15 outubro 2016

Jason Statham repete o estilo ação com tiro, porrada e bomba em filme fraco

"Assassino a Preço Fixo 2 - A Ressurreição" é cheio de clichês e cenas absurdas amenizadas por belas paisagens (Fotos: Paris Filmes/Divulgação)

Maristela Bretas


Fica a dúvida se Jason Statham não se cansa em interpretar o mesmo tipo de personagem, mesmo quando ele é o vilão. De pouca fala e sorrisos escassos, ele é aquele que bate muito e apanha às vezes, mata seus alvos como se estivesse comprando cigarro na esquina, tem pontaria certeira mas quase nunca é atingido pelas balas do inimigo e ainda "pega" belas mocinhas. Pensando bem, vida de superagente, mas sem a elegância e o charme de James Bond.

Isso importa pouco. Afinal, Statham tem um público fiel que vai ao cinema para ver exatamente tiro, porrada e bomba. E ele entrega o que é esperado em "Assassino a Preço Fixo 2 - A Ressurreição" ("Mechanic: Resurrection"). Esta continuação  da produção de 2011 tem mocinho assassino, vilão assassino, mocinha ex-agente, bandido quase bonzinho e final esperado. Nada de novo mas ninguém vai poder reclamar de pouca ação. Tem de sobra, do início ao fim.

Mas o filme é mais fraco que o primeiro, cheio de clichês e cenas absurdas, que são amenizadas, algumas vezes, pelas belas paisagens onde foi rodado - do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, a uma praia paradisíaca na Tailândia. Além de Jason Statham, o elenco principal conta ainda com Jessica Alba como a mocinha, Tommy Lee Jones, fazendo Max Adams, o chefão de uma quadrilha com visual que não tem nada a ver com ele e Sam Hazeldin como o vilão pouco convincente Riah Crain.

"Assassino a Preço Fixo 2 - A Ressurreição" tem início no Rio de Janeiro (com belas imagens de Copacabana e do Pão de Açúcar), onde Arthur Bishop (Statham) vive escondido há cinco meses. Mas o matador é descoberto por Riah Crain, um velho conhecido da época em que viveu no orfanato. Ele envia seus homens atrás de Bishop para convencê-lo a retornar à vida de assassino. Crain quer que ele elimine três pessoas que atrapalham bastante seus negócios. E exige que as mortes pareçam ser acidentais.

Bishop não aceita e consegue escapar dos capangas de Crain. Ele se esconde na Tailândia, onde conhece Gina (Jessica Alba), uma ex-agente que dá aulas para crianças cambojanas. Mas é novamente descoberto e Gina levada pelos bandidos, Agora Bishop tem apenas 36 horas para eliminar em vários pontos da terra os três alvos e salvar a mocinha. Produção para quem gosta muito dos filmes de Statham.




Ficha técnica:
Direção: Dennis Gansel
Produção: Millennium Films
Distribuição: Paris Filmes
Duração: 1h39
Gênero: Ação
Países: França / EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 2 (0 a 5)

Tags: #assassinoaprecofixo2, #Mechanic, #JasonStatham, #JessicaAlba, #TommyLeeJones, #ação, #ParisFilmes, #CinemanoEscurinho

11 outubro 2016

"Kóblic" traz mensagem atemporal

Filme conta o ótimo ator Ricardo Darín como um piloto das forças armadas argentinas no período da ditadura (Fotos: DeaPlaneta/Divulgação)

Patrícia Cassese


Há acontecimentos históricos que, olhados à distância, mesmo que o avanço temporal não seja tão significativo assim, não raro parecem pertencer à prateleira da ficção, tão inacreditáveis que são. Os voos da morte, um dos episódios mais absurdos - não há outra palavra -  das ditaduras implantadas no continente sul-americano, certamente pertencem a essa categoria.


E é essa prática que vem à tona em "Kóblic", filme argentino de Sebastián Borensztein que estreia nesta quinta-feira na cidade com Ricardo Darín no elenco. Produções cinematográficas do nosso país vizinho que se debruçam sobre essas "páginas infelizes da nossa história" têm sido (compreensivelmente) comuns. E pertinentes, posto que servem de alerta em tempos turbulentos, nos quais muitas vezes a razão passa para um perigoso segundo plano.

Mas é necessário frisar que o pano histórico de "Kóblic" pode ser facilmente descolado do subtexto que sublinha a narrativa. Afinal, o dilema que o personagem homônimo enfrenta é totalmente atemporal: até quando devemos dar a primazia à nossa integridade ética, moral; aos nossos princípios, quando o mundo ao redor clama pela nossa capitulação e pela adesão ao time por hora vencedor no placar? Neste ponto, o impasse no qual o piloto das forças armadas se vê pode ser aplicado a um sem número de situações - inclusive cotidianas.


Ao filme, pois - ressaltando que a compreensão gradativa da situação do personagem é atrelada, pelo diretor, à inteligência do espectador, sem que nada soe como um didatismo forçado. O personagem, um piloto das forças armadas que não teve alternativa se não conduzir um avião sobre o Rio da Prata, assistindo, estupefato, à execução do propósito de um voo da morte, tenta se refugiar no interior do país para não se coadunar com algo que violenta de forma tão acintosa suas diretrizes morais.


A vida no campo, porém, não será das mais fáceis. Contratado para supostamente pulverizar inseticida nas plantações de um fazendeiro, Tomás Kóblic logo desperta a curiosidade dos locais, que passam a  suspeitar da presença do misterioso recém-chegado. Para piorar as coisas, Kóblic acaba se envolvendo com Nancy (Inma Cuesta), uma bela mulher que toca a pequena venda e o posto de combustíveis pertencentes ao seu companheiro, um homem tosco e violento, cujo sentimento de posse pela garota (que, vamos combinar, é a cara da atriz Marieta Severo mais jovem) será devidamente explicado no desenrolar da história.



Confrontado com seu passado recentíssimo, Kóblic tem que tomar uma decisão difícil - ou melhor, várias decisões árduas e intrincadas. Para norteá-lo, contará com um pequeno objeto herdado de seu pai - objetivamente inútil para a situação na qual se encontra, mas ideologicamente carregado de significados. No fundo, o que está em cena - e repetindo o que já foi dito no início desta resenha - é o quão devemos nos opor- e até estoicamente - ao que não nos faz o menor sentido, mesmo que  a luta pareça já estar previamente vencida. Uma luta moral, enfim. Classificação: 14 anos



Tags: #koblic, #RicardoDarin, #UnmaCuesta, #OscarMartinez, #suspense, #histórico, #ditadura, #Argentina, #policial, #SebastianBorensztein, #ParisFilmes, #CinemanoEscurinho

10 outubro 2016

"12 Horas para Sobreviver" é tendenciosamente político

"12 Horas para Sobreviver - O Ano da Eleição" é o mais fraco da franquia e explora campanha nos EUA (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)


Maristela Bretas


Poderia ser mais um filme de terror da franquia "Uma Noite de Crime" ("The Purge"), mas "12 Horas para Sobreviver - O Ano da Eleição" ("The Purge: Election Year") é um filme que explora claramente a campanha política deste ano nos Estados Unidos, sem a preocupação de ser totalmente a favor da candidata Hillary Clinton, aqui representada por Elizabeth Mitchell, que faz a senadora Charlie Rowan.

Na disputa com ela à presidência dos EUA foi colocado um pastor com o dom da palavra, papel de Kyle Secor, que explora todos os chavões e símbolos religiosos para justificar a noite de matança (ou expurgo, como eles preferem chamar) que acontece uma vez por ano.

A violência é a mesma dos filmes anteriores, em menor escala para dar mais ênfase à questão política. Enquanto a senadora Charlene é colocada como a defensora dos imigrantes, negros e mulheres, seu opositor quer acabar com todos eles e deixar o país livre do que ele e seu grupo de elite consideram como escória da sociedade.

Para isso, usam facções neonazistas e incentivam a violência das gangues, sem precisarem sujar suas mãos. Eles que se matem, ajuda a resolver a superpopulação, como deixam bem claros.  entre cabeças cortadas, tiros, serras elétricas e um bando de loucos psicopatas atacando pessoas por todo o país, com o aval do governo, claro sempre surgem aqueles contrários à Noite do Expurgo, como a senadora boazinha, que faz deste lema sua campanha.

Na história, o comerciante negro Joe Dixon, o ajudante dele, o latino Marcos, uma ex-integrante de gangue vão tentar sobreviver à terrível noite. Seus caminhos acabam cruzando com o da senadora e seu guarda costas, que está tentando escapar de ser assassinada por apoiadores de seu adversário que vão usar a Noite do Expurgo para encobrir o crime e tirá-la da disputa.

O elenco é esforçado, mas pouco conhecido, sem nomes de peso para atrair público, o que ajuda a ser menos interessante. Isso sem contar o infindável uso de chavões, clichês e símbolos nacionalistas, com direito a bandeira dos EUA tremulando no mastro ao final. Bem ao estilo de Michael Bay, que é um dos produtores.

"12 Horas para Sobreviver - O Ano da Eleição" pode frustrar   quem gosta do gênero suspense e terror - ele fica muito a dever. Ele está mais para um filme de ação (muita ação). É o mais fraco de todos da franquia.



Ficha técnica:
Direção e roteiro: James Del Monaco
Produção: Universal Pictures / Brumhouse Productions / Platinum Dunes
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 1h49
Gêneros: Terror / Suspense / Ação
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 2,5 (0 a 5)

Tags: #12horasparasobreviveroanodaeleicao, #thepurge, #expurgo, #suspense, terror, #ação, #UniversalPictures, #CinemanoEscurinho

08 outubro 2016

Uma picante, sarcástica e pornográfica "Festa da Salsicha" imprópria para menores

Animação pode não agradar ao público mais conservador, mas provoca boas risadas (Fotos: Sony Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Seth Rogen, Jonah Hill e Evan Goldberg ("É o Fim" e "Vizinhos") devem ter fumado uma tora de maconha e cheirado um quilo de sais de banho (só vendo o filme para entender) quando tiveram a ideia de criar a louca e pornográfica animação "Festa da Salsicha" ("Sausage Party"). Eles também são roteiristas e dubladores e mantêm o estilo de diálogos provocantes e desbocados de outros de seus filmes, realçando o consumo de drogas até chegar a uma "suruba" de alimentos.

Se a versão original já conta com os três criadores da ideia original, roteiristas e atores, especialistas em comédias críticas para chocar o público, a parceria da Sony Pictures com o pessoal do Porta dos Fundos só aumentou o grau de insanidade da produção. 

Engraçada, picante e de humor ácido, "Festa da Salsicha" pode não agradar ao público mais conservador, mas provoca boas risadas com seus diálogos provocativos (em todos os sentidos), bem sarcásticos e politicamente incorretos, que não se perdem na adaptação brasileira.

No Brasil, a dublagem ficou por conta de Gregorio Duvivier (Barry), João Vicente de Castro (Tequila), Antonio Tabet (Chiclete), Fábio Porchat (Twinks) e Thati Lopes (Camille), além do dublador profissional Guilherme Briggs, como Frank, cuja voz original é de Seth Rogen. 

Além de Hogen e Hill (Carl), outros famosos emprestam suas vozes aos personagens como Kristen Wiig (Brenda), Bill Hader (Tequila), Michael Cera (Barry), James Franco (Torrada), Salma Hayek (Tereza del Taco), Paul Rudd, (Nick Da Vinci), Nick Kroll (Ducha higiênica), Edward Norton (Bagel), Danny McBride (Mostarda com mel) e muitos outros. Também os diretores entraram na brincadeira e colocaram suas vozes em personagens variados: Conrad Vernon é Twinks e Greg Tiernan a batata sacrificada.

Apesar da historinha que começa em uma linda manhã no supermercado, com alimentos cantando uma música bobinha de incentivo aos alimentos, os diálogos da animação vão tomando um rumo que chegam a exagerar de tantos palavrões e ofensas.

Os humanos são vistos pelos alimentos como deuses e ser escolhido por um deles é o caminho para o paraíso. O que não suspeitam é que serão cortados, ralados, cozidos e devorados quando chegarem a suas casas. 

Quando Frank, uma salsicha, descobre a terrível verdade, precisa convencer os outros alimentos do supermercado e fazer com que eles lutem contra os humanos.

Vá ao cinema preparado para ver um filme que faz uma crítica geral a questões polêmicas da sociedade, como religião, diversidade sexual, fanatismo, bullying, drogas, sexo, tudo de forma bem escrachada, que provoca boas risadas e um surpreendente final, bem de acordo com o que foi abordado em todo o filme.



Ficha técnica:
Direção: Conrad Vernon e Greg Tiernan
Produção: Columbia Pictures /-Annapurna Pictures / Point Grey
Distribuição: Sony Pictures
Duração: 1h20
Gêneros: Comédia / Animação
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 3 (0 a 5)

Tags: #festadasalsicha, #PortadosFundos, #pornografia, #drogas, #SethRogen, #JonahHil, #salsicha, #animação, #comédia, #SonyPictures, #CinemanoEscurinho

07 outubro 2016

"O Bebê de Bridget Jones" segue o divertido estilo britânico de fazer comédia

Comédia romântica tem o trio amoroso formado por Renée Zellweger, Patrick Dempsey e Colin Firth (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


O que deveria ser o último filme da personagem Bridget Jones acabou se tornando uma chamada para uma provável quarta produção, que vai ter trabalho para superar "O Bebê de Bridget Jones" ("Bridget Jones's Baby"), tão bom ou até melhor que o primeiro, de 2001. A diretora Sharon Maguire acertou novamente a mão no humor e Renée Zellweger é a personificação de Bridget Jones. Impossível imaginar a personagem sendo interpretada por outra atriz. Diretora e atriz estão juntas, como no primeiro filme, e a química funcionou muito bem.

O que muda no novo filme é a saída do britânico Hugh Grant, que dá lugar ao charmoso americano Patrick Dempsey (o único no elenco principal), no papel de Jack Qwant. Ele irá disputar o amor de Bridget com o "ficante" que nunca assume nada Mark Darcy, interpretado por Colin Firth. Dempsey entra de sola na briga, bem ao estilo príncipe Charmain, com direito a flores, bota que serve no pé da não tão donzela, no lugar do sapatinho de cristal, e até carrega a moça no colo.

Jack é o oposto de Mark, advogado tipicamente britânico, de modos comedidos, que nunca fala sobre seu amor sempre enrustido por Bridget. E acaba sempre perdendo a amada para o primeiro boa pinta que aparece, como aconteceu nos filmes anteriores. Apesar de tudo indicar que ele iria ficar com Bridget, os dois acabam se separando, o que adia os planos da solteirona de realizar seu sonho de "felizes para sempre".

Agora, aos 40 anos, a personagem já atingiu sua independência profissional, tem novos e velhos amigos - o trio que a acompanha desde o primeiro filme. Mas estes seguiram suas vidas e conquistaram seus pares. Novamente solteirona, ela se vê comemorando sozinha o aniversário apenas com um bolo e ao som de "All By Myself". E resolve partir para o "vamo vê" e cai na farra, ficando com quem ama e com quem lhe interessa.

O que a solteirona não esperava era que o resultado de ficar com dois em um curto espaço de tempo iria acabar em gravidez. E o pior, sem saber quem é o pai - Jack ou Mark. A trama se passa toda em cima deste dilema, com os dois inicialmente sem saber um do outro e depois disputando o amor, a atenção e a paternidade da criança. As cenas mais engraçadas são as consultas com a ginecologista, a não menos divertida Emma Thompson, que também é uma das roteiristas do filme. Ela dá o toque especial ao "estado delicado" da situação.

Mas a grande estrela, como não poderia deixar de ser, é Renée Zellweger, que está ainda mais hilária e melhor neste terceiro filme. Após 15 anos, desde "O Diário de Bridget Jones", que abriu a série de filmes, ela só veio melhorando. O segundo, "Bridget Jones - No Limite da Razão" não obteve o sucesso esperado. Mais madura e quase como se ela e Bridget fosse a mesma pessoa, a atriz recupera o clássico humor britânico e garante bons momentos de diversão.

E, mesmo sem ter participado desta produção, Hugh Grant deixou sua marca e a hipótese de um quarto filme, que pode mexer novamente com a vida de todos. "O Bebê de Bridget Jones" é uma ótima comédia romântica, daquelas que você sai leve do cinema. Vale a pena conferir.




Ficha técnica:
Direção: Sharon Maguire
Produção: Miramax / Studio Canal / Universal Pictures / Working Title Films
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 2h03
Gêneros: Comédia / Romance
Países: Reino Unido / Irlanda / França / EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 3,8 (0 a 5)

Tags: #obebedebridgetjones, #RenneZellweger, #ColinFirth, #PatrickDempsey, #EmmaThompson, #SharonMaguire, #comedia, #romance, #UniversalPictures, #CinemanoEscurinho

04 outubro 2016

Argentino "No Fim do Túnel" é nitroglicerina pura

Joaquín é um cadeirante recluso que descobre o plano de um assalto ao banco ao lado de sua casa (Fotos: Alejandra Saurit/Divulgação)

Patrícia Cassese


É possível que, horas depois de sair do cinema, o espectador ainda se flagre tendo a sensação de estar vendo sangue respingado por toda parte. Foi dado o aviso, pois: os mais sensíveis a carnificina estão devidamente desaconselhados a assistir a "No Fim do Túnel" ("Al Final del Tunel"), produção argentina dirigida por Rodrigo Grande que entra em cartaz na cidade.

Antes de falar sobre o filme em si, vale um adendo sobre o protagonista, Leonardo Sbaraglia, ator que vem angariando familiaridade com o público brasileiro. Para quem ainda não ligou o nome às (belas) feições, trata-se do ator que interpretou o motorista endinheirado e "cool" em um dos episódios de "Relatos Selvagens", bem como o parceiro de Carolina Dieckmann na coprodução Brasil/Argentina "O Silêncio do Céu", em cartaz nos cinemas (também na capital mineira). Também deu o ar da graça em "Plata Quemada" e em "O Que os Homens Falam", para citar outros exemplos.

Aqui, Sbaraglia dá vida a Joaquín, um homem solitário (na verdade, divide o lar com um cão idoso) e cadeirante (embora tenha preservados os movimentos corporais da cintura para cima) - as explicações para essas duas características serão dadas ao espectador mais adiante, sem pormenorizações. 

Da mesma forma, o público descobre, depois, que o personagem encontra-se em dificuldades financeiras. Não bastasse, sua casa não vê sinais de arrumação há anos, e seus dias gris são preenchidos na lida com uma parafernália eletrônica, sobre a qual ele se debruça no sombrio porão - para se locomover, há um elevador.

Um dia, Joaquín é surpreendido com a chegada, de supetão, de Berta (Clara Lago, impressionantemente parecida com a cantora mineira Verônica Mendes e também com Céu) e sua filha, Betty (a menina Uma Salduende, uma graça). Ela - uma dançarina de strip-tease - foi atraída por um anúncio que oferecia uma sublocação, mas já adentra decidida a ficar, incondicionalmente, apesar do esboço de resistência de Joaquín, que estranha ver sua intimidade invadida assim, tão abruptamente.

O que acontece na sequência está na sinopse e, portanto, não seria dar spoiler falar que certo dia, em sua habitual peregrinação pelo porão, ele ausculta um movimento no entorno com a ajuda de um estetoscópio. Instigado, resolve ir além e cava um orifício, no qual introduz uma câmara que esclarece o que de fato se passa: um grupo prepara um ousado assalto ao banco que se situa próximo às duas construções até então focadas. Para tanto, constrói um túnel: o título do filme, portanto, não é só metafórico.

O ensaio de compartilhar prontamente a descoberta com sua nova inquilina é abortado no momento em que Joaquín descobre que ela não só é cúmplice , como mantém um romance com um dos líderes da operação escusa, Galereto (Pablo Echarri). Não bastasse, sublocou o quarto para dar calço à operação, que ainda conta com o apoio de um alto figurão. O assalto está devidamente cronometrado para que a explosão que vai permitir o acesso aos cofres seja efetuada junto à queima de fogos e o período festivo que pauta o fim de ano.

A reação mais esperada seria, claro, Joaquín acionar a polícia. Mas há outros tópicos em questão - inclusive, o mistério em torno de Betty, que há dois anos resolveu cerrar a boca, ao menos no que tange a seu contato com humanos, e o motivo será uma das chaves para a mudança de comportamento de um dos personagens.

No geral, trata-se de um filme perpassado todo o tempo por um alinhavo tensional que mantém o espectador em alerta, hirto na poltrona, a 220 volts. Somado ao carisma de Sbaraglia, poderíamos dizer que, dentro dessa chave, o filme funciona a contento, e valida a experiência de ir ao cinema para além do público afeito à produção argentina tradicionalmente mais relacionada a filmes com lastro histórico ou atrelados a questões mais subjetivas, comportamentais.

Há apenas dois "detalhes" que incomodam. Um deles está ligado ao excesso de violência citado no início. Ok, talvez seja um preciosismo, visto o derramamento de sangue visto atualmente em várias séries ("Narcos", "Game of Thrones" ou mesmo "Breaking Bad"), mas há uma cena particularmente arrepiante, tal qual a do extintor de incêndio em "irreversível".

O outro fica por conta do excesso de soluções pouco críveis que emergem no roteiro para dar um alinhamento lógico ao concatenamento de ideias visado, bem como para desaguar no fecho. Pelo lado do entretenimento entrelaçado ao ensejo da tensão em modo contínuo, funciona. E muito a contento. Classificação 16 anos



Tags: #nofimdotunel, #RodrigoGrande, #LeonardoSbaraglia, #ClaraLago, #PabloEcharri, #UmaSalduende, #policial, #suspense, #WarnerBrosPictures, #CinemanoEscurinho

02 outubro 2016

"O Lar das Crianças Peculiares" é a essência criativa de Tim Burton

Cenários sombrios ajudam a envolver o público nesta história de fantasia (Fotos: Fox Film do Brasil/Divulgação)

Maristela Bretas


Não há como negar: "O Lar das Crianças Peculiares" ("Miss Peregrine's Home For Peculiar Children") é o melhor de Tim Burton nos últimos tempos, explorando bem a mistura de fantasia, aventura e família para conquistar tanto o público infanto-juvenil quanto o adulto. O diretor adaptou e melhorou para a versão no cinema o livro de Ransom Riggs. Encanta, assusta sem causar medo e prende o espectador do início ao fim. No filme, Burton usa e abusa de sua maior característica - o ambiente sombrio como cenário para suas histórias.

Aliado a isso, a atuação de uma grande atriz - Eva Green - orquestrando toda a ação envolvendo as crianças e as demais pessoas ligadas ao lar. Ela é Miss Peregrine, que vai fazer uma revolução na vida do jovem Jake (papel muito bem interpretado por Asa Butterfield) e também das crianças.


Bela fotografia, ótimos diálogos, uma ambientação totalmente adequada ao universo estranho (e ao mesmo tempo mágico) de Tim Burton. O longa-metragem explora bem as peculiaridades de cada uma das crianças do lar, que desempenham bem seus papéis: Emma (Ella Purnell), que precisa usar sapatos de chumbo para não voar; o garoto invisível; a adolescente que incendeia tudo o que toca; a menina de força descomunal; o menino que cultiva abelhas dentro do corpo; os gêmeos encapuzados (não vou contar seus poderes); a menina que controla a flora. Isso sem falar nas criaturas do Mal - os Etéreos.

Boas participações também do sempre genial Samuel L. Jackson como o vilão Barron, Terence Stamp como Abe, avô de Jake, e Judi Dench, como Miss Avocet, em rápida aparição, outra protetora de crianças peculiares.

Sempre deslocado, sofrendo bullying na escola e incompreendido pelos pais por não se adaptar ao mundo chamado normal, Jake só encontra consolo e carinho com o avô Abe. Desde criança ele lhe contava histórias sobre a infância em um orfanato de crianças e adolescentes com poderes especiais que eram rejeitadas por serem diferentes. Sob a proteção de Miss Peregrine, elas viviam em uma grande mansão, escondidas de seres do mal, os Etéreos, que queriam roubar seus olhos.

Após a estranha morte do avô, Jake parte com seu pai para o País de Gales, onde pretende encontrar Miss Peregrine, atendendo ao último pedido do avô, que disse que ela lhe contaria toda a história e quem ele era realmente. Ao chegar, Jake descobre que o local onde ela viveria é uma mansão em ruínas, que foi atingida por uma bomba durante a Segunda Guerra Mundial. 


Para sua surpresa, no entanto, Jake encontra as crianças peculiares que o levam por uma fenda temporal, onde Miss Peregrine vive e as protege das criaturas e da maldade do mundo exterior. 

"O Lar das Crianças Peculiares" é imperdível e leva o público a viajar na fantasia sombria e criativa de Burton. O filme está em formatos 2D e 3D, em sessões dubladas e legendadas.



Ficha técnica:
Direção: Tim Burton
Produção: 20th Century Fox / Chernin Entertainment / Scope Pictures / Tim Burton Productions
Distribuição: Fox Film do Brasil
Duração: 2h07 
Gêneros: Fantasia / Aventura / Família
Países: EUA / Reino Unido / Bélgica
Classificação: 12 anos
Nota: 4,5 (0 a 5)

Tags: #olardascrianlaspeculiares, #EvaGreen, #AsaButterfield, #SamuelLJackson, #TimBurton, #aventura, #família, #Fantasia, #FoxFilmdoBrasil, #CinemanoEscurinho

30 setembro 2016

"Lembrança de um Amor Eterno" tem química fraca do casal principal


Jeremy Irons é um professor que se envolve com a aluna Olga Kurylenko (Fotos: PlayArte Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Giuseppe Tornatore (de "Cinema Paradiso" - 1988) volta às telas como diretor e roteirista do romance "Lembrança de um Amor Eterno" (La Corrispondenza"), que conta ainda com uma bela trilha sonora de Ennio Morricone. O filme explora a relação entre duas pessoas com uma grande diferença de idade - a universitária e dublê de cinema Amy, papel de Olga Kurylenko, e Edward, seu orientador no curso de Astrofísica, interpretado por Jeremy Irons.

Nem o fato de morarem em países diferentes, cada um com seu estilo de vida, é capaz de diminuir a paixão de um pelo outro. Amy vive sua vida à espera dos poucos momentos que terá com Edward, das conversas pelo Skype, dos bilhetes, cartazes e presentes que chegam em momentos exatos. De poucos amigos, sua razão de viver está no amado, que a conhece melhor que ela mesma e corresponde à paixão.

A relação chega a ser obsessiva e nem mesmo a família poderia por fim a ela. O que a estudante não contava que, ao mesmo tempo em que continua recebendo mensagens gravadas do amado, recebe a notícia da morte dele durante uma conferência em que ele deveria ser o palestrante.

Começa aí um novo drama para Amy que não sabe como viver sem o amante, professor e companheiro de poucas, mas intensas, horas. Para surpresa da jovem, Edward, mesmo depois de morto, continua ditando sua vida, mantendo os antigos hábitos. Seguindo a linha romance-tragédia, "Lembrança de um Amor Eterno" se torna um pouco cansativo ao repetir situações do casal e a insistência da jovem em manter viva a imagem do amante morto.

A história fica centrada no romance pós-morte, com vai e vem de cartas, vídeos gravados em excesso e a garota fazendo cenas cada vez mais perigosas como dublê, como se não quisesse mais viver. Nem mesmo a entrada de outros atores - como a família de Edward e colegas de trabalho de Amy empolgam o enredo. Olga e Jeremy, apesar de ótimos atores, não criaram uma química muito boa como casal apaixonado, estão mais para professor e aluna.

A produção italiana é boa, mas o romance poderia ter sido mais bem explorado, assim como a fotografia, já que algumas cenas foram feitas numa região muito bonita da Itália. "Lembranças de Um Amor Eterno" deixou um pouco a desejar, não é dos melhores trabalhos de Tornatore, mas ainda assim merece ser conferido. O filme está em exibição na sala 4 do Cineart Ponteio, sessões às 16h30 e 21h15.




Ficha técnica:
Direção e roteiro: Giuseppe Tornatore
Distribuição: PlayArte Pictures
Duração: 1h56
Gêneros: Drama / Romance
País: Itália
Classificação: 14 anos
Nota: 2,5 (0 a 5)

Tags: #lembrancasdeumamoreterno, #OlgaKurylenko, #JeremyIrons, #romance, #drama, #PlayArtePictures, #CinemanoEscurinho

25 setembro 2016

"Cegonhas" é engraçado como a ave e fofinho como um bebê

Animação é imperdível, traz uma mensagem sobre família e as coisas importantes da vida (Fotos: Warner Bros. Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Sem vergonha de admitir, ri do início ao fim. E acredito que o mesmo vai acontecer com outras mães, tanto as de primeira viagem quanto aquelas com filhos maiores que assistirem "Cegonhas – A História Que Não Te Contaram" ("Storks"). A animação aborda os pontos mais comuns da maternidade, tanto para o pai quanto para a mãe, mas de forma extremamente divertida (e real). E, de quebra, mostra como as pessoas estão optando por ter poucos filhos e, mesmo assim, ainda passam pouco tempo com eles. A cegonha, esta famosa ave que sempre esteve associada a bebês, perde sua função e se torna uma transportadora rápida - quase um Sedex 10.

Os diálogos das aves e dos lobos são os mais engraçados e exploram situações que muitas mães e casais já passaram, principalmente com o primeiro filho, como a manha pedindo por colo, a mamadeira da madrugada, a briga para comer a papinha, as trocas de fraldas e as noites mal dormidas. Isso sem contar o comportamento das pessoas que muda da água para o vinho quando veem um bebê "fofiiiiiiinho". Todo mundo fica meio abobalhado.

Os bebês são o centro das atenções de toda a história, mas a cegonha Junior (dublado em português pelo ator Klebber Toledo), entregadora da companhia é muito divertido. Preso a regras e convenções que proíbem as cegonhas de voltarem às antigas entregas, ele se vê numa situação complicada quando um recém-nascido sai da máquina de fazer bebês. A culpa é da amiga Tulipa (voz de Tess Amorim), uma jovem muito doida que foi criada pelas cegonhas quando uma delas não achou o endereço onde ela deveria ser deixada.

Destaque também para a matilha de lobos, aqueles animais ferozes, cruéis e sanguinários, que se transformam por completo quando o bebê sorri. Tem também o pombo Luke (voz de Marco Luque), um dedo-duro que quer ser o novo chefe da empresa de qualquer forma. Já os pinguins perdem a graça, deixam de ser bichinhos carinhos e se tornam "do mal". Valem apenas pela luta com Junior e Tulipa.


"Cegonhas – A História Que Não Te Contaram" é uma animação de família para família, que diverte adultos e crianças, com uma linda mensagem sobre a importância dos pais passarem mais tempos com seus filhos. Reforça também o conceito de que é possível conviver com as diferenças, ao formar uma família muito improvável de uma ave, uma menina e uma bebê. E alfineta de leve as relações de trabalho que exigem medidas drásticas como a demissão daqueles considerados improdutivos ou que não seguem as regras.

GALERIA DE FOTOS


A animação começa com a troca de funções: cansadas de carregarem bebês por todos os cantos do mundo, as cegonhas agora transportam pacotes para a gigante global da internet - a Cornerstore. com (Lojadaesquina.com.). Junior é o melhor entregador da empresa e está prestes a ser promovido.

Mas acidentalmente a jovem Tulipa aciona a Máquina de Bebês em seu turno, produzindo uma adorável e totalmente não autorizada bebê. Enquanto isso, na terra dos humanos, um garotinho Nando pede um irmãozinho aos pais sempre ocupados, para que possa ter com quem brincar.


Desesperado para entregar aos pais esse "presentinho de grego", antes que o chefe Hunter descubra, Junior e Tulipa, único humano criado na Montanha das Cegonhas, partem para sua primeira entrega de bebês em uma jornada selvagem e reveladora, que poderá iniciar uma família e também restaurar a verdadeira missão das cegonhas no mundo.

"Cegonhas – A História que Não Te Contaram" apresenta as novas canções originais “Kiss the Sky”, interpretada por Jason Derulo,e “Holdin' Out”, da banda The Lumineers. A animação é imperdível e está em cartaz nos cinemas de BH, Betim e Contagem, nos formatos 2D e 3D, em versões dublada e legendada.



Ficha técnica:
Direção: Nicholas Stoller (também roteirista e produtor) e Doug Sweetland
Produção: Warner Bros. Animation / Stoller Global Solutions
Distribuição: Warner Bros Pictures
Duração: 1h29
Gêneros: Animação / Comédia / Família
País: EUA
Classificação: Livre
Nota: 5 (0 a 5)

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23 setembro 2016

"Viva a França!" particulariza o desencontro de pai e filho e humaniza a guerra

Filme conta o êxodo de milhares de franceses durante a Segunda Guerra Mundial (Fotos: Jean-Claude Lother/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Difícil compreender por que traduziram "En mai, fais ce qu'il te plaît" - algo como "Em maio, faça o que quiser" - como "Viva a França!" Por mais licença poética que seja permitida nas versões de títulos de filmes, é preciso muita subjetividade para entender o ufanismo do nome. E muita força de vontade para justificar a sutileza e o motivo que levaram um filme de êxodo a se chamar assim.

Hans (August Diehl) é um alemão revolucionário e oposicionista a Hitler, que foge para a França com o filho Max (Joshio Marlon). Em Pas-de-Calais, ele se passa por belga e vai trabalhar de camponês com o prefeito Paul (Olivier Gourmet) que, diante da chegada iminente dos alemães, está liderando o êxodo dos moradores em direção ao sul, a exemplo de outras tantas vilas e povoados. Ao longo da trama, impulsionado por ataques dos alemães, Hans acaba formando um trio improvável com um soldado escocês e um cidadão francês que se recusa a abandonar sua casa com sua preciosa adega.

A história não é pura ficção e foi baseada em depoimentos de quem viveu a fuga. Em maio de 1940, cerca de 8.000 franceses deixaram suas cidades e vilas rurais tentando escapar da ocupação nazista e vagaram como andarilhos errantes pelas estradas e campos do país. Os horrores da guerra sempre foram um fértil pano de fundo para boas histórias. Em "Viva a França!" não é diferente. O drama particular de um pai que se perde do filho de oito anos num desses caminhos é o que comove e prende no filme. Embalada pela bela trilha do estrelíssimo Ennio Morricone, a história enternece, emociona e faz chorar.

Houve quem achasse "Viva a França!" repleto de clichês. Nem tanto. Por obra e graça do diretor (e roteirista) Christian Carion, há um equilíbrio convincente entre o universo macro da guerra - com seus bombardeios, aviões e batalhas - e o micro - a desesperança dos andarilhos, o desencontro de pai e filho. É nesse balanço que o longa se faz, senão imperdível, pelo menos necessário, correto. E muito, muito comovente!



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