10 fevereiro 2022

Drama turco de chorar, "O Violino do Meu Pai" peca pela longa duração

Engin Altan Düzyatan vive Mehmet, um violinista famoso com sérios problemas de relação familiar (Fotos: Netflix)


Silvana Monteiro


Os turcos sabem fazer drama como ninguém. Em "O Violino do Meu Pai" ou "Babamin Kemani" (título original), uma menina órfã e seu tio violinista são ligados de forma inesperada e obrigatória. O enredo explora as feridas e tragédias de cada personagem a fundo. 

Ao receber a notícia de que deve criar uma sobrinha, até então inexistente na realidade dele, Mehmet vai seguir em uma jornada de descobertas. O violino é o instrumento que o retira das sombras e da frieza, comuns à sua personalidade traçada na crença do abandono e da separação.


Estrelado por Engin Altan Düzyatan, que vive Mehmet, ator turco conhecido pela série "Kursun" (2019).  Além dele, Belçim Bilgin (protagonista de "Sadece Sen"), Gülizar Nisa Uray, Selim Erdoğan, Erdem Baş, Yener Sezgin e Yiğit Çakır completam o elenco.

Dirigido pela cineasta turca Andaç Haznedaroglu, o longa explora o lado emocional e psicológico da relação entre o tio Mehmet e a sobrinha Özlem. A menina (vivida por Gülizar Nisa Uray), órfã de mãe, perde também o pai (interpretado por Selim Erdoğan), músico de rua e de cerimoniais. Ela fica com o velho violino do pai e levada para um orfanato. A direção da instituição entra em contato com seu único parente, o célebre e traumatizado violinista Mehmet.


O filme é muito profundo quando revela a verdadeira história do lado sombrio e gélido do tio. O músico vai ser confrontado sobre seu passado e será levado a entender os motivos pelos quais sua família foi separada há muitos anos.

Esses momentos estimulam o perdão, o entendimento sobre o que foi e o que será e traz a música como um elo definitivo entre os protagonistas. Embora a produção seja extremamente comovente, o destaque vai para a interpretação faceira e o olhar vívido da linda e cativante e Gülizar. 


É notável o jogo de sentimentos entre o adulto e a criança, como se o mais velho precisasse do mais novo para elaborar suas dores. Nesse quesito, o roteirista pesou a mão, o que pode assustar certos telespectadores. 

Com uma linda fotografia e uma trilha sonora excelente de músicas clássicas, "O Violino do Meu Pai" o diretor peca ao tentar esticar a história a qualquer custo, em quase longas duas horas de duração. Prepare o coração e os lenços. É drama para mexicano nenhum botar defeito. 


Ficha técnica:
Direção: Andaç Haznedaroğlu
Exibição: Netflix
Duração: 1h52
Classificação: 12 anos
País: Turquia
Gêneros: drama / família

02 fevereiro 2022

“A Mais Pura Verdade”: ótima minissérie com drama e suspense de perder o sono

Kevin Hart e Wesley Snipes interpretam os dois irmãos em conflito nessa produção de sete episódios sobre dinheiro e traição (Fotos: Adam Rose/Netflix)


Mirtes Helena Scalioni


Por mais que uma ou outra sequência possa parecer improvável, não se pode negar que “A Mais Pura Verdade” ("True Story") é uma série surpreendente que prende o espectador do começo ao fim, com viradas de tirar o sono. 

Com sete episódios e em cartaz no Netflix, a história gira em torno de questões tão antigas quanto importantes: que preço alguém pode pagar para se manter no topo do sucesso? Ou: o que pode despertar a extrema violência de um homem sabidamente pacífico e honesto?


Criada por Eric Newman (que produziu "Power" - 2020 e “Narcos” - 2017 e 2018) e dirigida por Stephen Williams e Hanelle M. Culpepper, a minissérie apresenta um recorte na vida de Kid, comediante de muito sucesso, daqueles que fazem stand-ups e filmes que agradam toda a família, de crianças a adolescentes e adultos. 

Negro, ele valoriza cada conquista e deixa claro, sempre que pode, que trabalhou muito para chegar aonde chegou. Interpretado por Kevin Hart (“Jumanji - Próxima Fase” - 2019) em uma de suas primeiras incursões pelo drama, o ator convence na pele do bom moço que, se preciso for, perde a humanidade e a ética.


Tudo caminhava muito bem na turnê de muito sucesso que Kid fazia pelo país, com shows, eventos filantrópicos e entrevistas até que a trupe chega à Filadélfia, exatamente a terra do comediante. 

E é lá, no luxuoso hotel Four Seasons, que ele tem um conturbado reencontro com seu irmão Carlton, que lhe apresenta Daphne (Ash Santos). A primeira surpresa a bagunçar a cabeça do espectador acontece logo no primeiro episódio, um pouquinho maior do que os outros seis.


Mas “A Mais Pura Verdade” não seria tão recomendável se não fosse a participação de Wesley Snipes (“Mercenários 3” - 2014), que interpreta Carlton, o irmão enrolado e meio bandido de Kid, capaz de tudo para tirar algum dinheiro do mano bem-sucedido. Em atuação perfeita, ele imprime um cinismo tal em seu personagem que chega a despertar a raiva do espectador na medida em que suas tramoias vão sendo expostas.


Merecem atenção também as atuações de todo o staff do artista que, claro, é assessorado por uma equipe de primeira. Estão lá a autora de textos e piadas, Billie (Tawny Newsome), o segurança fiel Herschel (William Catlett) e o administrador de tudo, Todd (Paul Adelstein). Não falta nem mesmo o superfã Gene (Theo Rosssi), jovem ingênuo e meio infantil que faz de tudo para se aproximar do ídolo e tem grande importância na trama.


Do lado bandido, destaque para os perversos irmãos gregos Ari (Billy Zane), Savvas (Chris Diamontopoulos) e Nikos (John Ales). “A Mais Pura Verdade” é tão surpreendente e criativa que pode ser uma temeridade partir para uma segunda temporada, totalmente desnecessária. 

O velho drama dos dois irmãos completamente diferentes um do outro e a ideia de que uma simples escolha pode transformar – e transtornar – a vida de uma pessoa estão muito bem amarrados e fechados nesses sete episódios. Se tentar melhorar, pode atrapalhar.


Ficha técnica:
Criação: Eric Newman
Direção: Stephen Williams e Hanelle M. Culpepper
Produção: Netflix / Harbeat Productions
Exibição: Netflix
Duração: 1ª Temporada - 7 episódios (média de 30 minutos cada)
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Drama / Policial / Minissérie / Suspense