28 julho 2017

"Dunkirk", um filme de guerra grandioso e excepcional do início ao fim

Cenas de resgate dos soldados no mar durante os ataques impressionam pela qualidade dos efeitos visuais (Fotos: Warner Bros. Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


O roteiro é perfeito, uma direção impecável, uma fotografia que explora todos os ângulos das belas locações e efeitos visuais que fazem os cabelos do braço arrepiar. "Dunkirk" é tudo isso e ainda conta com direção, roteiro e produção do grande Christopher Nolan, num de seus melhores trabalhos. Responsável por sucessos como "Interestelar", "A Origem" e "Batman, o Cavaleiro das Trevas", o diretor usou e abusou do que havia de melhor em tecnologia e pessoal para contar nesta grandiosa produção uma história real passada na 2ª Guerra Mundial, quando quase 400 mil soldados ingleses e aliados ficaram cercados por tropas inimigas e foram salvos por civis.

A história se passa em 1940, na praia de Dunquerque (em inglês, Dunkirk), localizada no lado francês do Canal da Mancha, e mostra batalhas aéreas, em terra e no mar. Os heróis são pessoas comuns e jovens soldados e, em momento algum, o inimigo tem um rosto, todos são vítimas de uma guerra sangrenta. Jovens despreparados tentando voltar vivos para casa, aguardando o socorro chegar pelo mar, enfileirados  no píer da praia sem qualquer proteção. A cada tentativa de resgate, um ataque arrasador do inimigo só aumenta a angústia e o número de corpos na areia e nas águas.

Comandantes e soldados tentam sobreviver, mesmo que isso custe deixar outros para trás. O roteiro se preocupa em mostrar o ser humano envolvido no conflito, o soldado que não quer ou não pode desistir, a frieza com relação à morte e os traumas que a guerra deixa em cada um. Grandiosidade nas cenas sem esquecer que as pessoas são o principal da história.


"Dunkirk" é um filme que segue uma cronologia a partir dos pontos de vista de diversos personagens. Um ataque aéreo, por exemplo, é mostrado de diversos ângulos, de uma forma incrivelmente realista, sem seguir uma linha de tempo linear. A cena pode ser vista de dentro do cockpit do avião, ou acompanhada pelos ocupantes de um dos barcos de resgate, ou pelos soldados que estão na praia. No início, o espectador pode ficar um pouco confuso com esta forma escolhida para narrar os fatos, mas o roteiro foi muito bem amarrado por Nolan.


Para dar maior realismo, o diretor combinou a sofisticada tecnologia IMAX e filme 65mm, obtendo um resultado é excepcional. Fica difícil dizer quais cenas chamam mais atenção, as de combates aéreos ou os ataques aos navios e aos soldados no píer. "Dunkirk" é uma produção que vale a pena pagar mais caro o ingresso para assistir no formato IMAX. Confira este vídeo especial mostrando como foram as filmagens usando estas câmeras especiais:


E o realismo da produção surpreendeu até mesmo atores tarimbados como Mark Rylance, ganhador do Oscar em 2015 por  "A Ponte dos Espiões", e Kenneth Branagh, que tiveram a oportunidade de ver aviões de caça como o Supermarine Spitfire, da 2ª Guerra Mundial, no ar, em plena ação. Além deles, estão entre os conhecidos Tom Hardy e Cillian Murphy. O elenco jovem não fica em nada a dever para os veteranos.

Destaque para o estreante Fionn Whitehead, no papel do soldado inglês Tommy, que conduz a história. De olhar expressivo, consegue passar para o espectador o desespero dos jovens soldados como ele em voltar vivos para casa.  Também com boas atuações os atores britânicos Jack Lowden, Harry Styles, Aneurin Barnard e James d´Arcy como militares ingleses, além do irlandês Barry Keoghan.

"Dunkirk" conta a história da Batalha de Dunquerque durante a 2ª Guerra Mundial que durou dez dias, quando quase 400 mil soldados ingleses e aliados ficaram encurralados na praia pelos alemães, com o mar em suas costas. Enquanto aguardavam o resgate pela Marinha,  aviões de combate da Força Aérea Real Britânica tentavam proteger os navios e os soldados indefesos na praia dos ataques do inimigo. Sem poder contar com a frota inglesa no socorro, moradores ingleses se unem e saem em pequenas embarcações para uma desesperada ação de resgate, na tentativa de salvar o maior número possível de militares.

Tenso, envolvente do início ao fim e com uma ótima trilha sonora, "Dunkirk" é imperdível, um dos melhores filmes de guerra da última safra. Merece ser um dos indicados na disputa por várias categorias do Oscar 2018. Filmado em locações na França, Holanda, Reino Unido e Los Angeles, está em exibição em diversos cinemas da cidade nos formatos 2D e IMAX, nas versões dublada e legendada.



Ficha técnica:
Direção roteiro e produção: Christopher Nolan
Produção: Syncopy / Warner Bros. Pictures
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Duração: 1h47
Gêneros: Guerra / Histórico / Drama
Países: EUA / França / Reino Unido / Holanda
Classificação: 14 anos
Nota: 5 (0 a 5)

Tags: #Dunkirk,#DunkirkFilm, #Dunquerque, #França, #GraBretanha, #ChristopherNolan, #Kenneth Branagh, #Mark Rylance, #Tom Hardy, #Fionn Whitehead, #Cillian Murphy, #guerra, #drama, #ação, #EspaçoZ, #Imax, #Cineart, #CanaldaManch, #WarnerBrosPictures, #CinemanoEscurinho

26 julho 2017

"De Canção em Canção" explora a alma humana com música e drama

Trama reúne Ryan Gosling e Rooney Mara como compositores e Michael Fassbender como o produtor musical da dupla (Fotos: Metropolitan FilmExport /Divulgação)

Jean Piter


Terrence Malick tem fama de fazer filmes sem sentido, meio loucos, e um tanto cansativos, monótonos. Do tipo que você vê, quando acha que está entendendo algo, muda tudo e parece que volta à estaca zero. Como “Arvore da Vida” (2011) e “Cavaleiro de Copas” (2015). Música instrumental quase constante, ângulos incomuns de enquadramento de filmagem, câmeras em movimento, cortes bruscos, frases soltas, diálogos curtos, e atemporalidade. Personagens que não chegam a serem apresentados, crises existenciais, filosofia, sentimentos, caos, calmaria, silêncio e banalidades. São muitos os ingredientes das obras complexas do diretor norte-americano. Mas há quem ame (e muito) esse formato tão singular de produção.

Toda essa peculiaridade pode ser vista no novo longa de Malick, “De Canção em Canção” ("Song to Song"), em exibição nos cinemas. O filme se passa em Austin, capital do Estado norte-americano do Texas. A trama traz os compositores BV (Ryan Gosling) e Faye (Rooney Mara) buscando um lugar ao sol. Quem abre as portas desse mundo para eles é Cook (Michael Fassbender), um magnata da música, o cara dos bastidores que faz as coisas acontecerem, que dá brilho às estrelas. Os três desenvolvem uma relação profissional e de amizade ao mesmo tempo, mas os conflitos chegam uma hora ou outra. Ainda mais quando a garçonete Rhonda (Natalie Portman) entra na história.

Estética

Assim como nas outras obras de Malick, "De Canção em Canção" tem diálogos incompletos, alguns bem despretensiosos. Expressões provocativas que, sozinhas, podem se tornar frases de efeito, como “qualquer experiência é melhor que nenhuma”. A câmera acompanhando o andar dos personagens, às vezes pelas costas, por outras de lado. A mudança constante de cenários, em cenas curtas. A música que começa em um instante e segue nos minutos seguintes, provocando um estranhamento, já que nem sempre se encaixam no ritmo dos acontecimentos. Há uma linha cronológica em andamento e, ainda sim, futuro e passado atravessam a narrativa sem o menor aviso prévio.

E nisso vem a relação de família, a amizade, e as paixões. O trabalho, a aceitação, a lealdade, o amor e as promessas. Loucuras, luxúria, ostentação e confissões contidas em pensamentos que a pessoa só diz a si mesma. Há questionamentos, arrependimento, dor, brincadeira de criança, decepção e vida que segue. É como se Malick tentasse traduzir toda complexidade da alma em imagens. Imagens que estão ali, tão nítidas, e que ainda assim a gente não consegue compreender. Como uma bela pintura expressionista, ou uma carta escrita em sumério. Há apenas uma sensação de encantamento, rara e difícil de descrever.

Atuações

Gosling é músico na vida real e se sente muito à vontade no filme. Rooney fala em silêncio, só com olhares e sorrisos. Os dois sobressaem, principalmente quando contracenam. Fassbender faz mais uma grande atuação de sua carreira. Natalie Portman aparece menos, mas não passa despercebida. Atua com precisão. O longa ainda se dá ao luxo de ter Cate Blanchett, Holly Hunter, Val Kilmer e a belíssima Bérénice Marlohe como coadjuvantes. Os músicos Patti Smith, Iggy Pop e Lykke Li também estão no elenco, assim como a banda Red Hot Chili Peppers e Johnny Rotten, vocalista do Sex Pistols, o que traz bastante realismo para a ambientação. E pra fazer jus ao título, a trilha sonora é muito bem acertada.

Sim ou não

O lado negativo do longa é a duração. Duas horas deixam a história entediante. Dá a impressão de que muita coisa poderia ficar de fora. Isso acontece em todo filme de Malick, é quase uma marca registrada. O ponto alto fica por conta da fotografia. Imagens com pouca cor, raios de sol bem capturados, em cenários lindíssimos. Mostra a beleza da cidade de Austin como nunca vista antes no cinema: casas luxuosas, cursos d’água, luzes, arranha-céus, e muita gente bonita. Há também passagens pelo México, não menos impressionantes. A soma de tudo isso é como um drink de Campari: lindo de se ver, difícil de descer. Ou você adora ou você odeia. Eu amei.



Ficha técnica:
Direção: Terrence Malick
Produção: FilmNation Entertainment / Waypoint Entertainment
Distribuição: Supo Mungam Films
Duração: 2h09
Gêneros: Drama / Romance / Musical
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 4 (0 a 5)

Tags: #DeCancaoemCancao, #SongtoSong ,#TerrenceMalick, #RyanGosling #RooneyMara, #NataliePortman, #MichaelFassbender, #CateBlanchett, #ValKilmer, #BéréniceMarlohe, #RedHotChiliPeppers  #SexPistols #drama, #romance, #musical, #SupoMungamFilms, #CinemanoEscurinho