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01 fevereiro 2023

Indicado a nove categorias do Oscar, "Banshees de Inisherin" impressiona pela sensibilidade

História é centrada no rompimento unilateral entre dois amigos (Fotos: Searchlight Pictures)


Carolina Cassese
https://zint.online/staff/ccassese/


"Eu não quero mais ser seu amigo". Essa frase, que nos transporta diretamente para o jardim de infância, ganha outras camadas em "Banshees de Inisherin", um dos candidatos ao Oscar de Melhor Filme deste ano. O longa foi indicado a mais oito categorias, incluindo Melhor Direção e Melhor Roteiro Original. 


Dirigido por Martin McDonagh ("Três Anúncios Para um Crime" - 2018), a história se passa numa ilha fictícia da Irlanda e é centrada no rompimento unilateral entre os amigos Pádraic (Colin Farrell) e Colm (Breendan Gleeson). De um dia para o outro, o último decide que não quer mais falar com o seu companheiro de longa data. 


A situação fica ainda mais séria quando Colm ameaça: toda vez que o recente ex-amigo lhe dirigir a palavra, ele irá cortar um de seus próprios dedos. Desesperado, Pádraic busca resolver o conflito a qualquer custo - sem necessariamente refletir sobre as consequências de seus atos.

O medo da morte é um tema bastante relevante para a trama. Uma das razões que Colm alega para o rompimento é a iminência de sua partida; ele argumenta que, como o fim está próximo, não quer mais perder tempo com conversas entediantes.


O personagem, que é violinista, reflete ainda acerca da imortalidade da arte: “Música dura. Pinturas duram e poesia dura. Sabe quem lembramos da simpatia do século 19? Nem uma única pessoa. No entanto, todos nós lembramos da música da época”. 

Considerando que seus dedos são relevantes para a atividade artística que pratica, a ameaça de cortá-los soa ainda mais dramática.


Não por acaso, a trama se desenrola durante a Guerra Civil Irlandesa, em 1923. O desentendimento entre os amigos, portanto, se relaciona com um contexto muito mais amplo de disputas e diferentes tipos de violência. Vários dos excelentes diálogos conseguem tratar, ao mesmo tempo, das dimensões pessoais e coletivas de conflitos. 

Durante um momento de trégua da Guerra Civil, Pádraic comenta: “Aposto que entram em guerra de novo em breve, não acha? Não há como superar certas coisas. E eu acho isso bom”.


É interessante considerar que "Banshees de Inisherin" está muito longe de ser aquele típico “filme de guerra” que já conhecemos tão bem; as explosões que importam por aqui são outras, de ordem muito mais íntima. Também é difícil que o longa seja classificado como uma comédia (apesar dos muitos diálogos espirituosos) ou um simples drama. 

A história mescla elementos de vários gêneros; horroriza - a ameaça dos dedos cortados é inegavelmente angustiante -, comove e também diverte em momentos pontuais. As tomadas que mostram as paisagens da ilha são de tirar o fôlego.


Talvez um dos maiores méritos da produção seja nos deixar imersos em questões quase existenciais: por quais motivos mantemos relações? Quais são os sinais do fim de uma amizade? Como as guerras de fato começam? É possível medir os desdobramentos de um conflito? Por que naturalizamos o fato de inocentes sofrerem com disputas de interesses alheios? Questões de 1923 que seguem sendo pertinentes cem anos depois.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Martin McDonagh
Produção: Blueprint Pictures /20th Century Studios / Searchlight Pictures
Distribuição: Walt Disney Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h54
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: drama / comédia

14 fevereiro 2018

"Três Anúncios Para um Crime", um trabalho inesquecível de Frances McDormand

Filme conta a história da luta de uma mãe para encontrar os assassinos de sua filha (Fotos: 20th Century Fox/Divulgação)

Maristela Bretas


Impecável, tenso, brutal em alguns momentos. Tudo isso é encontrado no excelente "Três Anúncios Para um Crime" ("Three Billboards Outside Ebbing, Missouri"), mais um dos fortes candidatos ao Oscar 2018 como Melhor Filme. Ele disputa com "Lady Bird - A Hora de Voar", "Me Chame Pelo Seu Nome", "O Destino de Uma Nação", "Corra!", "A Forma da Água", "Dunkirk", "The Post - A Guerra Secreta" e "Trama Fantasma" - Confira as críticas de todos estes filmes no Cinema no Escurinho. Se já não bastasse a indicação ao maior dos prêmios, Frances McDormand, interpretando Mildred Hayes, a mãe que quer justiça pela morte da filha, vai merecidamente para a disputa da estatueta de Melhor Atriz. Está excelente no papel, é a grande estrela da produção.

O diretor, roteirista e produtor Martin McDonagh encontrou a forma e o elenco certos para contar uma história que poderia ser apenas mais uma sobre assassinato e vingança. "Três Anúncios Para um Crime" vai além, explora cada personagem e suas fraquezas e desatinos. A começar por Mildred Hayes (McDormand), uma mulher forte, determinada, divorciada do marido que a trocou por uma jovem de 19 anos, mãe de um rapaz que não compreende sua obsessão por justiça e que vive o drama do assassinato da filha adolescente que foi estuprada enquanto era morta. Sete meses se passaram e nenhuma notícia dos responsáveis.

Cansada da inércia da polícia local, Mildred decide instalar três outdoors na estrada onde aconteceu o crime e quase não é usada pela população da pequena Ebbing, no Missouri. Os anúncios cobram uma solução das autoridades, principalmente do xerife Bill Willoughby. Mildred é aquela pessoa que as pessoas respeitam mas não gostam de seu jeito direto e claro de resolver as coisas, principalmente quando o assunto é a morte da filha, que todos evitam falar. E sua atitude de colocar os anúncios denunciando o crime sem solução vai provocar a ira de vários moradores.

Já o xerife Bill Willoughby, papel muito bem interpretado por Woody Harrelson, é aquele querido por todos na cidade, bom marido e pai, mas que também vive seu drama pessoal e não sabe como resolver o caso da morte de Ângela, filha de Mildred. E ainda precisa controlar uma delegacia formada por integrantes destemperados que acobertam as falhas uns dos outros.

Entre eles está Jason Dixon, papel de Sam Rockwell, irrepreensível como o policial psicopata dominado pela mãe, homofóbico e que gosta de bater em negros. Totalmente sem controle, ele vê Mildred como uma inimiga que merece ser exterminada por pressionar o xerife, a quem idolatra. Sam Rockwell vai para a disputa do Oscar 2018 junto com Woody Harrelson na categoria de Melhor Ator Coadjuvante. E ambos fizeram jus às indicações por suas excelentes atuações na produção.

O elenco conta ainda com as ótimas participações de Peter Dinklage (o anão apaixonado por Mildred), Lucas Hedges (como Robbie Hayes), Caleb Landry Jones (o corretor de imóveis Red Welby) e John Hawkes (Charlie Hayes, o ex-marido). "Três Anúncios Para um Crime" oferece também bela fotografia, locações bem selecionadas e um roteiro envolvente que provoca sensações variadas no público com relação aos personagens - ódio, compaixão, vingança, desejo de justiça. Até chegar a um final surpreendente.

Um filme que merece ser visto nos cinemas a partir desta quinta-feira como uma das melhores estreias da semana para quem busca um drama de qualidade, bem dirigido e com ótimas interpretações. Além de ser o vencedor dos festivais de cinema de Toronto, Veneza, San Sebastian, San Diego e BFI London em 2017, "Três Anúncios Para um Crime" concorre ainda aos prêmios de Melhor Roteiro Original, Melhor Montagem e Melhor Trilha Sonora Original no Oscar 2018.



Ficha técnica:
Direção, roteiro e produção: Martin McDonagh
Produção: Film4 / Fox Searchlight Pictures
Distribuição: Fox Film do Brasil
Duração: 1h56
Gênero: Drama
Países: EUA / Reino Unido
Classificação: 16 anos
Nota: 5 (0 a 5)

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