11 janeiro 2017

"Eu, Daniel Blake" deixa o espectador paralisado ao mostrar como a burocracia pode ser destrutiva

A história é universal e pode acontecer em qualquer lugar do mundo (Fotos:  Imovision/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Com raras exceções. filmes que tratam de pessoas maduras costumam ser tristes.  "Eu, Daniel Blake", produção britânica em parceria com a França e a Bélgica, é mais do que triste. É contundente, cortante. Ao final da sessão, muitos permanecem sentados nas poltronas, como se tentassem digerir o que acabaram de ver. A história do cidadão comum que, após um ataque cardíaco, se envolve na teia surreal da burocracia em busca de seus direitos como auxílio doença ou seguro desemprego assusta, choca, oprime. E olha que tudo se passa na Inglaterra, para muitos, o exemplo de civilidade.

Não foi por acaso que o filme, dirigido por Ken Loach - ele próprio um ancião de 80 anos - ganhou a Palma de Ouro 2016 em Cannes. A batalha de Daniel Blake, interpretado com naturalidade impressionante por Dave Johns, coloca o espectador no cerne de um labirinto. Atire a primeira pedra quem nunca precisou do Estado e se viu emaranhado em exigências absurdas e irracionais, ouvindo explicações e respostas vazias de atendentes que só fazem repetir regras e orientações decoradas. Quem nunca teve ímpetos de quebrar o telefone depois de ouvir infinitamente a mesma musiquinha intercalada de gravações que prometem um atendimento daqui a pouco?

No caso do sessentão do filme, há um agravante: a informática para ele é um mistério. Para Dan, ouvir de um atendente a simples ordem "entre no site, preencha o formulário e envie" significa problemas, dificuldades e mais atrasos. Em certo momento ele, que trabalhou a vida toda como carpinteiro, diz: "Me apresente um terreno que construo sozinho uma casa. Mas, por favor, não me mande sentar diante de um computador". Nesse sentido, "Eu, Daniel Blake" ajuda a refletir e chamar atenção para o fato de que nem todos nasceram íntimos do mouse e da internet. E que isso não significa necessariamente incompetência.

Mas o que fica mais claro no longa de Ken Loach é mesmo a maneira como a maldita burocracia e seus servidores inúteis podem mudar a vida e o destino dos cidadãos. A desumanidade, a forma impessoal de tratamento, a rigidez das regras parecem ter sido criadas exatamente para isto: para justificar a demora, para adiar a solução, para fazer com que o cidadão perca sua dignidade. E é com maestria e muita naturalidade que o diretor conduz a trama emocionando e envolvendo o público.

Os mais otimistas vão encontrar um fio de esperança no longa: numa das muitas visitas do carpinteiro a uma das repartições públicas, ele se sensibiliza com o drama de Katie (Harley Squires), jovem mãe solteira de duas crianças que veio de Londres para o interior em busca de oportunidades de trabalho. A amizade verdadeira que brota entre Daniel e aquela família desamparada comove e alimenta até os corações mais descrentes. O drama, com 1h41 de duração, ganhou a Palma de Outro em Cannes e está em cartaz no Belas Artes (14h20, 18h50, 21h10) e no Ponteio (18h50 e 21h). Classificação: 12 anos



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09 janeiro 2017

"La La Land" é o grande vencedor do Golden Globe Awards 2017

"La La Land" conquistou sete estatuetas do Golden Globe Awards 2017" (Fotos: Divulgação)

Maristela Bretas

Com uma cerimônia de mais de três horas de duração, "La La Land - Cantando Estações" foi o grande vencedor da noite do Golden Globe Awards 2017, da TNT, levando os principais prêmios. O filme, dirigido por Damien Chazelle e estrelado por Ryan Gosling e Emma Stone, conquistou sete estatuetas, entre elas a principal, Melhor Filme Musical ou Comédia, confirmando as indicações.

Sylvester Stalonne anunciou "Moonlight", dirigido por Barry Jenkins e produzido por Brad Pitt, como Melhor Filme de Drama. O suspense franco-alemão "Elle" conquistou dois importantes prêmios - Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz em Filme de Drama, para Isabelle Huppert.

Em séries, minisséries e filmes de TV, a vencedora foi "The Night Manager", com três estatuetas. "The Crown", "Atlanta" e "The People Vs O.J.Simpson American Crime Story"levaram duas cada.

Novamente o comediante Jimmy Fallon, do programa "The Tonight Show Starring Jimmy Fallon" foi o mestre de cerimônias, com o apoio de alguns dos candidatos aos prêmios e outras estrelas de Hollywood. 

Duas grandes atrizes que partiram na última semana, Carrie Fisher (a princesa Leia, da saga "Star Wars") e a mãe dela, Debbie Reynolds ("Cantando na Chuva") foram lembradas numa rápida e singela homenagem.

Viola Davis narrando um texto excelente afirmou que Meryl Streep, vencedora de três Oscar, foi sua inspiração. "Você me deixa orgulhosa de ser artista", foi uma das frases de homenagem à formidável e sensacional atriz. 

Em seguida foram exibidos alguns dos maiores sucessos de Meryl Streep, de 67 anos, que recebeu o prêmio "Cecil B. De Mille. Rouca, ela agradeceu à imprensa estrangeira, contou um pouco de seu passado e da origem de algumas das atrizes e atores estrangeiros presentes. E elogiou a presença e a importância deles no cinema. Falou de liberdade de imprensa, do privilégio de ser atriz e encerrou afirmando: "Pegue o seu coração partido e transforme em arte".

Os vencedores:

Melhor Filme de Drama - "Moonlight"
Melhor Atriz em Filme de Drama - Isabelle Huppert - "Elle"
Melhor Ator em Filme de Drama - Casey Affleck - "Manchester By The Sea"
Melhor Filme Musical ou Comédia - "La La Land"
Melhor Atriz em Filme Musical ou Comédia - Emma Stone - "La La Land"
Melhor Ator em Filme Musical ou Comédia - Ryan Gosling - "La La Land"
Melhor Longa de Animação - "Zootopia"
Melhor Filme Estrangeiro - "Elle" (França)


Melhor Atriz Coadjuvante = Viola Davis - "Fences"
Melhor Ator Coadjuvante - Aaron Taylor Johnson - "Animais Noturnos"
Melhor Diretor - Damien Chazelle - "La La Land"
Melhor Roteiro - Damien Chazelle - "La La Land"
Melhor Trilha Sonora Original - Justin Hurwits - "La La Land"
Melhor Canção Original - "City of Stars" - "La La Land"

Melhor Série de Drama - "The Crown"
Melhor Atriz em Série de Drama - Claire Foy - "The Crown"
Melhor Ator em Série de Drama - Billy Bob Thorton - "Goliath"
Melhor Série de Comédia ou Musical - "Atlanta"
Melhor Atriz em Série de Comédia ou musical - Tracee Ellis Ross - "Black-Ish"
Melhor Ator em Série de Comédia ou Musical - Donald Glover - "Atlanta"


Melhor Minissérie ou Filme para TV - "The People Vs O.J.Simpson American Crime Story"
Melhor Atriz em Minissérie ou Filme para TV - Sarah Paulson "The People Vs O.J.Simpson American Crime Story"
Melhor Ator em Minissérie ou Filme para TV - Tom Hiddleston  "The Night Manager"
Melhor Atriz Coadjuvante em Série, Minissérie ou Filme para TV - Olivia Colmann  "The Night Manager"
Melhor Ator Coadjuvante em Série, Minissérie ou Filme para TV - Hugh Laurie - "The Night Manager"