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07 janeiro 2025

A histórica e inédita conquista do Globo de Ouro 2025

Elenco e diretor do filme na cerimônia de entrega do Globo de Ouro (Fotos: Globo de Ouro - Shayan Asgharnia)


Silvana Monteiro

Em 1986, Fernanda Torres alcançou um feito histórico ao conquistar o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes, tornando-se a atriz brasileira mais jovem a receber essa honraria. Sua performance visceral no filme 'Eu Sei Que Vou Te Amar", dirigido por Arnaldo Jabor, conquistou não apenas o coração dos jurados, mas também deixou uma marca indelével no cenário do cinema internacional. 

Quase quatro décadas depois, em 2025, Fernanda adicionou outro marco memorável à sua história ao vencer o Globo de Ouro. No domingo, 5 de janeiro de 2025, a atriz foi consagrada como Melhor Atriz em Filme de Drama no Globo de Ouro por sua interpretação de Eunice Paiva em "Ainda Estou Aqui". 

                  

Único filme nacional entre o top 10, com mais de 3 milhões de ingressos vendidos, fechou 2024 como a quinta maior bilheteria do ano. Leia a crítica no blog clicando aqui.

Essa conquista histórica foi celebrada com ares de festa nacional e gerou especulações imediatas sobre sua possível inclusão na lista de indicados ao Oscar. 

Embora o Globo de Ouro tenha perdido parte de sua relevância como termômetro para o Oscar - ultrapassado pelas premiações dos sindicatos de atores, produtores, roteiristas e diretores -, é inegável que a vitória trouxe visibilidade global para a atriz brasileira.

Fotos do filme "Ainda Estou Aqui": Alile Dara Onawale

A caminho do Oscar?

Historicamente, apenas duas vencedoras de Melhor Atriz em Filme Dramático no Globo de Ouro ficaram fora da lista final do Oscar: Shirley MacLaine por "Madame Sousatzka" (1989) e Kate Winslet por "Foi Apenas Um Sonho" (2009). 

No entanto, a ausência de Fernanda Torres nas indicações ao Critics Choice Awards e na pré-lista do BAFTA lança uma dúvida sobre sua presença na cerimônia da Academia de Hollywood. Ainda assim, sua atuação em "Ainda Estou Aqui" é amplamente reconhecida como uma das mais impactantes do ano. 


Uma carreira repleta de marcos

Filha das lendas da dramaturgia brasileira Fernanda Montenegro e Fernando Torres, Fernanda cresceu imersa em um ambiente artístico. Desde cedo, demonstrou que o talento corria em suas veias. Sua estreia no cinema aconteceu com "A Marvada Carne" (1985), obra que já evidenciava sua habilidade em interpretar personagens complexos e autênticos.

Foi em "Eu Sei Que Vou Te Amar", porém, que Fernanda consolidou seu lugar entre os grandes nomes do cinema mundial. Contracenando com Thales Pan Chacon, deu vida a uma mulher que revisita sua relação amorosa em uma narrativa crua e intensa. Sua atuação, cheia de nuances, encantou audiências e críticos, rendendo comparativos com grandes estrelas do cinema europeu.

"Eu Sei Que Vou Te Amar" (Divulgação)

Conexão pessoal com o Globo de Ouro

A vitória de Fernandinha no Globo de Ouro por "Ainda Estou Aqui" é um testemunho de sua versatilidade e habilidade de transitar entre gêneros como drama, comédia e teatro.

Além disso, a conquista carrega um simbolismo especial: 25 anos atrás, sua mãe, Fernanda Montenegro, esteve entre as indicadas ao mesmo prêmio por Central do Brasil, mas não levou a estatueta. Agora, a filha fecha esse ciclo com uma memorável vitória.

Walter Salles e Fernanda Torres

Multifacetada e inquieta

Ao longo de sua trajetória, Fernanda Torres acumulou experiências que vão além da atuação. Seja na TV, no teatro ou no cinema, ela continua sendo uma referência para novas gerações de artistas. Recentemente, também tem se destacado como escritora, trazendo ao público textos que combinam humor e reflexão sobre a sociedade contemporânea.

Se o Globo de Ouro celebra trajetórias icônicas e talentos únicos, Fernanda Torres representa exatamente isso. Com a estatueta agora em sua prateleira, sua experiência, respaldada pela conquista, de fato transcenderá o tempo e as fronteiras.


O valor histórico e social de "Ainda Estou Aqui"

Adaptado do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, "Ainda Estou Aqui" é uma obra que resgata a importância da memória, da família e da resiliência. Mesclando autobiografia e biografia, o filme retrata a história de Eunice Paiva, mãe do autor, enquanto reflete sobre o contexto histórico e social brasileiro.

A narrativa relembra os anos de chumbo da ditadura militar no Brasil, expondo o impacto pessoal e familiar da repressão. Eunice enfrentou a perda do marido, Rubens Paiva, um político torturado e desaparecido pelo regime militar. 

Mesmo diante dessa tragédia, ela mostrou coragem ao criar os filhos sozinha e lutar por justiça. A história ressalta o papel das mulheres na resistência e reconstrução social.


O filme também explora a relação de Marcelo com sua mãe durante sua batalha contra o Alzheimer, sensibilizando o público para a importância do cuidado com idosos e da empatia diante de doenças neurodegenerativas.  

Além disso, faz um apelo pela busca da verdade e reparação em relação aos desaparecidos políticos, reforçando a importância de manter viva a memória histórica para evitar a repetição de erros no futuro.

"Ainda Estou Aqui" transcende sua condição de uma história íntima e se torna um retrato do Brasil, da luta por direitos humanos e da capacidade de seguir em frente mesmo nas situações mais adversas.


06 janeiro 2025

Fernanda Torres é eleita melhor atriz dramática no Globo de Ouro 2025

Protagonista do filme "Ainda Estou Aqui", do diretor Walter Salles, foi a primeira brasileira a faturar
a estatueta (Montagem com reprodução TNT)


Maristela Bretas


A torcida foi grande e desta vez o prêmio saiu para a brasileira Fernanda Torres, que conquistou a estatueta de Melhor Atriz de Drama no Globo de Ouro 2025, por seu protagonismo no filme "Ainda Estou Aqui", do diretor Walter Salles.

Fernanda Torres entrou na disputa com estrelas premiadas e famosas de Hollywood, como Angelina Jolie, Tilda Swinton, Nicole Kidman, Kate Winslet e Pamela Anderson. Ela é a primeira brasileira a vencer o Globo de Ouro, que já foi disputado por Sônia Braga e por sua mãe, Fernanda Montenegro.

"Ainda Estou Aqui" (Foto: Alile Dara Onawale)

A atriz dedicou o prêmio a ela, que em 1999 disputou na mesma categoria e perdeu para Cate Blanchett. "Quero agradecer Walter Salles, meu parceiro, meu amigo. Que história, Walter! Quero dedicar isso para a minha mãe. Ela estava aqui 25 anos atrás. Isso é a prova de que a arte ultrapassa gerações. (...) Esse é um filme que nos ensina a sobreviver em tempos como esses”, discursou Fernanda Torres. 

Também agradeceu ao marido Andrucha Waddington e a seus filhos, a Selton Mello e a todo o elenco de "Ainda Estou Aqui" que, infelizmente, perdeu para a produção "Emília Pérez" na categoria de Melhor Filme em Língua Não-Inglesa. O longa brasileiro volta a disputar premiação de Melhor Filme Estrangeiro no próximo domingo (12), no 30º Critics Choise 2025.

"O Brutalista" (Foto: Universal Pictures)

Na edição do Globo de Ouro deste ano, realizada no Hotel Hilton, em Los Angeles, o filme "Emilia Pérez" levou outras três estatuetas. O segundo lugar ficou para "O Brutalista", com três premiações, e a série dramática "Xógum: A Gloriosa Saga do Japão" faturou quatro. 

A atriz Viola Davis e o ator Ted Danson receberam prêmios especiais por suas carreiras de sucesso no cinema e na TV. Confira a lista dos vencedores abaixo.

MELHOR FILME DRAMA - "O Brutalista"

MELHOR FILME COMÉDIA OU MUSICAL - "Emília Pérez"

MELHOR SÉRIE DRAMA - "Xógum"

MELHOR SÉRIE COMÉDIA OU MUSICAL - "Hacks"

MELHOR MINISSÉRIE, ANTOLOGIA OU TELEFILME - "Bebê Rena"

MELHOR DIREÇÃO DE FILME - Brady Corbet ("O Brutalista")

MELHOR ATRIZ FILME DE DRAMA - Fernanda Torres ("Ainda Estou Aqui")

MELHOR ATOR FILME DE DRAMA - Adrien Brody ("O Brutalista")

MELHOR ATRIZ FILME DE COMÉDIA OU MUSICAL - Demi Moore ("A Substância")

MELHOR ATOR FILME DE COMÉDIA OU MUSICAL - Sebastian Stan ("Um Homem Diferente")

"Emilia Pérez" (Foto: Pathè Films)

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE - Zoe Saldaña ("Emilia Pérez")

MELHOR ATOR COADJUVANTE DE FILME - Kieran Culkin ("A Verdadeira Dor")

MELHOR FILME EM LÍNGUA NÃO-INGLESA - "Emilia Pérez" (França)

MELHOR ANIMAÇÃO LONGA-METRAGEM - "Flow"

MELHOR ROTEIRO DE FILME - "Conclave"

MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL DE FILME - "Rivais"

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL DE FILME - "El Mal" ("Emilia Pérez")

CONQUISTA CINEMATOGRÁFICA E DE BILHETERIA - "Wicked"

MELHOR ATOR SÉRIE DE DRAMA - Hiroyuki Sanada ("Xógum")

MELHOR ATOR SÉRIE DE COMÉDIA OU MUSICAL - Jeremy Allen White ("O Urso")

"Xógum: A Gloriosa Saga do Japão" (Foto: FX)

MELHOR ATRIZ SÉRIE DE DRAMA - Anna Sawai ("Xógum")

MELHOR ATRIZ SÉRIE DE COMÉDIA OU MUSICAL - Jean Smart ("Hacks")

MELHOR ATOR EM MINISSÉRIE, ANTOLOGIA OU TELEFILME - Colin Farrell ("Pinguim")

MELHOR ATRIZ EM MINISSÉRIE, ANTOLOGIA OU TELEFILME - Jodie Foster ("True Detective: Terra Noturna")

MELHOR ATOR COADJUVANTE EM SÉRIE - Tadanobu Asano ("Xógum")

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE EM SÉRIE - Jessica Gunning ("Bebê Rena")

MELHOR PERFORMANCE EM STAND-UP - Ali Wong ("Single Lady")

06 novembro 2024

"Ainda Estou Aqui" - um filme sobre resiliência, coragem e tempos sombrios

O aguardado longa de Walter Salles entra em cartaz nos cinemas de BH e promete cativar o público
(Fotos: Alile Dara Onawale/Divulgação)


Eduardo Jr.


Estreia nesta quinta-feira (7/11), o longa "Ainda Estou Aqui", novo trabalho do diretor Walter Salles, distribuído pela Sony Pictures. Coincidência ou não, no mesmo dia da morte de Evandro Teixeira, fotojornalista que clicou momentos icônicos do combate à ditadura no Brasil, a equipe do Cinema no Escurinho foi convidada para acompanhar a pré-estreia deste que se configura como mais um resgate memorável desse triste período da história. 

O buzz em torno do filme, após a exibição no Festival de Veneza, tem tudo para se justificar em terras brasileiras. Adaptado do livro homônimo do jornalista Marcelo Rubens Paiva, o longa conta a história de Eunice Paiva, mãe de Marcelo e mulher do ex-deputado Rubens Paiva, que é levado de casa por policiais, nos anos 1970, dando início ao drama.


Aliás, o termo "drama" se aplica mais ao segundo ato da obra, que inicia com a apresentação das personagens e com um suspense, canalizado na presença dos caminhões com militares, que passam pelas ruas e provocam um incômodo na protagonista, em contraste com o cotidiano festivo do casal e seus cinco filhos. 

Walter Salles é inteligente ao mostrar Rubens Paiva (Selton Mello) com uma rotina familiar e depois sua prisão sem motivos claros. Imprime a percepção de que, na ditadura, qualquer coisa era motivo para violar direitos. 

Deixa no espectador o vazio da falta daquele personagem (talvez uma espécie de simulacro da falta que um ente desaparecido deixa nos familiares). É aí que o cotidiano solar e colorido da família começa a se transformar.  

(Foto: Lais Catalano Aranha/Divulgação)

A entrada dos milicos é digna de "O Poderoso Chefão" (1972), com sujeitos mal-intencionados emergindo das sombras. A fotografia faz questão de escurecer a tela. A maldade do regime consegue causar impacto no espectador sem apelar para arroubos cinematográficos ou de emoção. E nem precisa. 

A câmera nos faz enxergar a Eunice criada por Fernanda Torres, uma escolha visual que se mostra acertadíssima! A protagonista começa uma mulher de classe média alta, muda para dona de casa sem privilégios, se reinventa como advogada, e comunica tudo com uma atuação e expressões impecáveis, entregando melancolia e força até nos gestos mais sutis. 

Além de Fernanda, todo o elenco parece ter entendido que menos é mais. O filme traz atuações precisas e bem sintonizadas entre atores que dão vida aos personagens na 1ª fase e os que assumem após a passagem de tempo. 


Ponto positivo também para a excelente trilha sonora, com músicas da época muito condizentes com a mensagem e com o momento (de ontem e o atual, embora o filme seja também sobre memória). 

Uma dessas pautas da atualidade já era parte da biografia de Eunice. Após a tragédia familiar, ela voltou a estudar, se formou em Direito e passou a atuar em prol das causas indígenas (que voltaram aos noticiários, recentemente) e violações dos Direitos Humanos. 

Se assim podemos dizer, uma das vitórias foi a dela própria, ao obter a certidão de óbito do marido. Eunice recebe o documento como sempre fez, sorrindo. Por ordem dela, não era permitido à família Paiva chorar ou sofrer frente às câmeras, pois essa seria uma vitória dos assassinos que destruíram tantas outras famílias brasileiras. 


Eunice morreu em dezembro de 2018, com 86 anos, em decorrência do Mal de Alzheimer. Está representada nessa fase final por Fernanda Montenegro. E com a mesma força expressiva que a filha deu à personagem no início e meio do longa. 

No final deste filme, de tamanho refinamento técnico que mal se percebe o passar das duas horas de exibição, o espectador observa algo que pode ser interpretado como o que essas famílias experimentam: a busca de uma completude que nunca mais existirá. O que fica, é memória. Filme imperdível! 

"Ainda Estou Aqui" é a produção brasileira escolhida para integrar a lista de possíveis indicados ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2025. A prévia dos finalistas sai no dia 17 de dezembro e a lista com os cinco escolhidos será divulgada no dia 17 de janeiro. 


Ficha técnica:
Direção: Walter Salles
Roteiro: Murilo Hauser e Heitor Lorega
Produção: Mact Productions, VideoFilmes, Arte France, RT Features
Distribuição: Sony Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h15
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gêneros: drama, suspense