com estreia marcada no circuito comercial em 6 de novembro, com pré-venda a partir de 16 de outubro, assisti ao filme na abertura do Festival de Brasília, no último sábado.


A trama se passa em 1977. Marcelo (Wagner Moura), professor universitário especialista em tecnologia, que tenta deixar para trás um passado violento e misterioso, mudando-se de São Paulo para Recife em busca de recomeço. 

Ao chegar à capital pernambucana em plena semana de Carnaval descobre que está sendo espionado pelos vizinhos. O refúgio que esperava encontrar se revela um labirinto de perseguições.

Kleber Mendonça Filho (que também dirigiu "Bacurau" - 2019)  constrói uma estética pulsante para abordar um tema ainda atual: o apagamento de pessoas e memórias durante a ditadura. 

Desde as primeiras cenas, evoca ícones como Os Trapalhões, Chacrinha, Tarcísio Meira e Glória Menezes, situando o espectador num Brasil nos anos 1970, marcados por tensões políticas e culturais.


"O Agente Secreto" também remete à questão da identidade: a alternância entre Marcelo e Armando confunde o espectador, revelando como a repressão política forçava mudanças de nomes e vidas. O frevo e o Carnaval atravessam a narrativa, ora como festa popular, ora como pano de fundo de violências e possíveis assassinatos.

Com 2h40 de duração, divididas em capítulos, o longa mescla narrativa calma e peso histórico. A devoção ao cinema aparece em detalhes afetivos — como o filho de Marcelo, fascinado por tubarões, mas impedido de assistir ao clássico de Steven Spielberg — reforçando a relação íntima entre lembranças, família e a sétima arte, algo já presente em "Retratos Fantasmas" (2023).


Outro recurso marcante é o uso da morte de uma figura importante mostrada apenas por meio de jornais, um gesto que reforça a memória documental e abre margem para que o espectador imagine as circunstâncias do crime. 

Kleber já declarou apreciar esse tipo de recurso, pois permite dar continuidade à história sem precisar mostrar tudo em cena.

Se há um elemento que pode dividir opiniões, é o fato de Wagner Moura se desdobrar em mais de um personagem. Essa estratégia, embora potente, pode afastar parte do público da imersão. 


A escolha lembra o que M. Night Shyamalan fez em "Fragmentado" (2017), ao explorar como o tempo e as memórias moldam identidades distintas em um mesmo corpo.

Além de Wagner Moura, o elenco conta ainda com nomes conhecidos do cinema brasileiro, como Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, o mineiro Carlos Francisco. Alice Carvalho, entre outros.

"O Agente Secreto" reafirma o olhar político e sensível de Kleber Mendonça Filho, transformando a jornada de um homem em espelho da memória coletiva brasileira.


Ficha técnica:
Direção e roteiro:
Kleber Mendonça Filho
Produção: CinemaScópio Produções, com coprodução da MK2 Productions, Lemming, One Two Films
Distribuição: Vitrine Filmes
Exibição: estreia dia 06 de novembro nos cinemas
Duração: 2h40
Classificação: 16 anos
Países: Brasil, França, Holanda e Alemanha
Gêneros: drama, thriller político

08 setembro 2025

“Dormir de Olhos Abertos” apresenta, sem emoção, a visão de imigrantes sobre viver no Brasil

Filme foi dirigido pela alemã Nele Wohlatz e produzido por Emilie Lesclaux e Kleber Mendonça Filho
(Fotos: Vitrine Filmes)


Eduardo Jr.


Apresentar, em uma hora e meia, a percepção de estrangeiros sobre o Brasil, terra onde buscam reconstruir suas vidas. Esta é a temática do filme “Dormir de Olhos Abertos”. O longa, dirigido pela alemã Nele Wohlatz e produzido por Emilie Lesclaux e Kleber Mendonça Filho, estreia dia 11 de setembro nos cinemas;

Com o perdão do trocadilho, o ponto de partida é um aeroporto, onde uma jovem oriental espera seu companheiro, que decide não viajar mais. Ali se imprime a solidão que vai acompanhar a protagonista Kai (Liao Kai Ro) por toda a trama.


Chegar a outro país, onde o idioma se coloca como barreira e nem o ar condicionado fala sua língua, é algo difícil de suportar. Mas Kai segue tentando, buscando parecer uma cidadã local e se aproximando de um vendedor de guarda-chuvas. Como a chuva não chega, a loja fecha e o possível amigo também desaparece. Mais uma vez ela está sozinha.

Kai (e a câmera, escura demais em certos momentos) começam a observar o cotidiano de chineses que se agrupam na cidade e moram em prédios de luxo. E é na observação desses imigrantes que a história começa a causar estranhamento.


A jovem parece deixar de ser a protagonista, dando lugar à rotina diária desses estrangeiros, muitas vezes permeada de inseguranças e medo. Daí o título do longa, já que a recomendação entre eles é de que se mantenham atentos, não baixem a guarda, não durmam profundamente.

Algumas frases até soam engraçadas, como o estranhamento quanto ao hábito de o brasileiro “colocar farofa em tudo”. Mas os momentos de comédia não salvam a sensação de suspensão na qual o espectador é colocado. O filme é silencioso e consegue a façanha de só revelar que a história se passa em Recife após 25 minutos de exibição.


O público é instigado a experimentar a solidão, a aflição e a incredulidade diante da situação de se entregar a empregos sem contrato e nem garantias trabalhistas, realidade que afeta inúmeros imigrantes que chegam ao Brasil.

No entanto, é pouco para avaliar positivamente o longa, que padece de emoção. Enquanto produto audiovisual, esta poderia ser considerada uma obra “estranha”.
 

Ficha técnica:
Direção:
Nele Wohlatz
Produção: Cinemascópio
Distribuição: Vitrine Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h37
Classificação: 14 anos
Países: Brasil, Argentina, Taiwan e Alemanha
Gênero: drama

28 agosto 2025

"O Último Azul" - a beleza da Amazônia em contraste com o descaso com a velhice

 
Drama ficcional dirigido por Gabriel Mascaro tem no elenco os premiados Rodrigo Santoro e Denise
Weinberg (Fotos: Guillermo Garza/Desvia Produções)

 

Maristela Bretas


Caudaloso sem ser monótono, como os rios da Amazônia; cruel e realista ao tratar da velhice, mas sem deixar que a esperança se apague. Assim é "O Último Azul", drama nacional distribuído pela Vitrine Filmes que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (28) e já acumula elogios e prêmios em festivais nacionais e internacionais.

Com direção de Gabriel Mascaro (“Boi Neon” - 2016), o longa aborda o desrespeito àqueles que um dia foram a força de trabalho do país e hoje são tratados como descartáveis. 

A frase "O Futuro é de Todos", que permeia a narrativa, como um vazio slogan de marketing estampado em uma faixa puxada por um avião que sobrevoa a cidade no início e no fim do filme. 

Na verdade, quem envelhece deixa de ser considerado produtivo e acaba "recolhido", como prisioneiro, em um asilo com nomes mais amenos, mas com o mesmo objetivo cruel: manter os idosos afastados da sociedade.


A Floresta como pano de fundo

Assim é a história de Tereza (Denise Weinberg), uma mulher de 77 anos que vive e trabalha em uma cidade na região amazônica até ser convocada oficialmente pelo governo a se mudar para uma colônia habitacional compulsória. Ali, os idosos "desfrutam" de seus últimos anos de vida, enquanto a juventude segue tocando o país, sem se preocupar com quem veio antes. 

Antes de partir, Teresa embarca em uma jornada pelos rios da Amazônia para realizar seu maior sonho. Nesse percurso, conhece pessoas diferentes da realidade que sempre viveu e descobre que ainda pode dar novo sentido à própria vida.


Denise Weinberg está impecável ao mostrar, em Tereza, tanto a resistência quanto as dores de quem enfrenta o desrespeito, a perseguição e o descaso — inclusive da própria filha e das autoridades.

"O Último Azul" altera imagens sutis para abordar o tratamento da velhice, como frases pintadas em muros, com outras de extrema crueldade, como as cenas do veículo "cata-velho". Teresa, como tantos outros idosos, torna-se prisioneira de um sistema que controla cada passo de sua existência. 



Grande elenco

É na travessia pelos rios e comunidades ribeirinhas que Teresa vai conhecer outros personagens que dividem com ela o protagonismo do filme. 

- Cadu, o pescador solitário e amargo vivido por Rodrigo Santoro, entrega uma interpretação intensa e arrebatadora. É ele quem revela a Teresa os mistérios da região (e explica o nome do filme), enquanto expõe seus próprios fantasmas.


- Roberta, a barqueira e missionária interpretada com delicadeza pela atriz cubana Miriam Socarrás, estabelece com Teresa uma amizade verdadeira, marcada por maturidade, respeito, afeto e também sexualidade, que o filme mostra existir na velhice, sem amarras.

- Ludemir, interpretado pelo ator indígena Adanilo, dá ainda mais força ao elenco. Conhecido de produções nacionais e novelas, ele interpreta um mecânico que se conecta de forma especial à protagonista. 


Premiações internacionais

“O Último Azul” foi vencedor de três prêmios na 75ª edição do Festival de Berlim de 2025, incluindo o Urso de Prata - Grande Prêmio do Júri. Também conquistou no Festival de Guadalajara, no México, a estatueta de Melhor Filme Ibero-Americano de Ficção e o Prêmio Maguey de Melhor Interpretação para Denise Weinberg.

Produção é uma viagem espiritual e de redescoberta, que emociona pela leveza e impacta pela dureza de suas verdades, potencializada pela riqueza de detalhes e as imagens produzidas ao longo dos rios da sempre exuberante Amazônia. 

E uma trilha sonora que conta com Maria Bethânia interpretando "Rosa dos Ventos". Demais!


Ficha técnica:
Direção: Gabriel Mascaro
Roteiro: Gabriel Mascaro e Tibério Azul
Produção: Desvia (Brasil) e Cinevinat (México), com coprodução Globo Filmes, Quijote Films (Chile) e Viking Film (Países Baixos)
Distribuição: Vitrine Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h25
Classificação: 14 anos
Países: Brasil, México, Chile e Países Baixos
Gêneros: drama, ficção


28 março 2025

Restaurado, longa "Onda Nova" usa o futebol feminino para discutir preconceito e liberdade sexual

Censurado pela Ditadura em 1983, comédia erótica narra a história das jogadores do Gayvotas Futebol Clube (Fotos: Divulgação)


Wallace Graciano


Relançamentos de obras costumam causar um impacto pela mensagem que será passada em um período completamente antagônico do que fora outrora. 

Mas "Onda Nova", clássico de 1983, volta às telonas justamente querendo costurar passado e presente, representando uma nova visão de liberdade e questionando valores conservadores, agora com traços restaurados em 4k. O filme está em cartaz no Cine Una Belas Artes.


Na trama, "Onda Nova" apresenta o Gayvotas Futebol Clube, um time feminino que utiliza o futebol como pano de fundo para explorar temas como liberdade sexual e ocupação de espaços tradicionalmente masculinos. 

O filme se destaca pela fotografia vibrante, com cores saturadas e enquadramentos ousados, que alternam entre closes íntimos e planos abertos do cenário urbano.


A direção do filme combina elementos da Nouvelle Vague francesa e do cinema marginal brasileiro, resultando em uma montagem ágil e uma trilha sonora que mescla rock e música popular brasileira, incluindo nomes como Tim Maia, que sintetiza com sua voz potente tudo o que a obra deseja causar. 

Quando falamos de atuações, aí temos outro ponto marcante, com cenas que transitam entre o drama e a comédia, em que Regina Casé, Carla Camurati e Vera Zimmermann passam ao espectador um real entusiasmo por estarem naquela obra de transgressão.


O filme aborda a nudez de forma natural, sem apelo voyeurístico, e retrata a diversidade sexual de maneira orgânica. "Onda Nova" foi censurado em 1983 pela ditadura e, mesmo em 2025, ainda gera debates sobre a representação da sexualidade no cinema.

A restauração em 4K do filme evidencia a qualidade da fotografia e da direção, resgatando a importância da obra como um marco do cinema brasileiro. 

"Onda Nova" transcende a nostalgia, apresentando-se como um filme relevante para discussões contemporâneas sobre feminismo, liberdade sexual e a necessidade de produções cinematográficas que desafiem convenções.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Ícaro Martins e José Antonio Garcia
Restauração: Julia Duarte, Aclara Produções Artísticas, família de José Antonio Garcia, com apoio da Cinemateca Brasileira, Zumbi Post e JLS Facilidades Sonoras
Produção: Olympus Filme
Distribuição: Vitrine Filmes e Tanto Filmes
Exibição: sala 3 do Una Cine Belas Artes, sessão às 18h50
Duração: 1h44
Classificação: 18 anos
País: Brasil
Gêneros: comédia erótica, drama

13 março 2025

"O Melhor Amigo" promete um amor quente na praia, mas entrega um solzinho morno

Comédia romântica dirigida por Allan Deberton se baseia no curta de mesmo nome que o diretor fez em 2013
(Fotos: Vitrine Filmes)


Eduardo Jr.


Chega aos cinemas nesta quinta-feira (13) o lançamento da Sessão Vitrine Petrobrás, "O Melhor Amigo". Com distribuição da Vitrine Filmes, o filme dirigido por Allan Deberton se baseia no curta de mesmo nome que o diretor fez em 2013. 

A novidade está no fato de que o curta, que poderia ser enquadrado como drama, pelo sentimento não declarado entre os personagens, se transformou um uma comédia romântica nesta versão de pouco mais de 90 minutos. 


De início, a música já sinaliza para o espectador o tom descontraído do filme. Vinícius Teixeira dá vida ao protagonista Lucas (no curta de 2013 o papel foi de Jesuíta Barbosa). Diante da incerteza sobre o relacionamento com Martim (Léo Bahia), Lucas viaja sozinho para Canoa Quebrada, no Ceará. 

De cara, esbarra em Estrela D'Alva (Cláudia Ohana), uma espécie de cigana que rapidamente identifica que o jovem tem questões sentimentais a resolver. A esotérica acerta, pois Lucas reencontra Felipe (vivido por Gabriel Fuentes), um velho amigo - e fica claro que a presença dele remexe sentimentos antigos. O tímido Lucas parece querer uma paixão intensa, se entregar ao amor, enquanto Felipe está em outra sintonia. 


A proposta de normalizar as relações LGBTQIAPN+ e criar um musical gay pode ser vista como positiva. Mas a execução também está fora de sintonia. As danças mais flertam com o trash do que com a Broadway, apesar da boa ideia de ressignificar canções dos anos 1980 e 1990, como "Mais Uma de Amor (geme geme)", da Blitz e "Escrito nas Estrelas", de Tetê Espíndola. 

A intenção parece ser a de criar um clima de desventuras afetivas para, no final, o amor vencer. Mas essa proposta de jornada para o protagonista parece ser amassada pela representação da disponibilidade do sexo fácil no universo LGBTQIAPN+. Lucas parece apaixonado por Felipe, que tem diversos empregos para sobreviver - de guia turístico a garoto de programa. 


Sem saber se será correspondido, parece querer punir o amado, se enfiando no quarto de outros hóspedes (Mateus Carrieri e Diego Montez) para uma noite de sexo a três. 

Fica o protagonista sem um arco que o sustente, e a imagem do mundo gay mais uma vez atrelada a corpos sarados e personagens afeminados que só servem para tirar risos do público. 

A tela acaba sendo preenchida com apresentações de drags, que estão naturalmente se exibindo num palco, e não para uma câmera. Aliás, parece faltar criatividade ao posicionamento dela, que fica estática em frente à cena a ser retratada, e só. 


Nem a presença de Gretchen no longa abre espaço para planos mais elaborados. A frustração marca presença também no momento em que o insistente namorado Martim aparece naquele paraíso litorâneo atrás de Lucas. Mas o indício de que a trama vai se movimentar se perde facilmente. 

E ali, em uma praia bonita com fotografia pouco explorada, se passa uma história que parecia ser a busca por uma paixão, mas termina num possível encontro consigo mesmo. Os motivos para a união dos protagonistas se esfarelar também ficam nebulosos, pois as personagens não são abordadas de maneira mais profunda. 


O mérito talvez esteja na coerência da direção: se no curta de 2013 não se sabe se o protagonista se declarou ao amado ou se algo mais aconteceu, aqui também não parece existir o interesse em buscar respostas para a origem ou fim de um sentimento ou de uma relação. 

Uma obra com as cores do Brasil, com um humor que reconhecemos, mas que, provavelmente, o público poderá taxar como mediana. 


Ficha Técnica
Direção: Allan Deberton
Roteiro: Allan Deberton, Raul Damasceno, Otavio Chamorro e Pedro Karam
Produção: Deberton Filmes, coprodução Telecine e Mistika
Distribuição: Vitrine Filmes
Duração: 1h34
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gênero: Comédia romântica

08 janeiro 2025

“Baby” marca retorno de cineasta mineiro em obra tocante

Produção vem conquistando diversas premiações em festivais nacionais e internacionais (Fotos: Aline Arruda e Joana Luz )


Eduardo Jr.


O diretor mineiro Marcelo Caetano está de volta às telonas, sete anos depois. Desta vez, “Baby” é o nome da obra, que tem estreia prevista para o dia 9 de janeiro de 2025, com distribuição pela Vitrine Filmes. 

“Baby” é uma ficção que mostra a busca por um lugar no mundo do jovem Wellington (João Pedro Mariano), de 18 anos, recém-saído de um centro de detenção juvenil. 

É quando conhece Ronaldo (Ricardo Teodoro), um garoto de programa que dá a ele o apelido de Baby, o ensina como sobreviver nas ruas e se torna para ele um símbolo de relacionamento (ou de paternidade).  


Assim como em “Corpo Elétrico” (2017), primeiro filme de Caetano, “Baby” também é um drama de cotidiano. Sem a localização da família, Baby só tem os amigos das ruas, a comunidade LGBT. 

Está aí um dos méritos do longa: apresentar a luta diária do grupo por respeito e sobrevivência, sem repetir abordagens já desgastadas. 


Apesar de o cenário ser constituído, em boa parte, por recortes que criam uma São Paulo hostil, as personagens não exprimem a maldade do ambiente. 

Trazem até o elemento da espontaneidade na interpretação, o que parece ser algo que o diretor admira, já que se pode observar isso também nas atuações do elenco de “Corpo Elétrico”. 


Vale destacar que essa espontaneidade de parte do elenco não compromete a obra. João Pedro Mariano e Ricardo Teodoro imprimem na medida necessária o drama, a ira, a doçura, a frustração, o ciúme, a cumplicidade… 

Talvez essa variedade de sentimentos, de possibilidades, explique um pouco o sucesso do longa, que já vem colhendo prêmios por aí. 

"Baby" foi selecionado para a 63ª Semana da Crítica do Festival de Cannes em 2024. Mas já garantiu várias premiações a seus integrantes. Marcelo Caetano foi vencedor de Melhor Direção no Festival do Rio e nos festivais queer MixBrasil e LesGaiCineMad (Madri). 


João Pedro Mariano foi escolhido Melhor Ator no Festival do Rio e Melhor Interpretação no Mix Brasil. Já Ricardo Teodoro levou a estatueta de Ator Revelação na Quinzena dos Cineastas de Cannes e Melhor Ator Coadjuvante no Festival de Huelva. 

Esta não é uma produção a disputar espaço numa lista de Oscar como “Ainda Estou Aqui”, mas é tocante, entretém, cativa e pode ser mais um exemplo de como o cinema nacional pode ser importante para debater pautas como ressocialização, solidariedade, combate a preconceitos e novas configurações familiares (evidenciado pelo núcleo da ótima - e quase irreconhecível - Bruna Linzmeyer).  


Ficha técnica:
Direção: Marcelo Caetano
Roteiro: Marcelo Caetano e Gabriel Domingues
Produção: Cup Filmes, Desbun Filmes, Playeau Produções, Still Moving (França), Circe Films, Kaap Holland (Holanda)
Coprodução: SPCine, Vitrine Filmes, Canal Brasil, Telecine
Distribuição: Vitrine Filmes
Classificação: 18 anos
Duração: 1h47
Exibição: Una Cine Belas Artes
Países: Brasil, França, Holanda
Gêneros: drama, romance

25 julho 2024

"Teca e Tuti: Uma Noite na Biblioteca" - uma aventura pelo mundo mágico da leitura

Animação infantojuvenil começou a ser feito em 2012, utiliza técnicas de live-action e de animação em stop-motion (Fotos: Rocambole Produções)


Felipe Matheus


Diversão e a paixão por livros. Estes são os maiores atrativos da animação “Teca e Tuti: Uma Noite na Biblioteca”, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (25), sob a direção de Diego M. Doimo, Eduardo Perdido e Tiago Mal. Ele pode ser conferido no Una Cine Belas Artes, na Sessão Vitrine às 15 horas, com ingressos a R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia)

O filme aborda a importância da leitura nos dias atuais e a necessidade de incentivar as pessoas a voltarem a ler livros, deixando um pouco de lado o mundo digital.


Na trama, a traça Teca (voz original de Luy Campos), vive com sua família e seu fiel ácaro de estimação, Tuti (Hugo Picchi), em uma caixa de costura. O que eles mais gostam é devorar papel, mas quando Teca aprende a ler, percebe que os livros não podem ser comidos, pois guardam as histórias que ela adora. 

Decididos a resolver um grande mistério, Teca e Tuti partem para a biblioteca, em busca da história mais importante de suas vidas.


O longa, que começou a ser feito em 2012, utiliza técnicas de live-action e de animação em stop-motion. Cada boneco é único, e com o uso de fotografias e cenários diversos, a mágica do filme ganha vida nas telas. Eduardo Perdido, roteirista e diretor, animou cerca de 75% das cenas. 

Foram necessárias quase 30 mil fotos para fazer os bonecos se movimentarem, cantarem e andarem. Tudo acontece por meio de sequências de fotografias, usando bonecos articulados em cenários construídos e montados dentro de um estúdio.


Produzido pela Rocambole Produções e lançamento pela Sessão Vitrine Petrobras, o filme conta com canções inéditas e originais de Hélio Ziskind, que compôs temas de programas como Cocoricó e Castelo Rá-Tim-Bum, e de Ivan Rocha. A direção de arte é de Mateus Rios, ilustrador de livros infantis, como “Ela Tem Olhos de Céu”, de Socorro Acioli.

Em “Teca e Tuti: Uma Noite na Biblioteca”, cada personagem tem uma história diferente e essa conexão traz uma narrativa dinâmica e alegre para os espectadores que embarcam nessa grande aventura. Afinal, nunca é tarde para conhecer grandes obras da literatura e viver aventuras, seja com “Dom Quixote” ou com “Alice no País das Maravilhas”.


Ficha técnica
Direção: Eduardo Perdido, Tiago MAL e Diego M. Doimo
Produção: Rocambole Produções
Distribuição: LPB Content e codistribuição com a Vitrine Filmes
Exibição: Una Cine Belas Artes, na Sessão Vitrine às 15 horas, com ingressos a R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia)
Duração: 1h15
Classificação: Livre
País: Brasil
Gêneros: animação, infantojuvenil, aventura

21 junho 2024

“Tudo o Que Você Podia Ser” mostra a união como ferramenta para vencer na sociedade da homofobia

Documentário de ficção tem DNA mineiro, com direção de Ricardo Alves Júnior (Fotos: Vitrine Filmes)


Eduardo Jr.


Está em cartaz, em duas salas de cinema de Belo Horizonte, o longa “Tudo o Que Você Podia Ser”. A produção tem DNA mineiro e transita entre a ficção e o documentário. Dirigida por Ricardo Alves Júnior, é uma observação da felicidade, da pulsante energia da comunidade LGBT, da amizade e da sempre iminente violência homofóbica. 

O filme é distribuído pela Sessão Vitrine Petrobras e pode ser visto no Centro Cultural Unimed BH-Minas e Cine Una Belas Artes. 


A história parte do último dia de Aisha (Aisha Brunno) na cidade. E a despedida será com a família escolhida, as amigas Bramma Bremmer, Igui Leal e Will Soares (as personagens utilizam seus nomes verdadeiros, deixando o espectador na incerteza do que é realidade e do que é ficção). 

Algumas das locações são as casas das próprias atrizes, colaborando para edificar “o real” do filme. A cidade da qual Aisha se despede é quase uma personagem do longa. Locais bem familiares aos belo-horizontinos desfilam pela tela, emoldurando os caminhos das quatro amigas. 


E cada uma delas tem um pouco de sua história pessoal revelada (menos que o desejado, há que se dizer), dos dramas familiares às conquistas. Com leveza, o diretor nos apresenta personagens que vão além do preconceito e da exclusão, escancarando que a presença e a vitória são plenamente possíveis a essa parcela da população. 

Se as atrizes/personagens são trans ou não binárias, não faz a menor diferença tamanha a cumplicidade e carisma do elenco.   

A jornada do grupo é costurada por risos, dramas, afeto, lágrimas, criatividade, amor e música. Tudo embalado em naturalidade. É o seguir da vida diante dos nossos olhos. Sempre em frente, de um ponto a outro, tal qual a personagem que sai das sombras e vai rumo à luz do dia. 


A obra não tem uma questão a responder, ela simplesmente flui, com o elenco fazendo o que nós todos tentamos diariamente: seguir rumo à felicidade desejada. Que pode ser uma coisa simples, como o convívio familiar, que para muitos de nós é corriqueiro, mas para pessoas trans é quase um milagre. 

O documentário parece ter agradado aos olhos e corações de quem assistiu nas premiações. “Tudo o Que Você Podia Ser” ganhou, em 2023, o Prêmio de Melhor Direção no Festival do Rio e o Prêmio de Melhor Longa Nacional do Festival Mix Brasil.   


Ficha Técnica:
Direção: Ricardo Alves Júnior
Produção: EntreFilmes e Sancho & Punta
Distribuição: Sessão Vitrine Petrobras
Exibição: Centro Cultural Unimed BH-Minas - sala 1, sessão 20h30 (somente nos dias 21, 23 e 25/26); e Cine UNA Belas Artes - sala 2, sessão 20h30
Duração: 1h24
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gêneros: documentário, drama, ficção


15 maio 2024

Incômodo e indigesto, “A Hora da Estrela” está de volta para reforçar a complexidade de Clarice Lispector

Produção de 1985, protagonizada por Marcélia Cartaxo, retorna ao cinema em versão digitalizada, dentro do projeto Sessão Vitrine Petrobras (Fotos: Vitrine Filmes)


Mirtes Helena Scalioni


Embora muitos considerem impossível, a diretora Suzana Amaral foi lá e fez: transformou em cinema a obra complexa de Clarice Lispector em1985, quando, sob sua direção, “A Hora da Estrela” ganhou quase todos os prêmios do Festival de Brasília, além de ter conquistado o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Berlim. 

Pois agora o longa volta ao cartaz nos cinemas a partir desta quinta-feira (16), dentro do projeto Sessão Vitrine Petrobras, que está digitalizando e remasterizando películas importantes do cinema nacional. Ele pode ser conferido na sala 3 do Cine Una Belas Artes, sessão de 18h40, com ingressos a R$ 20,00 a inteira e R$ 10,00 a meia.


Não se pode dizer que o filme estrelado magnificamente por Marcélia Cartaxo seja fácil de ver. Não é. O longa, que conta a história de Macabéa, é indigesto e incomoda. 

Causa desconforto e talvez até certa repulsa a trajetória da nordestina de 19 anos que se vê absolutamente sozinha e despreparada numa cidade como São Paulo. Órfã de pai e mãe, desajeitada, ignorante, feia e ingênua, a jovem é mais uma figura invisível na metrópole.


Sem desmerecer o elenco, todo ele correto na medida, Marcélia Cartaxo é a grande responsável pelo brilho do filme. Sua Macabéa, tão tímida quanto estúpida, é quase uma provocação ao espectador com seus silêncios, olhares e posturas submissas. É como se ela pedisse desculpas por existir. 

Seu contraponto é o namorado Olímpico de Jesus, em atuação excelente de José Dumont, com suas tiradas professorais e engraçadas que, no entanto, não fazem o espectador rir.

É preciso ressaltar também a presença da sempre brilhante Fernanda Montenegro como a cartomante picareta Madame Carlota, responsável pela grande mudança na vida de Macabéa que, acreditando em suas previsões, pode ter finalmente a sua hora de estrela. Ao final, pode-se dizer, ninguém sai ileso do filme de Suzana Amaral.


Para quem não leu o livro de Clarice Lispector, vale contar que Macabéa divide um quarto com mais três moças e trabalha como datilógrafa numa firma onde tem como chefes os senhores Pereira e Raimundo, feitos por Denoy de Oliveira e Umberto Magnani. 

Entre as colegas, destaca-se a atirada e sensual Glória (Tamara Taxman), tão bonita quanto antiética. É nesses dois ambientes, além das praças, metrôs e ruas pelas quais transita, que essa heroína brasileira mostra, com sutileza, sua dor de viver.


Ficha Técnica
Direção: Suzana Amaral
Roteiro: Suzana Amaral e Alfredo Oroz
Baseado no romance homônimo de Clarice Lispector
Produção: Raiz Produções e Assunção Hernandes
Distribuição: Sessão Vitrine Petrobras e Vitrine Filmes
País: Brasil
Ano: 1985
Duração: 1h36
Classificação: 12 anos
Gênero: drama

29 abril 2024

Documentário “Verissimo” adentra a intimidade do tímido e excepcional escritor gaúcho

Produção de 2016 dirigida por Angelo Defanti é definida como "coerente" com a personalidade do escritor (Fotos: Boulevard Filmes)


Eduardo Jr.


Há quase oito anos, o escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo teve seu cotidiano retratado em um documentário dirigido por Angelo Defanti. Sua primeira exibição ao público foi na Mostra Competitiva de Longas Brasileiros no Festival É Tudo Verdade. 

Agora, “Verissimo”, chega aos cinemas nesta quinta-feira (2), distribuído pela Boulevard Filmes, para mostrar a rotina do introvertido autor de algumas das mais engraçadas crônicas já publicadas. 

Mas não espere muitos momentos de humor dessa produção. Para quem se encanta e se diverte com os textos saídos da mente criativa do autor de “Comédias da Vida Privada”, “Ed Mort” e “Todas as Histórias do Analista de Bagé”, o longa pode ser decepcionante.


O diretor e suas câmeras se instalaram na casa do escritor para acompanhar a rotina do cronista, em setembro de 2016, 15 dias antes do aniversário de 80 anos de Verissimo. 

E não há muita emoção em assistir um octogenário caladão observar sentado à movimentação da casa, fazendo fisioterapia ou escrevendo ao computador. 

Para alguns pode ser uma resposta para o questionamento sobre como Verissimo consegue ser tão engraçado e observador. Talvez por seu jeito, de falar menos e ouvir mais, o escritor consiga captar tantas coisas e elaborar respostas bem-humoradas. 


Aliás, o humor aparece nas entrevistas. O escritor se diz desconfortável em ser entrevistado, mas não sabe dizer não, e as perguntas algumas vezes rendem respostas engraçadas. 

A sabedoria para preencher páginas também serve para divertir platéias. Mas parece não salvar o gaúcho do desconforto nas sessões de autógrafos. 


No final das contas, talvez o documentário possa ser definido como ‘coerente’ com a personalidade do retratado. É calmo, leve. Até na própria festa de 80 anos, Verissimo só interage quando perguntado. 

É mais dado a expor suas ideias digitando no computador, em noites silenciosas como ele mesmo. Continua morando em Porto Alegre e cuidando da saúde.


Ficha técnica:
Direção: Angelo Defanti
Produção: Sobretudo Produções, Lacuna Filmes, Canal Brasil
Distribuição: Boulevard Filmes, Vitrine Filmes e Spcine
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h27 minutos
Classificação: livre
País: Brasil
Gênero: documentário

23 agosto 2023

Comovente, filme “Retratos Fantasmas” reflete sobre a interseção entre cinema, espaço e sociedade

Novo documentário de Kleber Mendonça Filho ilustra as consequências do trator da modernidade 
(Fotos: João Carlos Lacerda/Primeiro Plano)


Carolina Cassese
Blog no Zint


Depois de três longas-metragens ficcionais que obtiveram recepção calorosa da crítica e o reconhecimento de premiações renomadas - "O Som ao Redor" (2012), "Aquarius" (2016) e "Bacurau" (2019) - Kleber Mendonça Filho tem seu nome mais uma vez inserido na lista das estréias de cinema com "Retratos Fantasmas".

O filme entra em cartaz, simultaneamente no Brasil e Portugal, nesta quinta-feira (24). A primeira exibição do longa no país aconteceu durante a noite de abertura do 51º Festival de Cinema de Gramado, em sessão única fora de competição. Em outubro, será lançado nas salas da Espanha e, em novembro, nos cinemas da França e Estados Unidos. 

Cine São Luiz 

No documentário, memórias familiares se misturam à história de Recife, cidade na qual o diretor, produtor, roteirista e crítico de cinema brasileiro nasceu há pouco mais de 58 anos. 

O resultado é um filme forte e carregado de uma emoção que não é de modo algum forçada, mas inevitável diante da sucessão de acontecimentos a que o espectador assiste. Inegavelmente, há um sentimento de impotência diante desse mundo que avança como um trator rumo ao novo.

Narrado pelo próprio diretor, o longa é dividido em três partes. A primeira, “O apartamento de Setúbal”, é centrada na casa em que o recifense cresceu. O mesmo lugar serviu como cenário de vários trabalhos assinados por Mendonça Filho, como o já mencionado "O Som ao Redor". 


Aqui percebemos como realidade e ficção se entrelaçam, já que acontecimentos daquele cotidiano inspiraram ideias presentes nas obras do diretor. Uma frase dessa primeira parte ecoará por toda a obra: “O tempo transforma os lugares”. E como transforma. 

No bloco subsequente, intitulado “Cinemas do Centro de Recife”, acompanhamos como esse local sofreu importantes modificações ao longo dos anos. É a história de muitos centros brasileiros: representantes do capital passam a se interessar por outras áreas da cidade, geralmente menos acessíveis e democráticas. 

As zonas centrais então abandonadas pelo poder público e também por boa parte da sociedade, como pontua o diretor - “conheço jovens que nunca foram ao centro”.

Cine Veneza 

É também nesse momento do longa que vemos imagens de antigos cinemas de rua, que costumavam ser pontos de efervescência cultural. Como de costume, Mendonça Filho tem excelentes sacadas, como a sugestão de que os letreiros dos cinemas comentavam a situação política do país e, ainda, enviavam mensagens enigmáticas. 

Há também pontuações que ilustram a histórica (e ainda muito atual) desvalorização do cinema nacional - em detrimento de grandes distribuidoras estadunidenses.

Diante da demanda por uma cidade mais “moderna” e “funcional”, que atendesse aos interesses de grandes empresários, a maioria dos estabelecimentos independentes precisou fechar as portas. 

Essa história também se repetiu em muitos outros centros brasileiros: o cinema sai da rua e migra para o shopping center, o espaço do consumismo - se não bastasse, a própria indústria cinematográfica se torna mais e mais comercial. 

Centro de Recife 

No filme, Mendonça Filho mostra imagens de um shopping que foi construído em volta de um cinema antigo: “Essa coisa se alojou dentro do (Cinema) Veneza, como um organismo alienígena. E o cinema virou o hospedeiro”. 

No dia a dia, as ruas do centro vão ficando cada vez mais abandonadas. Como pontua uma personagem do longa “A Árvore, O Prefeito e a Mediateca” (1993), de Éric Rohmer: “Às vezes, a modernidade pode ser muito limitada”.

Em “Igrejas e Espíritos Sagrados”, o último bloco do documentário, há uma alegoria sobre símbolos religiosos, fantasmas e as ilusões do cinema. A última cena surpreende e, ao mesmo tempo, dialoga com várias outras discussões presentes na obra. 

Bilheteira de cinema

Esse é um dos principais méritos do trabalho de Mendonça Filho: seu documentário é extremamente coeso, conduzido por elementos fantasmagóricos (luzes piscando, vultos, desaparecimentos) e reflexões sobre o abandono.

Ao vermos o filme, nos damos conta de que as ruínas também contam histórias. Afinal de contas, muito pode ser inferido acerca de uma sociedade que troca cinemas por shoppings centers ou redes de farmácias. 

Em tempos de tanta correria, “Retratos Fantasmas” nos convida para uma pausa. É hora de olharmos para os escombros e refletirmos sobre o que ainda pode ser resgatado.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Kleber Mendonça Filho
Produção: CinemaScópio / Vitrine Filmes
Distribuição: Vitrine Filmes
Exibição: no Cineart Ponteio, Minas Tênis Clube/Unimed, Uni Cine Belas Artes
Duração: 1h31
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gênero: documentário