26 novembro 2018

Diretor usa experiência para falar de adoção em "De Repente Uma Família"

Da lua de mel dos primeiros dias aos tormentos de uma adaptação, filme é inspirado na história do diretor Sean Anders (Fotos: Paramount Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Mark Wahlberg adota a postura de paizão e se une à ótima Rose Byrne para formarem o simpático casal que não pode ter filhos (faltar explicar por que) e resolve adotar uma criança. E a nova empreitada resulta em "De Repente, Uma Família" ("Instant Family"), uma comédia leve, com muitas alegrias, raivas, decepções, recheada de bons e não tão bons momentos. E o melhor, a história é real, baseada na vida do diretor Sean Anders (também roteirista e produtor), que resolveu com sua mulher Beth adotar uma família.

Em vídeo inédito, diretor Sean Anders apresenta a inspiração para o filme. Ele conta que os momentos mais delicados serviram de inspiração para o longa. “Passamos por momentos muito difíceis com as crianças se adaptando a nós e vice-versa. Não só nos adaptando a eles, mas também a sermos pais porque fomos do zero para três crianças de um dia para o outro. Quando comecei a pensar sobre fazer o filme, eu queria que fosse o mais parecido possível com a nossa história, mas também que retratasse diversas outras famílias, principalmente as que adotaram meninas adolescentes”, revela. Confira.

Mark Wahlberg divide a produção com Andres e vem se saindo melhor nesta linha de comédia do que em alguns filmes de ação. Na trama ele é Pete, casado com Ellie (Rose Byrne), e após várias tentativas, eles decidem entrar para o grupo mais diferenciado de casais que estão tentando a adoção. Rose Byrne é o destaque e está muito engraçada, principalmente quando parece que vai surtar com as crianças, e ao mesmo tempo morre de ciúmes por Pete ser chamado primeiro de pai do que ela de mãe pelas crianças. 

O grupo é coordenado pela divertida dupla Octavia Spencer e Tig Notaro, que não entra num acordo sobre a forma como o assunto adoção deve ser explicado aos futuros pais e que nem tudo é um mar de rosas. Pete e Ellie estão decididos e numa "feira" de criança (parece com aquelas feiras de adoção de animais), eles vão tentar achar a filha ou o filho perfeito para eles.


Num encontro pouco amistoso o jovem casal conhece e se encanta por Lizzie (Isabela Moner), uma adolescente de temperamento e que traz com ela os dois irmãos mais novos. Pete e Ellie agora precisam decidir se abandonam a adoção de Lizzie ou ficam com toda a família, retirada da mãe usuária de drogas. A atriz/cantora Isabela Moner, que interpreta muito bem a rebelde Lizzie, gravou uma das músicas da trilha sonora, a bela "I'll Stay", que pode ser conferida clicando aqui.

E esses três estranhos vão virar a rotina do casal de cabeça para baixo e fazer inclusive que seus pais e irmãos revejam seus conceitos sobre adoção, especialmente de crianças estrangeiras. Sean Anders não escondeu as dificuldades da adoção, mas trata sua história de maneira divertida com momentos dramáticos, como uma grande lição de vida. Além da experiência dele, também mostrou as expectativas dos demais casais do grupo - a grande diferença entre o que idealizavam e como acabaram sendo conquistados por modelos completamente diferentes de suas expectativas. 


"De Repente Uma Família" é leve, gostoso de assistir e emocionante ao focar no drama das crianças e adolescentes órfãos ou retiradas de seus pais e colocadas em instituições à espera de um lar e amor. Da comida que brigam para não comer, o medo constante de ser rejeitado ou a espera de voltar um dia para a mãe, Pete, Ellie e as crianças vivem um dia após o outro. 

E mesmo quando o casal pensa em desistir de tudo, que não aguenta mais tantos problemas e acusações de descaso por mais que façam o melhor para os irmãos, percebe que não consegue mais ficar longe daquela família.



Ficha técnica:
Direção, roteiro e produção: Sean Anders
Produção: Paramount Pictures
Distribuição: Paramount Pictures
Duração: 1h57
Gêneros: Drama / Comédia
País: EUA
Classificação: 10 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

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22 novembro 2018

"Infiltrado na Klan" escancara a hipocrisia do racismo norte-americano

John David Washington é o policial negro  que inicia uma investigação com o colega Adam Driver contra uma das maiores seitas racista dos EUA (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Três grandes nomes do cinema atual - Spike Lee, Jordan Peele e Jason Blum - se uniram para produzir e entregar um dos melhores policiais do ano - "Infiltrado na Klan" ("Blackklansman"), um filme que bate sem dó na questão do racismo, cada vez mais forte nos Estados Unidos. Baseado no livro escrito por Ron Stallworth, o policial que desmascarou um dos maiores grupos racistas norte-americanos, a Ku Klus Klan, o longa revela que de Norte a Sul do país, a perseguição racial vem se tornando mais séria a cada dia.

Assim como em "Rodney King" (produção para a Netflix de 2017), Spike Lee tem procurado mostrar em seus filmes esta questão racial, que fez despertar também os movimentos de oposição promovidos por aqueles que sofrem ao longo dos anos. Apesar de ser um assunto sério, o diretor consegue mesclar no filme bons momentos cômicos para mostrar que o preconceito além de hediondo é burro e comandado por pessoas cujo ego fala mais alto que a razão.

"Infiltrado na Klan" começa sua história em 1978, quando Ron Stallworth (John David Washington) resolve se tornar o primeiro policial negro de uma pequena cidade no Colorado, no Centro-Oeste dos EUA, onde a Ku Klus Klan exerce uma grande influência. Com direito a cabelo black power e um estilo cheio de ginga, ele ainda acredita que o racismo na corporação não existe, mas aos poucos vai descobrindo outra realidade. E decide lutar contra isso, expondo os maiores responsáveis - os seguidores da seita - e precisará contar com ajuda do colega policial e judeu Flip Zimmerman (Adam Driver) para desmarcar o grupo.

Por meio de ligações telefônicas e cartas, Ron consegue se infiltrar na KKK, mas é Flip quem aparece nas reuniões. Toda a investigação dura meses, até Ron ocupar uma das lideranças da seita e receber como missão sabotar movimentos negros que começavam a se impor contra o preconceito e promover linchamentos e outros crimes de ódio dos racistas.

O personagem de John David Washington (que está excelente) vai ganhando força ao longo do filme, articulando toda a trama e envolvendo facilmente os integrantes da Klan com sua conversa bem articulada e culta para conseguir chegar ao líder supremo do movimento. Afinal, para os racistas, "negro não sabe falar, só usa gíria", o que torna mais fácil para Ron enganar seus inimigos.

Já Adam Driver faz a parte dos judeus, também alvo dos racistas, e seu personagem Flip vai descobrindo aos poucos a importância de suas origens a partir do momento que começa a se envolver com a seita e perceber que por ser judeu é tão discriminado quanto pessoas de outras raças e etnias.

Todo o elenco está excelente e conta ainda com Topher Grace, como David Duke, líder supremo da KKK; Ryan Eggold, um dos seguidores; Laura Harrier, a militante negra Patrice Dumas; Jasper Pääkkonen, Ashilie Atkinson como o casal racista também integrante da seita.

"Infiltrado na Klan" também apresenta grandes figuras negras norte-americanas como Angela Davis (apenas citada), que foi fonte de inspiração para várias jovens, incluindo Patrice Dumas, na forma de pensar, de se vestir e no corte de cabelo. Corey Hawkins e Harry Belafonte interpretam os líderes negros Kwane Ture e Jerome Turner, respectivamente, que atraíram milhares de seguidores pelo país.

O filme revela ainda como é grande a hipocrisia do sistema na questão racial que, mesmo a seita tendo sido desmascarada, ela não perdeu força e ganhou novos seguidores ao longo dos anos, garantindo espaço inclusive em importantes cargos no governo. A forma como Spike Lee foi contando a trajetória do racismo norte-americano, usando até mesmo cenas de "E o vento levou" para ilustrar a Guerra de Secessão (Guerra Civil nos EUA entre os estados do Sul e do Norte, entre os anos de 1861 e 1865) até chegar às imagens dos conflitos raciais ocorridos neste ano, é um diferencial. 

Um soco no estômago e também uma aula de história sob o ponto de vista daqueles que têm sofrido ao longo dos anos com o preconceito, em especial os negros, mas que souberam impor sua força e sua voz. Roteiro, direção, figurinos, reconstituição de época e trilha sonora estão impecáveis, mas acima de tudo "Infiltrado na Klan" é um filme excelente, realista, atual, que questiona e critica duramente o atual governo norte-americano. Um dos melhores filmes de Spike Lee. Recomendadíssimo.



Ficha técnica:
Direção e roteiro: Spike Lee
Produção: Blumhouse Productions / Focus Feature
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 2h16
Gêneros: Policial / Biografia
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 5 (0 a 5)

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