11 outubro 2016

"Kóblic" traz mensagem atemporal

Filme conta o ótimo ator Ricardo Darín como um piloto das forças armadas argentinas no período da ditadura (Fotos: DeaPlaneta/Divulgação)

Patrícia Cassese


Há acontecimentos históricos que, olhados à distância, mesmo que o avanço temporal não seja tão significativo assim, não raro parecem pertencer à prateleira da ficção, tão inacreditáveis que são. Os voos da morte, um dos episódios mais absurdos - não há outra palavra -  das ditaduras implantadas no continente sul-americano, certamente pertencem a essa categoria.


E é essa prática que vem à tona em "Kóblic", filme argentino de Sebastián Borensztein que estreia nesta quinta-feira na cidade com Ricardo Darín no elenco. Produções cinematográficas do nosso país vizinho que se debruçam sobre essas "páginas infelizes da nossa história" têm sido (compreensivelmente) comuns. E pertinentes, posto que servem de alerta em tempos turbulentos, nos quais muitas vezes a razão passa para um perigoso segundo plano.

Mas é necessário frisar que o pano histórico de "Kóblic" pode ser facilmente descolado do subtexto que sublinha a narrativa. Afinal, o dilema que o personagem homônimo enfrenta é totalmente atemporal: até quando devemos dar a primazia à nossa integridade ética, moral; aos nossos princípios, quando o mundo ao redor clama pela nossa capitulação e pela adesão ao time por hora vencedor no placar? Neste ponto, o impasse no qual o piloto das forças armadas se vê pode ser aplicado a um sem número de situações - inclusive cotidianas.


Ao filme, pois - ressaltando que a compreensão gradativa da situação do personagem é atrelada, pelo diretor, à inteligência do espectador, sem que nada soe como um didatismo forçado. O personagem, um piloto das forças armadas que não teve alternativa se não conduzir um avião sobre o Rio da Prata, assistindo, estupefato, à execução do propósito de um voo da morte, tenta se refugiar no interior do país para não se coadunar com algo que violenta de forma tão acintosa suas diretrizes morais.


A vida no campo, porém, não será das mais fáceis. Contratado para supostamente pulverizar inseticida nas plantações de um fazendeiro, Tomás Kóblic logo desperta a curiosidade dos locais, que passam a  suspeitar da presença do misterioso recém-chegado. Para piorar as coisas, Kóblic acaba se envolvendo com Nancy (Inma Cuesta), uma bela mulher que toca a pequena venda e o posto de combustíveis pertencentes ao seu companheiro, um homem tosco e violento, cujo sentimento de posse pela garota (que, vamos combinar, é a cara da atriz Marieta Severo mais jovem) será devidamente explicado no desenrolar da história.



Confrontado com seu passado recentíssimo, Kóblic tem que tomar uma decisão difícil - ou melhor, várias decisões árduas e intrincadas. Para norteá-lo, contará com um pequeno objeto herdado de seu pai - objetivamente inútil para a situação na qual se encontra, mas ideologicamente carregado de significados. No fundo, o que está em cena - e repetindo o que já foi dito no início desta resenha - é o quão devemos nos opor- e até estoicamente - ao que não nos faz o menor sentido, mesmo que  a luta pareça já estar previamente vencida. Uma luta moral, enfim. Classificação: 14 anos



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10 outubro 2016

"12 Horas para Sobreviver" é tendenciosamente político

"12 Horas para Sobreviver - O Ano da Eleição" é o mais fraco da franquia e explora campanha nos EUA (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)


Maristela Bretas


Poderia ser mais um filme de terror da franquia "Uma Noite de Crime" ("The Purge"), mas "12 Horas para Sobreviver - O Ano da Eleição" ("The Purge: Election Year") é um filme que explora claramente a campanha política deste ano nos Estados Unidos, sem a preocupação de ser totalmente a favor da candidata Hillary Clinton, aqui representada por Elizabeth Mitchell, que faz a senadora Charlie Rowan.

Na disputa com ela à presidência dos EUA foi colocado um pastor com o dom da palavra, papel de Kyle Secor, que explora todos os chavões e símbolos religiosos para justificar a noite de matança (ou expurgo, como eles preferem chamar) que acontece uma vez por ano.

A violência é a mesma dos filmes anteriores, em menor escala para dar mais ênfase à questão política. Enquanto a senadora Charlene é colocada como a defensora dos imigrantes, negros e mulheres, seu opositor quer acabar com todos eles e deixar o país livre do que ele e seu grupo de elite consideram como escória da sociedade.

Para isso, usam facções neonazistas e incentivam a violência das gangues, sem precisarem sujar suas mãos. Eles que se matem, ajuda a resolver a superpopulação, como deixam bem claros.  entre cabeças cortadas, tiros, serras elétricas e um bando de loucos psicopatas atacando pessoas por todo o país, com o aval do governo, claro sempre surgem aqueles contrários à Noite do Expurgo, como a senadora boazinha, que faz deste lema sua campanha.

Na história, o comerciante negro Joe Dixon, o ajudante dele, o latino Marcos, uma ex-integrante de gangue vão tentar sobreviver à terrível noite. Seus caminhos acabam cruzando com o da senadora e seu guarda costas, que está tentando escapar de ser assassinada por apoiadores de seu adversário que vão usar a Noite do Expurgo para encobrir o crime e tirá-la da disputa.

O elenco é esforçado, mas pouco conhecido, sem nomes de peso para atrair público, o que ajuda a ser menos interessante. Isso sem contar o infindável uso de chavões, clichês e símbolos nacionalistas, com direito a bandeira dos EUA tremulando no mastro ao final. Bem ao estilo de Michael Bay, que é um dos produtores.

"12 Horas para Sobreviver - O Ano da Eleição" pode frustrar   quem gosta do gênero suspense e terror - ele fica muito a dever. Ele está mais para um filme de ação (muita ação). É o mais fraco de todos da franquia.



Ficha técnica:
Direção e roteiro: James Del Monaco
Produção: Universal Pictures / Brumhouse Productions / Platinum Dunes
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 1h49
Gêneros: Terror / Suspense / Ação
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 2,5 (0 a 5)

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