10 janeiro 2019

"Homem-Aranha no Aranhaverso" é animação imperdível do herói dos quadrinhos

Super-herói Marvel vai contar com a ajuda de outros como ele, vindos de dimensões paralelas, para combater o crime em Nova York (Fotos: Sony Pictures Entertainment)

Maristela Bretas


Depois de laçar a estatueta de Melhor Filme de Animação do Globo de Ouro 2019, "Homem-Aranha no Aranhaverso" ("Spider-Man: Into the Spider-Verse") solta sua teia a partir desta quinta-feira nos cinemas brasileiros com a promessa de prender o público que curte uma super história em quadrinhos. A produção da Marvel Studios com distribuição da Sony Pictures também está disputa outros prêmios importantes de Hollywood, inclusive o Oscar deste ano na categoria.



A história do jovem que adquire superpoderes após ser picado por uma aranha geneticamente modificada já é conhecida por todos. Mas agora ganha as telas com outras roupagens. A começar pela escolha de um jovem negro do Brooklin para vestir a fantasia azul e vermelha do herói que circula pela cidade combatendo o crime pendurado numa teia. Uma escolha politicamente correta e excelente.


Miles Morales é um garoto simpático, que conquista o público de imediato por ser um fã do Homem-Aranha como muitos de nós. Para ele, Peter Parker, agora já conhecido por todos como o aracnídeo do bem, é seu modelo de super-herói. O adolescente admira a forma como ele combate o crime na cidade e atrai seguidores por onde passa. Até que o Homem-Aranha é dado como morto e a criminalidade toma conta de Nova York.


A população agora precisa de um novo protetor. Miles só não esperava que fosse ele, inspirado no legado de Parker e vivendo a mesma situação - ser picado por uma aranha e adquirir poderes. Ao visitar o túmulo de seu ídolo em uma noite chuvosa, o jovem é surpreendido com a presença do próprio Parker, vestindo o traje do herói coberto por um sobretudo. Vindo de uma dimensão paralela, ele será o mentor de Miles para que se torne o novo "amigo da vizinhança". 

Se o garoto já está vibrando com a chance de lutar ao lado de seu herói, imagina com outras quatro versões, vindas de universos diferentes. Todos eles precisarão se unir para vencer Wilson Fisk - O Rei do Crime - e seus parceiros: Dra. Octopus, Duende Verde e Scorpion. Só depois poderão retornar a seus mundos.


"Homem-Aranha no Aranhaverso" é ótimo, tem muita cor, ação, aventura e diálogos engraçados, com direito a "balões" de pensamentos dos personagens, como nas HQs. Este é inclusive um dos grandes diferenciais desta produção, que mescla computação gráfica e traços clássicos do formato 2D. Merece cada prêmio que faturar neste ano na categoria de Filme de Animação, apesar da forte concorrência com "Os Incríveis 2", outra excelente produção que arrasou bilheterias.


Os diretores de "Aranhaverso" também se preocuparam em passar boas mensagens, o que coloca o filme também no gênero família. Além de precisar aprender o mais rápido possível como se tornar um herói, Miles Morales também vive os dramas da adolescência, o bullying na escola, a família que o trata como criança, o pai policial amoroso, mas que não aceita a presença de um Homem-Aranha fazendo a segurança da cidade, e o tio boa-praça mas ligado à criminalidade.


A Marvel também mostra nesta produção uma preocupação com a inclusão ao inserir um jovem negro no papel de um de seus mais icônicos super-heróis. E de imediato ele conquista o público por sua simplicidade e simpatia. A desmistificação continua com a escolha dos personagens das demais versões - Gwen Stacy é a Mulher-Aranha, Homem-Aranha Noir, o Porco-Aranha e Peni Parker, uma menina que parece ter saído de um anime e que tem um robozinho como parceiro.


Na versão legendada um grande atrativo é o elenco de peso que fez a dublagem: Jake Johnson ("Te Peguei! - 2018), como Peter Parker/Homem-Aranha, Mahershala Ali (prêmio de Melhor Ator Coadjuvante no Globo de Ouro 2019 pelo filme "Green Book: O Guia", que estreia neste mês) como o tio Aaron, Shameik Moore (Miles Morales), Hailee Steinfeld (de "Bumblebee" - 2018), como Gwen Stacy, Nicholas Cage (Homem-Aranha Noir), Lily Tomlin (tia May), John Mulaney (Porco-Aranha), Liev Schreiber (Rei do Crime) e Chris Pine, como o Homem-Aranha idolatrado por Morales.


Stan Lee, que junto com Steve Ditko criou os quadrinhos dos super-heróis da Marvel, recebeu uma participação ainda maior que nos filmes, mantendo o humor, mas passando uma boa mensagem ao jovem Miles. "Homem-Aranha no Aranhaverso" é uma animação imperdível, ideal para assistir com um baldão de pipoca no colo e um copo grande de refrigerante.


Ficha técnica:
Direção: Bob Persichetti / Peter Ramsey / Rodney Rothman
Produção: Sony Pictures Animation / Marvel Animation /Columbia Pictures
Distribuição: Sony Pictures
Duração: 1h57
Gêneros: Animação / Ação / Família
País: EUA
Classificação: 10 anos
Nota: 4,5 (0 a 5)

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08 janeiro 2019

Inusitado e belo, "O Confeiteiro" trata da complexa alma humana

Thomas é um alemão de poucas palavras que confecciona e confeita biscoitos e bolos com um toque de sensualidade (Fotos: Karma Films/Distribuição)

Mirtes Helena Scalioni


Instigante. Talvez seja esse o adjetivo que mais resuma "O Confeiteiro" ("The Cakemaker"), produção a partir de uma inusitada parceria entre Alemanha e Israel. Quase tudo no filme, aliás, é inusitado e surpreendentemente bonito. Porque é com uma boa dose de beleza que o diretor conta a estranha história do confeiteiro alemão Thomas que, após a morte do seu amante judeu Oren, viaja para Jerusalém em busca da família e dos traços do seu amor.

Primeiro longa do israelense Ofir Raul Graizer - que também escreveu o roteiro - o filme começa com as atividades de Thomas (Tim Kalkhof) na Confeitaria Kredenz em Berlim. Mão na massa, ele confecciona, confeita e atende aos fregueses com poucas palavras. Os closes nos biscoitos e pedaços de tortas são, desde o início, um convite aos sentidos e, de certa forma, à sensualidade. 


É nesse cenário que ele conhece e se apaixona por um cliente judeu, Oren (Roy Miller), que faz trabalhos periódicos na Alemanha, o que permite aos dois manter e alimentar o amor por mais de um ano, até que Oren morre de acidente e some. O que faz então o confeiteiro apaixonado e cheio de dores com a ausência do seu amor? Inusitadamente, viaja para Jerusalém como se quisesse compartilhar o luto com a esposa de Oren, Anat (Sarah Adler) e sua família. 

Como se não bastasse, consegue uma vaga no café da viúva que, a princípio, mantém seu negócio dentro da rígida orientação kosher - uma série de normas de preparo e manutenção de alimentos segundo preceitos do judaísmo. Também inusitadamente, Thomas acaba se envolvendo com ela. 

Há um toque precioso em "O Confeiteiro": os silêncios. Como Thomas é discreto e fala pouquíssimo, além de não saber se comunicar no idioma judaico, os olhares tendem a ser, em alguns momentos, disseminadores de dúvidas e, em outros, reveladores de intenções e desejos. 

É preciso ressaltar também a lentidão - necessária - com que o filme é levado, para que o espectador possa desfazer, paulatinamente, os nós criados na trama. É também com muita delicadeza que o diretor trata de tema tão complexo. A complexidade do ser humano, aliás, é o que mais realça e faz pensar no filme. Não importa de que nacionalidade a gente seja ou que religião professamos. Somos todos únicos e surpreendentes. "O Confeiteiro" está em cartaz na sala 2 do Belas, sessões às 16h30 e 21h20. 
Duração: 1h45
Classificação: 14 anos
Distribuição: Imovision


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